sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Este é o inimigo!









Em recente entrevista, nosso presidente do Senado, José Sarney, defendeu ter usado helicóptero da Polícia Militar do Maranhão, Estado governado por sua filha, Roseana Sarney, para viajar até sua ilha particular, ilha de Curupu.


Segundo Sarney, “Quando esses privilégios foram criados, o objetivo era que os deputados fossem livres e seus salários não os fizessem miseráveis, dependentes dos presidentes. Quando a legislação diz que o presidente do Congresso tem direito a transporte de representação, estamos homenageando a democracia, cumprindo a liturgia das instituições”.


O caso dos passeios de helicóptero foi noticiado há cerca de dois meses. Sarney esperou a poeira baixar para sair-se com essa de usufruir de privilégios para homenagear a democracia. Era melhor que permanecesse calado. Uniu à ofensa e à agressão aos cidadãos a insensibilidade e o deboche.


Despudor... cinismo... soberba... despotismo... escárnio...


O que é que explica tais atos, tais palavras, tais conceitos? Como se diz, o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. Deforma a alma. Faz da alma um monstro grotesco, retrato de Dorian Gray, separado dos outros homens...



Numa das viagens até sua ilha da fantasia, ilha de Curupu, Sarney deu carona no helicóptero da Polícia a um velho amigo, Henry Duailibe Filho, empresário com contratos milionários no Maranhão. Sempre é bom trocar umas idéias com um velho amigo... quem sabe o que pode sair de bom dessas trocas de idéias?


O helicóptero foi adquirido por R$ 16,5 milhões, no ano passado, e destinava-se a combater o crime e socorrer emergências médicas. Mas lhe foi dada destinação bem mais nobre, de homenagear a democracia, levando Sarney, familiares e amigos para passear na ilha de Curupu.


Leiam mais, e assistam ao vídeo do passeio de helicóptero, neste link:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/963086-sarney-usa-helicoptero-do-maranhao-em-viagem-particular.shtml


No final do passeio, o desembarque das bagagens atrasou o atendimento de um pedreiro de 40 anos, com traumatismo craniano e a clavícula quebrada após sofrer um acidente. Tudo bem, é só uma pessoa comum...


Já o Sarney, como diria nosso ex-presidente Lula, mostrando toda a sua sofisticação, “não é uma pessoa comum”; pessoas incomuns têm prioridade para dar seus passeios, enquanto pessoas comuns demoram para receber socorro médico emergencial. Tá explicado o Brasil, em uma frase.


Foi Lulinha, aliás, o principal responsável pela sobrevida política de Sarney. No sufoco do mensalão, pra salvar a própria pele, assinou com gosto um pacto com as práticas políticas mais retrógradas, porém muito em voga no nosso Brasil profundo.


Sim, nosso patrimonialismo arraigado. Nossos donos do poder têm de ser donos de tudo. Têm de mandar e desmandar, ao seu bel-prazer. Têm de interferir em cada negócio, e fazer exigências pra cada negócio, e morder o seu pedaço de cada negócio, e dar sua permissão pra cada negócio, ou capturar o negócio pra si, caso lhe apareça como muito apetitoso.


Bem que dizem que o socialismo é o neo-patrimonialismo. Nada mais lógico, então, que o nosso presidente socialista tenha unido forças com nosso senador patrimonialista. A crise do mensalão serviu apenas para precipitar a consumação deste caso de amor que estava escrito nas estrelas.


Sarney acalmou Lulinha... sussurrou em seus ouvidos, com voz de sereia, fazendo promessas... claro que Lulinha caiu nos braços de seu Mestre, Mestre dos Magos, seu ídolo, aquele que passou a vida toda no poder, usufruindo sem quaisquer limites o poder... e retribuiu, em cada oportunidade, generosamente, cada chamego e afago recebidos... chegou a fazer um senador do PT revogar o irrevogável, lembram? Aloisio Mercadante, troféu King Kong pelo mico do milênio...


Sarney: esse é o cara do cara






E nossos tontos intelectuais, intelectuais que não lêem nada, não questionam nada, não criticam nada, estão prontos para abraçar o “novo”, “Socialismo Já!”, “Sem medo de ser feliz!”, fechando o círculo, voltando pro ponto de partida.


Mas é tudo tão familiar, tão parecido com aquilo que nossa cultura sempre nos inculcou como certo... nossos intelectuais parecem aqueles meninos rebeldes, que se iludem pensando que são tão diferentes, mas que no final vão seguir os mesmos passos de papai.


Afinal, é bem fácil permanecer no seguro, no conhecido, mesmo que se alterem os discursos, e as superficialidades. É bem fácil ficar no lugar onde se recebem os aplausos e os olhares de admiração e inveja. “É preciso mudar para que tudo permaneça o mesmo”, dizia um personagem do formidável romance O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.


Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades...



E no final do Caminho das Ilusões Judas é Jesus, e usufruir de privilégios é homenagear a democracia, e enriquecer grotescamente é servir ao povo, e todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.


E nesse abraço cósmico, do velho com o novo, nessa união de opostos, tão parecidos, tão complementares, ficam de fora chorando aqueles que possuem a lucidez de enxergar por baixo do discurso e da aparência. Estes é que optaram pelo caminho difícil. Porque difícil é romper com o terreno seguro. Difícil é não querer ficar do lado dos vencedores, velhos e novos, rebeldes e conservadores. Difícil é rejeitar o que é familiar, o que parece certo, evidente, indiscutível. Tudo que sei é que nada sei. Que difícil e exigente é assumir uma tal humildade!


Mas quem conheceu os dois caminhos, não opta pelo caminho fácil. Não traz satisfação, não traz liberdade. E a segurança que oferece é tão ilusória!


“Oh! como é miserável o pobre homem que depende do favor dos príncipes! Há entre o sorriso ao qual aspira, o doce olhar dos príncipes e a própria desgraça, mais tormentos e temores do que os causados pela guerra ou aqueles sofridos pelas mulheres. E quando cai, cai como Lúcifer, desesperado para sempre!” - William Shakespeare, Henrique VIII.



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