
Formidável o timing
dos protagonistas dos nossos principais acontecimentos:
Primeiro, Marcos
Valério, ressentido com seu papel de bode expiatório, um mero
empresário inescrupuloso, querendo enriquecer de modo rápido e
fácil, é usado e abusado por nossa elite de poderosos para
intermediar seus negócios escusos, num amplo espectro de esquemas
podres, empréstimos fraudados, grandes contratos, e até leis,
feitos sob encomenda, para grupos empresariais, banqueiros,
publicitários, dentre outros partícipes ilustres, poderem faturar
bem alto, poderem também, está claro, ofertar generosas
contribuições de campanhas, numa atividade orquestrada, uma ação
entre muy amigos, os homens de poder, “ajude-nos a manter o poder”,
e os homens de dinheiro, “ajude-nos a fechar grandes negócios”,
uma mão lava a outra, suja a outra, “unidos venceremos, unidos
contra os patos, você faz a mira, eu puxo o gatilho, você é nosso,
nós é teu”...
Marcos Valério,
dizia, puxou 40 e poucos anos, enquanto o poderoso-mor (dentre os que
foram acusados, está claro), o Ministro Chefe do “Cara”, a
cabeça coroada entregue numa bandeja para satisfazer a sanha
vingativa do populacho, saía-se com meros 11 anos de prisão, e
amplas possibilidades, considerando-se a idade avançada do acusado,
e os “notórios e relevantes serviços prestados pela ilustre
figura para o bem do país”, e um conveniente atestado médico
dando conta de forte crise de estresse que acometeu subitamente nosso
“herói do Brasil”, de ser cumprida em regime domiciliar, quem
sabe até, com o fito de reabilitar socialmente o condenado, e
promover sua reinserção no mercado de trabalho, proporcionando-lhe
o ensejo de continuar a exercer suas atividades remuneradas de
conselheiro de mega-empresários, multi-miliardários, com interesses
na exploração de petróleo e outras riquezas naturais de nossa
pátria amada, idolatrada, salve, salve.
E tal desproporção,
tal flagrante injustiça, e a sensação de ter sido usado, abusado,
depois descartado, envenena e tortura o coração de Marcos Valério.
Empresário-rampeira, a serviço dos revolucionários para
satisfazer-lhes os baixos instintos. Eles te usam, mas eles te
desprezam. Depois que atingiram o seu objetivo, que conseguiram o seu
prazer, prefeririam que você não existisse. Prefeririam te sufocar
com o travesseiro, garantindo que você nunca contaria o que
aconteceu.
Pro companheiro, mesmo
com uma pena moleza, os revolucionários tiveram fúria e ranger de
dentes. Pra você, sangrando na rua da amargura, um virar de costas,
um “não te conheço”. Entre os dentes: “é melhor pra sua
saúde continuar bem quieto”.
E o Valério, então,
desabafa: para duas Procuradoras da República, ele resolve contar o
que sabe, e mira em ninguém menos que no Grande Ausente, o
beneficiário último do esquema, aquele sob cujo desgoverno
aconteceu o desatino: ele mesmo, sr. Luiz Inácio Lula da Silva, o
homem que sabia de menos.
“Nada disso”,
afirma Valério. “Sabia muito, sim, e aprovou tudo”. Oh, grande
surpresa! Oh, que revelação! O Rei estava nu, este tempo todo!
Segredo de polichinelo, como se pode ver, mas ainda assim o
suficiente para colocar nossos revolucionários em polvorosa:
“É golpe da direita
raivosa! É complô orquestrado pela mídia golpista!” - o blá blá
blá de costume.
Mas agora acompanhado
de medidas concretas, e, olhem só, parecem orquestradas:
Primeiro, todo mundo
viaja, vai pra longe do país, construindo um alibi. Por imensa
coincidência, Lula e Dilma se esbarram em Paris, oh, você por
aqui?, realizam uma entrevista de 3 horas, a portas fechadas. Tudo
normal, normalíssimo, diz nossa consciência de cordeiros no
altar... No dia seguinte à tal entrevista a portas fechadas, a
PresidenTA vem a público dizer do absurdo de se suspeitar de um
grande homem... aquele santo, aquele ser incomum, teve até uma
ministra deste Governo, dona Marta Suplicy, que não hesitou em
chamar o sr. Inácio de Deus... e alguém vai querer investigar este
homem? Isto é pior do que um crime, isto é blasfêmia... nossas
leis, nossas instituições, nada disso se aplica, em se tratando
deste homem... sim, sim, todos são iguais perante a lei, mas não
vamos exagerar! Uns são mais iguais do que os outros, é o que nos
afiança nossa PresidenTA. Queriam o quê? Chegar até este zênite,
e não pagar o seu preço? É a hora de pagar, é a hora em que o
Padrinho chama... Não adianta fazer cara feia, fazer cara de durona,
botar banca... isso é lá pros subordinados, mas aqui é o peixe
grande... vamos fazer o seguinte: sai todo mundo do país, nada como
uma bela viagem pra espairecer, recobrar o ânimo...
A PresidenTA, o vice, o
presidente da Câmara... tudo fora do país.
E quem é que fica na
Presidência da República? Quem é que retorna, depois de muitos
(não o bastante) anos? Nosso presidente do Senado, sr. José Ribamar
Sarney, nosso zumbi bigodudo, nosso Drácula em que deixaram cair uma
gota de sangue, e assim retomou à vida.
Péssimo auspício, mas
tem muito mais. Chegou a hora de dar o troco.
Jornal O Globo,
13.12.2012: “o PT entrou com reclamação na corregedoria do
Conselho Nacional do Ministério Público. O partido pediu
investigação de conduta funcional e processo disciplinar contra a
subprocuradora Cláudia Sampaio e a procuradora Raquel Branquinho,
que ouviram o depoimento de Valério.”
Ou seja: um órgão do
Estado, responsável por ajuizar ações criminais, não pode ouvir o
depoimento de um criminoso que confessa crimes. Absurdo? Mas a força
bruta de Leviatã é sempre pródiga pra produzir absurdos. E agora
mesmo temos um projeto de lei, com grande apoio no Congresso, que
pretende impedir completamente o Ministério Público de participar
de investigações. Não por acaso, o projeto já recebeu o apelido
nada auspicioso de “Lei da Impunidade”... coisas de Leviatã...
E não para nisso. Na
mesma reportagem:
“Além de usar a
força da maioria para brecar qualquer tipo de convocação de
ministros ou envolvidos na Operação Porto Seguro e nas denúncias
recentes do operador do mensalão, Marcos Valério, os aliados
partiram para o ataque. Aprovaram convite para que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e o atual procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, compareçam à Comissão Mista de Controle das
Atividades de Inteligência.”
Ou seja: o Congresso
chamar pra depor investigados dos maiores esquemas atuais de
corrupção do Poder Público não pode. Chamar pra depor um
ex-presidente, líder da Oposição, e o procurador-geral da
República, pode. Mas é pra depor sobre o quê, mesmo, senhores
revolucionários?
“Sei lá, isso na
hora a gente vê. O importante é retaliar, mostrar força, não
ficar quieto enquanto nosso guia, nosso líder, nosso deus, sofre com
blasfêmias e heresias”.
Leviatã mostra suas
garras... esperem por muito mais, pois quando os afabilíssimos
Roberto Gurgel e FH são colocados na linha de tiro, é porque a
coisa tá feia... não se pode sair um milímetro da linha traçada
por nossos revolucionários, sob pena de retaliação severa.
“Ich, Heil!”
Gurgel já tinha
prestado relevantes serviços pra importantes figurões do grupo,
recusando-se a investigar o formidando crescimento patrimonial de
Antonio Palocci, dentre outros favores. Foi inclusive reconduzido ao
cargo pela própria presidenTA Dilma. Mas porque foi obrigado a fazer
o mínimo indispensável, sem o quê ficaria com cara de tacho, no
caso do mensalão, incorreu na ira petista.
Quanto ao sorridente e
bonachão FH, manso líder da nossa inofensiva Oposição, deve ter
entrado na roda por conta de dois artigos de jornal mais desaforados,
recentes...
Ou seja: dá um frio na
espinha pensar em quais serão as novas manobras de Leviatã, por
baixo dos panos... Leviatã, depois que começa, só se satisfaz com
milhões de vítimas.
Enfim, talvez o jogo
fique mais claro assim, sem máscaras.
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