Para o Governo, 35, 36 % do PIB, a cada ano. Percentual há longo tempo crescente. Para um PIB de mais ou menos R$ 6 trilhões, dá uns R$ 1,26 trilhão. É quanto o “sócio” pôs no bolso, referente a carga tributária, ao final do ano de 2011. Sem gastar nada, sem investir nada, sem correr risco. É pelo poder de força que se recolhe o tributo. Já viram as tiras de quadrinhos, Hagar, o Horrível? O burocrata que o visita, para cobrar impostos, é seguido por um carrasco portando um machado. A ideia é essa.
Pois o Governo tira R$ 1,26 trilhão num ano da sociedade. Claro, em tese, para enfrentar a pobreza e prover a sociedade dos melhores serviços, de segurança, saúde, educação, justiça...
E aí, cada um diga o que pensa de cada serviço mencionado, pela própria experiência, pelo que vê nos jornais, pelas estatísticas e índices... lembre-se de cada história não menos que bizarra, envolvendo a polícia, envolvendo hospitais, escolas, tribunais...
E agora pense na pobreza. Pense no sertão. Pense na favela. Pense no esgoto a céu aberto. Pense no barraco, e de gente que vive com a roupa do corpo.
E chegue à própria conclusão: somos ou não somos bem administrados?
O Governo, como eu disse, recebe um trilhão e pouco em um ano, para falar apenas dos tributos. Se gastasse isto que arrecada em dinheiro vivo no bolso da população, quanto daria para cada um dos duzentos milhões de brasileiros? R$ 10 mil e poucos reais. Cada brasileiro, até o bebê, teria uns 10 mil no bolso. Isto é mais do que a grande maioria dos brasileiros consegue ganhar pelo trabalho ao final de um ano. Basta pensar que alguém que recebe um salário mínimo nacional, ao final de um ano, e incluindo 13o, terá recebido R$ 8 mil e pouco.
O ponto é: um Governo que arrecada o bastante para colocar dez mil no bolso de cada brasileiro, e ainda assim não consegue prover bons serviços em área nenhuma, e também não consegue sequer afastar a miséria e seus sintomas mais evidentes de grande parte da população, não é um Governo mal administrado, é um Governo administrado pessimamente.
Estou restringindo o foco ao Brasil, ao exemplo brasileiro, mas é uma crítica que pode se estender ao mundo. Não soubemos nos organizar politicamente para fazer do mundo um ambiente menos hostil, menos inóspito. É um problema político. Economicamente, soubemos gerar milhões, bilhões e trilhões. Soubemos criar máquinas fantásticas, maravilhas sem fim.
Mas, em termos de organização política, não soubemos dar fim à miséria e à carência, que aflige a tantos além dos quintais dos felizardos.
Produzimos mais comida do que há seres humanos para comer. Mas ainda assim persiste o flagelo da fome.
E mesmo nos países mais ricos, ainda que tenham conquistado proteção mais ampla, vemos nada é garantido, e que persiste a insegurança do desemprego, do empobrecimento...
Qual é o grande problema, o grande mal do mundo, que não se deixa solucionar? Como já dito, a questão é política. É a capacidade de organizar tamanha riqueza, é preservá-la do desperdício, da falta de planejamento, dos privilégios, das miríades de roubo, legal ou ilegal.
Quando é que se vai atingir aquele grande Ideal, Justiça para todos, igualdade de oportunidades, a cada um segundo seu mérito, sem que haja exploração do homem pelo homem?
Claro, o Ideal é sempre inatingível, mas quando é que, no decorrer do Infinito Processo, perceberemos que caminhamos na direção correta, e que uma nova consciência surgiu, mais atenta ao perceber e lutar pelos seus direitos?
Tivemos momentos assim na História do mundo, momentos em que se inflamou a imaginação, e se acreditou estar nesse caminho virtuoso, e se acreditou mesmo que ele seria um caminho certo, inquestionável, pré-determinado por Deus, ou pela História...
Hoje percebemos, humildemente, que nada existe de certo, de conquistado. Que o caminho virtuoso é traçado e trilhado a cada dia, e que se manter consciente e lutando é uma necessidade eterna. A cada cochilada, perdem-se batalhas. Os interesses nunca dormem, principalmente os interesses concentrados, localizados. Quem tem o poder das leis, quem tem as chaves do cofre, sempre acreditará que tem direitos a mais privilégios. Lutar pelo interesse geral, ou por abstrações como Justiça e Liberdade proporciona muito menos recompensas, dá muitos mais aborrecimentos.
Sem respostas, apenas constatações.
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