
Grande crime da
sociedade é a rapidez para esquecer, e até desmerecer, suas vítimas.
O cadáver é logo
esquecido. O criminoso, é visto como merecedor de simpatia,
compreensão, peninha...
Estava embriagado, ou
teve um dia ruim, ou uma vida ruim, não importa.
Os criminosos vão logo
se infatilizando, sabedores de que tal conduta encontra resposta. “Eu
não queria estar fazendo isso... eu sou uma pobre vítima da
sociedade...”
Existe este engodo,
porque engolem este engodo.
Eu sou bonzinho. Eu só
estraçalhei oito vítimas porque sou doente. Eu fiz sexo com uma
criança por caridade.
Eu só comandava toda a
quadrilha armada no morro porque não tive uma oportunidade.
Por mais verdadeiras
que sejam as histórias das vidas, compreender não pode ser
desculpar. Por mais que a sociedade mereça reformas, ou precise
melhorar, diante do fato concreto da vítima, deve-se localizar e
punir o autor. Deve-se proteger a sociedade, é o primeiro e
fundamental passo para buscar a sua melhoria.
Onde grassa a
impunidade a sociedade não tem possibilidade de reforma. Onde os
valores são invertidos, onde o mau passa por esperto, o bom passa
por otário.
Sem esta primeira e
fundamental reforma, sem a proteção efetiva da sociedade por uma
efetiva punição do criminoso, e compensação da vítima, não se
progride um passo, como sociedade.
Veremos os piores se
servirem dos melhores. Veremos famílias com medo, covardes
assassinos à solta. Veremos o roubo de milhões e o roubo da
esperança.
Agricultores
assassinados, guerras de metralhadora, de fuzil, de granada. Atos
bárbaros e cruéis.
E as grandes fraudes, a
corrupção mais cínica, dinheiro viajando em cuecas, jatinhos
carregando dólares, eleições compradas, votos comprados, sentenças
compradas, senadores, policiais, juízes...
É o clima de selva,
luta pela sobrevivência do mais forte.
Zero pra compaixão.
Zero pra igualdade.
Que sociedade de iguais
é essa, em que uns podem cometer crime e ficar acima da punição?
Onde uns são senhores, outros são escravos.
Se a sociedade abre a
porta para o crime, abre a porta para a tirania.
Se o sujeito malévolo
não sofre oposição, não encontra resistência, aquele local onde
atua já vive sob uma tirania. Sob a lei do silêncio e do medo. Sob
o arbítrio daquele mais poderoso.
Pode ser o sujeito que
tacou fogo numa namorada, e continua solto, e ameaça a família da
vítima.
Pode ser o filho do
coronel e senador, amigo do juiz e do promotor e do delegado, e que
bota a mão em milhões, e acaba por isso mesmo.
Tiraninhos e tiranões.
A sociedade que os
aceita, que sofre calada a sua presença, se condena a ser escrava.
Nada mais nada menos
que isso. É escrava. Dividida em duas castas: a dos que estão
abaixo da lei, a dos que estão acima da lei.
E quanto mais for comum
a impunidade numa sociedade, mais próxima ela estará de ser
dominada por um tiranete. Mais fácil será para algum aventureiro
vagabundo e sem escrúpulos armar uma quadrilha e tomar o poder
total.
Como um Hitler, como um
Lenin, como um Mao, ou como um Stalin. E aí a sociedade vai saber o
significado real de sofrimento. E aí já será tarde demais.
Aí a injustiça vai
grassar na ordem de milhões de vítimas. Na ordem de guerras e
extermínios em massa.
Claro, esta é a cor
extrema do espectro, assinalada por circunstâncias históricas
específicas, grandes desordens que atingiram estas sociedades,
hiper-inflações, derrotas na guerra, dominações por outros
povos...
Mas até o extremo do
espectro é ampla a gama da infiltração tirânica no Governo de uma
sociedade, amparada em diversos graus de repetição do fenômeno da
impunidade.
Um Estado em que a
autoridade da lei falha, torna-se anárquico, o que não significa
sem leis, significa a lei do mais forte.
Ao invés da lei
social, passa a valer a lei do indivíduo.
A sociedade não tem
mais a força para escolher suas próprias leis e fazê-las
aplicadas. Uma lei de todos, para todos, democracia, na definição
clássica de Abraham Lincoln.
Ela não vive mais sob
a lei da sua escolha, vive sob a lei dos indivíduos que reúnem mais
poder. Tirania, como vimos definindo.
E, como dito, não é
apenas a tirania extrema, de um Hitler ou um Stalin, que significa
tirania. Ela comporta vários graus, sempre relacionados ao grau de
impunidade que domina uma sociedade.
A tirania comporta
vários graus, e a tirania comporta várias formas. Pode ser tirarem
seu direito de trabalhar, impondo muitas regras e proibições, por
exemplo, para você abrir a sua empresa, começar o seu negócio.
Os exércitos de
burocracia, a multidão de leis e regulamentos, são, assim, formas
da tirania.
Como pode ser livre a
sociedade que falha ao punir seus assassinos e ladrões?
O indivíduo e a
sociedade que aceitam o crime condenam-se à escravidão.
Não é um soldado para
escorar sua lei, a lei de seu povo, nascida dos seus valores, nutrida
pela discussão civilizada, num processo democrático.
Se esta lei diz: “Não
se pode roubar, não se pode matar”, esta lei merece aplicação.
Que leniência, que
covardia, a dos que não dão suas vidas para suportar e apoiar estas
leis! Para fazer valer o direito de nossos filhos e filhas a um país
livre!
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