sábado, 4 de agosto de 2012

Pensando o Mensalão

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Um dia
- Marquem minhas palavras 
-  Ainda vira o mensalão
Uma piada de salão.

- Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, expulso do Partido, recém readmitido nas hostes petistas, réu do processo do mensalão, profeta e poeta.




O mensalão tem sido definido com palavras fortes. Segundo nosso Procurador Geral da República, “foi o mais escandaloso caso de corrupção no Brasil. Maculou-se a República.”

Caso ocorrido há longos sete anos atrás, chega agora na fase de seu Supremo Julgamento. Armou-se todo o circo com a pompa devida: este seria o Julgamento do Milênio, e etc.

Advogados milionários desfilando ternos de 6 milhões de dólares. Exércitos de seguranças enfileirados, transmissão ao vivo para 100 milhões de espectadores.

Eu, daqui, nem tenho estômago para tal festim diabólico. Tenho me preservado passando os olhos rápido pelo jornal, vendo o noticiário da noite, com seu desfile de imagens tétricas.

Tenho me dedicado mais aos livros, boa literatura, Ciropedia, que acabo de ler (tem a ver com Política, mas é Política com P maiúsculo). Um bom policial sueco, Henning Mankell, que ninguém é de ferro. Estou com vontade de ler também um Sherlock Holmes, tudo relacionado, podem ver, mas preciso da fantasia e da catarse de um crime bem solucionado e punido. Precisa-se preservar a mente.

Já o mensalão, propriamente dito, não há quem aguente esmiuçar centenas de matérias de jornal sem ficar doente. Entrevista com advogados? Deus me livre!

Às vezes penso em cancelar a assinatura do jornal, mas sei que não farei isso. Um cidadão – isto é, homem que se quer livre – não pode renunciar a acompanhar e participar da sua política local, mesmo que se sinta dentro de uma pocilga.

Passo os olhos, assim, nas manchetes. Às vezes alguma coisa especialmente bizarra se destaca contra o pano de fundo da nojeira constante: como este caso, de uma lei feita para justificar o desvio de alguns milhões de dinheiros públicos.

Foi este o caso: no processo do mensalão, acusa-se Marcos Valério, o publicitário carequinha, como o definiu o denunciante e co-réu do esquema, deputado federal cassado Roberto Jefferson, de ter feito um contrato com o Banco do Brasil, e deixado de repassar alguns milhões de dinheiros públicos para este Banco.

Simples assim: Valério embolsou alguns milhões de dinheiros públicos, que deveria ter dado ao Banco do Brasil mas não deu.

Que é feito deste dinheirinho? Ninguém sabe ninguém viu. Ou viu algum ou alguns dos malandros, que ficaram com ele nos bolsos, nas maletas, nas cuecas... deve ter servido para reformar alguma piscininha de cobertura, para comprar um uisquinho importado pra malandros, ou caviar nosso de cada dia...

Sabe como é, gente fina é outra coisa... e o Procurador Geral da República denunciou que o esqueminha do mensalão utilizava carros-fortes... CARROS-FORTES, DISTINTO PÚBLICO, TAL ERA O VOLUME DA DINHEIRAMA...

Pois bem. Tudo parecia tão bem definido. Marcos Valério sumiu com alguns milhões devidos ao Banco DO BRASIL, OUVIRAM BEM?

Mas agora veio uma nova lei, e, em cima dela, uma nova interpretação. Como num passe de mágica, do dia para a noite, defende-se que aqueles milhões devidos por Marcos Valério ao Banco do Brasil podem ficar com o publicitário mesmo. Está tudo certo, tudo legal, todos dormem bem, no país dos bruzundangas.

Tal lei, respeitável público, que gerou tal interpretação, proveio da pena de José Eduardo Cardozo, à época deputado federal pelo PT, hoje Ministro da Justiça do Governo Dilma Rousseff.

A interpretação, respeitável público, proveio da recém-empossada Ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, coincidentemente mãe do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, coincidentemente partido da base aliada do PT no Governo Dilma.

Falar sobre isto é “dar uma palhinha” do tipo de jogada que acontece nos arredores desse Mensalão. É passear um pouco pela Histórica Política e Cultural do país... cada caminho com infinitas bifurcações, como aquele jardim de Borges.

É também um bocado de trem-fantasma, e de circo dos horrores... é um belo símbolo para a República: o Mensalão, gigante medonho, de olhos fúlgidos, pairando sobre Brasília, misto de Leviatã com Behemoth...


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