
Um dia
- Marquem minhas
palavras
- Ainda vira o
mensalão
Uma piada de salão.
- Delúbio Soares,
ex-tesoureiro do PT, expulso do Partido, recém readmitido nas
hostes petistas, réu do processo do mensalão, profeta e poeta.
O mensalão tem sido
definido com palavras fortes. Segundo nosso Procurador Geral da
República, “foi o mais escandaloso caso de corrupção no Brasil.
Maculou-se a República.”
Caso ocorrido há
longos sete anos atrás, chega agora na fase de seu Supremo
Julgamento. Armou-se todo o circo com a pompa devida: este seria o
Julgamento do Milênio, e etc.
Advogados milionários
desfilando ternos de 6 milhões de dólares. Exércitos de seguranças
enfileirados, transmissão ao vivo para 100 milhões de espectadores.
Eu, daqui, nem tenho
estômago para tal festim diabólico. Tenho me preservado passando os
olhos rápido pelo jornal, vendo o noticiário da noite, com seu
desfile de imagens tétricas.
Tenho me dedicado mais
aos livros, boa literatura, Ciropedia, que acabo de ler (tem a ver
com Política, mas é Política com P maiúsculo). Um bom policial
sueco, Henning Mankell, que ninguém é de ferro. Estou com vontade
de ler também um Sherlock Holmes, tudo relacionado, podem ver, mas
preciso da fantasia e da catarse de um crime bem solucionado e
punido. Precisa-se preservar a mente.
Já o mensalão,
propriamente dito, não há quem aguente esmiuçar centenas de
matérias de jornal sem ficar doente. Entrevista com advogados? Deus
me livre!
Às vezes penso em
cancelar a assinatura do jornal, mas sei que não farei isso. Um
cidadão – isto é, homem que se quer livre – não pode renunciar
a acompanhar e participar da sua política local, mesmo que se sinta
dentro de uma pocilga.
Passo os olhos, assim,
nas manchetes. Às vezes alguma coisa especialmente bizarra se
destaca contra o pano de fundo da nojeira constante: como este caso,
de uma lei feita para justificar o desvio de alguns milhões de
dinheiros públicos.
Foi este o caso: no
processo do mensalão, acusa-se Marcos Valério, o publicitário
carequinha, como o definiu o denunciante e co-réu do esquema,
deputado federal cassado Roberto Jefferson, de ter feito um contrato
com o Banco do Brasil, e deixado de repassar alguns milhões de
dinheiros públicos para este Banco.
Simples assim: Valério
embolsou alguns milhões de dinheiros públicos, que deveria ter dado
ao Banco do Brasil mas não deu.
Que é feito deste
dinheirinho? Ninguém sabe ninguém viu. Ou viu algum ou alguns dos
malandros, que ficaram com ele nos bolsos, nas maletas, nas cuecas...
deve ter servido para reformar alguma piscininha de cobertura, para
comprar um uisquinho importado pra malandros, ou caviar nosso de cada
dia...
Sabe como é, gente
fina é outra coisa... e o Procurador Geral da República denunciou
que o esqueminha do mensalão utilizava carros-fortes...
CARROS-FORTES, DISTINTO PÚBLICO, TAL ERA O VOLUME DA DINHEIRAMA...
Pois bem. Tudo parecia
tão bem definido. Marcos Valério sumiu com alguns milhões devidos
ao Banco DO BRASIL, OUVIRAM BEM?
Mas agora veio uma nova
lei, e, em cima dela, uma nova interpretação. Como num passe de
mágica, do dia para a noite, defende-se que aqueles milhões devidos por Marcos Valério
ao Banco do Brasil podem ficar com o publicitário mesmo. Está tudo
certo, tudo legal, todos dormem bem, no país dos bruzundangas.
Tal lei, respeitável
público, que gerou tal interpretação, proveio da pena de José
Eduardo Cardozo, à época deputado federal pelo PT, hoje Ministro da
Justiça do Governo Dilma Rousseff.
A interpretação,
respeitável público, proveio da recém-empossada Ministra do
Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, coincidentemente mãe do
Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, coincidentemente
partido da base aliada do PT no Governo Dilma.
Falar sobre isto é
“dar uma palhinha” do tipo de jogada que acontece nos arredores
desse Mensalão. É passear um pouco pela Histórica Política e
Cultural do país... cada caminho com infinitas bifurcações, como
aquele jardim de Borges.
É também um bocado de
trem-fantasma, e de circo dos horrores... é um belo símbolo para a
República: o Mensalão, gigante medonho, de olhos fúlgidos,
pairando sobre Brasília, misto de Leviatã com Behemoth...
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