Grandes são os
desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas
toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo,
o tal solo que é tudo.
Grandes são os
desertos e as almas desertas e grandes -
Desertas porque não
passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali
se vê tudo, e tudo morreu.
(Fernando Pessoa, como
Álvaro de Campos)
Em 2012 não acabou o
mundo? Estamos aí, bobamente comemorando uma ilusão: “O mundo não
acabou! O mundo não acabou! Viva, viva!”
Quem disse que não
acabou? Para as pobres vítimas de bala perdida, o mundo acabou. Para
uma pobre indiana violentada e assassinada por seis covardes, acabou.
Para as crianças
assassinadas na escola americana, acabou.
Para a criança de 2
anos, filha de uma mãe de dezenove, estuprada e assassinada por seu
padrasto de 19 anos, acabou. Não, não aconteceu em Marte, ou em
Júpiter, aconteceu em Marechal Hermes, aqui no Estado do Rio.
Injustiças bizarras,
notícias bizarras, triste coleção do pior do ser humano.
O mundo, globalizado,
globaliza sua imensa miséria.
Por estas plagas, o
Governo maquia a bagatela de 200 bilhões de reais, pra fechar as
contas públicas.
Notícias bizarras,
injustiças bizarras, misérias bizarras, roubos, e fraudes, e
corrupções bizarras, o macro reflexo do micro. O asqueroso covarde
que violenta um bebê, o asqueroso covarde que joga o jogo de
embolsar milhões por debaixo do pano, os milhões que vão faltar lá
na frente, na emergência de um Hospital, pra uma criança que irá
morrer à míngua de tratamento...
Como pode o ser humano
resistir, se não fosse a Esperança?
Esperança de
conquistar dias melhores, dias longe da injustiça, da violência, do
absurdo.
Esperança de melhores
leis, melhores homens, melhor futuro.
Mas a esperança, por
sagrada que seja, pode tornar-se vã, se não houver resistência. Se
as decisões e os processos decisórios ficarem nas mãos dos piores
homens, os mais corruptos, os mais venais, os maiores exploradores.
Aqueles que se
entupiram tanto de sangue que se converteram em legítimos vampiros,
cevados na propina, nos esquemas pra desviar bilhões em prol da
patota, os repartidores de butim, os grandes justificadores dos
saques ao Erário.
“Vamos criar mais um
cargo! Mais uma comissão! Mais um Ministério! Mais um rabiscador de
papel! Mais um carimbo de exigência! Mais um salário pra
rapaziada!”
Tudo, claro, com
justificativas no Interesse Público, na Justiça Social, no
atendimento a uma grande demanda da população, etc. etc.
E não mudam o discurso
nem com a evidência diante dos olhos, população desdentada,
espremida em engarrafamentos, atropelada nas calçadas, morrendo de
bala perdida, morrendo porque faltou o médico, sendo tratada como
lixo em infinitas repartições, crescendo analfabetas, analfabetas
mesmo quando frequentadora de escolas por longos anos, se matando por
causa de par de tênis, se matando por conta de 7 reais, se matando a
troco de nada, atirando pelas costas na frente do filho, um longo
rosário de crueldades, mas isso atinge pouco os que estão lá em
cima, com seguranças e grades, e planos de saúde excepcionais,
deixando os extorsivos só para o resto da população, “aquela
gentalha”, com confortos e mordomias, enquanto o fogo arde aqui
embaixo, sempre achando que merece mais um pouco, que são uns
grandes e importantes benfeitores deste povo...
Não são estes os
governantes que te darão as melhores leis, pode estar certo disso.
Não é pra estes que
você pode delegar todo o seu poder, e depois esperar que tudo corra
pelo melhor. Esta é uma esperança vã.
Se você quer alguma
coisa melhor, precisa responsabilizar-se por isso. Mas quantos
brasileiros atenderão ao chamado: “Brasileiros, uni-vos!”
E no mundo? Como
convocar o mundo para reformar estes perniciosos valores? “Honestos
cidadãos deste mundo, uni-vos!”
De que forma se negaria
o alimento com o qual se farta a hipocrisia, a corrupção, a
vagabundagem arrogante que exige que o outro trabalhe, mas que não
trabalha ela mesma?
De que forma construir
um sistema menos desumano, que valorize o trabalho, que valorize o
homem pacífico que trabalha, que atende suas responsabilidades, com
boa vontade, na medida de suas forças, e que deve ter seus direitos
fundamentais preservados, sua intimidade, sua propriedade, sua vida,
sua honra. Sua liberdade.
E que deve ter direito
ao lazer, ao descanso. E o direito de ter uma oportunidade justa,
para estudar, para trabalhar, e ver seus filhos terem esta mesma
oportunidade.
Um ser livre, entre
iguais. Que belo ideal! E como fazer para realizá-lo, e mantê-lo?
Uma lei igual para
todos.
Quer ganhar dinheiro?
Então trabalhe honestamente. O Estado complementará a sua renda, a
um patamar mínimo, se o trabalho que você é capaz de desempenhar
honestamente não lhe proporcionar um retorno compatível com a
dignidade humana.
Isto se chama
redistribuição; isto se chama proporcionar bem estar para a
população.
Isto se chama
prestigiar quem trabalha.
E que haja uma escola,
única para todos. Pobres e ricos, o filho do pedreiro estudando com
o filho do advogado, juntos, na mesma escola. E, junto com eles, o
filho do mendigo, do desempregado.
Estudando as mesmas
lições, com os mesmos professores, com o mesmo direito de cobrar à
escola. Mas, cobrando pouco, ou cobrando nada, de quem pode pagar
pouco ou nada. E, proporcionalmente, cobrando algo das famílias que
tiverem melhores condições de contribuir.
E na questão
tributária? Cobre-se idêntico percentual sobre a renda, para todos.
Os que ganham mais contribuem mais, mas sem alíquotas diferenciadas,
para mais ou para menos.
Aí está o problema
com a Igualdade. Todos a prezam, de boca, todos encontram boas razões
para atentar contra ela.
Todos acham normal
haver uma regra pra um, e outra regra pra outro. Uma tal diretora do
FMI, um tal alto cargo de governo, recebe isenção de imposto. Como
se justifica, se a lei tem de ser igual para todos?
Daí, vêm os
socialistas, e querem pregar uma alíquota de 75% sobre os mais
ricos.
Mas não precisa ser a
lei igual para todos?
Esta é a maldita
hipocrisia, que cega mesmo alguns inadvertidos. Que juram que se
batem pela igualdade, e logo se vêem praticando os maiores
despotismos.
Alguns, inadvertidos,
outros apenas tirando a máscara que escondia os desejos mais
tirânicos.
Pois o que podem falar
de igualdade aqueles que deram causa a prisões em massa,
assassinatos em massa? Não estavam estes praticando o grau mais
elevado de desigualdade entre os homens, desigualdade entre vítimas
e carrascos?
Estes, querem
igualdade, desde que (este
“desde que” é que mata...) os ricos. exploradores. burgueses.
conservadores. contra-revolucionários. judeus. bruxas. drogados.
homossexuais. negros. mulheres (escolha o seu termo) desapareçam.
Ou, pelo menos, conheçam seu lugar na ordem das coisas.
Aí, sim, vai poder raiar o sol da liberdade. Aí, sim, vão poder
mostrar suas melhores qualidades, aí sim, vão poder ser iguais,
entre os justos e bons como eles mesmos.
Esquecem
que não há uma característica do ser humano que possa ser
destacada do ser humano, restando apenas as características “boas”.
Não há um gene da burguesia, ou do exploração, ou da ganância,
ou da calhordice, como queiram.
Há
um único pobre ser humano, nu, confuso, ignorante, cheio de
qualidades maravilhosas e defeitos horripilantes. Igualmente capaz
para a grandeza como para a baixeza.
Um único ser humano,
que ontem dormiu, que hoje acordou, que foi ao banheiro, e comeu, ou
sentiu fome, e que se sentiu uma miséria, e que se sentiu o maioral,
e que pensou, e falou, e odiou, e amou. Um único ser humano, algo
assim como você e eu.
Um único ser humano,
demandando por igualdade. Não, não é possível tratar de forma
diferente, o único ser humano. Não é possível dividir: esta
classe de ser humano merece viver. Esta outra classe merece morrer.
Serei bons para estes.
Ruim para aqueles.
Não é a renda, não é
a cor da pele, não é a ascendência, não são hábitos e
circunstâncias específicas o que pode servir como critério de
diferenciação.
Um único ser humano,
você, e eu, e ele. Não é possível amar ao próximo e desamar ao
próximo. Amar a si mesmo, e desamar ao próximo.
O ser humano clama por
esta igualdade. Isto que ele identifica como a Justiça.
“Fazer ao outro como
quereis que vos façam”.
Mas o ser humano se
perde quando se deixa tentar pelos privilégios. “Não nos deixei
cair em tentação”. Quando se deixa dominar pela ansiedade quanto
ao futuro. “Olhai os lírios do campo”.
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O resumo da história,
até aqui.
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