
Uma grande praga
atingiu o mundo em 1920, depois da febre espanhola.
Foi a lei seca, nos
Estados Unidos.
Talvez que o planeta
estivesse muito debilitado, depois dos cinco anos da guerra mais
horrenda e assombrosa já vista.
Uma guerra de
proporções planetárias. Uma guerra de técnicas cientificamente
apuradas pra matar e morrer. Uma guerra de milhões de mortos. Uma
guerra que levou a fina flor da juventude das grandes nações da
época, das nações que até então dominavam, orgulhosas, o mundo.
Uma guerra que mudou o eixo político do mundo, que viu morrer um
sistema, pra deixar nascer outro.
Talvez da mesma forma
que os corpos e mentes estivessem debilitados depois dessa guerra, o
histerismo andasse em alta.
Os pregadores apontando
pra infernos, ameaçando com terrores eternos, e à cata de bodes
expiatórios para as multidões.
Pressionando para fazer
uma lei contra o álcool, uma loucura de cruzada para salvar o mundo
desta diabólica droga. E, para tão santos propósitos, apenas o
radicalismo se afigura satisfatório: tratava-se de proibir,
criminalizar, erradicar, abolir esta droga da face da Terra. Uma
Solução Final, nada menos.
As bruxas andavam
soltas, em 1920, semeando suas pragas, de resultados duradouros.
A lei seca perdurou de
1920 a 1933. E qual foi o resultado?
O império do crime que
se armou. Os gângsteres, comprando aos montes metralhadoras
Thompson. Estavam cheios de dinheiro, e disputavam território. E
quanto deste monte de dinheiro não serviu à corrupção de
policiais, de juízes, de políticos?
“O Nobre
Experimento”, como os defensores da lei seca costumavam chamá-la,
trazia estes pavorosos resultados.
Em 1933 os custos da
proibição para os EUA eram por demais elevados, e a lei seca teve
de ser revogada.
Mas seus efeitos
deletérios continuariam a se fazer sentir. Afinal, quem se habituou
ao monte de dinheiro proporcionado pela proibição havia
desenvolvido uma forte dependência.
O império do crime
tinha se habituado àquela montanha de dinheiro ilegal. O império
da lei, idem.
Mansões, piscinas,
iates, as grandes festas, os grandes Gatsby, os anos loucos...
E agora vinham dizer
que a farra precisava terminar?
Terminou, de fato, numa
Grande Depressão, mas isto já é outra história.
Agora, estamos falando
da grana do crime. Dos bilhões que deixaram de circular do bolso de
gângsteres para os bolsos de autoridades, via suborno.
Duas montanhas de
dinheiro, e uma tal mina de ouro não poderia ficar sem exploradores
por muito tempo.
É verdade, em relação
ao álcool, droga tão disseminada, tão próxima, os custos eram
proibitivos.
Ter de aturar guerra de
gangues no próprio território não é brincadeira. Lojas que
explodem, manchetes desagradáveis, fotos que embrulham o estômago...
“Mas” - alguém se
perguntou, e esta foi a pergunta de um bilhão de dólares - “e se
levássemos a proibição a outras drogas, menos inseridas no
contexto social, de preferência produzidas bem longe daqui (deixem
para outros países os custos de lidar com os grandes cartéis
produtores), iniciando uma nova guerra contra as drogas?”
Os resultados? Ora, é
a repetição da História: agora, temos fuzis AR-15. O resto é o
mesmo, corrupção, mortes, decadência.
Bilhões de dinheiros
para cair nas mãos dos criminosos, os novos gângsteres; bilhões de
dinheiros para corromper autoridades.
E bilhões em verba
para os aparatos de repressão. Bilhões para lutar uma guerra sem
fim. Bilhões para multiplicar os condenados, multiplicar os
presídios. E o que se ganhou com isso? Quais foram os resultados?
Ninguém pergunta por
isso. Seguem com uma resposta emocional, programada: “Polícia,
processo, cadeia neles! Vamos produzir um mundo sem drogas! (olha o
noble experiment aí...) Um mundo de puros, e isso já lembra os
nazistas...
Vamos convocar o
Capitão Nascimento pra acabar com essa bandidagem, passa o cerol
neles...
Manipularam (manipulam)
grotescamente as emoções, os preconceitos sociais... prometem o
paraíso, entregam o inferno... tudo bem, porque assim ficam
assegurados os bilhões de dinheiro ilegal, o caviar dos políticos
corruptos.
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