quarta-feira, 22 de maio de 2013

Política de Droga



 

Uma grande praga atingiu o mundo em 1920, depois da febre espanhola.

Foi a lei seca, nos Estados Unidos.

Talvez que o planeta estivesse muito debilitado, depois dos cinco anos da guerra mais horrenda e assombrosa já vista.

Uma guerra de proporções planetárias. Uma guerra de técnicas cientificamente apuradas pra matar e morrer. Uma guerra de milhões de mortos. Uma guerra que levou a fina flor da juventude das grandes nações da época, das nações que até então dominavam, orgulhosas, o mundo. Uma guerra que mudou o eixo político do mundo, que viu morrer um sistema, pra deixar nascer outro.

Talvez da mesma forma que os corpos e mentes estivessem debilitados depois dessa guerra, o histerismo andasse em alta.

Os pregadores apontando pra infernos, ameaçando com terrores eternos, e à cata de bodes expiatórios para as multidões.

Pressionando para fazer uma lei contra o álcool, uma loucura de cruzada para salvar o mundo desta diabólica droga. E, para tão santos propósitos, apenas o radicalismo se afigura satisfatório: tratava-se de proibir, criminalizar, erradicar, abolir esta droga da face da Terra. Uma Solução Final, nada menos.

As bruxas andavam soltas, em 1920, semeando suas pragas, de resultados duradouros.

A lei seca perdurou de 1920 a 1933. E qual foi o resultado?

O império do crime que se armou. Os gângsteres, comprando aos montes metralhadoras Thompson. Estavam cheios de dinheiro, e disputavam território. E quanto deste monte de dinheiro não serviu à corrupção de policiais, de juízes, de políticos?

“O Nobre Experimento”, como os defensores da lei seca costumavam chamá-la, trazia estes pavorosos resultados.

Em 1933 os custos da proibição para os EUA eram por demais elevados, e a lei seca teve de ser revogada.

Mas seus efeitos deletérios continuariam a se fazer sentir. Afinal, quem se habituou ao monte de dinheiro proporcionado pela proibição havia desenvolvido uma forte dependência.

O império do crime tinha se habituado àquela montanha de dinheiro ilegal. O império da lei, idem.

Mansões, piscinas, iates, as grandes festas, os grandes Gatsby, os anos loucos...

E agora vinham dizer que a farra precisava terminar?

Terminou, de fato, numa Grande Depressão, mas isto já é outra história.

Agora, estamos falando da grana do crime. Dos bilhões que deixaram de circular do bolso de gângsteres para os bolsos de autoridades, via suborno.

Duas montanhas de dinheiro, e uma tal mina de ouro não poderia ficar sem exploradores por muito tempo.

É verdade, em relação ao álcool, droga tão disseminada, tão próxima, os custos eram proibitivos.

Ter de aturar guerra de gangues no próprio território não é brincadeira. Lojas que explodem, manchetes desagradáveis, fotos que embrulham o estômago...

“Mas” - alguém se perguntou, e esta foi a pergunta de um bilhão de dólares - “e se levássemos a proibição a outras drogas, menos inseridas no contexto social, de preferência produzidas bem longe daqui (deixem para outros países os custos de lidar com os grandes cartéis produtores), iniciando uma nova guerra contra as drogas?”

Os resultados? Ora, é a repetição da História: agora, temos fuzis AR-15. O resto é o mesmo, corrupção, mortes, decadência.

Bilhões de dinheiros para cair nas mãos dos criminosos, os novos gângsteres; bilhões de dinheiros para corromper autoridades.

E bilhões em verba para os aparatos de repressão. Bilhões para lutar uma guerra sem fim. Bilhões para multiplicar os condenados, multiplicar os presídios. E o que se ganhou com isso? Quais foram os resultados?

Ninguém pergunta por isso. Seguem com uma resposta emocional, programada: “Polícia, processo, cadeia neles! Vamos produzir um mundo sem drogas! (olha o noble experiment aí...) Um mundo de puros, e isso já lembra os nazistas...

Vamos convocar o Capitão Nascimento pra acabar com essa bandidagem, passa o cerol neles...

Manipularam (manipulam) grotescamente as emoções, os preconceitos sociais... prometem o paraíso, entregam o inferno... tudo bem, porque assim ficam assegurados os bilhões de dinheiro ilegal, o caviar dos políticos corruptos.





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