terça-feira, 2 de agosto de 2011

Igualdade

“Ouviste o que foi dito: Amarás teu próximo e odiarás teu inimigo. Eu porém vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” - Mateus, 5, 43



Constatar que as pessoas são enormemente diferentes, e não querer lutar contra este fato.


Eis aí a grande esperança, e o grande desafio que se coloca à nossa atual forma de desenvolvimento político, este experimento que é a Grande Sociedade Aberta.


Por um lado, vemos as forças irresistíveis da História, que configuraram esta nova forma de convivência humana. O mundo hoje é menor, mais próximo, mais conhecido.


O mundo hoje conhece japoneses, americanos, ucranianos. Tribos da África, católicos, judeus, e mulçumanos. E hinduístas, e budistas.


E, após tantas guerras, tanto preconceito, tanto racismo, o mundo vai entendendo que todos somos apenas formas diferentes de levar esta vida. Não melhores, não piores, diferentes formas de viver a vida.


Depois de tanto ódio, de tanto medo, de tanta ganância. De usar o diferente como escravo, como coisa. De se justificar como superior, e impor o infortúnio a um pretenso inferior.


Sei que seguimos vivendo tudo isso. Não houve qualquer transformação mágica do ser humano. Mas também é verdade que muitos começaram a questionar esta forma de usar a diferença para constituir os privilégios.


Uma idéia nova permeou o ar, e não é de hoje. Parece que sempre esteve soprando no vento, uma pequena voz açucarada, prometendo Paraísos e flores, ao invés desta miséria cotidiana, que nos sangra a vista.


Uma idéia de não haver leões e cordeiros, nem senhores e escravos.


Começou a ser gritada esta idéia, e por vezes até se quebrou, sob a violência com que foi brandida. Mas mesmo se perdendo e se quebrando, ela persistia naquelas mentes que pediam esta transformação: Liberdade. Igualdade. Fraternidade.


Uma nova maneira de construir o mundo. Não mais senhores e escravos, mas cidadãos.


Significa dividir o mundo. Os poderes e as responsabilidades na condução do governo. Os direitos.


Direito de voto. Não para você, que é branco, ou não para você, que é negro. Não para você, que é rico, ou não para você, que é pobre. Para todos.


Direito de ter uma opinião. Direito à sua crença, ou não crença, religiosa. Direito a escolher o seu trabalho. Direito a ter o seu negócio.


Dever de pagar tributos. Dever de respeitar as leis. De respeitar o próximo.


Igualdade, igualdade para todos.


“Igualdade”, eu pronunciei a palavra,

como se fosse um voto de casamento...


Um belo sonho, sem dúvida, mas que nunca pode se presumir concluído ou conquistado.


Afinal, todas as guerras e injustiças estão no nosso jornal de todos os dias, não é possível deixar de ver isso.


85 mortos no massacre da Síria.


É ilusório e escapista pensar que temos uma condição maravilhosa, e perfeitamente consolidada, e que podemos dormir sobre os louros. Entregar-mo-nos ao suave hedonismo de não saber e não querer saber de mais nada... uma ilha de prazeres de Circe, que aprisiona e diminui o homem...


Embora não se queira cair no outro extremo, do soldado em permanente guerra, onde nunca dorme... apreciar o seu vinho, apreciar o seu dia. Apreciar a família e os amigos.


Um homem em equilíbrio. Nada em excesso.


Um homem cumpridor dos deveres, por ele consentidos. Cumpridor de sua consciência. Jamais um escravo, jamais um senhor sobre outros homens.


Um belo ideal: o homem livre.


E como ser livre, se não se reconhece a liberdade para o outro homem? Se se considera que algum homem pode não ter um direito, direito de trabalhar, ou de andar na rua, ou de amar, ou de viver?


Na sociedade vemos que acontece a negação destes direitos, uma gangue que luta com outra, brancos que matam negros que matam brancos que matam chineses... vemos o ódio aflorar, mesmo em sociedades muito desenvolvidas.


Mas também é verdade que a sociedade procura punir os agressores, e procura dar a todos as condições para uma vida mais digna. E uma sociedade que abdica destes propósitos abdica de ser livre.



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