Alguns filmes,
lembrados ao acaso, com este tema de liberdade:
Um estranho no ninho –
no caldo cultural da era da contestação, este filme feito por um
refugiado do “paraíso socialista” (a Tchecoslováquia). Mas aqui
ele retrata o inferno totalitário na terra de Tio Sam. Jack
Nicholson, este gigante, na atuação de sua vida. Arrepiante.
Rebeldia indomável –
A direção de Stuart Rosenberg produz este libelo contra as
múltiplas formas de dominação do homem pelo homem. Os personagens,
embora tão humanamente delineados, assumem uma proporção mística.
A máquina de matar “Homem sem olhos”, o sádico diretor do
presídio, e, claro, Paul Newman como um homem crístico. Um filme de
soberbas qualidades.
Os Sete Samurais –
de Akira Kurosawa. No Japão feudal, uma aventura épica, mas também
quase documental, sobre uns camponeses que, premidos pela fome e pela
ameaça de extinção, decidem sacudir um jugo de milênios e
enfrentar os seus ladrões. Auxiliados por sete honrados samurais.
As Aventuras de Robin
Hood – A história arquetípica de um herói resistente ao poder de
um tirano usurpador. Até que o poder retorne ao bom príncipe, este
herói da selva, este fora-da-lei, irá resistir, impedindo a
injustiça, “tirando dos ricos para dar aos pobres”. A energia de
Errol Flynn, a direção vigorosa de Michael Curtiz, é a melhor
versão deste clássico.
Jesse James – de
Henry King, com Tyrone Power e Henry Fonda. Outra história de
fora-da-lei, desta vez no far-west americano. A opressão e a
arrogância dos ricos e poderosos provocando a reação violenta de
quem está farto de receber injustiça. Outra história arquetípica,
com seus lances de lealdade e traição, de coragem e de covardia.
Completa-se com “A volta de Frank James”, de Fritz Lang.
Pink Floyd – The Wall
– o ótimo Alan Parker transpõe esta ópera rock do Pink Floyd
(escrita por Roger Waters) para as telas. Uma contundente denúncia
das múltiplas formas de opressão humana, desembocando no caos da
guerra.
Hair – de novo o
diretor Milos Forman (de Um estranho no ninho), neste vivo e vibrante
musical.
Woodstock – a força
do rock, derrubando muros. Destaque para aquela Força da Natureza, o
sr. Jimi Hendrix.
O Processo – de Orson
Welles. Este terrível pesadelo de um mundo dominado pela opressão
mais absoluta. Um mundo sem redenção, um assassinato terrível ao
fim de um absurdo processo. O retrato do homem mais desamparado de
liberdade.
Cidadão Kane – de
Orson Welles. Porque este filme em si representa a liberdade, pela
genialidade do diretor que não se prende a um único estilo de
cinema, antes aproveita tudo, do expressionismo ao realismo, com
ampla liberdade, para contar sua história, ao mesmo tempo pessoal,
ao mesmo tempo universal, de ascensão e queda humanas.
Brazil, o filme – de
Terry Giliam segue esta linha distópica de uma absoluta ausência de
liberdade. Um Estado futurista, surrealista, e que, como boa ficção
científica e surreal, mostra profundas realidades. De notar que o
roteiro teve a colaboração do famoso dramaturgo Tom Stoppard, como
Milos Forman, vejam só, oriundo da antiga Tchecoslováquia.
O Encouraçado
Potemkin, e Outubro – de Sergei Eisenstein. O primeiro com uma
narrativa mais realista, o segundo se valendo amplamente de imagens
arquetípicas, são ambos os filmes emblemáticos do “cinema da
liberdade”. Imprescindíveis.
Spartacus – de
Stanley Kubrick. Mostrando a Roma antiga, um episódio histórico,
constrói um libelo contra a opressão do homem pelo homem para todos
os tempos. Kubrick vai beber na fonte do cinema revolucionário
soviético para compor suas empolgantes e impressionantes cenas de
afirmação da liberdade. Não esquecer o fantástico roteiro de
Dalton Trumbo, este perseguido pelas listas-negras, macartistas,
norte-americanas.
A Trilogia da Vida –
de Pasolini, compreendendo os filmes: Decameron, Os Contos de
Canterbury, e As 1001 Noites. Em que Pasolini aborda, com a ajuda
destes clássicos da literatura, o tema do Amor, esta mais livre das
criaturas.
Crônica de um amor
louco – de Marco Ferreri, transpondo a literatura de Charles
Bukowski para as telas, este grande inconformado. Ótima atuação de
Ben Gazzara. E com a linda Ornella Muti.
O Caso dos Irmãos
Naves – de Luís Sérgio Person. Para pensarmos o que foi o período
de ditadura do Estado Novo.
Pra frente Brasil –
de Roberto Farias. Para pensarmos o que foi o período da ditadura
militar. Ótima atuação de Reginaldo Faria.
O Diabo a Quatro – A
anarquia feroz dos Irmãos Marx. O humor selvagem alheio a qualquer
compromisso com “vacas sagradas”.
E por falar em humor
sem compromisso com “vacas sagradas”, A Vida de Brian – Monty
Python:
E por falar em humor,
Charles Chaplin. Sempre podemos lembrar de O Grande Ditador:
mas prefiro ainda o
Vagabundo dos curtas no início da carreira, sempre feroz na luta por
comida e pela vida, uma ferocidade tamanha que se sublimava e se
transcendia até o humor do outro lado. Até o humor e a liberdade,
um vagabundo com uma estrada à frente. Nada a perder, tudo a ganhar.