sábado, 26 de maio de 2012

Um homem é aquilo que faz


Um homem não é medido por suas circunstâncias. É medido por aquilo que faz.

Esta é a regra básica que os imbecis não compreendem.

Um homem não é definido por ter muitos bens. Epicteto: “você admiraria uma serpente dentro de um copo de ouro?”

Um homem na prisão. Um homem condenado à morte.

Têm a certeza de que ele não é a vítima inocente de uma turba insana, de um poder corrupto, um poder destinado à morte, um poder decadente?

Uma estrela da manhã, filha do orgulho, caída do firmamento?

Quem vai para o melhor caminho, Sócrates condenado à morte, a multidão condenada à vida? “Quem segue melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto para a divindade.”


***



É isto o homem?

Campos de Auschwitz, gulags da Sibéria, prisões do Sul dos Estados Unidos, presídios hiper-lotados do Brasil.

O homem é aquilo que faz.

Será que a pobre vítima de um destes campos, merecia mesmo aquele destino cruel.

Será que vamos ter o orgulho de afirmar:

“Ele devia mesmo estar ali. Alguma ele fez.”

E como sabemos disso?

Como conhecemos a vida de outro homem, para podermos julgá-la?

Julgamos pela vã certeza de nossos olhos. E nos orgulhamos tanto de termos olhos... “têm olhos mas não podem enxergar”.

Julgamos porque ele anda de helicóptero, ou porque ele está na prisão.

Julgamos, sim. Mas o que sabemos?

“E não é ignorância, a mais vergonhosa das ignorâncias, acreditar saber o que não se sabe?”

Será que ainda podemos pagar o preço de nos enganar, e sacrificar no altar da nossa ignorância
as vidas dos nossos filhos? Sacrificá-las à nossa crueldade, à nossa ambição, à nossa covardia?

Como podem se enganar assim?

Andando de helicóptero, para ir daqui para ali.

Curtindo nos melhores hotéis, com dinheiro que não é seu.

Vendendo sua alma por um jantar caro, ou por qualquer bagatela.

Será que pensou que o preço é só isso?

O que é que vai mostrar, do que fez como homem?

Vai mostrar o poder que teve, ou o dinheiro que roubou, ou o prazer que gozou?

Ou vai mostrar o homem que foi, um homem vendido à corrupção, cúmplice de todas as dores na Terra?


***


“Vão enforcar aquele homem”

“Mas que mal ele terá feito? Terá ele assassinado pessoas em série, terá torturado crianças, terá incendiado um asilo de velhos?”

“Não, imagina. Ele não fez nada disso. Ao contrário. Ele era bom com as crianças. Ele sentiu dolorosamente a perda de sua mãe. Ele era um homem gentil, leal pros amigos, não suportava a arrogância.”

“Mas então, o que terá feito?”

“Entrou em algum choque com alguma das autoridades. Um dos homens que mandam aqui. Reclamou dos malfeitos. Dos malfeitores. Reclamou dos feitores. Incomodou muita gente, sabe como é. Os donos da terra. Os que têm a polícia e o juiz no bolso.”

“Destino cruel.”

“O dele? Ou o dos malfeitores?”



***



Pelos frutos os conhecemos




Ele realizou seu destino humano.

Entre tristezas e alegrias. Entre dores e prazeres. Entre ódio e amor.

Ele realizou seu destino humano.

Em seu caminho não existiu a mentira. Ele nunca foi cruel ao mais pobre. Ele nunca bajulou o mais rico.

Ele realizou seu destino humano.

Em suas mãos não foi encontrada a destruição. Em sua boca não foi encontrada a mentira. Em seu coração não foi encontrado o ódio ao inimigo.

Ele realizou seu destino humano.

No sangue que jorrou pela fronte. No sangue que surgiu em suas costas. No sangue que suou por temor.

Ele realizou seu destino humano.

Morrendo abandonado do Pai. Morrendo sem ter um amigo. Morrendo para a dor de quem o ama.

Ele realizou seu destino humano.

Morrendo como uma criança na Síria. Morrendo como uma criança muçulmana. Morrendo como uma criança.

Ele realizou seu destino humano.



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