Um homem não é medido
por suas circunstâncias. É medido por aquilo que faz.
Esta é a regra básica
que os imbecis não compreendem.
Um homem não é
definido por ter muitos bens. Epicteto: “você admiraria uma
serpente dentro de um copo de ouro?”
Um homem na prisão. Um
homem condenado à morte.
Têm a certeza de que
ele não é a vítima inocente de uma turba insana, de um poder
corrupto, um poder destinado à morte, um poder decadente?
Uma estrela da manhã,
filha do orgulho, caída do firmamento?
Quem vai para o melhor
caminho, Sócrates condenado à morte, a multidão condenada à vida?
“Quem segue melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos,
exceto para a divindade.”
***
É isto o homem?
Campos de Auschwitz,
gulags da Sibéria, prisões do Sul dos Estados Unidos, presídios
hiper-lotados do Brasil.
O homem é aquilo que
faz.
Será que a pobre
vítima de um destes campos, merecia mesmo aquele destino cruel.
Será que vamos ter o
orgulho de afirmar:
“Ele devia mesmo
estar ali. Alguma ele fez.”
E como sabemos disso?
Como conhecemos a vida
de outro homem, para podermos julgá-la?
Julgamos pela vã
certeza de nossos olhos. E nos orgulhamos tanto de termos olhos...
“têm olhos mas não podem enxergar”.
Julgamos porque ele
anda de helicóptero, ou porque ele está na prisão.
Julgamos, sim. Mas o
que sabemos?
“E não é
ignorância, a mais vergonhosa das ignorâncias, acreditar saber o
que não se sabe?”
Será que ainda podemos
pagar o preço de nos enganar, e sacrificar no altar da nossa
ignorância
as vidas dos nossos
filhos? Sacrificá-las à nossa crueldade, à nossa ambição, à
nossa covardia?
Como podem se enganar
assim?
Andando de helicóptero,
para ir daqui para ali.
Curtindo nos melhores
hotéis, com dinheiro que não é seu.
Vendendo sua alma por
um jantar caro, ou por qualquer bagatela.
Será que pensou que o
preço é só isso?
O que é que vai
mostrar, do que fez como homem?
Vai mostrar o poder que
teve, ou o dinheiro que roubou, ou o prazer que gozou?
Ou vai mostrar o homem
que foi, um homem vendido à corrupção, cúmplice de todas as dores
na Terra?
***
“Vão enforcar aquele
homem”
“Mas que mal ele terá
feito? Terá ele assassinado pessoas em série, terá torturado
crianças, terá incendiado um asilo de velhos?”
“Não, imagina. Ele
não fez nada disso. Ao contrário. Ele era bom com as crianças. Ele
sentiu dolorosamente a perda de sua mãe. Ele era um homem gentil,
leal pros amigos, não suportava a arrogância.”
“Mas então, o que
terá feito?”
“Entrou em algum
choque com alguma das autoridades. Um dos homens que mandam aqui.
Reclamou dos malfeitos. Dos malfeitores. Reclamou dos feitores.
Incomodou muita gente, sabe como é. Os donos da terra. Os que têm a
polícia e o juiz no bolso.”
“Destino cruel.”
“O dele? Ou o dos
malfeitores?”
***
Pelos frutos os
conhecemos
Ele realizou seu
destino humano.
Entre tristezas e
alegrias. Entre dores e prazeres. Entre ódio e amor.
Ele realizou seu
destino humano.
Em seu caminho não
existiu a mentira. Ele nunca foi cruel ao mais pobre. Ele nunca
bajulou o mais rico.
Ele realizou seu
destino humano.
Em suas mãos não foi
encontrada a destruição. Em sua boca não foi encontrada a mentira.
Em seu coração não foi encontrado o ódio ao inimigo.
Ele realizou seu
destino humano.
No sangue que jorrou
pela fronte. No sangue que surgiu em suas costas. No sangue que suou
por temor.
Ele realizou seu
destino humano.
Morrendo abandonado do
Pai. Morrendo sem ter um amigo. Morrendo para a dor de quem o ama.
Ele realizou seu
destino humano.
Morrendo como uma
criança na Síria. Morrendo como uma criança muçulmana. Morrendo
como uma criança.
Ele realizou seu
destino humano.
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