Este verão escaldante
está sendo pródigo em produzir símbolos da nossa falta de rumo
como nação. Sempre no Rio de Janeiro, vitrine do nosso Brasil,
“Río? Samba, carnaval, Brézil!”, e com sensação térmica de
50°, vou pinçar alguns exemplos
do que quero dizer.
Primeiro, o ladrão
preso no poste:

Depois, a execução de
outro ladrão no subúrbio de Belford Roxo:

Por último, a morte do
cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante
protesto contra aumento de passagens de ônibus no Centro do Rio:

Cada uma dessas
notícias gerou manifestações, polêmicas, conversas de botequim,
reveladoras de uma sociedade partida, dividida em campos opostos,
pronta à Guerra Civil.
Estaremos próximos à
Alemanha pré-Hitler, quando nazistas e comunistas se enfrentavam nas
ruas para decidir quem estabeleceria uma ditadura sobre o povo
alemão?
O Pacto Social se
dissolve, porque falhou em fornecer a cada indivíduo segurança,
prosperidade, liberdade. Uma sociedade sadia vai se organizar com o
fundamento do trabalho honesto de seus membros, e garantir a cada um,
cumpridor de seu dever, saúde, educação, possibilidade de ascensão
social.
Quando este Pacto
Social falha, em seu lugar surgem os grupos combatentes. Cada qual
quer se apossar do Poder para garantir aos seus membros uma situação
de privilégio face ao resto da sociedade.
Querem se constituir
como senhores sobre escravos, e temem serem feitos escravos por
outros senhores.
A fidelidade ao seu
grupo passa a ser mais importante do que os valores sociais.
O membro do grupo
pratica depredação, roubo, agressão, assassinato? Mesmo assim se
vai defendê-lo. A mesma tolerância não será exercida se o culpado
for alguém do outro lado. Muito pelo contrário. Para o outro lado o
sentimento é de ódio, vingança.
A maior vítima, está
claro, é o império da lei. Mas este só prevalece quando se confia
no Pacto Social. E, aqui, as situação é justamente de dissolução
deste Pacto.
Na Alemanha,
pré-Hitler, derrotada na Primeira Guerra Mundial, sofrendo de
hiper-inflação, o Pacto se rompeu.
No Brasil atual, livre
de guerras, pelo menos externas, enriquecido pela elevação de
preços dos produtos primários que exportamos, o Pacto se rompe.
O que explica esta
diferença aparente entre os países, trazendo os mesmos resultados?
É a descrença da população em sua capacidade de sustentar um
Pacto Social que garanta as mesmas oportunidades para todos.
Ao contrário do
pensamento de Marx, não são as bases materiais que importam. É o
espírito, é o modo subjetivo das sociedades interpretarem suas
condições históricas.
A sociedade que perdeu
a esperança de lutar por manter um Pacto Social garantidor de cada
indivíduo está pronta para a Guerra Civil, está pronta para a
Ditadura. Behemoth e Leviathan.
Nesta sociedade, é a
coisa mais imbecil falar em direitos, em leis, em respeito aos
indivíduos. É coisa de um alienado, na melhor das hipóteses, na
pior, de um ardiloso hipócrita que busca enfraquecer a vontade dos
companheiros em armas.
Pois não vemos todos
que a corrupção impera, que se gastam milhares e milhões em
mordomias, em passagens aéreas para os senadores passearem de
férias, carregando famílias, namoradas e amigos, tudo pago com o
dinheiro público, está claro, e se emprestam, a fundo perdido,
bilhões e bilhões para os amigos, felizes financiadores de
campanhas?
E como se vai falar em
Pacto Social diante de tudo isto, como se vai falar em garantir Saúde
e Educação para todos?
O mundo, como se vê,
continuam estes, é dos mais espertos. O mundo é dos mais brutais,
dos mais decididos, dos mais sem escrúpulos. E, se o mundo é assim,
de nada adianta falar em Pacto Social ou algum outro nobre nome para
algum ideal vazio. Importa, sim, jogar o jogo, ser o mais brutal, o
mais decidido, o mais sem escrúpulos, e conquistar o Poder para
garantir a sua parte.
E assim, voilá, eis
uma sociedade preparada para a Guerra Civil, preparada para a
Ditadura. Behemoth e Leviathan.
Eis o caminho aberto
para se reunir uns em oposição a outros, nazistas contra judeus,
nós contra eles, quaisquer que sejamos nós, quaisquer que sejam
eles.
Porque se consegue
maior coesão interna quando se tem um inimigo; porque é mais fácil
ter um inimigo quando o despersonalizamos; porque um batalhão,
envolvido numa guerra, tem mais chances de vitória se permanecer
coeso.
Eis o caminho aberto
para os campos de concentração, e as execuções em massa.
Porque não são
propriamente pessoas, estão mais para coisas, pior, inimigos.
Tudo isso começou
quando se perdeu a esperança de construir uma Cidade Justa, de se
ter um Pacto Social eficaz, e se passou a almejar o Poder como
dominação de um grupo pelo outro. Senhores e escravos.
Behemoth e Leviathan.

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