quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Momentos difíceis no Brasil



Este verão escaldante está sendo pródigo em produzir símbolos da nossa falta de rumo como nação. Sempre no Rio de Janeiro, vitrine do nosso Brasil, “Río? Samba, carnaval, Brézil!”, e com sensação térmica de 50°, vou pinçar alguns exemplos do que quero dizer.

Primeiro, o ladrão preso no poste:

 

Depois, a execução de outro ladrão no subúrbio de Belford Roxo:

 

Por último, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante protesto contra aumento de passagens de ônibus no Centro do Rio:

 

Cada uma dessas notícias gerou manifestações, polêmicas, conversas de botequim, reveladoras de uma sociedade partida, dividida em campos opostos, pronta à Guerra Civil.

Estaremos próximos à Alemanha pré-Hitler, quando nazistas e comunistas se enfrentavam nas ruas para decidir quem estabeleceria uma ditadura sobre o povo alemão?

O Pacto Social se dissolve, porque falhou em fornecer a cada indivíduo segurança, prosperidade, liberdade. Uma sociedade sadia vai se organizar com o fundamento do trabalho honesto de seus membros, e garantir a cada um, cumpridor de seu dever, saúde, educação, possibilidade de ascensão social.

Quando este Pacto Social falha, em seu lugar surgem os grupos combatentes. Cada qual quer se apossar do Poder para garantir aos seus membros uma situação de privilégio face ao resto da sociedade.

Querem se constituir como senhores sobre escravos, e temem serem feitos escravos por outros senhores.

A fidelidade ao seu grupo passa a ser mais importante do que os valores sociais.

O membro do grupo pratica depredação, roubo, agressão, assassinato? Mesmo assim se vai defendê-lo. A mesma tolerância não será exercida se o culpado for alguém do outro lado. Muito pelo contrário. Para o outro lado o sentimento é de ódio, vingança.

A maior vítima, está claro, é o império da lei. Mas este só prevalece quando se confia no Pacto Social. E, aqui, as situação é justamente de dissolução deste Pacto.

Na Alemanha, pré-Hitler, derrotada na Primeira Guerra Mundial, sofrendo de hiper-inflação, o Pacto se rompeu.

No Brasil atual, livre de guerras, pelo menos externas, enriquecido pela elevação de preços dos produtos primários que exportamos, o Pacto se rompe.

O que explica esta diferença aparente entre os países, trazendo os mesmos resultados? É a descrença da população em sua capacidade de sustentar um Pacto Social que garanta as mesmas oportunidades para todos.

Ao contrário do pensamento de Marx, não são as bases materiais que importam. É o espírito, é o modo subjetivo das sociedades interpretarem suas condições históricas.

A sociedade que perdeu a esperança de lutar por manter um Pacto Social garantidor de cada indivíduo está pronta para a Guerra Civil, está pronta para a Ditadura. Behemoth e Leviathan.

Nesta sociedade, é a coisa mais imbecil falar em direitos, em leis, em respeito aos indivíduos. É coisa de um alienado, na melhor das hipóteses, na pior, de um ardiloso hipócrita que busca enfraquecer a vontade dos companheiros em armas.

Pois não vemos todos que a corrupção impera, que se gastam milhares e milhões em mordomias, em passagens aéreas para os senadores passearem de férias, carregando famílias, namoradas e amigos, tudo pago com o dinheiro público, está claro, e se emprestam, a fundo perdido, bilhões e bilhões para os amigos, felizes financiadores de campanhas?

E como se vai falar em Pacto Social diante de tudo isto, como se vai falar em garantir Saúde e Educação para todos?

O mundo, como se vê, continuam estes, é dos mais espertos. O mundo é dos mais brutais, dos mais decididos, dos mais sem escrúpulos. E, se o mundo é assim, de nada adianta falar em Pacto Social ou algum outro nobre nome para algum ideal vazio. Importa, sim, jogar o jogo, ser o mais brutal, o mais decidido, o mais sem escrúpulos, e conquistar o Poder para garantir a sua parte.

E assim, voilá, eis uma sociedade preparada para a Guerra Civil, preparada para a Ditadura. Behemoth e Leviathan.

Eis o caminho aberto para se reunir uns em oposição a outros, nazistas contra judeus, nós contra eles, quaisquer que sejamos nós, quaisquer que sejam eles.

Porque se consegue maior coesão interna quando se tem um inimigo; porque é mais fácil ter um inimigo quando o despersonalizamos; porque um batalhão, envolvido numa guerra, tem mais chances de vitória se permanecer coeso.

Eis o caminho aberto para os campos de concentração, e as execuções em massa.

Porque não são propriamente pessoas, estão mais para coisas, pior, inimigos.

Tudo isso começou quando se perdeu a esperança de construir uma Cidade Justa, de se ter um Pacto Social eficaz, e se passou a almejar o Poder como dominação de um grupo pelo outro. Senhores e escravos.

Behemoth e Leviathan.

 


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