domingo, 26 de abril de 2009

Apertem os cintos, o piloto sumiu

Meu Brasil brasileiro, os três poderes em crise.
O que é este país surreal, Congresso desmoralizado, farra de passagens aéreas, não passa um dia sem que novo escândalo seja estampado nas manchetes dos jornais. Um deputado leva namorada, mãe de namorada, pra fazer turismo nos Estados Unidos. Quem paga a conta da passagem? Você e eu, caro contribuinte.
Apenas mais um caso, e até os símbolos de probidade têm o rabo preso. Generalizou-se de tal forma a mentalidade patrimonialista, que chegou num ponto em que os congressistas reagem, defendendo os privilégios. Perguntam, indignados, ou usando de ironia, como é que vão estar perto da família. Claro, está subentendido que trabalho de congressista é sofrer três dias por semana em Brasília, bater um ponto no Senado ou na Câmara de Deputados, pra um bate papo e um cafezinho, e fugir de volta pro reduto eleitoral, distribuir dentadura pro povo, já de olho na próxima eleição.
Tudo isto é a normalidade deste país insano, e achar estranho, e questionar, é merecer o olímpico desprezo dos que entendem da realpolitik. O que vale é garantir o poder, o que vale é ganhar voto. Melhorar o país, a condição de vida de seus habitantes? Romantismo, estupidez, subversão!
E assim vamos, com nossos muitos assassinatos, com nossas muitas mortes na estrada. Com nossas crianças aprendendo muito menos e pior que as de outros povos, que amanhã competirão entre si neste mundo globalizado, por trabalho, por renda, e as nossas crianças estarão em desvantagem. Com nossos corruptos engordando a olhos vistos, espalhados na polícia, nas prefeituras, no Judiciário, e onde mais tenha o dedo do poder público, vivendo em mansões que não poderiam comprar com seus salários, dirigindo carros que não cabem no seu orçamento. Tudo tão corriqueiro que ninguém mais perde tempo em se escandalizar.
Com nossa saúde em pandarecos, com nossos hospitais lotados, pacientes em filas, deitados no chão, falta de leitos, falta de médico, falta de remédio.
É o salve-se quem puder, e que melhor jeito de se salvar do que se tornar um político? Plano de saúde vitalício, para ele e para a família. Salários e mordomias, oportunidades que vêm bater à porta, presentes que caem no colo, e a troca de favores entre amigos. Um mundo dourado que se descortina, união do poder com os grandes dinheiros. E o povo, nisso tudo? O povo é ignorante, e mantido na ignorância. Ele é só uma peça do jogo. Pode ser comprado com uma dentadura, uma bolsa-esmola, ou uma obra vistosa, que não serve pra porra nenhuma. Só pra garantir os votos. E, mantido na ignorância, fica mais fácil para aprovar qualquer privilégio, ou pra descumprir impune qualquer lei.
Assim estamos, e a crise avança pelos poderes. Legislativo na mídia, desfilando privilégios. Judiciário com briga de ministros do Supremo, em que um dos ministros diz que o outro possui capangas em Mato Grosso. E o Executivo? Tem Lulinha arrotando satisfação com seus índices de popularidade. Perguntado sobre o Congresso, diz que o Congresso tem toda a capacidade de lidar com seus próprios problemas. Perguntado sobre o Judiciário, diz que não há crise, apenas uma discussão um pouco mais acalorada, como acontece numa partida de futebol. Meu Deus, uma autoridade do Supremo chamando a outra de bandido, chefe de capangas... e já ouvi dizer que Lula é um estadista. Mas Nero também não tocava harpa enquanto Roma pegava fogo, convencido de que era um grande artista?

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