Na Alemanha pós primeira guerra, uma crise econômica gravíssima achatou os rendimentos, jogou uma parte grande da população na miséria, ou deixou à beira dela, retirou os empregos, trouxe grande sofrimento e desesperança.
Este foi o terreno que tornou propício o crescimento do radicalismo, das soluções vendidas como RÁPIDAS, SEGURAS, DEFINITIVAS.
Rapidamente o povo aceitou a violência dos partidos extremistas, o comunista e o nacional-socialista (nazista). Eles guerreavam entre si, prometiam que se atingissem o poder esmagariam logo o “inimigo”. O judeu, ou o industrial. O outro.
E a população, desejosa de ver um bode expiatório pagando, apoiou o discurso radical. Tinham medo e tinham raiva, não desejavam raciocionar, mas dar vazão a estas emoções ruins. Cobravam sangue, e um delírio coletivo foi se instalando, alimentando-se dos velhos preconceitos, dos velhos pecados. Eles ganharam força, e mesmo depois que as condições de vida melhoraram, o povo permaneceu apoiando os nazistas, que haviam conquistado o poder e o tinham ampliado gerando um Estado totalitarista.
Foi criada uma polícia secreta. Homens eram perseguidos, montou-se uma máquina para isso. Como geralmente essa máquina estava instalada para perseguir e condenar os judeus, “os outros”, a maioria ia seguindo suas vidas conformada, às vezes até apoiando, tacitamente. Mas, uma vez instalada a máquina de destruição, ela pode se voltar contra você. Apenas os chefes do partido, seus amigos, suas famílias, estavam, a princípio, livres dela. Eram seus donos, e a utilizavam para esmagar a oposição, “amiga dos judeus e dos decadentes”. Eram eles quem definiam quem eram os judeus e seus amigos. Ou os burgueses e seus amigos, na União Soviética. Na União Soviética, aliás, com o tempo, a máquina se voltou mesmo contra os chefões, nos expurgos de Stalin. Na Alemanha, não houve tempo, não foi possível disputar a sucessão de Hitler, como se disputou a sucessão de Lenin. Se a sucessão de Hitler fosse disputada dentro do modelo da transferência de poder num estado totalitário, veríamos a mesma guerra de gângster que manchou a União Soviética. Trotski fugiu para o México, mas Stalin exigiu sua morte, e um seu agente foi enfiar uma picareta na cabeça de Trotski.
Na Alemanha não houve disputa pela sucessão de Hitler, mas os nazistas não foram poupados, também, pela máquina que construíram. O seu discurso agressivo, violento, os colocou numa guerra pela dominação dos “inferiores”, que perturbou o mundo, e colocou contra eles grandes forças, que acabaram por massacrar a Alemanha.
O ponto onde quero chegar é este: a Alemanha era uma nação civilizada, adiantada, com bom nível de educação de seu povo, e não foi poupada dos horrores, de cometê-los e sofrê-los. Bastou o empobrecimento, o medo, a desesperança, se instalar entre eles, para que viessem à tona os instintos das velhas tribos bárbaras, os sacrifícios expiatórios, a caça às bruxas, o ódio e o irracionalismo. Com as novas roupagens modernas, as teorias “científicas” de superioridade ariana, ou “filosóficas”, de império da vontade. Na mesma armadilha caíram os italianos com Mussolini e seus camisas pretas fascistas, os já mencionados russos comunistas, e muitos outros povos, no entre guerras e após. Bastou semear convenientemente o terreno, com guerras, crises sociais e econômicas, para que os velhos demônios ressurgissem famintos.
Estamos seguros, afastados de todo o mal? A crise econômica bate à porta, afetando um gigante desta vez, os Estados Unidos. Como em 1929. Não que a história esteja pré-determinada, ou ande em círculos, nada disso. Mas os momentos de crise são os momentos em que as pessoas ficam mais receptivas a algum discurso salvacionista, chantagista, acusador, que promete todos os bens, e toda a segurança, mas não admite contestação, e tira toda a liberdade. E, no fim, também não é capaz de entregar a segurança e a prosperidade prometidas.
Então, é hora de redobrar nossos cuidados. Estejamos atentos às notícias, aos discursos, às novas leis que surgem. Estejamos prevenidos contra os ladrões de liberdade, os acumuladores de poder, que pensam que usam o poder, mas são usados por ele. Porque o poder corrompe. A hora é de vigília.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
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