quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sem-terras contra seguranças de fazendas

Nesta última briga de sem-terras contra seguranças de fazendas vimos bem a cara grotesca deste nosso país.
Pobres trocando tiros entre si. Sendo usados, de um lado e de outro, pelos grandes, o dono da fazenda e o que comanda as verbas polpudas que o governo destina aos movimentos sociais. Estes não ficam na linha do tiro. E o governo, o que faz? Só estimula a matança, deixando sempre de lado o problema.
Se os que invadem as fazendas querem dignidade e trabalho, por que não dar trabalho para eles? Gastam-se milhões e milhões com os programas para assentamento de terras, mas o problema não diminui, continuam as pessoas reclamando que não têm emprego, não têm trabalho, e a renda que deveriam gerar com este investimento nunca aparece, nunca é fiscalizada. São programas que dão em nada, não levam a lugar nenhum, e continuam consumindo milhões aos montes, e ninguém questiona este modelo, ninguém o pensa, o discute, o faz mudar.
Pior: este modelo não muda porque não interessa aos seus beneficiários. Quando falo nos beneficiários, não digo aqueles que estes programas supostamente deveriam atingir, os brasileiros pobres, agricultores que já não têm renda. Estes são beneficiários no papel, porque sua situação não muda. No máximo, muito poucos destes são atingidos, apenas para fins de propaganda e justificação do programa. Mas gasta-se muito, para muito pouco resultado, porque o grosso do dinheiro é desviado pelo caminho. Desviado pelos verdadeiros beneficiários deste sistema, que o comandam, e não o querem mudar.
Quando o assunto é discutido, na nossa mídia, pela nossa intelectualidade, os termos da discussão ficam restritos a um apoio a um dos lados dos graúdos nesta história. Ou se defende que os líderes dos sem-terra devem continuar tendo atendidas suas reivindicações de mais verbas, e tendo o direito de ameaçar, invadir, roubar, torturar, destruir, matar, liderando o seu exército de foices, e alguns revólveres, ou se entende que o caso é de desordem, de polícia, bota todo mundo na cadeia e pronto.
O sistema, imutável, dá voltas: fazendas são incendiadas, aqui e ali, governo abre os cofres pra soltar uns milhõezinhos, dos quais os líderes sem-terra vão se apropriar, em grande medida, pra fortalecer seu movimento, arregimentar mais gente, doutriná-la, usá-la, quantos mais, maior seu poder de chantagem, mais concessões ganhará ali adiante.
Do outro lado, o governo procura ficar o mais alinhado possível com a doutrina dos sem-terra, procura ser o mais amigo possível, e fazer as concessões mais camaradas, prodigalizar os favores, primeiro, para garantir um apoio deste poder político capaz de movimentar alguns bons milhares de votos. Depois, se a arruaça campear mais no governo do rival político, este vai perder o apoio dos eleitores, incomodados pelo clima de baderna. Os líderes dessa massa de manobra conhecem sua força, determina a hora de pressionar, a hora de afrouxar. Os milhões sem fiscalização azeitam candidaturas, empregos bons pros correligionários, vida de marajá para os líderes.
Um sistema de corrupção grotesca, descarada à frente dos olhos, nas imagens dos pobres trocando tiros e se matando. E perfeitamente instalado no nosso país anestesiado, sedado, lobotomizado.
Claro que se fizesse cada um que solicita um trabalho, tendo saúde, receber uma enxada e um arado, plantar a terra, e receber alimento, saúde, educação, renda, se faria um país próspero, forte, feliz, com esperança, e não gastaríamos os milhões, e nem teríamos estas matanças, ou este clima de medo e ódio. Mas não mudamos nada neste sistema desumano e corrupto, então soframos.
Claro que se temos um povo próspero e educado, acaba o poder os ganhos destes que fazem o povo ignorante e miserável de massa de manobra. Claro que se temos um povo próspero e educado, não temos estes corruptos que embolsam milhões comprando uma infinidade de terras pra encher de seguranças. Claro que se temos um povo próspero e educado, os políticos vão ter de mostrar trabalho e honestidade, não vão poder se garantir soltando umas migalhas e depois ficar em paz para curtir as mordomias do dinheiro fácil.
Então, mudar estes sistema que beneficia estes poucos, significa, em resumo, acabar com os privilégios que beneficiam estes poucos. Acabar com a corrupção.
Transparência, prestação de contas, objetivo definido, metas a alcançar. Esta é a base para a mudança do sistema. Se o sujeito quer trabalhar, cadastre-se, submeta-se a uma avaliação médica, e depois engaje-se numa atividade que se adeque a suas capacidades, e que produza alguma riqueza, alguma renda. Os que souberem plantar, possam plantar, e ao mesmo tempo aprender algumas técnicas, procedimentos. Após algum tempo, que se viabilize um pequeno empréstimo para estes trabalhadores, interessados, e assistência técnica, e de logística, para que estes trabalhadores possam ter a sua terra, a sua plantação, e sustentar sua família com seu trabalho, e aumentar sua renda com o seu esforço.
Invadir, roubar, destruir, odiar, simplesmente não é caminho que leve o país a qualquer lugar. Um país digno, verdadeiro, só se constrói pelo trabalho e pelo respeito ao trabalho. Pela honestidade.

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