Nesses tempos de popularidade elevada de nosso presidente, em que este se encontra mais relaxado do que nunca em seus atos e palavras, em que seus entusiastas encontram-se mais que nunca exaltados na defesa do chefinho, tudo enxergando justificado e absolvido pelos altos índices de aprovação popular, melhor momento não existe para exercer o sagrado direito de discordar.
Melhor momento não existe para se afirmar como homem livre, que não abre mão da crítica. Como já se disse, a liberdade de discordar é que é a liberdade de expressão. Nem mesmo a mais ferrenha tirania cogitou proibir os homens de concordarem com ela. O que a faz prender, processar, multar, executar opositores é a “loucura” de pretenderem questioná-la. A tirania quer os homens escravos, e, como escreveu Eurípedes, nas Fenícias: “É sina de escravo não poder dizer o que pensa.”.
E não se enganem: tirania não significa necessariamente ditadura de uma minoria. Tirania é tolher a liberdade dos homens. E as maiorias também podem estabelecer tiranias, tiranias ainda mais assustadoras e enganosas, pela própria força do número, e pela confusão dos que acham que, porque é maioria, pode tudo, até acabar com a própria liberdade.
São estes os idólatras das maiorias, os que pensam que ouvem a vox dei (voz de Deus) sempre que têm a satisfação de ver suas opiniões endossadas pelas estatísticas favoráveis. É bem fácil nadar com a corrente, abrir mão do juízo crítico, fechar os olhos, adormecer embalado num belo sonho, principalmente quando se lucra um belo cargo com isso, ou uma bela verba, uma bela pensão, um belo aumento, um belo aplauso dos seus pares. Mas podemos voltar a Eurípedes, em sua peça Auge, para retrucar que “Não há título mais precioso que o de homem livre: quem o possui tem muito, ainda que pouco tenha de seu”.
Então, podem escrever loas, e odes, e madrigais, pro “vosso líder”, o “estadista”, o “poderoso chefinho”. Podem também dizer que eu sou um terrível membro das “elites brancas de olhos azuis”, o “inimigo do povo”, inimigo da pátria, terra adorada, entre outras mil, inimigo até da Petrobrás. Mas não me queiram cassar o sagrado direito de discordar.
Quem dá o tom é o próprio chefinho: quem o critica é sempre um membro da “imprensa golpista”, “quer o mal do país”, ou é membro da “elite”, uma entidade esotérica e maléfica, responsável pelos problemas da nação. O famoso bode expiatório, a bruxa pra ir pra fogueira, a burguesia, os judeus, os ianques imperialistas, os banqueiros de olhos azuis, os estraga-prazeres, o demônio. Aquele em quem descarregamos nossas frustrações, e atrás de quem escondemos nossas culpas.
E com isso os bugres interditam qualquer debate livre e honesto. Se quem aprova o presidente é do bem, e quem desaprova é o mal, pra que perder tempo com debate? Com o MAL não tem discussão, tem exorcismo, expurgo, prisão, manda pra fogueira, pro paredão, pra Auschiwitz, pro gulag...
Exagero? Exagero são as propostas de “controle social dos meios de comunicação”, as declarações de apoio e os afagos a Chavez e Fidel, a Kadafi e Ahmadinejad, a idolatria a ditadores e genocidas do porte de Lenin, Stalin, Trotski, e Mao Tse Tung, por parte da nossa inteligentzia, o culto ao “pensamento único”, às “soluções finais”. Exagero são as montanhas de processos contra jornalistas “do contra”, são os rios de dinheiro desperdiçados com propaganda nos meios de comunicação “muy amigos”, e obedientes. Exagero são os discursos radicais de Lulinha, as ameaças veladas de “botar o bloco na rua”, a baixa tolerância à crítica, a ameaça de expulsão de correspondente estrangeiro, e a estigmatização, como “inimigo da nação”, daqueles que ousam discordar.
E como citamos o teatro grego para defender a liberdade de expressão, nada melhor para fechar este artigo do que estes versos de Ésquilo, nas Suplicantes: “A verdadeira liberdade é poderem homens livres / Aconselhar o povo, livremente se expressando”.
E me dou conta de repente de que este artigo, que seria para desopilar o fígado e exercitar os músculos batendo um pouco no presidente, acabou virando artigo sobre liberdade de expressão. O.k., isto fica só como uma introdução. A seguir, virá a substância de minha crítica ao vosso estadista, Lulinha.
sábado, 25 de julho de 2009
Prisão especial
Ouço uma notícia sobre o fim da prisão especial, uma comissão do Senado redigiu um projeto de lei que acabaria com o direito de algumas pessoas a um aprisionamento diferenciado até o final de seu julgamento. Creio que ainda não foi convertido em lei, mas quero fazer algumas considerações sobre o tema.
Primeiro, na verdade não é o fim completo e definitivo da dita prisão especial. Alguns membros da noblesse, da finesse, o presidente da República, juízes, procuradores do Ministério Público da União, estes continuariam tendo os benefícios da prisão especial. Políticos também, pelo que vejo em outra notícia. Acabaria prisão especial, então, grosso modo, só pros que têm curso superior completo. Tá vendo? Quem mandou estudar? Agora até este triste consolo para os anos de dificuldade estudando em nossas escolas e universidades que tão pobremente nos formam se perdeu... mas nunca fomos de valorizar muito a cultura, mesmo, essa coisa de arrogantes membros das elites brancas...
Parece que assim o Congresso dá alguma satisfação para a plebe ignara. Polegares pra baixo, nobres patrícios... sangue para a audiência!
As grandes massas insatisfeitas, com razão insatisfeitas, com a impunidade grossa que rola no país, criminosos, confessos e reconfessos, flanando por aí, na nobre sociedade, desfilando em carrões, dando festas e indo pra festas, andando de lancha e jatinho... ou então, na outra ponta, assassinos que dominam às claras favelas, mandam e desmandam, e fica tudo por isso mesmo... Não tem polícia, não tem juiz, nada que dê conta daquilo.
Esta multidão assustada e revoltada talvez saúde com júbilo a notícia, exagerada, como vimos, do FIM da prisão especial. Soa assim como um fim de privilégio, pela igualdade jurídica, um grande avanço pro nosso povo.
Mas reparem bem na questão... aqueles que fazem a lei, aqueles que a aplicam, nossos belos Poderes Federais, se asseguraram da continuidade do benefício para si. Para satisfazer a Ira Santa (terrível paradoxo) da população, jogaram no fogo só uns “trouxas” escolhidos, a turma de fora da patota; isto pode atender a anseios de justiçamento, desforra, vingança, mas atende à Justiça? Vai ser mesmo uma satisfação ver que mais pessoas, não mais restritas às classes mais pobres, vão experimentar o moedouro insano, o inferno de nossas prisões?
Leio a notícia de que numa prisão em Minas “vazou” uma gravação de celular, um filme feito por um preso, mostrando um dos “chefes” da cela, super-lotada, como de praxe, enfiando um cano de PVC no ânus de um outro preso, para se vingar, ou mostrar poder, ou por sadismo, qualquer coisa... os outros presos riam e incitavam o bizarro espetáculo. Mas isto é notícia pro fim do jornal, que estraga até o apetite dos bem-pensantes.
Tudo é uma bizarria neste país! Sistema prisional, escola, polícia, Justiça... E a “solução” dos políticos é dar a “satisfação” de deixar se espalhar mais a merda, livrando, é claro, o próprio pescoço. E os ricos, também, sabemos como é fácil comprar tratamentos diferenciados na prisão... então, manda ver mesmo com estes bobos que restam! Paguem pelo pato que consumimos, regado a vinhos bem caros...
Solução igualitária, justa, DE VERDADE, seria um mesmo regime para todos, e prevenindo a desumanidade mais cruel: será pedir demais, às nossas autoridades, aos homens de poder, uma cela individual enquanto se aguarda julgamento, além, quando cabível, em crimes menores, em circunstâncias favoráveis, bem definidas, com objetividade, pela lei, uma restrição da liberdade menos gravosa que o encarceramento? Lembremos, em tal situação, durante o processo, não está formada a culpa do suspeito. Pode perfeitamente ser que se trate de um completo inocente, acusado erroneamente por um crime que não cometeu.
Nesta condição, será razoável, além de toda a angústia e horror do encarceramento, e da dúvida quanto ao futuro, misturar esta pessoa, cegamente, com quadrilhas organizadas, bandidos de todo teor, e expô-la à violência, à lei da selva, à indignidade?
Temos em nossas leis a previsão de uma diferenciação quanto ao modo de cumprimento da pena, e é claro e justo que deve haver. Criminosos violentos, perigosos, não devem ser misturados com os estelionatários, com os batedores de carteira, no momento de cumprir a pena. Com isto acho que nem o “igualitarista” mais radical vai discordar. Está certo que na nossa bagunça geral, nem sempre acontece assim, e mistura-se de qualquer jeito, condenados de todo tipo. É mais um caso, como costumamos dizer neste nosso país original, que nem sempre a lei pega. Na prática a teoria é outra. Mas isto é uma outra questão.
O que causa espanto, e espécie, é ver que mesmo com a previsão para a diferenciação de tratamento para os que têm a culpa formada, ainda se defenda que, antes da culpa formada, se exponha os indivíduos que são submetidos a processo a tamanho risco de violência e humilhação. Mas sempre tem uns Jean Paul Marats, uns “amigos do povo”, para defender e açular os ódios e sentimentos de vingança da população, desviando sua atenção dos reais problemas da nação.
Não estou, obviamente, defendendo qualquer espécie de impunidade; estou defendendo processo, civilização, humanidade. Que o suspeito seja mantido em separado enquanto aguarda julgamento, que seja comunicado de imediato um familiar, que um advogado preste assistência imediata ao preso. Mas tudo isso deve ser pedir demais para nossas autoridades, e eu devo ser mesmo apenas um sonhador idiota. Quem sabe até um “amigo da bandidagem”? Afinal, se o sujeito foi preso, alguma culpa devia ter... in dubio PAU no reu. E seguimos.
Para uma análise técnica da disciplina da prisão especial, remeto os leitores ao seguinte artigo do site Jus Navegandi: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1091
Primeiro, na verdade não é o fim completo e definitivo da dita prisão especial. Alguns membros da noblesse, da finesse, o presidente da República, juízes, procuradores do Ministério Público da União, estes continuariam tendo os benefícios da prisão especial. Políticos também, pelo que vejo em outra notícia. Acabaria prisão especial, então, grosso modo, só pros que têm curso superior completo. Tá vendo? Quem mandou estudar? Agora até este triste consolo para os anos de dificuldade estudando em nossas escolas e universidades que tão pobremente nos formam se perdeu... mas nunca fomos de valorizar muito a cultura, mesmo, essa coisa de arrogantes membros das elites brancas...
Parece que assim o Congresso dá alguma satisfação para a plebe ignara. Polegares pra baixo, nobres patrícios... sangue para a audiência!
As grandes massas insatisfeitas, com razão insatisfeitas, com a impunidade grossa que rola no país, criminosos, confessos e reconfessos, flanando por aí, na nobre sociedade, desfilando em carrões, dando festas e indo pra festas, andando de lancha e jatinho... ou então, na outra ponta, assassinos que dominam às claras favelas, mandam e desmandam, e fica tudo por isso mesmo... Não tem polícia, não tem juiz, nada que dê conta daquilo.
Esta multidão assustada e revoltada talvez saúde com júbilo a notícia, exagerada, como vimos, do FIM da prisão especial. Soa assim como um fim de privilégio, pela igualdade jurídica, um grande avanço pro nosso povo.
Mas reparem bem na questão... aqueles que fazem a lei, aqueles que a aplicam, nossos belos Poderes Federais, se asseguraram da continuidade do benefício para si. Para satisfazer a Ira Santa (terrível paradoxo) da população, jogaram no fogo só uns “trouxas” escolhidos, a turma de fora da patota; isto pode atender a anseios de justiçamento, desforra, vingança, mas atende à Justiça? Vai ser mesmo uma satisfação ver que mais pessoas, não mais restritas às classes mais pobres, vão experimentar o moedouro insano, o inferno de nossas prisões?
Leio a notícia de que numa prisão em Minas “vazou” uma gravação de celular, um filme feito por um preso, mostrando um dos “chefes” da cela, super-lotada, como de praxe, enfiando um cano de PVC no ânus de um outro preso, para se vingar, ou mostrar poder, ou por sadismo, qualquer coisa... os outros presos riam e incitavam o bizarro espetáculo. Mas isto é notícia pro fim do jornal, que estraga até o apetite dos bem-pensantes.
Tudo é uma bizarria neste país! Sistema prisional, escola, polícia, Justiça... E a “solução” dos políticos é dar a “satisfação” de deixar se espalhar mais a merda, livrando, é claro, o próprio pescoço. E os ricos, também, sabemos como é fácil comprar tratamentos diferenciados na prisão... então, manda ver mesmo com estes bobos que restam! Paguem pelo pato que consumimos, regado a vinhos bem caros...
Solução igualitária, justa, DE VERDADE, seria um mesmo regime para todos, e prevenindo a desumanidade mais cruel: será pedir demais, às nossas autoridades, aos homens de poder, uma cela individual enquanto se aguarda julgamento, além, quando cabível, em crimes menores, em circunstâncias favoráveis, bem definidas, com objetividade, pela lei, uma restrição da liberdade menos gravosa que o encarceramento? Lembremos, em tal situação, durante o processo, não está formada a culpa do suspeito. Pode perfeitamente ser que se trate de um completo inocente, acusado erroneamente por um crime que não cometeu.
Nesta condição, será razoável, além de toda a angústia e horror do encarceramento, e da dúvida quanto ao futuro, misturar esta pessoa, cegamente, com quadrilhas organizadas, bandidos de todo teor, e expô-la à violência, à lei da selva, à indignidade?
Temos em nossas leis a previsão de uma diferenciação quanto ao modo de cumprimento da pena, e é claro e justo que deve haver. Criminosos violentos, perigosos, não devem ser misturados com os estelionatários, com os batedores de carteira, no momento de cumprir a pena. Com isto acho que nem o “igualitarista” mais radical vai discordar. Está certo que na nossa bagunça geral, nem sempre acontece assim, e mistura-se de qualquer jeito, condenados de todo tipo. É mais um caso, como costumamos dizer neste nosso país original, que nem sempre a lei pega. Na prática a teoria é outra. Mas isto é uma outra questão.
O que causa espanto, e espécie, é ver que mesmo com a previsão para a diferenciação de tratamento para os que têm a culpa formada, ainda se defenda que, antes da culpa formada, se exponha os indivíduos que são submetidos a processo a tamanho risco de violência e humilhação. Mas sempre tem uns Jean Paul Marats, uns “amigos do povo”, para defender e açular os ódios e sentimentos de vingança da população, desviando sua atenção dos reais problemas da nação.
Não estou, obviamente, defendendo qualquer espécie de impunidade; estou defendendo processo, civilização, humanidade. Que o suspeito seja mantido em separado enquanto aguarda julgamento, que seja comunicado de imediato um familiar, que um advogado preste assistência imediata ao preso. Mas tudo isso deve ser pedir demais para nossas autoridades, e eu devo ser mesmo apenas um sonhador idiota. Quem sabe até um “amigo da bandidagem”? Afinal, se o sujeito foi preso, alguma culpa devia ter... in dubio PAU no reu. E seguimos.
Para uma análise técnica da disciplina da prisão especial, remeto os leitores ao seguinte artigo do site Jus Navegandi: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1091
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Pânico na TV
Da série: "Humor para enfrentar a crise": a quase inacreditável entrevista de Marília Gabi Gabriherpes com o Presidente Molusco, no Pânico na TV http://www.youtube.com/watch?v=S_l-FQf_PFM
E vivam os bobos da corte, autorizados a falar verdades, protegidos pelo manto da loucura.
"Ele não sabe leeeerrr, ele não sabe escreveeeerrr, ele não sabe conjugaaarrr..."
E vivam os bobos da corte, autorizados a falar verdades, protegidos pelo manto da loucura.
"Ele não sabe leeeerrr, ele não sabe escreveeeerrr, ele não sabe conjugaaarrr..."
sábado, 11 de julho de 2009
Hurricane - Bob Dylan
http://www.youtube.com/watch?v=9tL_2hjVObA
Uma boa versão ao vivo deste clássico do Bob Dylan. Legendada em português por um brasileiro. Detalhe: na parte em que os tiras dizem que querem pregar o triplo assassinato nas costas do "Hurricane", eles justificam dizendo (no original): "He is no gentleman Jim", ou seja, Hurricane não é nenhum membro da aristocracia, nenhum cavalheiro, gentil-homem. O nosso brasileiro fez uma boa adaptação, traduziu: "Ele não é nenhum deputado". Freud explica.
Tem um bom filme sobre a história do Hurricane, em português, "Hurricane - O furacão" (EUA, 1999), dirigido pelo veterano Norman Jewison, e com Denzel Washington no papel título, em atuação que lhe valeu indicação ao Oscar.
Cotação do filme: **** (muito bom)
Uma boa versão ao vivo deste clássico do Bob Dylan. Legendada em português por um brasileiro. Detalhe: na parte em que os tiras dizem que querem pregar o triplo assassinato nas costas do "Hurricane", eles justificam dizendo (no original): "He is no gentleman Jim", ou seja, Hurricane não é nenhum membro da aristocracia, nenhum cavalheiro, gentil-homem. O nosso brasileiro fez uma boa adaptação, traduziu: "Ele não é nenhum deputado". Freud explica.
Tem um bom filme sobre a história do Hurricane, em português, "Hurricane - O furacão" (EUA, 1999), dirigido pelo veterano Norman Jewison, e com Denzel Washington no papel título, em atuação que lhe valeu indicação ao Oscar.
Cotação do filme: **** (muito bom)
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Elites
O Brasil parece sofrer de uma triste falta de elites, “elites”, no melhor sentido da palavra. Falta de uma elite de valor, com um compromisso bem claro na cabeça: fazer com que o país melhore, fazer o bem aos seus semelhantes. Um compromisso ético: não praticar o mal, não permitir que outros o pratiquem. Uma elite com o compromisso com o trabalho, com compromisso com a honestidade, com o compromisso do estudo. Com o compromisso de cobrar como direito, não seu, mas DE TODOS, que os governantes se pautem com correção, com decência, e também o amigo, e o vizinho, e o próprio filho.Esta ausência de elites se explica de muitas formas: uma falta de nível educacional geral, as poucas elites de aprendizagem que se formam ficam isoladas na massa geral, não têm contato, não se mobilizam; uma certa falta de definição de valores clara, uma certa permissividade diluída no ar, uma certa confusão entre o que é autoridade e o que é autoritarismo, uma certa melancolia e desesperança “com tudo isto que está aí”.Pode ser também a cultura que se formou sob o signo da escravidão, por muitos anos em nossa curta e acidentada História ela esteve instalada, horrível chaga; e isto fez gerar uma sociedade dividida e desigual, nós somos “nós” e “eles”; casa grande e senzala. E mais um estatismo ibérico, mais uma colonização para explorar renda, quanto mais rápido e mais fácil, melhor; corrupção e exploração, são só outros meios de se conseguir o que se busca.Então, temos tantas “elites”, que não escrevem, não lêem, não sabem fazer contas, e não pensam; temos tantas "elites" que não se levantam pelo direito, não se indignam, não lutam; temos tantas “elites” que se corrompem, que aceitam “presentes”, que aceitam “jogadas”, que têm o rabo preso, que não explicam origem de dinheiro; temos tantas “elites” que discutem sexo dos anjos em universidades, que aceitam qualquer tipo de ditadura suja e explicação simplista, fórmulas mágicas que “explicam e resolvem” toda a realidade, e renunciam ao próprio pensamento crítico e livre, e não fazem NADA DE CONSEQUENTE E CONCRETO, para tornar mais justas as leis e as práticas da sociedade onde vivem.Isto tudo vai ter de mudar aos poucos, e não adianta, e nem é justo, entregar-se ao desespero. As verdadeiras elites não se entregam: fazem o bem que podem para a sua comunidade, organizam um hospital, organizam uma escola. Distribuem uma roupa, um alimento, ou um livro, criam um site para divulgar e investigar prestações de contas públicas. A verdadeira elite é composta de pobres, remediados e ricos. Estudados ou ignorantes: eles praticam o exemplo de amor ao bem e à Justiça, de admiração e respeito pelo sabedoria e pela honestidade; são generosos e gentis. Não estão com a cabeça em odiar, culpar ou perseguir alguém, mas muito satisfeitos e felizes preocupam-se em ajudar, com o tanto que sua força permite, a quem esteja próximo. E esta força permite tanto, esta força permite tudo.Embora não se possa esquecer nunca que o combate é de todo o dia. Não se pode perder nunca de vista a necessidade da indignação, e da reação, civilizada e consequente. Para os que chegam a praticar tudo isto, a colheita não se faz esperar; os frutos são colhidos a cada dia, e não faltam nunca. Cada pessoa que se atinja, se interessando por um livro, matando a fome, se livrando de uma doença, já é o próprio bem se espalhando em círculos. Muito embora a alma reconheça e sofra as limitações das contingências materiais, históricas. Uma vida humana passa rápido, e as mudanças necessárias, para serem sentidas numa grande escala, ultrapassam por vezes nossas vidas. E sempre experimentamos resistência, e sempre é possível o retrocesso. Conhecemos a História, e os horrores de guerras gálicas, e os horrores de Holocausto. Ou abrimos o jornal, e lemos barbaridades. Não importa, porque a esperança permanece tão pertinaz quanto a vida. Sócrates já experimentava tempos difíceis em seu tempo, mas deu-nos a grande lição que não envelhece: a coragem de aferrar-se ao bem traz a liberdade e a esperança. O que faz lembrar aquela frase enigmática: quem quiser salvar sua vida a perderá.Mas estou falando de elites, e de Brasil; e tento destacar que é imprescindível a qualquer país que se queira livre possuir uma elite de estudo, e de trabalho, e de moral, e que esta elite consiga atuar sobre leis e instituições deste país, para que se tenha uma sociedade justa.Não é um trabalho que cabe apenas a esta elite de doutos. A sociedade toda precisa encontrar o seu orgulho, conhecer o seu direito, e cobrar com justiça o que é justo. Mas caberá a esta elite, aos que se destacam, em cada área de trabalho, aos que se adiantam em estudo e conhecimento, refletir e viabilizar as soluções para a sociedade.Tomemos por exemplo os médicos, e o serviço público de saúde. É justo a sociedade pretender que haja, pelo menos (é uma questão de prioridades), um exame periódico, de acordo com a faixa etária, que alcance toda a população, e um atendimento rápido, nas emergências. E isto de qualidade, naturalmente, sendo os profissionais treinados para identificar, e combater, ou encaminhar, os problemas de saúde que os pacientes enfrentam, e que seja avaliado, objetivamente, o trabalho destes profissionais, e que utilizem métodos e exames pouco onerosos, QUE POSSAM SER ESTENDIDOS A TODOS, O MAIS IGUALITARIAMENTE POSSÍVEL.Se a sociedade quer firmemente isto, cabe a seus médicos, seus profissionais da área de saúde, chamar para si a responsabilidade, reunir-se, discutir, estudar, com a ajuda de estatísticas, de matemáticos, de administradores, para apresentar um plano de saúde pública que atenda estes ideais. ELES são os profissionais, ELES precisam ter o orgulho de exercer dignamente sua profissão, e de que maneira vão exercê-la dignamente, com orgulho, se a doença, a falta de cuidados, grassa pelo país? ELES têm de guiar, a sociedade toda tem de exigir, dos seus governantes, dos seus administradores, que sigam um plano traçado, que estenda o acesso à saúde igualitariamente, que não deixe nenhuma região, nenhuma população, desatendida, ou com médicos de menos, para os exames e procedimentos mais básicos.Claro que uma vez traçado o plano de atendimento à saúde, com base em pesquisa, com base em estudo, estatística, com base em treinamento, capacitação, orçamento, tudo isto terá de ser levado para votação de um Congresso que, presume-se, debateria cada aspecto do plano, perguntaria, trataria de evitar falhas, desperdícios, proporia, adaptaria, refletiria, e votaria, de acordo com sua consciência e convicção (ai-ai, e isto que era para ser tão natural e básico soa tão utópico).E os representantes do povo, em cada Estado, em cada Município, se informariam dos direitos à saúde de sua população, e exerceriam o importante papel de fiscalizar, cobrar, exigir, propor adaptações e mudanças, em nome de seus representados, sobre este plano nacional de atendimento à saúde, conforme a lei, e adequado às necessidades específicas de cada região. E cada cidadão cobraria também de seus representantes, e seria também informado de seus direitos, de forma simples e rápida, e inclusive dos procedimentos que poderia adotar para fazer uma reclamação, ou pedir um esclarecimento, ou cobrar, ou sugerir... tudo isto com a orientação e o apoio de seus representantes, e das estruturas do Estado, que reconheceriam nele um cidadão, detentor de direitos, e não um súdito, cujo “direito” é ser tosquiado e calar a boca. E deveriam ser previstos também os “testes de realidade”, das leis e sistemas. Com base em pesquisas, com base em metas, e estatísticas. Com base em um pensamento racional e pragmático. Humilde diante dos fatos. Para mudar o que não funciona, repetir e aprofundar o que dá certo, aprimorar, manter, cobrar, premiar...Neste quadro, eu destaco o papel dos médicos, dos profissionais dentro deste sistema, pois eles é que estão “por dentro” do sistema de saúde que ora comento, conhecem diretamente suas características. É de se reconhecer e valorizar o papel desta elite na solução do problema que a ela compete mais diretamente: prestar um bom serviço de saúde, cumprir bem o seu papel, como profissional da área, servir bem ao seu país, ao seu povo, ao seu semelhante, realizando aquela função de sua escolha, e, claro, ser valorizado por isso, ter uma boa condição de trabalho, ter os instrumentos, ter reconhecimento, estímulo...Mas parecemos bem longe disso, infelizmente. Parecemos não saber como cobrar, como fazer, salvo exceções, parecemos bem conformados com o absurdo e a loucura. Cada um garantindo “o seu”, como dá, briga de foice, desesperança, cinismo. Gente que finge que trabalha, gente com privilégios, outros se esforçando muito, mas sem estímulo, sem reconhecimento, sem perspectiva de melhora. É isto que eu digo que faltam elites, massa crítica para fazer a mudança, que atinja um nível nacional, que permaneça.Vou dar um outro exemplo, com advogados e juízes. Profissionais do direito. É justo, é direito, que a sociedade queira uma Justiça rápida, eficaz, previsível. Que os maiores crimes, que os maiores roubos, que os maiores desvios, recebam as maiores prioridades, que os conflitos sejam desestimulados, pela punição rápida, eficaz, previsível, dos maus pagadores, dos litigantes de má fé, dos chicaneiros.De novo, a elite que milita na área é que tem o papel fundamental de refletir e propor soluções que atendam esta demanda legítima da sociedade. Um plano que preveja prazos, e melhor divisão do trabalho, que evite ociosidade de um lado, e acúmulo de serviço do outro, que acabe com privilégios, e concentre os recursos onde são mais necessários.E de novo, sente-se a falta desta clareza de propósito, desta linha de ação, desta consciência, deste compromisso. Sente-se a falta desta elite que não compactue com seus próprios pares, se estes se mostrarem incompetentes ou indignos; que recusem privilégios e subornos; que demonstrem sobriedade, compromisso com o trabalho que escolheram, visão crítica e independente para enxergar-lhe as falhas, imaginação viva e coragem para realizar mudanças.
Não é tarefa fácil. Lembro de um dado que me impressionou no livro “Uma História do Brasil”, de Thomas E. Skidmore: “(...) Já em 1818, por exemplo, apenas 2,5% da população masculina livre em idade escolar era educada em São Paulo. Mesmo a elite não tinha oportunidades educacionais no Brasil além de uma abordagem altamente retórica do aprendizado que terminava na escola secundária (...)”. Mas, como dizia Cazuza, “o tempo não pára”. Sigamos junto com ele, tomemos as rédeas de nosso destino. E comprovemos aquela idéia, título de um livro de Marshall Berman, que nem conheço, mas eu gosto do título: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.
O tempo não pára, Cazuza http://www.youtube.com/watch?v=7AkEQM9AdEY
Não é tarefa fácil. Lembro de um dado que me impressionou no livro “Uma História do Brasil”, de Thomas E. Skidmore: “(...) Já em 1818, por exemplo, apenas 2,5% da população masculina livre em idade escolar era educada em São Paulo. Mesmo a elite não tinha oportunidades educacionais no Brasil além de uma abordagem altamente retórica do aprendizado que terminava na escola secundária (...)”. Mas, como dizia Cazuza, “o tempo não pára”. Sigamos junto com ele, tomemos as rédeas de nosso destino. E comprovemos aquela idéia, título de um livro de Marshall Berman, que nem conheço, mas eu gosto do título: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.
O tempo não pára, Cazuza http://www.youtube.com/watch?v=7AkEQM9AdEY
Tardes molhadas no Senado
Uma nota no Globo de sábado, 27.06.09, sob o curioso título de “SALA SECRETA: Espaço de Agaciel”, nos dá uma idéia de como estamos bem parados neste nosso “Brasil brasileiro”. Fala de uma escada entre o 2º e o 3º andares do prédio do Senado, nos fundos do antigo gabinete de Agaciel Maia, que não consta do projeto de Oscar Niemeyer, e que dá acesso a uma sala decorada com tapetes vermelhos e telão. Um dos vídeos exibidos ali tinha o sugestivo título: “Tardes Molhadas”.
Eu sei, eu sei, como disse nosso presidente, que um país com tantas coisas importantes como o Brasil não pode ficar perdendo tempo discutindo coisas menores. Mas é que Deus (e o diabo) moram nos detalhes. E uma “coisa menor” pode servir de símbolo, pode nos despertar do sonho, pode mostrar o rosto por trás da máscara, a face deformada e hedionda, desse Brasil das falcatruas.
Agaciel Maia, para quem não lembra, foi diretor geral do Senado por 14 anos, tendo sido afastado em março, depois que se descobriu que ele não declarou à Justiça a propriedade de uma mansão avaliada em R$ 5 milhões. Um assalariado, mesmo com os salários polpudos e super-faturados do Senado, vai ter de rebolar bastante antes de juntar R$ 5 milhões pra comprar uma casa. É só fazer as contas: digamos, chutando os números pro alto, que o sujeito receba R$ 20 mil, líquidos, todo mês. Se ele não gastar nem um centavo com coisa alguma, ele vai levar 19 anos e uns quebrados pra comprar a casinha, já estou incluindo os 13ºs. Mas isto é outra coisa menor, nada que espante muito, neste nosso Brasil que cansa de ver PMs que ganham mil reais circularem em carrões importados, dentre “otras cositas” do gênero.
No Senado, então, em que tudo é superlativo, Agaciel estava apenas mantendo um padrão de vida condizente com o cenário ao redor; o Senado tem, para 2009, orçamento de R$ 2,75 bilhões; só com pessoal, vão R$ 2,3 bilhões; funcionários, são mais de 10 mil, 3,4 mil concursados, 3,1 mil comissionados, e 3,5 mil terceirizados. Tudo uma grandeza, tudo um espanto, pra Luís XVI nenhum botar defeito.
Na edição da Veja de 01.07.2009, a reportagem de Otávio Cabral nos dá uma idéia desta Ilha da Fantasia que é nosso Senado: reembolso de despesas médicas vitalício e ilimitado,
para senadores, dependentes, ex-parlamentares, e funcionários de direção; empregados domésticos que dão expediente nas casas de parlamentares sendo pagos pelo Congresso; copeiros que ganham R$ 10 mil; ascensoristas que ganham R$ 12 mil; não é à toa que o finado senador Darcy Ribeiro fazia blague, com grande cinismo, dizendo que o Senado é melhor que o Paraíso: no Senado, não precisa morrer para entrar.
E não acabam por aí as revelações: no Globo de domingo, 28.06.09, a manchete de capa diz que Agaciel, mesmo, afastado, mantém o poder no Senado: “ainda hoje haveria 62 chefes de gabinete de senadores, do total de 81, indicados pelo ex-diretor”, que teria ainda aliados em postos estratégicos de pelo menos 20 secretarias e subsecretarias. Na reportagem de Regina Alvarez, ficamos sabendo que “para adquirir tanto poder por período tão longo, Agaciel trabalhou arduamente em várias frentes, numa costura política e com atitudes de homem cordial, no sentido mais utilizado da palavra. (...) Um funcionário de carreira conta que, no Senado, a surpresa no contracheque é sempre positiva. Há sempre uma hora extra, gratificação ou resíduo de ação ganha na Justiça e que engordava os salários. Tudo obra de Agaciel. Foi dele a idéia de “ratear uma sobra” de R$ 6,2 milhões do orçamento de 2008 entre os funcionários. Agaciel fazia de tudo para agradar a funcionários e senadores. Quando mudava a legislatura, dedicava aos novos eleitos toda atenção e infraestrutura: fazia questão de apresentar aos novatos o gabinete, a moradia, todas as vantagens e, de quebra, indicava um conhecido para a chefia de gabinete. Assim, o ex-diretor montou sua rede de relacionamentos.”
Na mesma edição do Globo, uma nota do Elio Gaspari diz que “Agaciel mandou tocar a música do filme “O Poderoso Chefão” no casamento de sua filha, há poucas semanas”. No casamento, marcaram presença os ilustres senadores Renan Calheiros e José Sarney, este como padrinho da moça. The Godfather.
E assim ficamos, ou seja, com a galhofa e o deboche nas alturas. Mas o brasileiro é um bem-humorado, e não desiste nunca. Tinha razão o senhor Delúbio Soares, tesoureiro do PT à época do escândalo do “mensalão”, que profetizou que as denúncias logo seriam esquecidas e se transformariam em “piada de salão”.
E eu vou ficando por aqui, pra não dar “gastura”.
Eu sei, eu sei, como disse nosso presidente, que um país com tantas coisas importantes como o Brasil não pode ficar perdendo tempo discutindo coisas menores. Mas é que Deus (e o diabo) moram nos detalhes. E uma “coisa menor” pode servir de símbolo, pode nos despertar do sonho, pode mostrar o rosto por trás da máscara, a face deformada e hedionda, desse Brasil das falcatruas.
Agaciel Maia, para quem não lembra, foi diretor geral do Senado por 14 anos, tendo sido afastado em março, depois que se descobriu que ele não declarou à Justiça a propriedade de uma mansão avaliada em R$ 5 milhões. Um assalariado, mesmo com os salários polpudos e super-faturados do Senado, vai ter de rebolar bastante antes de juntar R$ 5 milhões pra comprar uma casa. É só fazer as contas: digamos, chutando os números pro alto, que o sujeito receba R$ 20 mil, líquidos, todo mês. Se ele não gastar nem um centavo com coisa alguma, ele vai levar 19 anos e uns quebrados pra comprar a casinha, já estou incluindo os 13ºs. Mas isto é outra coisa menor, nada que espante muito, neste nosso Brasil que cansa de ver PMs que ganham mil reais circularem em carrões importados, dentre “otras cositas” do gênero.
No Senado, então, em que tudo é superlativo, Agaciel estava apenas mantendo um padrão de vida condizente com o cenário ao redor; o Senado tem, para 2009, orçamento de R$ 2,75 bilhões; só com pessoal, vão R$ 2,3 bilhões; funcionários, são mais de 10 mil, 3,4 mil concursados, 3,1 mil comissionados, e 3,5 mil terceirizados. Tudo uma grandeza, tudo um espanto, pra Luís XVI nenhum botar defeito.
Na edição da Veja de 01.07.2009, a reportagem de Otávio Cabral nos dá uma idéia desta Ilha da Fantasia que é nosso Senado: reembolso de despesas médicas vitalício e ilimitado,
para senadores, dependentes, ex-parlamentares, e funcionários de direção; empregados domésticos que dão expediente nas casas de parlamentares sendo pagos pelo Congresso; copeiros que ganham R$ 10 mil; ascensoristas que ganham R$ 12 mil; não é à toa que o finado senador Darcy Ribeiro fazia blague, com grande cinismo, dizendo que o Senado é melhor que o Paraíso: no Senado, não precisa morrer para entrar.
E não acabam por aí as revelações: no Globo de domingo, 28.06.09, a manchete de capa diz que Agaciel, mesmo, afastado, mantém o poder no Senado: “ainda hoje haveria 62 chefes de gabinete de senadores, do total de 81, indicados pelo ex-diretor”, que teria ainda aliados em postos estratégicos de pelo menos 20 secretarias e subsecretarias. Na reportagem de Regina Alvarez, ficamos sabendo que “para adquirir tanto poder por período tão longo, Agaciel trabalhou arduamente em várias frentes, numa costura política e com atitudes de homem cordial, no sentido mais utilizado da palavra. (...) Um funcionário de carreira conta que, no Senado, a surpresa no contracheque é sempre positiva. Há sempre uma hora extra, gratificação ou resíduo de ação ganha na Justiça e que engordava os salários. Tudo obra de Agaciel. Foi dele a idéia de “ratear uma sobra” de R$ 6,2 milhões do orçamento de 2008 entre os funcionários. Agaciel fazia de tudo para agradar a funcionários e senadores. Quando mudava a legislatura, dedicava aos novos eleitos toda atenção e infraestrutura: fazia questão de apresentar aos novatos o gabinete, a moradia, todas as vantagens e, de quebra, indicava um conhecido para a chefia de gabinete. Assim, o ex-diretor montou sua rede de relacionamentos.”
Na mesma edição do Globo, uma nota do Elio Gaspari diz que “Agaciel mandou tocar a música do filme “O Poderoso Chefão” no casamento de sua filha, há poucas semanas”. No casamento, marcaram presença os ilustres senadores Renan Calheiros e José Sarney, este como padrinho da moça. The Godfather.
E assim ficamos, ou seja, com a galhofa e o deboche nas alturas. Mas o brasileiro é um bem-humorado, e não desiste nunca. Tinha razão o senhor Delúbio Soares, tesoureiro do PT à época do escândalo do “mensalão”, que profetizou que as denúncias logo seriam esquecidas e se transformariam em “piada de salão”.
E eu vou ficando por aqui, pra não dar “gastura”.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
TUDO PODRE
Brasil, mostra a tua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim... - Brasil - Cazuza http://www.youtube.com/watch?v=z6o3KHsLn0k
O PT mantém o apoio a Sarney. Idely Salvatti (PT-SC) subiu na tribuna. Hoje eles chegaram a sugerir um afastamento temporário do presidente do Senado. Mas logo logo voltaram atrás, diante da resistência de Sarney à idéia. No final da tarde a maioria dos senadores petistas decidiu seguir a orientação do “mais querido”, e manter o apoio a Sarney.
Isto vai bem. É bom que estejamos vendo bem claro na cara das coisas. PT, PT... não eras o partido desta tão invocada quanto indefinível “MODERNIDADE”? Como é a sensação de assumir a defesa das velhas práticas coronelistas e patrimonialistas, lamber o bigode de Sarney, diante das exigências reais da manutenção do poder? Sem crise, sem crise... não me venham fazer cara feia de nojo: o presidente Lula já mostrou como é que tem de ser, beija-se a mão de Jader Barbalho... amanhã é o Collor que vai beijar sua mão, não é Dilma?
Patrimonialismo no seu símbolo máximo, o velho Sarney do Maranhão. Ou seria do Amapá? Maranhão na vice-lanterninha do desenvolvimento social brasileiro: só perde o posto de O PIOR para as Alagoas. E olha que no Brasil a disputa por pior do desenvolvimento social é ingente! Pobre Maranhão, pobre Alagoas, pobre do Brasil! Belo legado de 40 anos de Sarneys no Maranhão. Sarney presidente da República. Sarney três vezes presidente do Senado. Que imagem patética, um homem velho, tremendo na cadeira e defendendo o indefensável, indefensável, mas comuníssima prática nesta augusta Casa Legislativa de todo um país, o nosso país, a nossa nação, B – R – A – S – I – L, é isto mesmo.
Que patético, que vergonhoso, que monstruoso. Dinheiros na cueca, dinheiros em cima das mesas, fotos na primeira página dos jornais, fotos que se tentava abafar, depois saíam, e nada mudava, e nada mudou, as pilhas de dinheiro na mesa, que escárnio para os tantos que trabalham tanto, ganham a miséria de serem escravos de senhores sanguessugas depravados.
Que espécie de amigos são, que espécie de pais, de educadores, são estes? Será que se sentem uns homens cordiais, dando um empreguinho pro parente? Ou pra gente que sequer conhecem, mas é o afilhado de sicrano... que espécie de amigo é este, ou de pai, ou de mãe, que põe uma máscara na corrupção e chama de amizade, de amor?
Que tipo de mensagem dão: olhem para mim, eu me corrompo é para favorecer você. Assim você fica me devendo um favor. Isto não é ser amigo, é comprar um cúmplice.
Você não sabe estudar, não sabe fazer nada? Não se preocupe, vai ganhar este emprego de técnico aqui. Não precisa se preocupar, não precisa fazer nada. É só botar o salário no bolso, e me servir quando eu precisar. Você me deve, e uma mão lava a outra.
Na prova para Juiz do Rio de Janeiro, respostas vazaram, questões foram respondidas ipsi literis ao gabarito. Que escárnio, prova aplicada por desembargadores, e o Tribunal concluiu que nada podia ser feito com os “aprovados”, algum direito líquido, adquirido e certo, apesar das evidências de fraude.
Um grande escárnio, e no Senado parentes vão se apinhando botando dez mil no bolso, diretorias e comissões vão sendo criadas, horas extras não trabalhadas, e sempre tem uma grande oportunidade de negócio. Negócio pra envergonhar Rockefeller e Bill Gates, negócio que rende 500% ao dia, negócio líquido, adquirido e certo, não dá errada, malandro.
E o nosso presidente Lula está viajando. Está participando da "XXXV Cúpula Mundial dos Ditadores e Simpatizantes". Vejam Lula abraçar Khadafi; vejam Lula estrategicamente afastado do genocida do Sudão; vejam Lula escutar o discurso de Ahmadinejad; vejam Lula discursar também, uma trepidante e muito coerente condenação aos hondurenhos que atentaram contra a democracia, e ao sistema capitalista internacional, os banqueiros de olhos azuis; e quem é aquele vibrando no fundo com o discurso do "nosso líder", abraçando-o agora quase em lágrimas? Ah, é o Celso Amorim.
Mas agora, na entrevista aos repórteres, Lula se digna a voltar sua análise percuciente para o nosso pobre povo. Revela-nos um pouco de sua visão de estadista, sobre a crise do nosso Senado, ilustre Casa do Povo: para Lula, o PSDB quer é ganhar a presidência do Senado no “tapetão”. É ISSO! HEUREKA!: tudo foi explicado pelo "nosso líder" e suas elucidativas metáforas futebolísticas! Tudo se resume, como sempre, na velha intriguinha de Governo e oposição. Isto é que preocupa o presidente, isto é que lhe tira o sono: vai perder o poder, o outro vai te passar a perna; vai deixar de ser O CARA, o bem amado! Isto não pode ficar assim, temos de ser os mais malandros!
Mas e o país com a cara rota em pedaços, a ratada roendo tudo, e os dólares na cueca, e os milhões sobre a mesa? E os descaramentos e as fraudes, e O R – O – U – B – O O TEMPO TODO, À LUZ DO DIA?
Ah, para isto daí se pede uma rigorosa apuração! E mais uns vinte milhõezinhos pro publicitário que é meu amigo, e já tem até uma grande idéia pra uma campanha: vai se chamar: o brasileiro aguenta tudo, e não desiste nunca!
O PT mantém o apoio a Sarney. Idely Salvatti (PT-SC) subiu na tribuna. Hoje eles chegaram a sugerir um afastamento temporário do presidente do Senado. Mas logo logo voltaram atrás, diante da resistência de Sarney à idéia. No final da tarde a maioria dos senadores petistas decidiu seguir a orientação do “mais querido”, e manter o apoio a Sarney.
Isto vai bem. É bom que estejamos vendo bem claro na cara das coisas. PT, PT... não eras o partido desta tão invocada quanto indefinível “MODERNIDADE”? Como é a sensação de assumir a defesa das velhas práticas coronelistas e patrimonialistas, lamber o bigode de Sarney, diante das exigências reais da manutenção do poder? Sem crise, sem crise... não me venham fazer cara feia de nojo: o presidente Lula já mostrou como é que tem de ser, beija-se a mão de Jader Barbalho... amanhã é o Collor que vai beijar sua mão, não é Dilma?
Patrimonialismo no seu símbolo máximo, o velho Sarney do Maranhão. Ou seria do Amapá? Maranhão na vice-lanterninha do desenvolvimento social brasileiro: só perde o posto de O PIOR para as Alagoas. E olha que no Brasil a disputa por pior do desenvolvimento social é ingente! Pobre Maranhão, pobre Alagoas, pobre do Brasil! Belo legado de 40 anos de Sarneys no Maranhão. Sarney presidente da República. Sarney três vezes presidente do Senado. Que imagem patética, um homem velho, tremendo na cadeira e defendendo o indefensável, indefensável, mas comuníssima prática nesta augusta Casa Legislativa de todo um país, o nosso país, a nossa nação, B – R – A – S – I – L, é isto mesmo.
Que patético, que vergonhoso, que monstruoso. Dinheiros na cueca, dinheiros em cima das mesas, fotos na primeira página dos jornais, fotos que se tentava abafar, depois saíam, e nada mudava, e nada mudou, as pilhas de dinheiro na mesa, que escárnio para os tantos que trabalham tanto, ganham a miséria de serem escravos de senhores sanguessugas depravados.
Que espécie de amigos são, que espécie de pais, de educadores, são estes? Será que se sentem uns homens cordiais, dando um empreguinho pro parente? Ou pra gente que sequer conhecem, mas é o afilhado de sicrano... que espécie de amigo é este, ou de pai, ou de mãe, que põe uma máscara na corrupção e chama de amizade, de amor?
Que tipo de mensagem dão: olhem para mim, eu me corrompo é para favorecer você. Assim você fica me devendo um favor. Isto não é ser amigo, é comprar um cúmplice.
Você não sabe estudar, não sabe fazer nada? Não se preocupe, vai ganhar este emprego de técnico aqui. Não precisa se preocupar, não precisa fazer nada. É só botar o salário no bolso, e me servir quando eu precisar. Você me deve, e uma mão lava a outra.
Na prova para Juiz do Rio de Janeiro, respostas vazaram, questões foram respondidas ipsi literis ao gabarito. Que escárnio, prova aplicada por desembargadores, e o Tribunal concluiu que nada podia ser feito com os “aprovados”, algum direito líquido, adquirido e certo, apesar das evidências de fraude.
Um grande escárnio, e no Senado parentes vão se apinhando botando dez mil no bolso, diretorias e comissões vão sendo criadas, horas extras não trabalhadas, e sempre tem uma grande oportunidade de negócio. Negócio pra envergonhar Rockefeller e Bill Gates, negócio que rende 500% ao dia, negócio líquido, adquirido e certo, não dá errada, malandro.
E o nosso presidente Lula está viajando. Está participando da "XXXV Cúpula Mundial dos Ditadores e Simpatizantes". Vejam Lula abraçar Khadafi; vejam Lula estrategicamente afastado do genocida do Sudão; vejam Lula escutar o discurso de Ahmadinejad; vejam Lula discursar também, uma trepidante e muito coerente condenação aos hondurenhos que atentaram contra a democracia, e ao sistema capitalista internacional, os banqueiros de olhos azuis; e quem é aquele vibrando no fundo com o discurso do "nosso líder", abraçando-o agora quase em lágrimas? Ah, é o Celso Amorim.
Mas agora, na entrevista aos repórteres, Lula se digna a voltar sua análise percuciente para o nosso pobre povo. Revela-nos um pouco de sua visão de estadista, sobre a crise do nosso Senado, ilustre Casa do Povo: para Lula, o PSDB quer é ganhar a presidência do Senado no “tapetão”. É ISSO! HEUREKA!: tudo foi explicado pelo "nosso líder" e suas elucidativas metáforas futebolísticas! Tudo se resume, como sempre, na velha intriguinha de Governo e oposição. Isto é que preocupa o presidente, isto é que lhe tira o sono: vai perder o poder, o outro vai te passar a perna; vai deixar de ser O CARA, o bem amado! Isto não pode ficar assim, temos de ser os mais malandros!
Mas e o país com a cara rota em pedaços, a ratada roendo tudo, e os dólares na cueca, e os milhões sobre a mesa? E os descaramentos e as fraudes, e O R – O – U – B – O O TEMPO TODO, À LUZ DO DIA?
Ah, para isto daí se pede uma rigorosa apuração! E mais uns vinte milhõezinhos pro publicitário que é meu amigo, e já tem até uma grande idéia pra uma campanha: vai se chamar: o brasileiro aguenta tudo, e não desiste nunca!
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