sábado, 25 de julho de 2009

Contra Lula

Nesses tempos de popularidade elevada de nosso presidente, em que este se encontra mais relaxado do que nunca em seus atos e palavras, em que seus entusiastas encontram-se mais que nunca exaltados na defesa do chefinho, tudo enxergando justificado e absolvido pelos altos índices de aprovação popular, melhor momento não existe para exercer o sagrado direito de discordar.
Melhor momento não existe para se afirmar como homem livre, que não abre mão da crítica. Como já se disse, a liberdade de discordar é que é a liberdade de expressão. Nem mesmo a mais ferrenha tirania cogitou proibir os homens de concordarem com ela. O que a faz prender, processar, multar, executar opositores é a “loucura” de pretenderem questioná-la. A tirania quer os homens escravos, e, como escreveu Eurípedes, nas Fenícias: “É sina de escravo não poder dizer o que pensa.”.
E não se enganem: tirania não significa necessariamente ditadura de uma minoria. Tirania é tolher a liberdade dos homens. E as maiorias também podem estabelecer tiranias, tiranias ainda mais assustadoras e enganosas, pela própria força do número, e pela confusão dos que acham que, porque é maioria, pode tudo, até acabar com a própria liberdade.
São estes os idólatras das maiorias, os que pensam que ouvem a vox dei (voz de Deus) sempre que têm a satisfação de ver suas opiniões endossadas pelas estatísticas favoráveis. É bem fácil nadar com a corrente, abrir mão do juízo crítico, fechar os olhos, adormecer embalado num belo sonho, principalmente quando se lucra um belo cargo com isso, ou uma bela verba, uma bela pensão, um belo aumento, um belo aplauso dos seus pares. Mas podemos voltar a Eurípedes, em sua peça Auge, para retrucar que “Não há título mais precioso que o de homem livre: quem o possui tem muito, ainda que pouco tenha de seu”.
Então, podem escrever loas, e odes, e madrigais, pro “vosso líder”, o “estadista”, o “poderoso chefinho”. Podem também dizer que eu sou um terrível membro das “elites brancas de olhos azuis”, o “inimigo do povo”, inimigo da pátria, terra adorada, entre outras mil, inimigo até da Petrobrás. Mas não me queiram cassar o sagrado direito de discordar.
Quem dá o tom é o próprio chefinho: quem o critica é sempre um membro da “imprensa golpista”, “quer o mal do país”, ou é membro da “elite”, uma entidade esotérica e maléfica, responsável pelos problemas da nação. O famoso bode expiatório, a bruxa pra ir pra fogueira, a burguesia, os judeus, os ianques imperialistas, os banqueiros de olhos azuis, os estraga-prazeres, o demônio. Aquele em quem descarregamos nossas frustrações, e atrás de quem escondemos nossas culpas.
E com isso os bugres interditam qualquer debate livre e honesto. Se quem aprova o presidente é do bem, e quem desaprova é o mal, pra que perder tempo com debate? Com o MAL não tem discussão, tem exorcismo, expurgo, prisão, manda pra fogueira, pro paredão, pra Auschiwitz, pro gulag...
Exagero? Exagero são as propostas de “controle social dos meios de comunicação”, as declarações de apoio e os afagos a Chavez e Fidel, a Kadafi e Ahmadinejad, a idolatria a ditadores e genocidas do porte de Lenin, Stalin, Trotski, e Mao Tse Tung, por parte da nossa inteligentzia, o culto ao “pensamento único”, às “soluções finais”. Exagero são as montanhas de processos contra jornalistas “do contra”, são os rios de dinheiro desperdiçados com propaganda nos meios de comunicação “muy amigos”, e obedientes. Exagero são os discursos radicais de Lulinha, as ameaças veladas de “botar o bloco na rua”, a baixa tolerância à crítica, a ameaça de expulsão de correspondente estrangeiro, e a estigmatização, como “inimigo da nação”, daqueles que ousam discordar.
E como citamos o teatro grego para defender a liberdade de expressão, nada melhor para fechar este artigo do que estes versos de Ésquilo, nas Suplicantes: “A verdadeira liberdade é poderem homens livres / Aconselhar o povo, livremente se expressando”.
E me dou conta de repente de que este artigo, que seria para desopilar o fígado e exercitar os músculos batendo um pouco no presidente, acabou virando artigo sobre liberdade de expressão. O.k., isto fica só como uma introdução. A seguir, virá a substância de minha crítica ao vosso estadista, Lulinha.

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