
Orlando Zapata Tamayo, 42 anos, cubano, pedreiro, preso por delito de opinião, morto após 82 dias de greve de fome, em protesto por torturas e abusos sofridos na prisão.
Neste vídeo http://www.youtube.com/watch?v=4bzzGgpW9G0 vemos a inacreditável, debochada manifestação de Raúl Castro, logo após receber o presidente Lula na ilha: Raúl culpou os Estados Unidos pela morte de Zapata. Reparem na cara do Lula, ao seu lado: aquilo é um sorriso, constrangido, surpreso com a cara de pau de Raúl, ou o quê? Mais tarde, o próprio Lula, talvez inspirado pelo desempenho de Raúl, faria sua contribuição ao non sense, tentando justificar sua omissão e a da embaixada brasileira, acusada pelos dissidentes cubanos de recusar recebê-los: “Eu não recebi nenhuma carta. As pessoas precisam parar com o hábito de fazerem carta, guardarem para si e depois dizerem que mandaram para os outros. (...) Nós temos que lamentar, por alguém que morreu. E morreu porque decidiu fazer uma greve de fome. Sou contra greve de fome porque fiz e parei a pedido da Igreja Católica. Depois da minha experiência, pelo amor de Deus ninguém que queira fazer protesto peça para eu fazer uma greve de fome que eu não farei mais” (SIC, SIC, SIC). O que entender de tão estapafúrdias declarações? Parece que Zapata fez a greve de fome por algum capricho, e não como último recurso para protestar contra um regime autoritário e brutal, que o encarcerava e o torturava, por delito de opinião. E o presidente Lula não recebeu nenhuma cartinha? Não será porque a embaixada brasileira se recusou a receber os dissidentes cubanos? Não será porque o governo de Cuba pune tão brutalmente os que ousam levantar a voz em protesto? Mas será que precisava de uma carta para saber que o governo cubano mantém centenas de presos, abusivamente, pelo crime de pedir liberdade?
Presidente Lula, não precisa se preocupar em explicar nada. Este é um dos casos em que as imagens valem mais que milhares de palavras: basta-nos atentar para as fotos ao final da reportagem acima linkada: o presidente Lula sorridente, confortável, ao lado de Fidel e Raúl Castro, e do nosso Ministro das Comunicações, Franklin Martins (terá ido a Cuba aprender como se faz para ter meios de comunicação verdadeiramente “democráticos”?); o presidente Lula sendo recebido pelo velho Fidel, que vestia um abrigo Nike (!), dando-se as mãos, tendo ao fundo uma bela piscina de água bem azul... é isso: para uns pobres pedreiros, a tortura e a morte numa prisão; para uns sábios “líderes”, as piscinas azuis e as recepções festivas... Lula, você fez sua escolha quanto ao lado de quem preferia ficar.
Para o pobre povo brasileiro, além de toda a vergonha, além de todo o perigo destas relações tão próximas com uma ditadura sanguinária, ainda sobra uma conta alta pra pagar: desde que tomou posse, o presidente Lula tem sido muy generoso (com o nosso dinheirinho), muy amigo, da ditadura cubana. Em setembro de 2003, a Folha On Line noticiava uma viagem de Lula a Cuba, na qual nosso presidente anunciava que seria facilitado o pagamento de 20% da dívida de R$ 134 milhões daquele país com o Banco do Brasil, além de um investimento de R$ 20 milhões de reais do BNDES na construção de uma usina de álcool combustível. O título da reportagem da Folha: “Lula desembarca em Cuba com presentes econômicos”: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u53820.shtml
Mas os presentes econômicos de 2003 eram apenas um trocado perto das novas “bondades” do nosso governo para com a ditadura castrista, que se mantém por mais de 50 anos. No jornal Globo de ontem lemos que as obras de ampliação do Porto de Mariel, a 50 quilômetros de Havana, são financiadas pelo BNDES. “O custo total da obra é de 800 milhões de dólares, sendo US$ 453 milhões do governo brasileiro, mas os cubanos querem mais U$ 230 milhões”.
Leio ainda a notícia da Agência Senado, de 16.01.2008, que informa que o senador Eduardo Azeredo (PSDB – MG) questionava a abertura de linhas de financiamento do BNDES (sempre ele!) de R$ 1 bilhão, para construção de rodovias e hotéis em Cuba. Segue o link http://www.direito2.com.br/asen/2008/jan/16/azeredo-critica-emprestimo-de-r-1-bilhao-do-bndes-a-cuba
Um senhor progresso, das “merrequinhas” de R$ 20 milhões em 2003, para os 453 milhões de dólares, e o bilhãozinho de reais, de 2008... Não ouvi maiores protestos quanto ao destino deste nosso “dinheirinho”, apesar do questionamento do nosso ilustre senador. Coisas de 80% de popularidade, e uma oposição inerme...
Mas por estes poucos exemplos, colhidos rapidamente na internet, dá pra notar que o nosso governo gosta muito da ditadura cubana. Alguma coisa nossos hermanos devem ter feito, não é mesmo, para merecer tamanha afeição... e, realmente, veio à mente uma reportagem da revista Veja, edição 1929, de 2 de novembro de 2005: seu título, “Campanha de Lula recebeu dinheiro de Cuba”. Eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=4bzzGgpW9G0
Destaco alguns trechos da reportagem: “Os dólares, acondicionados em caixas de bebida, andaram por Brasília e Campinas até chegar ao comitê eleitoral de Lula em São Paulo. (...) Entre agosto e setembro de 2002, o comitê eleitoral de Lula recebeu 3 milhões de dólares vindos de Cuba. (...) De Brasília, o dinheiro foi levado para Campinas, a bordo de um avião Seneca, acondicionado em três caixas de bebida. Eram duas caixas de uísque Johnnie Walker, uma do tipo Red Label e outra de Black Label, e uma terceira caixa de rum cubano, o Havana Club. Quem levou o dinheiro foi Vladimir Poleto, um economista e ex-auxiliar de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. (...) A Lei 9096, aprovada em 1995, informa que é proibido um partido político receber recursos do exterior. Se isso ocorre, o partido fica sujeito ao cancelamento de seu registro na Justiça Eleitoral. Ou seja: o partido precisa fechar as portas. (...)"Isso é a coisa mais grave que existe", diz o professor Walter Costa Porto, especialista em direito eleitoral e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "É tão grave, mas tão grave, que é a primeira das quatro situações previstas na lei para cassar o registro de um partido político. Isso é um atentado à soberania do país. É letal", comenta o ex-ministro. Caso as investigações oficiais confirmem que o PT recebeu dinheiro de Cuba, e o partido venha a ter o registro cancelado, o cenário político brasileiro será varrido por um Katrina: isso porque os petistas, sem partido, não poderiam se candidatar na eleição de 2006. Nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
Claro, sabemos hoje que o PT não veio a ter o registro cancelado, que o presidente Lula candidatou-se normalmente à reeleição, venceu-a, e ostenta hoje os tais 80% de popularidade. E os empréstimos do BNDES a Cuba se fazem na cifra dos bilhões, e o nosso Governo mantém a melhor amizade com os Castro, e se abstém de qualquer manifestação contrária aos desmandos da tirania cubana...
Mas está tudo normal, e ninguém deve se impressionar com nada. Devemos continuar no nosso sono satisfeito, no país das maravilhas, onde vai ter Olímpiadas e Copa, com o presidente que é “o cara”. Y una mano baña la otra, compañero, y ¡que viva el comunismo!
Neste contexto, tem graça o discurso de nosso governo ao condenar peremptoriamente o “golpe” contra a democracia em Honduras. Continuamos não reconhecendo o governo eleito pelos hondurenhos, ainda que não tenha sido constatada qualquer irregularidade na votação. Enquanto isso, defendemos peremptoriamente a eleição no Irã, apesar das toneladas de evidências de fraudes e violência contra opositores http://sinatti.blogspot.com/2009/06/teocracia-infernal.html, e mantemos estas relações perigosíssimas, proximíssimas, com a tirania cinquentenária de Cuba.
Esta ambiguidade de discurso lembra as condolências de Raúl Castro à família de Orlando Zapata, e merece a mesma resposta dada pela mãe de Orlando, Reina Tamayo:
“A condolência de Raúl é um cinismo, ele foi responsável pelo assassinato premeditado de Orlando. É uma imagem para o mundo, para dizer que são bons. Se são tão bons, por que até agora não responderam à petição de meu filho? Estava preso há sete anos, 82 dias em greve de fome. É um cinismo desse governante e de seu irmão. São uns assassinos. Eles mataram o meu filho. (...) Intensificarei com minha dor (a luta por direitos humanos), toda a minha família, com o mesmo desejo de lutar pacificamente para Cuba ter liberdade e democracia. Orlando dizia que morrer pela democracia era viver eternamente nela.”
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