terça-feira, 30 de agosto de 2011

Revoltas

Por todo o mundo, revoltas que explodem. Londres, que grande choque foi, para mim, ver a capital dos admiráveis ingleses explodindo na revolta.


Primeiro, um violento protesto contra cortes nas verbas de educação. Que vergonha, lançar pessoas à ignorância! Fortalecer as forças da ignorância...


Depois, o assassinato de um jovem pobre, por policiais, fazendo explodir uma nova revolta, bem mais violenta, com imagens chocantes de multidões de jovens saqueando lojas, depredando prédios...


E os conservadores covardes usam o medo da população para defender novos cortes nas verbas sociais, e novas formas de restringir os direitos...


O Primeiro-Ministro já fala em controles de internet...


Que fique claro: eu não defendo os saques de lojas, e as violências, e os apedrejamentos.


Mas não vou dizer que a insatisfação e a revolta contra as IMENSAS, DIÁRIAS, injustiças que vemos ser cometidas, nos jornais, nas tevês, nas conversas de todo um povo, não são plenamente compreensíveis e justificadas.


É evidente que os benefícios produzidos pela humanidade estão grotescamente, estupidamente, pornograficamente, concentrados, por uns poucos. E ao resto, ao imenso resto, está sendo dito: “vão se foder”.


Contra isto, contra a imoralidade, contra a irracionalidade, contra a brutalidade, contra a desumanidade, todo homem de bem PRECISA se erguer. Precisa apoiar quem questiona, quem propõe uma mudança, quem argumenta que pode ser diferente.


Agora, o saque, a violência, não são formas de levar a cabo essa mudança. É um desperdício de energia, é dar munição ao inimigo. É não ter foco, é mirar no vazio.


O sentimento da revolta deve ser usado para insuflar vida a um corpo de idéias coerente, algum meio concreto de se fazer a mudança.


Um novo sistema. Uma nova lei. Uma nova forma de fazer a política.


Pois os poderosos que estão por aí, à esquerda e à direita, e ao centro, estão todos sem propostas, sem idéias, sem soluções.


O que é lógico, afinal, todos participam do mesmo jogo: todos garantem para si as aposentadorias especiais, e os direitos especiais, e os salários especiais, e os planos de saúde especiais, e as oportunidades de negócios especiais... e por que é que iriam querer mexer nesse jogo?


Pois a proposta e a solução tem de se ir procurar diretamente no povo. Não é do povo que emana todo o poder? Assumam a democracia como uma verdade, e não a saúdem apenas “da boca pra fora”. Está no nosso coração, está na nossa Constituição, pois a reconheçam DE VERDADE, no dia-a-dia e na prática do povo.


Isto eu falo para o Brasil, isto eu falo para o mundo. Democracia tem de deixar de ser um jogo vazio, umas regras formais, corrompidas pelo grande dinheiro.


Lobistas de grandes interesses financiam campanhas políticas, partidos políticos, carreiras políticas. Para que votem a favor de seus interesses.


E isto é no Brasil e no mundo. Sarkozy passeando de lanchinha... Berlusconi, o que falar de Berlusconi? E as vendas de armas, e o tráfico de drogas, e os juros de banqueiros, e os imensos lucros de uns executivos... quanto de imoralidade, de violência, de degradação, pode haver? Qual será o limite? E são males que afetam o mundo inteiro, nem a velha civilização da Europa, nem os riquíssimos EUA, nem os disciplinados asiáticos estão livres deles. E a crise ameaça a todos, e avança sobre todos, e obriga todos a repensarem velhas certezas.


E claro que o Brasil não está livre de nenhum dos males, e por que estaria? Pode não ter a escala destas grandes economias, Japão, EUA, Alemanha, mas não deixa de ter o seu próprio rol de problemas e, em muitos aspectos, está infinitamente mais distante que outros países no equacionamento mínimo de seus problemas.


Pensem na miséria extrema. Pensem na violência. Pensem na impunidade. Pensem no Maranhão e em Alagoas. E agora pensem em Collor e Sarney. Deu pra ter uma idéia?


Podemos seguir cantando glórias ao nosso “jeitinho”, que sempre consegue dar uma, digamos, "solução", "pouco ortodoxa" (no popular: cagando pra lei), para os problemas? Deixo isso pros marqueteiros oficiais, pagos regiamente para açular nossos egos (cuidado com aquele que te elogia!). Morremos nas filas de hospitais, no chão de hospitais, tratados como gado, tratados como lixo! Mas somos os mais espertos, somos os mais felizes do mundo, e nosso céu tem mais estrelas, e nossa vida mais amores... blá-blá-blá, impávido colosso...


Existem problemas, existem muitos problemas, e o nome do problema é um só, para o mundo todo: PRIVILÉGIO.


Por que aceitar que uns tenham assistência de qualidade na saúde, e outros não?


Por que aceitar que uns tenham educação de qualidade, e outros não?


Por que aceitar que uns façam milhões e bilhões, em um dia, e outros não façam dez mil, numa vida de trabalho duro?


Por que aceitar que para uns a Justiça dê tudo, reconheça tudo, garanta tudo, e para outros a decisão demore 40 anos, pra no final ouvir que prescreveu o direito?


O nome do jogo é PRIVILÉGIO. É ele que nos rouba a dignidade.


Sarney, nosso presidente do Senado, vai passar um fim de semana de lazer na sua ilha particular. Utiliza um helicóptero oficial, que deveria ser usado para resgate de pessoas em situação de emergência. Leva consigo um amigo empresário, que tem negócios com o Estado. E um político aliado vai discursar na Tribuna, pra defender nosso herói: “Vocês queriam que ele andasse de jumento?”.


Deu pra ter uma idéia?


E, eu repito, é no mundo todo. Tem um novo czar na Rússia fazendo uma negociata de 500 milhões, neste momento. Tem uma Câmara de representantes do povo, na Espanha, passando uma lei que dá uma aposentadoria especial pros seus membros. Tem um lobista de armas, nos EUA, passando uma lei pra começar outra guerra. Tem um banqueiro, na Inglaterra, que recebeu subsídio de bilhões de dinheiro público, e só anda de jatinho.


Sim, sim, democracia, todos somos favoráveis à democracia, mas o quanto ela representa, de verdade, para o bem estar de um povo?


Claro, eu sei que a qualidade média de vida de um pobre da Inglaterra é muitas vezes melhor que a de um pobre do Brasil.


Mas isto é uma comparação descabida, pois não serve pra nada fazer a comparação entre a própria situação e a de pessoas piores.


Cada pessoa, ou cada povo, só pode comparar a sua própria situação, com o que era no passado, e com a perspectiva de melhorar no futuro. Ninguém se consola de uma injustiça sofrida, dizendo: “ah, mas na Índia tem uma taxa de mortalidade imensa... sofri uma injustiça, sim, mas, em comparação, sou até privilegiado...”


Cada um tem seus próprios males e problemas. Não quer dizer que não se deva solidarizar e ajudar, da maneira que puder, a Índia, a China, a África, ou os pobres no seu próprio país. Mas a única maneira de um homem, ou um povo, realizar suas aspirações, é enfrentar e superar os seus próprios problemas, tomar as rédeas do próprio destino, e não aceitar passivamente os próprios problemas, e se consolar com os problemas dos outros. Pobre consolo seria este.


Saque, violência, terrorismo, não enfrentam problemas, não resolvem problemas. Reforçam problemas, criam novos problemas.


Novo sofrimento, nova desilusão.


Slogans vazios, fórmulas mágicas, verbalizar inconscientes desejos e aversões: “rasguem todo o dinheiro”, “fuzilem os banqueiros”, “enforquem os padres”. Nada disso enfrenta problemas, resolve problemas. No seu melhor “sucesso” engendram medonhos totalitarismos e ditaduras.


Qual será, então, a solução?


Mais democracia, melhor democracia, democracia “de verdade”.


Se tem bilhões para salvar o banqueiro, tem de ter bilhões para pagar milhares de salários de médicos antes. Não pode faltar o médico, não pode faltar o professor. Se eu não quero, para mim, para meu filho, a doença, a ignorância, eu não posso aceitar que elas venham para meu vizinho.


Se tem bilhões para dar aposentadoria especial para os políticos, tem de ter, antes, ou ao invés de, bilhões para pagar aposentadoria na justa proporção para quem contribuiu muitos anos.


Quando os jovens na Espanha se reúnem para mandar milhões de emails para denunciar que os privilégios dos políticos naquele país que se aposentam em poucos anos, com valores muito acima do que contribuíram, eu apóio e defendo sua iniciativa e sua revolta. Quando eles exigem que estas regras espúrias mudem, eu concordo que devem mudar.


Quando eu ouço falar de um "novo Ghandi", na Índia, um certo Anna Hazare, que, sem apelar à violência, convoca o povo e corre riscos, para denunciar e combater a corrupção em seu país, eu torço por ele, e desejo-lhe sorte.


Quando eu lembro que aqui no Brasil vivemos esta mesma situação, e ninguém se mobiliza, e ninguém faz nada, eu sinto vontade de chorar.


Mas os ventos da mudança não páram de soprar, em todo lugar. Hoje, ou amanhã, ou depois de amanhã, na Espanha, na Índia, no Brasil... tudo está sempre mudando... vamos aprender com o vento, levantar nossas velas, fazer com que o vento nos leve até o porto onde queremos chegar.

Respeito

O que falta a uma sociedade doente, qualquer sociedade doente, é respeito. Respeito por cada indivíduo que a compõe, respeito à individualidade.


Que nenhum indivíduo padeça da falta de cuidado, da falta de respeito.


Uma sociedade sadia respeita cada indivíduo. Não vai processá-lo, se ele não prejudicou alguém. Não vai trancafiá-lo, torturá-lo ou matá-lo, porque ele exercitou um direito. Porque ele expressou seu pensamento.


Não vai puni-lo em trabalhos desgastantes, prolongados, mal pagos, trabalhos de escravo. Não vai puni-lo por ele ser um membro ativo da sociedade, por ele trabalhar, por ele ganhar dinheiro.


Mas, se ele não for um dos sortudos fazedores de dinheiro, nem por isso vai deixá-lo passar necessidades. Vai ampará-lo com assistência médica, e escola para seus filhos.


Uma sociedade sadia não vai permitir o desrespeito que representa a insegurança. Não vai permitir que o crime fique impune, vai combatê-lo! Não vai permitir que um processo dure 20 anos, dure 50 anos, outro desrespeito. Não vai permitir que um funcionário ou um político, um destes poderosos do momento, aja como um tirano, humilhe e prejudique algum cidadão. Para estes, também, cadeia.


Uma sociedade sadia não vai permitir os tributos extorsivos, que sustentam os privilégios.


Isto uma sociedade sadia, uma sociedade com lei, e com prosperidade. E com respeito.

sábado, 20 de agosto de 2011

O Sacrifício e a Misericórdia

"Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." - Mateus, 9, 13

Não quero sacrifício, quero misericórdia. Que palavras inspiradoras, de Jesus no Novo Testamento! Esta será a marca da civilização, por oposição à barbárie. Ao invés da violência, da estúpida, feia, asquerosa, violência, um modo de viver em paz com seu semelhante.


Ao invés da dureza do descaso, da incompreensão, do cinismo, o calor de não se sentir abandonado, jamais abandonado com seus problemas!


Abençoado o que consegue viver em paz com este mandamento. Abençoado o indivíduo, abençoada a sociedade.


Sublime, a benção contida neste ensinamento.


Alguém está doente, doente de emergência, e não consegue um leito de hospital? Sacrifício. Barbárie. Violência.


Alguém está doente, doente de emergência, e lhe fazem deitar em um leito, e lhe prestam a medicação adequada? Misericórdia. Civilização. Benção.


E pensar que uns vão dar as “razões”, pelas quais devemos endurecer nossos corações, negar ao irmão um gesto amigo. Vergonha. Inconsciência. Mentira.


Ninguém quer ficar sem um tratamento adequado para sua doença, ou para a de seu filho. Não aceite que alguns outros possam ficar.




terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Triunfo da Morte



Num Jornal da Band, de uns meses atrás, assisti a uma notícia que preferia não ter visto: o assassinato de um homem, filmado pelas câmeras.


Aconteceu em um ônibus, um passageiro descontrolado, dando tapas na cara do motorista. Indignado, enlouquecido, agredia o motorista com uma fúria insana. Batia, saía de perto, voltava, batia de novo. Numa dessas, o motorista fecha a porta do ônibus, saca um punhal, golpeia. O outro foge apavorado, o motorista corre para golpear de novo. Tudo nítido diante dos olhos. Ao final, o outro, caído no chão, ergue os braços e faz um protesto, como se reclamasse de algum excesso do motorista. E a voz da bela jornalista nos informa que o homem que recebera as facadas, levado para um hospital, havia morrido.


Morte assim, simples assim, passada no jornal antes das 20 horas, antes do jantar em família. O horror tão banal. Fúria nas ruas, notícia de jornal, e agora temos a overdose de imagens, com as câmeras onipresentes.


E eu me senti mal por ter visto aquilo, o crime real, o absurdo da violência sem sentido, sofrido por este povo, como uma praga e uma epidemia, e, pior, como coisas da vida.


Quanto de insanidade, quanto de violência, de impunidade, de frustração se acumulou, para que um se volte contra o outro, seu vizinho?


Perpetuamente explorado, vendo os espertalhões se dando tão bem, vendo gente honesta passando necessidade, o brasileiro se enche de razão, se enche de indignação, e vai procurar alguma nova vítima para descontar sua frustração, para se sentir um pouco “por cima”, para dar vazão à sua raiva.


Não sei o que o homem que foi morto sentiu, para agredir de forma tão brutal o motorista. Havia um seu parente paralítico, parece, que teria sido desrespeitado.


Mas por mais razões que tivesse, seria o caso de levar o caso à Justiça, e, se o motorista tivesse descumprido algum dever de respeito, ser punido de forma adequada.


Mas para se chegar a recorrer à Polícia, à Justiça, e se chegar a confiar nestas instituições, é necessário tê-las bem organizadas na sociedade, respeitadas, cumprindo com seu papel, bem funcionando. E é preciso ter uma sociedade que exija e que cobre, que se cumpra o seu papel.


“Senhor delegado? Quero denunciar uma agressão. Fulano de tal, no ônibus tal, da linha tal, me agrediu verbalmente, agiu assim, assim...” E o delegado instaurasse o processo, e o Judiciário decidisse, num prazo curto, a pena da lei.


Não estou defendendo, tampouco, a reação do motorista agredido. Também ele deveria, diante da agressão sofrida, levado o caso à Justiça. E a instituição aplicaria a pena ao agressor, certa e segura, quaisquer que tenham sido suas razões. Ele não poderia tomar a Justiça nas próprias mãos, da mesma forma que o motorista, desencadeando a espiral de agressão que termina na morte de um homem.


Mas aqui, com as nossas leis, tudo fica difícil. Vai falar com o delegado? Teme-se perder tempo. Teme-se sofrer um deboche. Se for uma comunidade pobre, teme-se sofrer uma ameaça. Vai levar o caso à Justiça? Teme-se levar 20 anos para se decidir. Teme-se uma decisão absurda, incompreensível, à margem da lei.


Policiais, e Ministérios Públicos, e Juízes, às vezes parecem mais interessados com os próprios umbigos, e com questões de salário e privilégios, enxergando o trabalho que lhes chega como aborrecimentos indevidos à sua nobreza de espírito.


Do outro lado da cerca, fica o povo se digladiando, matando e morrendo numa revolta sem foco, inútil.


Não estou pregando a famosa luta de classes, outra forma da mesma fantasia perigosa e inútil. Estou falando de sociedade bem organizada, com um delegado bem conhecido da comunidade, idem juiz, idem Ministério Público. E umas leis bem claras pautando a atuação dos órgãos públicos. Por exemplo, não instruiu minha queixa? Mas é meu direito, é seu dever, e se descumpre o seu dever, seja punido por isso.


Outro exemplo: passou seis meses, passou 1 ano, sem uma decisão? Não se pode aceitar isso, qual é a justificativa? Chame-se o réu, faça-se uma audiência, ouçam-se as testemunhas, decida-se.


Ora, existem muitos processos? Pois é uma questão de organização (falta de). O juiz deve ter um número certo de jurisdicionados para atender, estabelecido com critério, e semelhante ao da comarca X, e da comarca Y, e da comarca Z. E um tempo médio, estabelecido em lei, razoável, para que cumpra sua função.


Mas estou indo longe demais, bem sei, na nossa realidade de se pensar o Estado como arbitrário distribuidor de “favores” e ameaças. Quando a nossa Polícia é temida como capaz de abrigar matadores, o buraco é muito mais embaixo.


Não se muda tão fácil assim a cultura que forma o patrimonialismo, nem se supre da noite para o dia nossa falta de prática de nos sentirmos sujeitos de direitos.


Aqui, mesmo auto-proclamados “defensores da ordem” justificam torturas e assassinatos de capitães Nascimentos. Imagine-se, então, “defensores da desordem”, que também abundam entre nós... espelhos que se refletem ao infinito, faces da mesma moeda. Cumprir a lei, que é bom, nada. Sempre são 1.002 justificativas para não fazê-lo.


E daí que perpetuamos nossos desrespeitos e agressões, indignados contra a impunidade, mas contando com a impunidade para nós mesmos. Pois se todo mundo faz, e se todo mundo “se dá bem”, eu quero fazer também...


Nossa prisão, nosso círculo.




Bruegel - Dulle Griet, cerca de 1562



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O caso Bizarro




William Zantzinger killed poor Hattie Carroll...

- Bob Dylan

http://sinatti.blogspot.com/2010/07/extra-extra-material-forte.html



O capitão da Polícia Militar, Dennys Leonard Nogueira Bizarro, foi protagonista de um caso bizarro.


Flagrado por câmeras quando passou por um jovem assassinado por ladrões que lhe roubaram dinheiro, um casaco e um tênis, e, depois de pegar os criminosos deixou-os ir embora, ficando com o casaco e o tênis para si.


Grandioso... monstruoso... bizarro...


Mas não o bastante para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, que agora, como instituição, mostrou de onde brotam os capitães Bizarros:


Pois puniu o capitão Bizarro com uma pena de 30 dias de prisão administrativa. E deu por encerrado o caso, ou seja, Bizarro já não corre o risco de ser expulso da corporação!


Pelo menos é o que diz a reportagem do Jornal Nacional de ontem, não vão me acusar de estar delirando ou mentindo:


http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/pm-envolvido-no-caso-afroreggae-vai-cumprir-30-dias-de-prisao/1585618/



Não os culpo. Eu também ainda não acredito... Será que é tudo um sonho? Ou um pesadelo?



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Democracia e Economia

O grande problema é que os gastos se concentram em poucas mãos.


O Governo faz sua arrecadação brutal de 500 bilhões de reais. Mais ou menos uns 36% do PIB do país. Gasta seus 200, 300 bilhões com os montes de aposentadorias, empregos públicos, investimentos, despesas obrigatórias. Daí, vai pra melhor parte que é decidir o destino dos 200 bilhõezinhos que sobram.


Se este gasto viesse para o bolso da população, o bem estar se multiplicaria. Pequenos empréstimos, de 5 mil, de 10 mil, de 15 mil, de 50 mil, de 100 mil... quantos empréstimos de 100 mil se pode fazer com 100 bilhões? Eu te digo: 1 milhão. Imagine 1 milhão de pessoas no país com 100 mil na mão para sustentar os seus planos.


E, olhem, para muita gente já faz uma diferença absurda, 10 mil, ou 1 mil. O que para um dos nossos magnatas de bilhões pode parecer tão pouquinho, não é, 1 mil... mas para muita gente pode representar a vida ou a morte. Coisa horrível...


Pois, a uma sociedade acorrentada, amordaçada, violentada, o Governo oferece NADA, ou quase nada. Mas para alguns poucos, oferece os contratos de 1 bilhão, ou de 10 bilhões, ou 20 bilhões.


Além dos muitos contratos de milhões, para executar serviços porcos ou inexistentes.


E aí, queridinhos, a possibilidade de ter 1 milhão de pessoas na sociedade com 100 mil na mão, para financiar um projeto, ou 10 milhões com 10 mil, ou cem milhões com 1 mil, decrescem rapidamente, e até desaparecem.


É esta concentração de dinheiro que faz com que faltem os recursos para o bem estar da sociedade.


É a profunda indecência de uma sociedade que nega a um de seus participantes o direito de financiar um projeto, sem ser extorquido por isso.


Quantos negócios poderiam se realizar, poderiam acontecer, se um sujeito, que tem uma boa idéia para construir isso, ou para comerciar aquilo, pudesse ter nas mãos este crédito? 10 mil pra comprar um caminhão, 15 mil pra alugar um depósito, 5 mil pra reformar o botequim, 2 mil para comprar uns tecidos, e revender...


Quanto não reverteria em benefício para a sociedade, 1 milhão de pessoas com uma melhor oportunidade?


E eu não estou falando de distribuir dinheiro, eu estou falando da possibilidade de se fazer empréstimos. Sem grandes burocracias, sem milhões de carimbos e papeladas, e taxas de Cartório, e gorjetinhas pra despachantes.


E sem juros extorsivos, sem ciladas no contrato.


Algo simples. Um direito. Avaliação de renda, capacidade de pagamento. Até dez por cento de comprometimento de renda. Começa com a possibilidade de menores empréstimos, se for bom pagador, passa para maiores. Mas sempre com facilidades para o pagamento, algo a ser entendido como um DIREITO para os membros desta sociedade, jamais um FAVOR do Governo.


Não. A sociedade é que deu o seu dinheiro para o Governo. Ele DEVE agir como representante desta sociedade. Ou então, é mentira que este seja um governo democrático.



Mas o problema é a cultura, entender como correto que o governo seja nosso Senhor, que decida sem o nosso consentimento. A cultura, que é para nós aquilo que a água é para o peixe: a única coisa que ele reconhece como real, e que não poderia ser de outro jeito.


Mas pode.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Igualdade

“Ouviste o que foi dito: Amarás teu próximo e odiarás teu inimigo. Eu porém vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” - Mateus, 5, 43



Constatar que as pessoas são enormemente diferentes, e não querer lutar contra este fato.


Eis aí a grande esperança, e o grande desafio que se coloca à nossa atual forma de desenvolvimento político, este experimento que é a Grande Sociedade Aberta.


Por um lado, vemos as forças irresistíveis da História, que configuraram esta nova forma de convivência humana. O mundo hoje é menor, mais próximo, mais conhecido.


O mundo hoje conhece japoneses, americanos, ucranianos. Tribos da África, católicos, judeus, e mulçumanos. E hinduístas, e budistas.


E, após tantas guerras, tanto preconceito, tanto racismo, o mundo vai entendendo que todos somos apenas formas diferentes de levar esta vida. Não melhores, não piores, diferentes formas de viver a vida.


Depois de tanto ódio, de tanto medo, de tanta ganância. De usar o diferente como escravo, como coisa. De se justificar como superior, e impor o infortúnio a um pretenso inferior.


Sei que seguimos vivendo tudo isso. Não houve qualquer transformação mágica do ser humano. Mas também é verdade que muitos começaram a questionar esta forma de usar a diferença para constituir os privilégios.


Uma idéia nova permeou o ar, e não é de hoje. Parece que sempre esteve soprando no vento, uma pequena voz açucarada, prometendo Paraísos e flores, ao invés desta miséria cotidiana, que nos sangra a vista.


Uma idéia de não haver leões e cordeiros, nem senhores e escravos.


Começou a ser gritada esta idéia, e por vezes até se quebrou, sob a violência com que foi brandida. Mas mesmo se perdendo e se quebrando, ela persistia naquelas mentes que pediam esta transformação: Liberdade. Igualdade. Fraternidade.


Uma nova maneira de construir o mundo. Não mais senhores e escravos, mas cidadãos.


Significa dividir o mundo. Os poderes e as responsabilidades na condução do governo. Os direitos.


Direito de voto. Não para você, que é branco, ou não para você, que é negro. Não para você, que é rico, ou não para você, que é pobre. Para todos.


Direito de ter uma opinião. Direito à sua crença, ou não crença, religiosa. Direito a escolher o seu trabalho. Direito a ter o seu negócio.


Dever de pagar tributos. Dever de respeitar as leis. De respeitar o próximo.


Igualdade, igualdade para todos.


“Igualdade”, eu pronunciei a palavra,

como se fosse um voto de casamento...


Um belo sonho, sem dúvida, mas que nunca pode se presumir concluído ou conquistado.


Afinal, todas as guerras e injustiças estão no nosso jornal de todos os dias, não é possível deixar de ver isso.


85 mortos no massacre da Síria.


É ilusório e escapista pensar que temos uma condição maravilhosa, e perfeitamente consolidada, e que podemos dormir sobre os louros. Entregar-mo-nos ao suave hedonismo de não saber e não querer saber de mais nada... uma ilha de prazeres de Circe, que aprisiona e diminui o homem...


Embora não se queira cair no outro extremo, do soldado em permanente guerra, onde nunca dorme... apreciar o seu vinho, apreciar o seu dia. Apreciar a família e os amigos.


Um homem em equilíbrio. Nada em excesso.


Um homem cumpridor dos deveres, por ele consentidos. Cumpridor de sua consciência. Jamais um escravo, jamais um senhor sobre outros homens.


Um belo ideal: o homem livre.


E como ser livre, se não se reconhece a liberdade para o outro homem? Se se considera que algum homem pode não ter um direito, direito de trabalhar, ou de andar na rua, ou de amar, ou de viver?


Na sociedade vemos que acontece a negação destes direitos, uma gangue que luta com outra, brancos que matam negros que matam brancos que matam chineses... vemos o ódio aflorar, mesmo em sociedades muito desenvolvidas.


Mas também é verdade que a sociedade procura punir os agressores, e procura dar a todos as condições para uma vida mais digna. E uma sociedade que abdica destes propósitos abdica de ser livre.