sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Leituras

Borges e a Biblioteca de Babel



Na minha miscelânea de leituras atual (cerca de um mês) estive recentemente com Italo Calvino e seu Cavaleiro Inexistente, buscando, num período de descanso, retomar o prazer lúdico da leitura, que me acometeu quando li do autor O Visconde Partido ao Meio, e me fez lembrar leituras de infância, na mágica e na fantasia de me envolver em um texto.


De Calvino, pouco antes, havia relido o ensaio Por que ler os clássicos, saboreando a lucidez e a precisão das ideias e escrita.


Também li outro capítulo de um livro sobre a História recente, tema que me desperta constante interesse. O livro é O Mundo em Desordem, de Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa, o capítulo era sobre o crash de 1929, a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, e deu vontade de ler mais sobre economia, e retomar um antigo projeto de leitura do Babbitt, de Sinclair Lewis (anotação mental para uma próxima ida à biblioteca).


O desejo de ler mais sobre economia foi bem atendido pela descoberta no Sebo do Jorge do A Formação da Sociedade Econômica, de Robert L. Heilbroner, muito mais a dizer sobre o livro, em artigos futuros (projeto).


Também entrei em contato com um texto clássico, As Leis, de Platão, o último diálogo do mestre. O início me fez sentir estar diante de um novo A República, dos maiores livros que li. A conferir.


(Estou muito esparso, com fome de leitura, mas sem conseguir concentrar o meu cérebro em um único texto, de fio a pavio, por mais que me esforce).


De volta da viagem, utilizei a internet para fazer novas compras. Da lista de melhores do ano que saiu no jornal, tenho agora Valter Hugo Mãe, Michel Laub, Macedônio Fernández. Espero receber em breve Alberto Mussa. Comecei a ler Tony Judt, O Mal Ronda a Terra, com grande expectativa, após conhecer a sinopse. Parece ser mesmo bom, mas concluída a introdução, o que ficou de mais forte foi a citação de Alexis de Tocqueville: “Não posso deixar de temer que os homens cheguem a um ponto em que vejam todas as novas teorias como perigosas, todas as inovações como aborrecimentos cansativos, todos os progressos sociais como um passo inicial para a revolução, e que por isso se recusem absolutamente a realizar qualquer movimento”. Alexis de Tocqueville, fantástico. (Anotação mental: retomar O Antigo Regime e a Revolução. Buscar o A Democracia na América).


Também entrei em contato mais direto, finalmente, depois de muito namoro à distância, com Kurt Vonnegut, O Café da Manhã dos Campeões, e estou gostando bastante, e está inclusive rendendo, já avancei bastante a leitura, bom humor ácido, estilo dinâmico, envolvente. Periga ser o primeiro “de fio a pavio”, de 2012.


Mas também comecei outro que periga ser nova “leitura sem fim”: Uma História de Deus, erudição, interessante, mas com algumas interpretações tão particulares que beiram o gratuito. Pelo menos na minha opinião. E olha que só estou, mais ou menos, na metade do primeiro capítulo.


E ainda comecei, ontem de manhã, A Natividade, de Geza Vermes, presente do meu amigo Marco Antonio, para satisfazer um desejo de leitura de interpretação de texto bíblico, outro tema de meu constante interesse. É outro que periga ser o primeiro “fio a pavio” de 2012, um texto fluente, um assunto de interesse. Pensei que o poderia ler de um fôlego.


Se não fosse o trabalho...


Mas, aí, eu interrompo a leitura. Aí, chega o Tony Judt pelo correio. Aí, tem o jornal. Aí, tem o e-mail. E, aí, eu lembro que a leitura do livro de economia bem merecia um desenvolvimento...


(anotação mental: não esquecer Geza Vermes).


E ainda nem comecei a escolher uns verbetes do Dicionário de Política, Norberto Bobbio e outros, 2 volumes, recém-descoberto (entre outros), no Sebo.


(sim, é uma fome voraz)


(anotação mental: saiu uma coletânea de peças curtas do Tennessee Williams)


Boas leituras, eu sei que não me faltam. Me faltarão, talvez, o tempo, e a tranquilidade, e o esforço, e a paciência, e a disciplina...


(Se não fosse o trabalho...)


e pensar no que poderia ter sido

envenena e corrompe o presente


Retomo as listas de prioridades, e as arrumações de estantes, e as promessas de reserva de tempo diário para a leitura, e as buscas por aquelas leituras que me envolviam e faziam esquecer todo o resto. Leituras que me prendiam pela simplicidade, e comprei na livraria uns contos do Raymond Chandler. Ou que me prendiam pelo interesse, lembro dos clássicos que li inteiros, Plutarco, Julio Cesar, Tucídides, Heródoto, Platão, Homero... leituras que me faziam mergulhar e esquecer de tudo, esquecer de mim mesmo, e, ao emergir, haviam me tornado diferente, mais rico com sua lembrança.


O teatro de Shakespeare, e o Don Quixote, e o Dostoievski, Tchecov, Aristóteles, e a Bíblia, Sabato, Borges, Machado, Barreto, Pessoa, Graciliano, e os beatniks, e Fante, e Bukowski, e a imensidão de tantos outros, “grandes” ou “pequenos”, mas que em algum momento me deram suas mãos, e me levaram para viajar com eles, para dentro de outros mundos, para dentro de suas mentes... sou-lhes grato pelas viagens empreendidas.


Com Crusoé em uma ilha deserta. Com Chinaski encarando a face dura da América. Com Cesar, desenvolvendo estratégias para matar os inimigos. Com Remarque, dormindo ao som de bombas numa trincheira, contemplando o absurdo da guerra. Com Policarpo e Quixote, rindo e me comovendo com o idealismo romântico do pobre e louco ser humano, observando um grotesco conflito num grotesco Brasil de cem anos atrás (tão parecido com nosso Brasil atual...), ou olhando um céu espanhol, deitado de barriga pra cima numa colina verde com Sancho Panza, depois que emborcamos um garrafão de vinho tinto, por cima de uns pastéis de carne...


E mais distante ainda, através do espelho, e realizando os doze trabalhos de Hércules, e perguntando por que algo, e não o nada, e pensando no ser em si, e contemplando uma das muitas faces de Deus...


Pelo sentimento abstrato de um poema, ressoando num sentimento concreto, e pelo fingimento de um fingimento de um fingimento...

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