quinta-feira, 22 de março de 2012

Festim diabólico


Ando expiando um crime numa mala,

Que um avô meu cometeu por requinte.

Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,

E caí no ópio como numa vala.


- Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), in Opiário


Vergonha de viver no país em que se roubam milhões, se roubam bilhões, enquanto crianças morrem de fome ou de outra miséria qualquer.


País onde tudo é banal, tudo é piada grotesca, o roubo de bilhões, a pessoa morta na fila do hospital. Poderia ter sido sua mãe, sua filha, sua irmã, quem se importa?


Vamos todos exibir o sorriso de crocodilo da impunidade.


Vamos todos arquitetar o golpe de milhões, a compra do juiz, do promotor, do policial.


Vamos todos ser cooptados, para não ver, nem ouvir, nem falar nada. Sobretudo não falar nada.


Vamos todos ser cooptados, por migalhinhas ou migalhões deste banquete podre. Este festim diabólico.


Tem um corpo dentro do baú.


De alguém que assassinamos.





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