Plano de saúde - 2

Homem primata

Capitalismo selvagem...

o que seria, então, uma saúde digna para o cidadão?

Começaria por realizar aquele ideal inscrito na Constituição: a igualdade.

Aquele ideal que foi gritado em 1789, na Revolução Francesa: a igualdade. O fim dos privilégios.

Naquela época era a nobreza, era o clero. Duas castas da sociedade. O resto era o terceiro estado, com muitos menos direitos que os outros dois estamentos.

Aqui, é a mesma coisa. Por que a lei dá aos políticos o direito a um plano de saúde a que não tem direito o resto dos brasileiros? Por que a lei favorece um grupo restrito da sociedade?

Eles são melhores do que a gente? Eles têm o sangue azul, cagam ouro, vomitam perfume francês?

Mas os homens não são iguais, não é isso que consta na nossa lei maior? Não é este princípio que alegadamente adotamos?

Falsidade, hipocrisia, vergonha.

Mas ninguém quer dar pela coisa.

É mais cômodo, para os que lucram, viver na mentira.

Para os que sofrem, existe a inconsciência da ignorância.

Ou o vício em cachaça.

Ou a revolta, ir morrer ou matar, assaltar um banco.

Claro, revoluções tampouco adiantam.

Os vitoriosos líderes rebeldes, a Nomenklatura, constitui a nova classe privilegiada.

E quem haverá de contestá-los, eles que são os Salvadores, da Pátria, dos Pobres, de Alguma Coisa Nobre?

Quem contesta seres iluminados assim é óbvio que merece a censura, a prisão, as torturas. Um campo de reeducação, ou um tiro na nuca. Um hospício, só pode ser louco. Uma guilhotina.

Eles são os Salvadores. Eles são os Tiranos.

Logicamente.

Salvadores, melhor tê-los num passado remoto, ou mítico.

Os Salvadores no presente, os Salvadores no Poder, só podem ser Tiranos.

Pois quem se atreverá a fazer Oposição a Salvadores?

E se eles são iluminados assim, Salvadores assim, nada mais justo que detenham privilégios.

Que tal um plano de saúde total e vitalício? Ou uma Previdência Especialíssima?

Quem sabe legar o Poder para os herdeiros? Constituir uma dinastia?

E pronto, fechou-se o círculo, temos a nova classe dos sangues azuis.

A nova classe do privilégio.

Esta, ironicamente, ou hipocritamente, constituída por aqueles que diziam lutar pela igualdade. Contra os privilégios.