sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Bob Dylan - I Threw It All Away (Live The Johnny Cash TV Show 1969)

Cazuza e Sandra De Sá- Blues da Piedade ( Ao Vivo )

Pensando Celso de Mello Blues – 2


Realmente, este livro do ex-jurista, ex-ministro da Justiça, Saulo Ramos, é uma enormidade.

Chama-se “Código da Vida”, é de 2007, pela editora Planeta, e relata que o autor ouviu o juiz Celso de Mello declarar que decidiria uma questão submetida ao seu crivo, de uma maneira ou de outra, conforme melhor atendesse a sua conveniência.

Teve de ouvir: “Juiz de merda!”, do outro lado da linha:

Terminado seu mandato na Presidência da República [1990], José Sarney resolveu candidatar-se a senador. O PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro – negou-lhe a legenda no Maranhão. Candidatou-se pelo Amapá. Houve impugnações fundadas em questão de domicílio, e o caso acabou no Supremo Tribunal Federal.
Naquele momento, não sei por que, a Suprema Corte estava em meio recesso, e o ministro Celso de Mello, meu ex-secretário na Consultoria Geral da República, me telefonou:
“O processo do presidente será distribuído amanhã. Em Brasília, somente estão por aqui dois ministros: o Marco Aurélio de Mello e eu. Tenho receio de que caia com ele, primo do presidente Collor. Não sei como vai considerar a questão”.
“O presidente tem muita fé em Deus. Tudo vai sair bem, mesmo porque a tese jurídica da defesa do Sarney está absolutamente correta.”
Celso de Mello concordou plenamente com a observação, acrescentando ser indiscutível a matéria de fato, isto é, a transferência do domicílio eleitoral no prazo da lei.
O advogado de Sarney era o dr. José Guilherme Vilela, ótimo profissional. Fez excelente trabalho e demonstrou a simplicidade da questão: Sarney havia transferido seu domicílio eleitoral no prazo da lei. Simples. O que há para discutir? É público e notório que ele é do Maranhão! Ora, também era público e notório que ele morava em Brasília, onde exercera o cargo de senador e, nos últimos cinco anos, o de presidente da República. Desde a faculdade de Direito, a gente aprende que não se pode confundir o domicílio civil com o domicílio eleitoral. E a Constituição de 88, ainda grande desconhecida (como até hoje), não estabelecia nenhum prazo para mudança de domicílio.
O sistema de sorteio do Supremo fez o processo cair com o ministro Marco Aurélio, que, no mesmo dia, concedeu medida liminar, mantendo a candidatura de Sarney pelo Amapá.
Veio o dia do julgamento do mérito pelo plenário. Sarney ganhou, mas o último a votar foi o ministro Celso de Mello, que votou pela cassação da candidatura do Sarney.
Deus do céu! O que deu no garoto? Estava preocupado com a distribuição do processo para a apreciação da liminar, afirmando que a concederia em favor da tese de Sarney, e, agora, no mérito, vota contra e fica vencido no plenário. O que aconteceu? Não teve sequer a gentileza, ou habilidade, de dar-se por impedido. Votou contra o presidente que o nomeara, depois de ter demonstrado grande preocupação com a hipótese de Marco Aurélio ser o relator.
Apressou-se ele próprio a me telefonar, explicando:
“Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente”.
“Claro! O que deu em você?”
“É que a Folha de S. Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S. Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.”
Não acreditei no que estava ouvindo. Recusei-me a engolir e perguntei:
“Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S. Paulo noticiou que você votaria a favor?”
“Sim.”
“E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?”
“Exatamente. O senhor entendeu?”
“Entendi. Entendi que você é um juiz de merda!”
Bati o telefone e nunca mais falei com ele.”

Saulo Ramos faleceu em 2013, seis anos após o lançamento do livro, e Celso de Mello nunca desmentiu o relato.

Ainda bem que não estamos, ainda, numa completa Ditadura, e podemos contar com editoras publicando, pessoas livres escrevendo, biografias não autorizadas.

Que pena, artistas que lideram o movimento para que sejam caladas as vozes da Liberdade, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Chico Buarque, dentre outros, que vocês abracem causa tão equivocada.

Quem não se peja de defender Ditaduras não merece qualquer respeito.

Cada preso político morto numa masmorra.

Cada Hitler e cada Stalin.

Cada massacre perpetrado por um fanático.

Tudo isto em seu nome.

Pensando Celso de Mello Blues






Como é que o destino pode ser tão brincalhão
um palhaço risonho que apronta todas

um menino
sem consciência ou perdão

um imenso poder
que mata a todos, sem compaixão

Pois não é que publicaram este livro
em que o ex-ministro da Justiça, Saulo de Ramos,

Responsável pela indicação de Celso de Mello
para ser juiz do Supremo

Diz que Celso de Mello é um juiz de merda
capaz de alterar um voto à conveniência da ocasião

Sofista supremo
sem centro fixo na moralidade

Juiz sem coragem
Juiz sem opinião

Vai julgar o quê?
Juiz de merda

E este mesmo Celso de Mello
juiz agora do Supremo

Vai julgar um processo espinhoso
aquele tal de “mensalão”

E primeiro faz discurso bonito
Fala de Justiça

Fala de retidão
E quando chega o momento supremo

Aquele que tem de mostrar ao que veio
Aquele de homem e facão

Aí amansa de fazer o rebolado
Aí faz um discurso danado

Aí arrega pro patrão.

Momento supremo da vida.


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Era uma vez em um lugar nem tão distante...



“A primeira coisa que um político de lá pensa quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferentes do resto da população.

O valo de separação entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo.”

- por Lima Barreto in “Os Bruzundangas”

Lalo era um líder de massas, tinha sido presidente-rei de uma republiqueta latino americana, uma tal de Bruzundanga...

Chamar republiqueta a Bruzundanga transmite uma ideia errada.

A Bruzundanga figurava entre as 10 maiores economias mundiais. País com dimensões equivalentes às da Europa, riquíssimo em toda sorte de recurso agrícola, mineral, e o escambau, possuía uma população principalmente jovem, num total de uns 200 milhões.

Mas, ainda assim, republiqueta, num sentido comum a outras grandes nações de um grande continente.

Republiqueta porque estas tais assumem uma máscara de República, Democracia, Estado de Direito, Liberdade para o indivíduo, Separação de Poderes, e todas estas palavras bonitas que se escrevem com maiúsculas.

Mas na realidade escondem tristes Histórias, de exploração e opressão de tantos povos. Homens lobos de homens.

Tantos massacres, tanta dizimação assombrou estas terras. Povos inteiros chacinados, sem que isto fizesse grande mossa na consciência coletiva.

Mas o inconsciente, ah, como este pobre é assombrado! Um refém sequestrado, submetido às piores torturas, obrigado a ter de testemunhar tantos horrores, um tal grau de sofrimento...

A corrupção triunfante, a mentira mais deslavada. O auto-engano levado às raias do delírio.

Enquanto Hospitais, Presídios e Escolas se tornam máquinas de moer gente.

Tribunais, Congressos, Casas do Povo, rá, do Povo, como se os dominadores deste povo não se garantissem luxos e privilégios, enquanto que permitiam que os miseráveis morressem de fome, ou até queimados nas ruas, assassinados às centenas, aos milhares...

Pois Lalo tinha sido presidente-rei de um destes povos.

Um líder de massas, um carismático, um filho deste Povo.

E, assim que se tornou presidente-rei deste Povo, aceitou olhar-se no espelho, vestindo um terno de um milhão de dólares, com um charuto havana na mão direita, presente do presidente-rei de outro infeliz povo, e com uma taça de vinho caríssimo, presente de um outro amigo, publicitário, financiador de sua campanha, na mão esquerda, com um sorriso satisfeito nos lábios, e perguntou, do alto de sua glória...

“Espelho, espelho meu, será que existe alguém mais poderoso do que eu?...”

Continua, talvez



Artigo da hora: “Partidobrás S.A., por Demétrio Magnoli




Acabava de recomendar o artigo de José Casado, leio este do Demétrio Magnoli, com o qual concordo 99,9% (voto distrital PURO, por favor, para não ter confusão...).

Acautelemo-nos, os tempos são perigosos...

Artigo da hora: Uma perigosa trama política, por José Casado




José Casado faz um assustador alerta de uma trama para enterrar nossa (pouca) democracia.

Se de fato a votação no Supremo pelo fim do financiamento de campanhas por empresas representar a ponta de lança para alterar o sistema eleitoral e introduzir o voto em lista fechada, teremos colocado os dois pés de volta no Assombroso Reino da Ditadura, mascarado, está claro, pelo periódico ritual de sermos obrigados a depositar uma cédula numa urna, sem maiores significados.

E olha que eu sou plenamente favorável ao fim das doações de empresas. Concordo com o argumento, pessoa jurídica não é cidadã, cidadã é a pessoa física.

Então, só pessoa física deveria ser autorizada a doar dinheiro para partidos/campanhas, com limite por CPF.

Pelo fim do poder hegemônico da grana!

Se isto vai impor uma redução de custo das campanhas, muito melhor. Campanhas bilionárias, milhões gastos para eleger um político, mostram bem a imoralidade do sistema, e com quem estará a preocupação e a lealdade dos nossos “representantes”.

Se as campanhas terão menos dinheiro, que se façam campanhas com menos dinheiro, ora essa!

E nada de financiamento público, nada de voto em lista fechada!

Se é preciso baratear a campanha, que se tenha o voto distrital puro. Um candidato, por partido, e cada candidato tendo de pleitear a maioria dos votos em distritos com o mesmo número de eleitores.

E nada de propagandas milionárias, cabos eleitorais a peso de ouro, produções cinematográficas para engabelar o povo.

Imenso seria, então, o fortalecimento da Igualdade, e da Representatividade, e da Verdade, para a nossa Democracia.

Agora, com poderosos grupos de interesse manipulando, e tramando, enquanto as massas assistem passivamente, qual sonâmbulos, alienadas, a perspectiva é muito mais desfavorável...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

E assim se apropriam do dinheiro público... - 2

E se você for um pobre, é pior ainda.

Te atiram para um SUS, para um inferno para marcar uma simples consulta.

Para marcar uma simples consulta, imagina para fazer uma cirurgia.

E sempre se precisa de algum conhecimento, de algum padrinho, de algum jeitinho...

Para fazer uma cirurgia existem filas absurdas, pode levar uns 10 anos, não é brincadeira.

O caos. O caos da saúde pública.

Já o, para alguns, Grande Líder, classificou a saúde pública como “algo próximo à perfeição”.

E ficou por isso mesmo, esse deboche...

Ele, diagnosticado com um câncer, teve tratamento iniciado nas primeiras 24 horas, por uma equipe bem treinada de um hospital de ponta.

Já o paciente médio, no Brasil, diagnosticado com câncer, inicia seu tratamento em algo como sete ou oito meses.

Sabendo que está com câncer; sabendo que precisa de um rápido tratamento.

Espera, em média, sete ou oito meses, para começar o tratamento.

“Mas somos todos iguais, perante a lei.”

Diz-se, em algum lugar, não sei onde.

E assim se apropriam do dinheiro público...



O jornal de hoje traz uma recorrente notícia, um exemplo, dentre um milhão, da maneira pela qual o dinheiro de todos passa a integrar o patrimônio de alguns:

O dinheiro do público, dos pagadores de impostos em busca de alguma melhoria de vida, pagadores de bem altos impostos, para condições de vida bem diminutas, vai ser transferido para o patrimônio pessoal de alguns seletos privilegiados.

22,5 milhões, dizem as contas, é o que se transferiu de programas de políticas públicas, coisas básicas como infraestrutura, atendimento a crianças e a mulheres em situação de violência, estas coisas, como se vê, tão importantes, para reforçar o Plano de Saúde dos servidores do Superior Tribunal de Justiça.

Agora, você se pergunta, você tem de pagar bem caro pelo seu Plano de Saúde, e o Governo não lhe transfere recursos?

Você se pergunta se isto é uma situação de privilégio?

Você se pergunta se isso é um direito que não é para todos, não podendo assim ser um direito?

E a resposta é sim para todas as perguntas.

Você está sendo passado para trás?

Você está sendo feito de palhaço?

“É normal”, dizem os conformistas de plantão. Depois de garantir para si um tantinho.

Não, aqui a classe ociosa, a classe privilegiada, a classe que se garante benefícios às custas do trabalho alheio, não foi confrontada pelos nossos comerciantes, pelos nossos trabalhadores, não lhes deram um basta ao deboche.

Aliás, se juntaram alguns desses comerciantes e trabalhadores para dar sustentação a esta exploração do trabalho alheio. Estes que receberam alguns milhões e alguns bilhões do dinheiro público, para não ter de apresentar muito resultado. Para passarem algumas notas frias, para darem alguns calotes, arrumarem uma declaração de falência, e sumirem com a bufunfa...

Na certeza de que nada nunca vai dar em nada.

É verdade, em termos de punição não aparece mesmo muita coisa, às vezes um formal e protocolar, “pode ter havido algum erro”, “algum dia será reparado”, por alguma autoridade, e já se pode falar de outra coisa.

Mas o resultado pode ser medido também na falta de contenção das encostas, e nas crianças pisando os esgotos não tratados atirados nos rios, transbordados com as chuvas, e na geral falta de segurança e na roubalheira sem fim...

Ou seja, dominam de modo tão amplo, que nenhum Grande Líder se apresentou para enfrentá-los.

O Grande Líder que dizem que tivemos deixou todos estes grandes negócios intocados, e aproveitou para fazer os seus próprios negócios, ainda maiores.

E este foi o nosso Grande Líder...

E este é o estado das coisas a que chegamos.


Tolerância com o ladrão

Ronald Biggs morreu hoje, o ladrão famoso por roubar um trem postal, na Inglaterra, em 1963, e que fugiu e viveu em liberdade no Brasil, por muitos anos.

Havia voltado à Inglaterra, em 2001, doente, já com 74 anos, e na esperança de conseguir um indulto da Rainha.

Enganou-se. Foi conduzido à prisão, de onde só saiu em 2008, para ficar em liberdade condicional após ter cumprido um terço de sua condenação de 30 anos, mesmo tendo sofrido dois ataques cardíacos e diversos derrames após o retorno.

Agora, imagina no Brasil, onde desviam-se remédios de hospital, merenda de crianças, e cada licitação, cada compra pública milionária, e cada grande obra, traz a sua fieira de corrupção, suas previsões de 15%, 20%, ou 30%, e os crimes prescrevem mais rápido do que a velocidade da luz, e a condenação final nunca acontece para estes casos.

Processos há 10, 15, 20 anos, nos Tribunais. Sempre se questiona outra vírgula, sempre existem os macetes jurídicos, testemunhos a serem ouvidos no Timbuctu, no Alasca, indispensáveis, claro, para a plena defesa, segundo entendimento das Altas Cortes, capazes de anular anos de investigação, anos de processo, pela falta de um carimbo na fl. n. 5.689 dos autos.

Imagina no Brasil, onde sentimos tanta peninha de mandar pra cadeia os nossos ladrões de milhões, os que desfilam com milhões na cueca, milhões na meia, e não precisam esquentar a cabeça, porque não correm risco de ir para trás das grades.

É só ficar de bico fechado.

Imagina no Brasil, que recebeu Biggs de braços abertos, como um herói do povo; o Brasil, que negou a extradição de um assassino condenado por diversas mortes na Itália, afinal, ele era um dos companheiros, é preciso agradar nossos radicais...

Imagina no Brasil, que sempre tem um jeito de dar uma amaciada, uma liberdadezinha condicional, uma prisão domiciliar básica, porque na cadeia vai complicar pra comer salmão defumado...

E esta também é muito boa: roubou milhões? Mas pode dizer que vai arrumar um empreguinho num hotel, coisa de 20 mil por mês, e estamos todos regenerados! Olhe a boa vontade que demonstra, o intuito de trabalhar honestamente, como todo bom brasileiro... claro que ele merece a liberdade, quem sabe até uma indenização por lhe estarmos, talvez, causando algum inconveniente ao doutor, ele não é qualquer, sabe com quem está falando?

País entregue ao crime, país entregue ao deboche...

País entregue às baratas...