quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Era uma vez em um lugar nem tão distante...



“A primeira coisa que um político de lá pensa quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferentes do resto da população.

O valo de separação entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo.”

- por Lima Barreto in “Os Bruzundangas”

Lalo era um líder de massas, tinha sido presidente-rei de uma republiqueta latino americana, uma tal de Bruzundanga...

Chamar republiqueta a Bruzundanga transmite uma ideia errada.

A Bruzundanga figurava entre as 10 maiores economias mundiais. País com dimensões equivalentes às da Europa, riquíssimo em toda sorte de recurso agrícola, mineral, e o escambau, possuía uma população principalmente jovem, num total de uns 200 milhões.

Mas, ainda assim, republiqueta, num sentido comum a outras grandes nações de um grande continente.

Republiqueta porque estas tais assumem uma máscara de República, Democracia, Estado de Direito, Liberdade para o indivíduo, Separação de Poderes, e todas estas palavras bonitas que se escrevem com maiúsculas.

Mas na realidade escondem tristes Histórias, de exploração e opressão de tantos povos. Homens lobos de homens.

Tantos massacres, tanta dizimação assombrou estas terras. Povos inteiros chacinados, sem que isto fizesse grande mossa na consciência coletiva.

Mas o inconsciente, ah, como este pobre é assombrado! Um refém sequestrado, submetido às piores torturas, obrigado a ter de testemunhar tantos horrores, um tal grau de sofrimento...

A corrupção triunfante, a mentira mais deslavada. O auto-engano levado às raias do delírio.

Enquanto Hospitais, Presídios e Escolas se tornam máquinas de moer gente.

Tribunais, Congressos, Casas do Povo, rá, do Povo, como se os dominadores deste povo não se garantissem luxos e privilégios, enquanto que permitiam que os miseráveis morressem de fome, ou até queimados nas ruas, assassinados às centenas, aos milhares...

Pois Lalo tinha sido presidente-rei de um destes povos.

Um líder de massas, um carismático, um filho deste Povo.

E, assim que se tornou presidente-rei deste Povo, aceitou olhar-se no espelho, vestindo um terno de um milhão de dólares, com um charuto havana na mão direita, presente do presidente-rei de outro infeliz povo, e com uma taça de vinho caríssimo, presente de um outro amigo, publicitário, financiador de sua campanha, na mão esquerda, com um sorriso satisfeito nos lábios, e perguntou, do alto de sua glória...

“Espelho, espelho meu, será que existe alguém mais poderoso do que eu?...”

Continua, talvez



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