“A primeira coisa que
um político de lá pensa quando se guinda às altas posições, é
supor que é de carne e sangue diferentes do resto da população.
O valo de separação
entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais
profundo.”
- por Lima Barreto in
“Os Bruzundangas”
Lalo era um líder de
massas, tinha sido presidente-rei de uma republiqueta latino
americana, uma tal de Bruzundanga...
Chamar republiqueta a
Bruzundanga transmite uma ideia errada.
A Bruzundanga figurava
entre as 10 maiores economias mundiais. País com dimensões
equivalentes às da Europa, riquíssimo em toda sorte de recurso
agrícola, mineral, e o escambau, possuía uma população
principalmente jovem, num total de uns 200 milhões.
Mas, ainda assim, republiqueta, num
sentido comum a outras grandes nações de um grande continente.
Republiqueta porque
estas tais assumem uma máscara de República, Democracia, Estado de
Direito, Liberdade para o indivíduo, Separação de Poderes, e todas
estas palavras bonitas que se escrevem com maiúsculas.
Mas na realidade
escondem tristes Histórias, de exploração e opressão de tantos
povos. Homens lobos de homens.
Tantos massacres, tanta
dizimação assombrou estas terras. Povos inteiros chacinados, sem
que isto fizesse grande mossa na consciência coletiva.
Mas o inconsciente,
ah, como este pobre é assombrado! Um refém sequestrado, submetido às
piores torturas, obrigado a ter de testemunhar tantos horrores, um tal grau de sofrimento...
A corrupção
triunfante, a mentira mais deslavada. O auto-engano levado às raias
do delírio.
Enquanto Hospitais,
Presídios e Escolas se tornam máquinas de moer gente.
Tribunais, Congressos,
Casas do Povo, rá, do Povo, como se os dominadores deste povo não
se garantissem luxos e privilégios, enquanto que permitiam que os
miseráveis morressem de fome, ou até queimados nas ruas, assassinados às centenas, aos milhares...
Pois Lalo tinha sido
presidente-rei de um destes povos.
Um líder de massas, um
carismático, um filho deste Povo.
E, assim que se tornou
presidente-rei deste Povo, aceitou olhar-se no espelho, vestindo um terno
de um milhão de dólares, com um charuto havana na mão direita, presente do presidente-rei de outro infeliz povo, e com
uma taça de vinho caríssimo, presente de um outro amigo, publicitário, financiador de sua campanha, na mão
esquerda, com um sorriso satisfeito nos lábios, e perguntou, do alto
de sua glória...
“Espelho, espelho
meu, será que existe alguém mais poderoso do que eu?...”
Continua, talvez
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