quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Tolerância com o ladrão

Ronald Biggs morreu hoje, o ladrão famoso por roubar um trem postal, na Inglaterra, em 1963, e que fugiu e viveu em liberdade no Brasil, por muitos anos.

Havia voltado à Inglaterra, em 2001, doente, já com 74 anos, e na esperança de conseguir um indulto da Rainha.

Enganou-se. Foi conduzido à prisão, de onde só saiu em 2008, para ficar em liberdade condicional após ter cumprido um terço de sua condenação de 30 anos, mesmo tendo sofrido dois ataques cardíacos e diversos derrames após o retorno.

Agora, imagina no Brasil, onde desviam-se remédios de hospital, merenda de crianças, e cada licitação, cada compra pública milionária, e cada grande obra, traz a sua fieira de corrupção, suas previsões de 15%, 20%, ou 30%, e os crimes prescrevem mais rápido do que a velocidade da luz, e a condenação final nunca acontece para estes casos.

Processos há 10, 15, 20 anos, nos Tribunais. Sempre se questiona outra vírgula, sempre existem os macetes jurídicos, testemunhos a serem ouvidos no Timbuctu, no Alasca, indispensáveis, claro, para a plena defesa, segundo entendimento das Altas Cortes, capazes de anular anos de investigação, anos de processo, pela falta de um carimbo na fl. n. 5.689 dos autos.

Imagina no Brasil, onde sentimos tanta peninha de mandar pra cadeia os nossos ladrões de milhões, os que desfilam com milhões na cueca, milhões na meia, e não precisam esquentar a cabeça, porque não correm risco de ir para trás das grades.

É só ficar de bico fechado.

Imagina no Brasil, que recebeu Biggs de braços abertos, como um herói do povo; o Brasil, que negou a extradição de um assassino condenado por diversas mortes na Itália, afinal, ele era um dos companheiros, é preciso agradar nossos radicais...

Imagina no Brasil, que sempre tem um jeito de dar uma amaciada, uma liberdadezinha condicional, uma prisão domiciliar básica, porque na cadeia vai complicar pra comer salmão defumado...

E esta também é muito boa: roubou milhões? Mas pode dizer que vai arrumar um empreguinho num hotel, coisa de 20 mil por mês, e estamos todos regenerados! Olhe a boa vontade que demonstra, o intuito de trabalhar honestamente, como todo bom brasileiro... claro que ele merece a liberdade, quem sabe até uma indenização por lhe estarmos, talvez, causando algum inconveniente ao doutor, ele não é qualquer, sabe com quem está falando?

País entregue ao crime, país entregue ao deboche...

País entregue às baratas...

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