
Hoje nosso presidente, o “cara” de 80% de popularidade, deu mais uma mostra de sua sabedoria, de sua sagacidade política, fazendo ironia do escândalo da quebra de sigilo dos adversários políticos. Lula expeliu: “Ninguém precisa baixar o nível da campanha. Ninguém precisa tentar transformar a família em vítima. Ninguém precisa ficar dizendo que estão descobrindo o sigilo não sei de quem. Cadê este tal de sigilo que não apareceu até agora? (sic) Cadê o vazamento das informações? (sic sic).
Parabéns, iluminado, parabéns, estadista... que grande homem, conduzindo uma nação às profundezas da ditadura... tudo bem que o faz inconscientemente, do alto de sua ignorância arrogante. É o próprio cego conduzindo outros cegos na direção do abismo, como na imagem de Jesus (Mt, 15, 14). Nada muito distante de nossas tradições, tampouco. Já vivemos Estado Novo de Getúlio, golpe militar de 1964, e para ser franco, mesmo quando tivemos eleições não fomos exatamente aquela democracia... sempre convivemos com as restrições ao voto, as fraudes eleitorais, os “currais” eleitorais, pra não falar da polícia que tortura, do patrimonialismo dos governantes, da escravidão, meu Deus, legalizada até cento e poucos anos atrás...
Então, se não vamos participar do delírio lulista de proclamar que tudo de bom neshte paísh começou com o governo do “Filho do Brasil”, o operário iluminado, tampouco vamos participar do delírio oposto: atribuir todas as mazelas do país ao sapo barbudo...
Não. Lulinha apenas refletiu e aprofundou nossas tendências mais crônicas. Lulinha apenas foi mais explícito, mais despudorado, ao se valer de cada expediente que sempre deu tão certo nesse país.
Isso aqui sempre foi um balcão de negócios? Pois vamos fazer negócios à grande, distribuir bilhões de reais, via BNDES, via isenções fiscais, pras empresas selecionadas... isso aqui sempre teve seus caciques regionais mandando? Pois vamos fazer alianças incondicionais com eles, vamos jogar todo o nosso peso político para defendê-los, vamos beijar a mão, trocar abraços e sorrisos.

Isso aqui sempre foi um paraíso pro capital financeiro? Pois vamos presentear nossos amigos banqueiros com lucros jamais vistos. Isso aqui sempre garantiu uns empreguinhos pros amigos dos donos do poder? Pois vamos multiplicar os cargos em comissão, num ritmo jamais visto, vamos promover o loteamento pros “cumpanhêro”, do modo mais desavergonhado.
Isso aqui é a terra onde tanta gente quer dar o seu “jeitinho”, quer “levar vantagem em tudo”, quer ser mais “esperto”, quer “se dar bem”, quer o “seu” no bolso? Isso aqui não é o lugar onde nos currais se troca voto por dentadura, por camiseta, por transporte e lanche no dia da votação? Pois vamos distribuir bolsa família, que dá muito certo. Rende muito voto, e voto é que dá poder.
Poder comprado barato, no país dos miseráveis. Uma dentadura, ou R$ 22, ou R$ 200, por uma família. O programa todo custa 0,5% do PIB. Sobram uns 37,5% do PIB pra farra, só de impostos! Dá pra dar uma idéia da farra...
Não é à toa que Dilma Rousseff, escolhida por Lula pra dar continuidade aos trabalhos, disse que Lula era “o grande mestre, ele nos ensinou o caminho”. O caminho, sim, para se exercer e usufruir de um poder incontrastável. O caminho, enfim, da ditadura, do totalitarismo, e da servidão, no nosso país de miseráveis.
Grande legado, não importa que tenha sido deixado inconscientemente, estupidamente, cegamente.
Já o caminho para livrar a população da falta de esgoto, da falta de médico, da falta de educação, da falta de segurança... o caminho para aprofundar a democracia, para tornar o povo mais consciente, mais digno, mais capaz de tomar as rédeas de seu destino, viver do seu trabalho, livrar-se da corrupção... ah, este caminho está bem longe de ser trilhado...
Nota: o quadro no início do artigo é A Queda dos Cegos, de Pieter Bruegel, o velho. No livro da editora Taschen sobre Bruegel e sua obra, lemos que o pintor representava os cegos de forma tão precisa “que os médicos de hoje podem diagnosticar as suas doenças de olhos ou determinar as causas da sua cegueira”. Um dos cegos retratados sofreria de glaucoma, outro, de amaurose. O cego sorridente, que puxa a fila pro buraco, teve os olhos vazados, talvez como alguma forma de castigo.
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