quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Compactuar com o roubo



A notícia de hoje é que o folclórico Doutor (?) Juquinha, aquele cujo patrimônio familiar passou, nos poucos anos em que foi presidente a estatal responsável por obras ferroviárias cortando o país, de 1 milhão e pouco para mais de 60 milhões, o folclórico Dr. Juquinha, dizia, teve um recurso de seu advogado julgado merecedor, por unanimidade, vejam bem, numa Turma Recursal do Tribunal Regional Federal da 1a Região, de fazer com que todas as provas colhidas contra o Dr. Juquinha e seus familiares, através de interceptação telefônica, autorizada pela Justiça, no curso das investigações levadas a cabo.

O relator desta decisão, juiz Tourinho Neto, descendente de ilustríssimo processualista brasileiro, é conhecido por outras decisões invalidando escutas telefônicas feitas pela Polícia, autorizadas pela Justiça.

Segundo declara o referido juiz, “a interceptação telefônica só pode ser utilizada de modo excepcionalíssimo.”

Grandes palavras, mas ainda assim dá vontade de perguntar: será que um patrimônio crescer, milhares de vezes por cento, num curto espaço de tempo, sem que se dê qualquer explicação razoável, não é motivo relevante para uma investigação? E será que está certo desconsiderar os elementos de prova que esta investigação produz, por qualquer argumentação?

O que significa dizer que alguém recebeu milhões e milhões, sem ter sido por salário, por trabalho, por herança, por jogo de azar.

Significa que esse alguém recebeu o dinheiro sem poder prestar contas. Significa que recebeu dinheiro sujo. Significa que a origem deste dinheiro é o roubo, puro e simples, como no Mandamento, seja este roubo classificado como corrupção, furto, assalto a mão armada, ou o que quiserem.

Tolerar uma situação desta significa que a sociedade tolera o roubo.

Não querer investigar, não querer condenar, significa que compactuamos com o roubo.

Se a sociedade não consegue reagir a isto, das duas uma: ou ela é hipócrita, ao proclamar que preza os valores corretos, e praticar o contrário destes valores.

Ou é impotente para mudar, e então a prática que ocorre é uma imposição dos que têm o poder real. E isto conduz à conclusão de que a sociedade não é livre para seguir sob seus verdadeiros valores.

Nenhuma alternativa agradável, mas eu prefiro a segunda, porque a imposição externa sempre pode ser vencida pela resistência humana.

Mas se existe a aceitação interna de que os princípios e valores não valem nada, no máximo bom disfarce para um desenfreado desejo de poder e cobiça, então a condenação é final.

Para alguns destes, que ativamente contribuem para o roubo de um povo cujas crianças morrem, pelas causas mais miseráveis, a condenação já é final.

Irrecorrível.

Se este sentimento se espraia pela sociedade, nos carguinhos e empreguinhos, nos luxões e luxinhos, nos privilegiozões e privilegiozinhos, então a sociedade é condenada.

Força de resistência, aos que querem mudar.

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