sábado, 1 de setembro de 2012

Lei de cotas no ensino público


"Um diploma universitário não é necessário para a maioria dos serviços que as pessoas fazem no mundo, enquanto a alfabetização, a aritmética e a capacidade básica de interpretar informação o são absolutamente. (...) O principal efeito do fetichismo americano em relação ao diploma foi fazer o trabalho qualificado pragmático parecer de segunda classe." - Robert Hughes, em Cultura da Reclamação - O Desgaste Americano - ed.Companhia das Letras, 1993

Lei recentemente aprovada pela presidenTA Dilma Rousseff determina que 50% das vagas nas universidades federais fiquem sob reserva de cotas, raciais, de renda, e para alunos da rede pública de ensino médio.

Contratamos, com esmero, um grande problema para o país, do presente e a estender-se pelas gerações futuras.

Dá pra pensar na avalanche de ações que abarrotarão nosso já muito ágil Judiciário, de alunos que se sentirão prejudicados, e com razão, na ocupação das vagas.

Agora, ao invés de um sistema igualitário, com poucas e simples regras, comuns para muitos, teremos um sistema com muitas e complicadas regras, diferentes para cada grupo, ou classe, ou raça (termo horrível e vazio de significado, bem o sei. Mas, no nosso Brasil de hoje, imposto por lei - literalmente) de cidadãos.

Agora, teremos uma regra pro branco, outra regra pro negro, uma regra pro índio, uma regra pro pardo...

Uma regra pro branco de escola pública, uma regra pro negro de escola privada, diferente da regra pro pardo de maior renda, que não será igual à regra pro índio de menor renda...

Deu pra sentir o drama? A confusão, a barafunda, que estamos armando? A Torre de Babel que vamos construindo? E esta é só a ponta do iceberg que, por força de lei, lançamos ao mar, na rota de nosso Brasil-Titanic...

Agora, teremos o espetáculo da disputa jurídica do índio de escola pública, contra o pardo de escola privada, contra o branco de pouca renda, contra o negro de muita renda... quase como se cada um tivesse seu regime jurídico próprio, ao invés de uma lei comum a todos.

Pior serão os chefes de secretaria e de gabinetes, os departamentos jurídicos e reitorias, depois os juízes e os tribunais, decidindo quem é de fato negro ou branco...

Será que teremos de pagar a peritos para avaliarem o grau de “negritude”, ou de “brancura”, ou de “indiez” de um indivíduo?

Será que criaremos, ou importaremos, teorias raciais, como aquela infame norte-americana: “uma gota de sangue negro, e é todo negro”?

E enquanto este tipo de situação monstruosa e infame vai ganhando forma legal entre nós, ninguém enxerga ou enfrenta o verdadeiro o verdadeiro problema, tal como surge em pesquisa recente sobre a educação do país:

65 % dos que terminam o ensino médio não são plenamente alfabetizados.

38 % dos que concluem a faculdade não são plenamente alfabetizados.

Dá pra imaginar situação mais bizarra, ominosa pro nosso futuro?

Nós, que já temos índices elevados de evasão escolar (40 % dos trabalhadores brasileiros não concluíram sequer o ensino fundamental), ainda nos damos ao luxo de entregar nada menos de 65 % dos “felizardos” que conseguem chegar ao final do 2o Grau em situação de semi-analfabetismo.

Após longos anos de ensino (ensino?) conseguem mal e porcamente decifrar um texto bem simples.

E 38 % dos nossos “doutores” estão no mesmo nível...

Quanto desperdício de tempo, de recursos, e, principalmente, tristemente, quanto desperdício de futuros...

Creio que a fértil imaginação de Kafka não produziria um pesadelo tão grotesco, e tão medonho, quanto esta nossa realidade.





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