sábado, 20 de outubro de 2012

Pensando o Mensalão - parte 3 - O Poder da Bandalha

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"Ain´t hard
when you discover that

He really wasn´t
Where it´s at

After he took from you ev´rything
He could steal?"

- Bob Dylan, in Like a rolling stone


O poder da bandalha

Um golpe contra a democracia, “nunca antes na História deste paísh”..., recebeu um inesperado revide no relatório do juiz Joaquim Barbosa sobre o caso do Mensalão. Nosso Watergate local.

Um presidente eleito pelo povo que trai a confiança deste povo para roubar-lhe e diminuir-lhe a democracia. A liberdade política. O poder de autonomia, o poder da soberania.

De que maneira? Comprando representantes eleitos. Um Poder Legislativo que abdica de representar, de defender, a vontade do povo, “origem de todo poder”, como está escrito na Constituição deste país.

Um esquema financiado por golpes variados, envolvendo bancos, órgãos públicos, poderes públicos, tráfico de influência. Um negócio envolvendo milhões, mirando nos bilhões, para depositar quantias nos bolsos de figurões amigos. Que em troca repetiriam e endossariam todas as palavras do líder.

Se isto não é golpe contra a democracia, então o que é?

“Tudo pelo bem do povo” - vão nos dizer. “Roubamos sua liberdade, sua dignidade, é pro seu bem. Como titio Fidel, como titio Pol Pot.”

“Somos nós que temos as melhores intenções. Considere-se com sorte, por sermos nós a roubar-lhes a liberdade e a dignidade. Vocês vão adorar o tamanho da esmola”.

Um grande golpe, com o silêncio cúmplice da Oposição.

E se não fosse nosso, à época, Procurador Geral da República para fazer uma forte carga contra o esquema, embora indesculpavelmente poupando o seu líder máximo, e agora este honrado juiz, teríamos uma enorme chance de vermos esta bofetada na cara da nossa democracia passar em brancas nuvens.

E, depois, nosso líder máximo foi reeleito, e gozou de popularidade recorde, e baba-ovos submissos, elegeu o seu poste... perdão, posTA.

Final bem diverso do Watergate, é verdade. Mas, “a culpa é dos americanos!”, como diria nosso perfeito idiota nacionalista.

Mas, em ambos os casos, o abuso de poder, o flerte com a tirania. A injúria à nossa liberdade, à nossa democracia.

Bom filme, que recomendo: “Frost e Nixon”.

E como é que se comporta nosso líder máximo, diante da sensação de invencibilidade que lhe foi dada? Que lhe permite (ao seu juízo...) pensar que a própria Verdade dos Fatos pode se curvar ante Vossa Majestade? “Deus”, como lhe chamava uma sua sacerdotisa, Marta Suplicy. Como se comportava Nosso Guia, o Eleito, o Filho do Brasil?

Primeiro, ainda assustado, tratou de se dizer traído, e pediu desculpas. Disse que a Justiça do nosso Brasil trataria do caso (mas não contava com o Barbosa...)

Daí, passado o perigo, começou a dizer que o Mensalão era uma farsa. “Tudo uma fraude, plano sinistro das zé-lites, que conspiravam contra o Governo do Iluminado... Ao deixar o cargo voltou-se para seu ex-ministro/principal acusado, José Dirceu, pra falar: “Agora, Zé, vou me dedicar por inteiro a provar a farsa que foi esse Mensalão...”

E assim o fez, tendo nós, povo brasileiro, passado pelo novo dissabor de saber que O Guia estava tendo encontros com juízes responsáveis pelo caso, para fazer pedidos impróprios e ameaças. O ponto a que chegamos...

Esse Barbosa, na sua opinião, era um “complexado”... “imagina, não querer me fazer a vontade?! Só pode ser isso mesmo, um complexado... até o Obama me chamou de O Cara, porra!”

(Também não se dignou a explicar porque se sentiu traído, e precisou pedir desculpas, por uma coisa que não existiu. Mas não se deve questionar a Divindade, como fez o pobre Jó, não é mesmo? )

Segue o festival de lamentáveis, constrangedoras cenas, juízes atuando como advogados de defesa, juízes que devem favores, e não se declaram impedidos de fazer o julgamento...

Um advogado defendendo seu cliente pela alegação de que o seu crime seria “só” de caixa-dois, e, sabe como é, “todos fazem”... tese que teria sido criada por um ex-ministro da Justiça (do Governo Lula, é claro), atual advogado de mensaleiro... ai ai... e adotada com fervor pela militância.

Esta é a nossa Divindade Benfeitora, nosso Estadista de grande gênio...

Parabéns, para todos nós.







terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sócrates e a Filosofia

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9 porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10 mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

I Coríntios 13


O filósofo assumirá o hábito de questionar. Enxergará a realidade com um viés crítico, inconformista, por não aceitar respostas prontas, definitivas. Mesmo que vindas de autoridades últimas entre os homens, os poderosos de plantão, seja no Governo, seja na Academia.

Sócrates forneceu o modelo para todos os filósofos. Questionador, crítico, intransigente. Mesmo diante do desagrado e da fúria indignada que o levou à morte, manteve-se fiel ao seu figurino. Permaneceu sendo o que foi a vida inteira, questionador, amigo da Sabedoria (Philos=amizade; Sofia=sabedoria).

Não um sábio, ou um sofista, que professam possuir a Verdade. “Tudo que sei é que nada sei”, o paradoxo irônico socrático.

Pois, se sabe, para que irá questionar? O negócio de Sócrates é questionar. “Uma vida sem questionamento não é digna de ser vivida”.

Não que o filósofo não possa ter crenças, em algum Absoluto, alguma Forma Eterna, algum mundo fora da caverna, mas este, por definição, está além da nosso condição humana. As nossas “verdades” sempre serão uma aproximação da Verdade.

Então, nosso questionamento nunca chega ao fim. Nossa visão de mundo é sempre provisória. Está sempre aberta a um novo diálogo, sempre inconcluso. É a dialética socrática. Sempre é possível um novo exame, um aprofundamento, mesmo daquilo (principalmente disso) que temos por tão evidente e seguro.

Então, na sua essência, filosofia não é uma disciplina chata, com nomes e datas pra decorar.

É um questionamento radical, profundo.

Claro que quem adquirir este vírus vai apreciar procurar nos livros aqueles que questionaram e responderam no seu tempo, pois isto lhe fará aprofundar suas próprias respostas e perguntas.

Mas assumir como dogmas as respostas de algum pensador, é abjurar à própria Filosofia.

Escuta, Zé Ninguém!


“Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.” - Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém! - tradução de Maria de Fátima Bivar



Nossa sociedade brasileira, à parte todas as ótimas qualidades que tem, possui um grave defeito, a mais inescrupulosa disputa de poder.

Poder mais baixo, mais inútil e insignificante, não importa: os homens, e tão grande percentagem de brasileiros, estão dispostos a matar (principalmente) ou morrer por ele.

Que o digam nossas Torcidas (quadrilhas?) Organizadas. As manchas de sangue numa estação de trem, o jovem que teve a cabeça esmagada por barras de ferro. Por causa de vinte e dois marmanjos disputando pra ver quem passa uma bola pra trás de uma linha.

E não que eu não sofra ou me alegre vendo um jogo, mas não é este o ponto.

Uma sociedade que tanto mata no trânsito, em disputas de corrida, em brigas no trânsito, é uma sociedade que padece de uma triste incapacidade de compaixão, pelos outros e por si mesmo. É uma sociedade a ponto de explodir, como um barril de pólvora.

Uma sociedade mal regulada, funcionando mal. Em que as regras não estão claras, ou não obedecem ao princípio mais básico: o objetivo da paz social, do clima de cordialidade, civilidade, respeitabilidade. Aquilo de que se dá mostras quando se respeita o próximo.

Não para quem usa de toda baixaria possível para conquistar o SEU. O única e exclusivamente seu.

É uma sociedade que disputa avidamente por um local no sol. Porque sabe que se cair do outro lado, a exploração é medonha e sem limites.

Primeiro o SEU. Primeiro o SEU. Sem perceber que reproduz e eterniza o próprio objeto do seu medo. Mas o pânico impede de enxergar o próprio pensamento.

Uma sociedade com uma triste condição, sujeita a se manter sob o poder de tiranos, indefinidamente.

Uma sociedade que vê com alegria cair no seu colinho uma destas sinecuras que abundam em nossas instituições públicas. Sem se preocupar se possui os meios para bem desempenhar aquele papel que se espera, mas apenas preocupado em corresponder ao favor de quem o colocou naquele feudinho. E preocupado, claro, em curtir la dolce vita.

Tudo tem seu preço, é claro, tudo cobra seu preço.

Uma sociedade de vergonhosos atentados contra a liberdade humana. Contra a dignidade. É esta sociedade com que temos de viver, legar aos nossos filhos.

Sem esquecer, é claro, de todas as belas qualidades que a compõem, dos belos homens e mulheres de caráter neste povo, mas, precisando enxergar seus defeitos, para poder mudar.

Como dizia aquele clássico (Plutarco?), às vezes um único defeito marca completamente a fisionomia de um indivíduo, o modo como ele é visto por todos, a despeito de tantas belas qualidades que possa ter.

Precavamo-nos, portanto, de nossos graves defeitos.

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Homem primata, patrimonialismo selvagem – uma fábula do país dos Bruzundangas

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Patrimonialismo: Substantivo masculino. Tratar a coisa pública como propriedade particular; Fazer na vida pública o que se faz na privada; Espécie de socialismo arcaico, e com pouco glamour, mas tão eficaz quanto.


Recente notícia:

Nossos Senadores, recebedores de 14os e 15os salários...

Espere aí, já começou muito mal. Se a lei, para os trabalhadores formais, é claro, dá direito a um 13o salário, como é que uma categoria pode se arrogar 14 ou 15? (é apenas para ressaltar o absurdo em que estamos imersos).

Pois bem, nossos Senadores, recebedores de 14os e 15os salários, ainda recebiam estas verbas sem recolher imposto de renda.

Era crescimento de renda. O imposto é sobre o crescimento de renda.

Mas os Senadores entenderam que não precisavam recolher o imposto de renda.

Daí, veio o Fisco, e cobrou: “vocês têm de recolher o imposto sobre estas verbas também”.

Oh, que impasse! Será que os Senadores ficariam mais pobrinhos? Eles já ganham tão pouco, todo mundo sabe disso... ou até ganham direitinho, mas, vocês sabem, é uma vida de tantos sacrifícios... viajar de iate ou viajar de jatinho? Não vá querer meter a mão no nosso bolso, Fisco malvado!...

E eis que surge o Presidente dos nossos Senadores, o grande herói desta História. El grán Sir Ney! (Millôr?)

Empunhando a caneta como se fosse uma espada, ele grita aos nossos Senadores aflitos: “Não temam! Eis que o Senado anda com as burras cheias, das sobras do nosso Orçamento bilionário! Restaure-se a Paz! O Orçamento paga pelas nossas dívidas! Avante, Incomuns da República!”

(Gritos de júbilo. Ovação)

E assim termina nossa fábula feliz.

( I )Moral da História: “Tendo trouxa pra depenar, não tem porque brigar”.



Conde Drácula - Parte 2














“Eu ainda estava sentado quando novo clamor me fez estremecer. Agora o som vinha do pátio, lá embaixo, e era um grito de agonia de mulher. Corri para junto da janela e, abrindo-a, espreitei através das barras. E, de fato, vi uma mulher de cabelos desgrenhados, com ambas as mãos cerradas e apertadas contra o coração, como alguém esgotado depois de uma corrida desesperada. Ela se apoiava de encontro a um dos ângulos da galeria do pátio. Quando avistou meu rosto na janela, arremessou-se para a frente, com um gemido, e gritou com voz estridente e ameaçadora.

  • Monstro! Dá-me a minha criança!

A seguir ela caiu de joelhos e, erguendo ambas as mãos, voltou a gritar as mesmas palavras, em um tom que dilacerava meu coração. E sem conter seu grande desespero, ela arrancava os próprios cabelos, golpeava o peito, abandonando-se a todas as violências típicas de uma emoção descontrolada. Por fim atirou-se ao chão. E embora não mais pudesse vê-la, continuei ouvindo os infindáveis golpes que suas mãos desferiam contra a porta.

Vindo de algum lugar bem acima de onde eu me encontrava, provavelmente do alto da torre, onde se postara – ouvia o conde chamar algo ou alguém, com sua voz cruel e metálica. Seu apelo foi respondido, a distância e por todo o derredor, por várias matilhas de lobos que uivavam. E, ao cabo de alguns minutos, uma porção deles irrompeu da orla da floresta, como a avalancha que rompe uma represa, e invadiu o pátio através da ampla entrada do castelo.

Não consegui ouvir um único grito da mulher. O rosnado dos lobos também durou bem pouco tempo. Passado um instante e ainda lambendo os beiços ensanguentados, foram saindo um por um, e deixaram o pátio.”

Bram Stoker, in Drácula


O homem avança por estágios. Sólon (c. 640 – 553 a.C.) tem um brilhante poema sobre isto:


Quando, no sétimo ano de vida, o menino se desfaz do primeiro ciclo dentário, ele é ainda bem imaturo, mal tem o domínio da fala.
Se, no entanto, Deus o aperfeiçoar por mais sete anos, já aparecerão sinais de que agora a juventude etá amadurecendo.
Brota-lhe a barba no terceiro setênio, e a pele a desabrochar
acentua seu matiz; seu corpo estica-se cheio de força.
Porém a força do homem desenvolve-se ao máximo somente agora, no quarto setênio. O homem realiza façanhas.
No quinto setênio o homem procura casar-se, para que no futuro cresça uma geração próspera.
Depois, no sexto, a atitude moral do homem amadurece e se fortalece; futuramente, ele não mais ocupar-se-á com obra fútil.
Por catorze anos, no sétimo e no oitavo setênios, prosperam sua fala e seu espírito com abundância e força.
No nono também ainda floresce alguma coisa, mas da altura da coragem varonil emana dele a sabedoria e a palavra.
Se Deus, porém, completar o fim do décimo setênio, a morte lhe colherá num tempo bem propício.

Mas nem só cronológico é o estágio. Existem estados de sentimento, dentro de uma ou outra idade, que produzem diferenças no homem.

Um estado de ser convencido de suas próprias potencialidades. Um estágio de melancolia. Um estado de derrota. Tudo isto podem ser estados, ou estágios, dentro de um mesmo homem.

Um estágio de ser filho. Um estágio de ser pai. Um estado de derrota. Um estado de vitória.

Um estado de ser irresponsável. De ser criminoso. De ser herói. De reproduzir alguma antiga tragédia.

E um único significado para esta profusão que é a vida de um homem: dar-lhe uma ordem para fazer diminuir o sofrimento. Dar-lhe um sentido.

Um único sentido para dar compaixão e dignidade para esta experiência de ser humano.

Ordenar-se, e ao mundo, para que façamos sentido.

Ordenar-se para reprimir a horrível face da desordem: os assassinatos, a loucura, a miséria.

Porque o imoral assassino surge de uma imoral sociedade, é que temos de pertencer a esta sociedade, dar nosso contributo para ela, nosso trabalho, nossa família, nossa honestidade, para que ela prosseguir em Justiça.

Este um homem moral, um homem consciente, um homem que cuida de seu destino.

E a sociedade precisa se organizar, sua lei, seu exército, sua polícia, sua justiça. Seu Governo.

E se o Governo for corrupto, imoral, totalitário, prepotente, pior para toda a população.

Pior para todos os seus filhos, pátria amada, mãe gentil.

Pior para todos os seus filhos, roídos de miséria, roídos de deboche, em perfumados salões.

Lá onde o Poder reina grande.

Afunda-se em barbárie, afunda-se em fanatismo. Uns poderosos que se cercam de capangas, dizem-se tão preocupados com o povo, preocupam-se em salvar-se das tramóias que armam com o dinheiro do povo.

Vivendo à grande, por quaisquer meios, enquanto um país passa fome e injustiças grassam?

Entupindo-se de salários, e verbas públicas, e subornos e golpes de milhões, um preocupado em limpar o rabo do outro, pra continuar essa farra...

Depois vendo, consternados, que mais uma montanha caiu soterrando casas, quando uma barreira devia ser feita. Porque estes poderosos não organizaram nada, e os bilhões que engrossaram as contas de uns bons amigos faltaram para pagar um salário a quem tinha de fazer um trabalho.

Um preço justo, e não este roubo vil.

E daí vocês, delirantes, vão posar para alguma foto, vão fazer um discurso e uma cara de compungidos, e vão achar que o dever de casa está feito, e vocês já podem sair pra mais um conchavinho, mais uma festinha em Paris ou no endereço de luxo que for, e que vocês são muito bonzinhos...

Canalhas, é o que são, canalhas, e asquerosos, e montes de merda...

Querendo, com seu exemplo, nos demonstrar como a falta de moral é uma realidade insofismável, e uma benesse.

E que é muito corajoso quem aceita o seu jogo.

Aonde, bandidos, mulheres fúteis, que viajam de jatinho para fazer compras, que exploram e enganam os mais miseráveis, senhores e senhoras de engenho, aonde isto foi moral e exemplo?

Brincar num salão de beleza, luxos de barbies. E descurar plenamente a Educação de seus filhos. Sem qualquer pensamento sombrio, sem qualquer percepção de miséria.

Um país sem Lucrécias, sem patrícios revoltados, só com Tarquínios Tiranos, Soberbos?
Soltar uma esmola, quando a grande máquina de espremer o mais pobre está em pleno funcionamento, e à toda?

Soltar uma esmola, quando se está jogando o jogo de soltar bilhões para uns bons amigos?

Soltar uma esmola, quando se está levando à bancarrota o futuro, as melhores chances, de milhões e milhões de pessoas, seres humanos sem saneamento, sem hospital, sem polícia, sem Justiça, sem escola?

Massas para reproduzirem este roubo bilionário, esta malversação do Patrimônio Público. Massas para serem enganadas, para serem espoliadas até a miséria mais negra. Até o filho morrer por falta de saneamento, em algum hospital público que não tem médico, não tem enfermeiro, e não tem medicamento. Sofrendo esta indignidade, e quem sabe sendo humilhado por um funcionáriozinho mal pago. Ou por um Secretário ou Ministro de Saúde, ou Presidente da República, que afirma que falta pouco para esta Saúde porca atingir a perfeição.

Quanto asco, quanto nojo, desta arrogante e estúpida ilusão. Mas segue por aí, o Paizinho dos Pobres, o Bem Amado, o Mais Querido, o Filho do Brasil, o Enviado do Céu, o Deus, deste culto baixo, destas prostitutas sacerdotisas, o Estadista, o Herói que Vai Resolver Nossos Problemas, vai nos dar uma esmola, que bom, enquanto o roubo de milhões e bilhões passa debaixo dos nossos narizes, com nossos advogados de milhões que defendem clientes de bilhões, perante juízes de mais alta instância, colocados ali justamente por estes advogados e clientes.

Ternos bem cortados, e falas elegantes, e por dentro podridão e coisa morta.

Conquistaram o Poder, conquistaram a Riqueza, muito bem. E pra que lhes serviu todo este Poder, e toda esta Riqueza? E o que perderam para conquistar tanto Poder e tanta Riqueza? O que lhes custou, em moeda de dignidade e inocência?

Conquistaram Poder, conquistaram Riqueza, mas fizeram um Estado e um país mergulharem na miséria, populações animalizadas pela ignorância e a miséria, gado para entregar seu voto e seu poder para algum coronel de plantão.

Um coronel que vai se grudar como pulga, ou carrapato, ou sanguessuga, por 20, 30, 40, 50 anos, se não morrer.


Como um vampiro, um conde Drácula, eternamente se alimentando daquele sangue, sendo sustentado por aquele povo, índice de desenvolvimento daquele povo de país africano em guerra ou seca prolongada.

Este é dos nossos invejáveis, intocáveis, incomuns, um dos nossos poderosos.

Vergonha. Vergonha. Vergonha.

“Lá estava realmente o conde, mas seu aspecto geral mostrava-o muito rejuvenescido, pois seus cabelos brancos, assim como o bigode, tinham mudado de cor, tornando-se muito mais escuros, com um tom de cinza bastante intenso. As maçãs do rosto se mostravam bem mais cheias e a alvura de sua pele deixava transparecer uma tonalidade rosada. Sua boca estava mais rubra do que nunca, pois nos lábios brilhavam grossos pingos de sangue ainda fresco, os quais escorriam até o queixo e ao longo do pescoço. Até seus fundos e congestionados olhos pareciam repousar em órbitas mais firmes, pois as pálpebras se revelavam ligeiramente intumescidas. Parecia que todo o corpo da asquerosa criatura fora embebido em sangue, jazendo agora como uma repulsiva sanguessuga, exausta e entorpecida por sentir-se saturada.”

- Bram Stoker, in Drácula

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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eric Clapton - I Shot the Sheriff

Bob Dylan-John Brown(MTV)

Fuga do campo 14

 http://prosaepolitica.com.br/wp-content/uploads/2012/05/LIVRO-FUGA-CAMPO.jpg


"O segredo da felicidade está na liberdade, e o segredo da liberdade está na coragem" - Péricles



Fuga do campo 14 foi um grande livro lançado em 2012, pela editora Intrínseca. Escrito por um jornalista americano, Blaine Harden, baseado nas memórias de um norte-coreano, Shin Dong-hyuk, que nasceu e passou 23 anos num campo de prisoneiros de segurança máxima, do qual foi o único a conseguir escapar.

O relato de atrocidades físicas e morais impressiona. O último estágio do que o ser humano pode fazer pra outro. Do sistema de opressão de que é capaz o engenho humano, que funde numa mesma prisão de medo e ódio, abuso e vergonha, guardas e prisioneiros.

Sendo que estes sofrem mais, é claro.

Mas todos têm medo, medo de perder o posto, medo de sofrer as últimas injúrias que eles mesmos infligem. O vigia de turno espreme o máximo que conseguir seus subordinados, pois se a cota for insuficiente ele é que vai estar na posição de ser espremido, pelo outro vigia que pegou seu lugar.

A luta pela sobrevivência do protagonista do livro é reduzida à sua dimensão mais instintiva e básica. Ele não se peja de catar alguma migalha no chão, ou de revirar o esterco à cata de alguns grãos de milho não digeridos.

Ele nasceu naquela condição, uma relação sexual permitida dentro das rígidas leis do campo. Uma recompensa para as habilidades de seu pai, a quem podia ver raramente, sendo criado num clima de disputa por comida com sua mãe e seu irmão. Nada de amoroso convívio familiar.

Na passagem mais tenebrosa do livro, ele confessa que delatou um plano de fuga de seu irmão, tendo este e sua mãe sido executados diante de seus olhos.

O absurdo da existência humana levado a um ápice.

Naquela existência que lhe coube por sorte, ele não conhecia outro mundo senão aquele da prisão, da exploração do trabalho, dos castigos físicos, da vigilância contínua, das regras estritas, da desconfiança, da disputa e da traição.

“(...) todos os anos, alguns prisioneiros são executados em público. Outros são surrados até a morte ou secretamente assassinados por guardas, que praticamente têm carta branca para maltratá-los e estuprá-los. Em sua maioria, os detentos trabalham na agricultura, na extração de carvão, na confecção de uniformes militares ou na fabricação de cimento, subsistindo com uma dieta de fome de milho, repolho e sal. Perdem os dentes, as gengivas ficam pretas, os ossos se enfraquecem, e, quando chegam à casa dos quarenta anos, ficam arqueados na altura da cintura. Como recebem um conjunto de roupas uma ou duas vezes por ano, em geral eles trabalham e dormem vestindo trapos imundos, levando a vida sem sabão, nem meias, luvas, roupas de baixo ou papel higiênico. Jornadas de trabalho de 12 a 15 horas são obrigatórias, até que os prisioneiros morram, em geral de doenças relacionadas à desnutrição, antes de completar cinquenta anos.”

Talvez uma pintura de Bosch pudesse retratar o horror. Abrir os olhos de quem só tem olhos para enxergar os problemas da Disneylândia.

Que uma tal exploração do ser humano exista entre nós é causa de vergonha para o ser humano.

Como as minas de pedras preciosas exploradas por espanhóis e portugueses. Como os massacres de índios e de tantos povos. Como as guerras levadas a populações indefesas. Como a tortura impune de presos.

Ou sendo explorado até a morte por um Czar. Ou sendo insultado por algum nobre na França. Algum traficante armado, ou algum policial boçal, em alguma favela.

Não está confinado a uma página de um jornal ou de um livro de história. Mas no aroma perfumado dos jardins nos perdemos, em vidas de egoísmo e inconsciência, preferindo esquecer o papel que nos cabe para influir neste sistema, que nos governa e governa a vida de nossos filhos.

Melhor para os espertalhões, ou os mais gananciosos, ou os mais inescrupulosamente determinados a ocupar as posições de mando. Estes farão o sistema à sua imagem e semelhança, felizes por não ter de disputar conosco a liderança. Vão nos roubar nosso direito, nossa dignidade, nossa liberdade de participar na condução de nosso destino, e não vamos sequer nos dar conta.

Depois, o sistema pode degenerar numa Alemanha de Hitler, numa Rússia de Lênin e Stálin, numa Coréia do Norte de Kim-jong Il, e será muito tarde para lamentar.

Ou pode degenerar na corrupção da sua Prefeitura, que vai gerar a prisão super-lotada, e o ritual de roleta russa dentro dela, e também será muito tarde para lamentar.

Existem muitas formas de inferno.

Eles começam sempre pela ausência de liberdade.


"Eu não sabia o que eram compaixão ou tristeza. Eles nos educavam desde o nascimento para que não fôssemos capazes de emoções humanas normais. Agora que saí de lá, estou aprendendo a me emocionar. Aprendi a chorar. Tenho a impressão de que estou me tornando humano." - Shin Dong-hyuk