“Deixas que os homens
no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos
homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal
intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só
demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.” -
Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém! - tradução de Maria de
Fátima Bivar
Nossa sociedade
brasileira, à parte todas as ótimas qualidades que tem, possui um
grave defeito, a mais inescrupulosa disputa de poder.
Poder mais baixo, mais
inútil e insignificante, não importa: os homens, e tão grande
percentagem de brasileiros, estão dispostos a matar (principalmente)
ou morrer por ele.
Que o digam nossas
Torcidas (quadrilhas?) Organizadas. As manchas de sangue numa estação
de trem, o jovem que teve a cabeça esmagada por barras de ferro. Por
causa de vinte e dois marmanjos disputando pra ver quem passa uma
bola pra trás de uma linha.
E não que eu não
sofra ou me alegre vendo um jogo, mas não é este o ponto.
Uma sociedade que tanto
mata no trânsito, em disputas de corrida, em brigas no trânsito, é
uma sociedade que padece de uma triste incapacidade de compaixão,
pelos outros e por si mesmo. É uma sociedade a ponto de explodir,
como um barril de pólvora.
Uma sociedade mal
regulada, funcionando mal. Em que as regras não estão claras, ou
não obedecem ao princípio mais básico: o objetivo da paz social,
do clima de cordialidade, civilidade, respeitabilidade. Aquilo de que
se dá mostras quando se respeita o próximo.
Não para quem usa de
toda baixaria possível para conquistar o SEU. O única e
exclusivamente seu.
É uma sociedade que
disputa avidamente por um local no sol. Porque sabe que se cair do
outro lado, a exploração é medonha e sem limites.
Primeiro o SEU.
Primeiro o SEU. Sem perceber que reproduz e eterniza o próprio
objeto do seu medo. Mas o pânico impede de enxergar o próprio
pensamento.
Uma sociedade com uma
triste condição, sujeita a se manter sob o poder de tiranos,
indefinidamente.
Uma sociedade que vê
com alegria cair no seu colinho uma destas sinecuras que abundam em
nossas instituições públicas. Sem se preocupar se possui os meios
para bem desempenhar aquele papel que se espera, mas apenas
preocupado em corresponder ao favor de quem o colocou naquele
feudinho. E preocupado, claro, em curtir la dolce vita.
Tudo tem seu preço, é
claro, tudo cobra seu preço.
Uma sociedade de
vergonhosos atentados contra a liberdade humana. Contra a dignidade.
É esta sociedade com que temos de viver, legar aos nossos filhos.
Sem esquecer, é claro,
de todas as belas qualidades que a compõem, dos belos homens e
mulheres de caráter neste povo, mas, precisando enxergar seus
defeitos, para poder mudar.
Como dizia aquele
clássico (Plutarco?), às vezes um único defeito marca
completamente a fisionomia de um indivíduo, o modo como ele é visto
por todos, a despeito de tantas belas qualidades que possa ter.
Precavamo-nos,
portanto, de nossos graves defeitos.

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