terça-feira, 16 de outubro de 2012

Escuta, Zé Ninguém!


“Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.” - Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém! - tradução de Maria de Fátima Bivar



Nossa sociedade brasileira, à parte todas as ótimas qualidades que tem, possui um grave defeito, a mais inescrupulosa disputa de poder.

Poder mais baixo, mais inútil e insignificante, não importa: os homens, e tão grande percentagem de brasileiros, estão dispostos a matar (principalmente) ou morrer por ele.

Que o digam nossas Torcidas (quadrilhas?) Organizadas. As manchas de sangue numa estação de trem, o jovem que teve a cabeça esmagada por barras de ferro. Por causa de vinte e dois marmanjos disputando pra ver quem passa uma bola pra trás de uma linha.

E não que eu não sofra ou me alegre vendo um jogo, mas não é este o ponto.

Uma sociedade que tanto mata no trânsito, em disputas de corrida, em brigas no trânsito, é uma sociedade que padece de uma triste incapacidade de compaixão, pelos outros e por si mesmo. É uma sociedade a ponto de explodir, como um barril de pólvora.

Uma sociedade mal regulada, funcionando mal. Em que as regras não estão claras, ou não obedecem ao princípio mais básico: o objetivo da paz social, do clima de cordialidade, civilidade, respeitabilidade. Aquilo de que se dá mostras quando se respeita o próximo.

Não para quem usa de toda baixaria possível para conquistar o SEU. O única e exclusivamente seu.

É uma sociedade que disputa avidamente por um local no sol. Porque sabe que se cair do outro lado, a exploração é medonha e sem limites.

Primeiro o SEU. Primeiro o SEU. Sem perceber que reproduz e eterniza o próprio objeto do seu medo. Mas o pânico impede de enxergar o próprio pensamento.

Uma sociedade com uma triste condição, sujeita a se manter sob o poder de tiranos, indefinidamente.

Uma sociedade que vê com alegria cair no seu colinho uma destas sinecuras que abundam em nossas instituições públicas. Sem se preocupar se possui os meios para bem desempenhar aquele papel que se espera, mas apenas preocupado em corresponder ao favor de quem o colocou naquele feudinho. E preocupado, claro, em curtir la dolce vita.

Tudo tem seu preço, é claro, tudo cobra seu preço.

Uma sociedade de vergonhosos atentados contra a liberdade humana. Contra a dignidade. É esta sociedade com que temos de viver, legar aos nossos filhos.

Sem esquecer, é claro, de todas as belas qualidades que a compõem, dos belos homens e mulheres de caráter neste povo, mas, precisando enxergar seus defeitos, para poder mudar.

Como dizia aquele clássico (Plutarco?), às vezes um único defeito marca completamente a fisionomia de um indivíduo, o modo como ele é visto por todos, a despeito de tantas belas qualidades que possa ter.

Precavamo-nos, portanto, de nossos graves defeitos.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSLJqEkhJ9rBjtFZPqPld9_KeW8gAeEEfEDIpxitU4Aa4YZtZw3L_cVTS0vkdoReV7huBY8nCrwN1c2b9tKWvFfrROl7CdtwDbLTZnMa9VWVMvi9O-AkAJ0_FUa4iwMVUg0Y7OMKmyA4g/s1600/POST+Escuta%252C+Z%25C3%25A9+Ningu%25C3%25A9m%2521+%2528Wilhelm+Reich%2529+Capa+e+contracapa.jpg

Nenhum comentário: