Saiu esta boa
entrevista com FHC no Canal Livre, e bateu uma baita saudade de
quando se podia ter esperanças...
Por mais críticas que
se pudesse fazer ao FH, a visão em retrospectiva, considerando o que
veio depois, e está aí até hoje, dá proporções ao tucano de
grande líder.
Foi um período de
botar ordem na casa. Havia um caos político e econômico,
pós-impeachment do Collor, pós-confisco de poupança, e
hiper-inflação persistente, além de estagnação econômica. Ainda
tivemos, durante o governo FH, várias crises internacionais, com o
Brasil sendo apontado, em cada uma delas, como a bola da vez. E ele
enfrentou uma oposição radical e intransigente, adepta do “quanto
pior melhor”, leia-se, “quanto pior o país, melhores as chances
de alcançarmos o poder”.
Com tudo isso, saiu-se
admiravelmente bem, com seu jeito suave, atravessando estes mares
revoltos. Também conseguiu desencarnar do poder com elegância,
usando seu prestígio para lutar por causas meritórias, e corajosas.
Seus defeitos foram a
excessiva vaidade, resvalando na arrogância e em certa
auto-complacência. Lavou a mão de questões importantes, como a
reforma política. Nesta entrevista ele diz: “Deixei pro
Congresso”. Bem, não podia. Tinha de liderar neste ponto, pois
este era o ponto crucial, a mãe de todos os nossos males, o vício
oculto da nossa democracia, que permite a eternização no Poder de
velhos e novos grupos oligárquicos, que representam e defendem não
os interesses do povo, mas os interesses de empreiteiras, de bancos,
e de outros grandes financiadores de campanha, de sua militância,
das organizações e movimentos “companheiros”, à cata de
privilégios, de cargos e verbas...
Enfim. FH deixou de
encarar este desafio, lavou suas mãos neste ponto. Torrou seu
capital político para conseguir a emenda da reeleição, que
beneficiou muito mais à sua vaidade, e, depois, ao seu adversário
político.
São as ironias do
destino. A soberba, a auto-suficiência de FH foram cavando um fosso
entre seu Governo e o eleitorado. Por mais que tivesse acertos e boas
intenções para mostrar, ele descuidava das bases, com a cabeça das
nuvens. “Nefelibata”, expressão que usou, se referindo aos
outros, mas que se voltou contra ele.
A oposição soube
explorar cada uma destas fraquezas. “Isto não é representante do
povo. Olha a expressão que ele usa! Do povo é falar “pobrema”!”
Por mais que seja
desonesto este tipo de “argumento”, ele pega. “Nefelibata”
você usa escrevendo um livro, para impressionar os amigos, também
intelectuais. Num discurso, numa declaração pública, só se você
for muito nefelibata.
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