sexta-feira, 5 de julho de 2013

Qualquer semelhança não é mera coincidência

 


Em 1977, em plena ditadura militar, e com o “milagre econômico” fazendo água, o Governo Geisel decide fechar o Congresso temporariamente, e editar um “Pacote” de leis para as eleições legislativas de 1978.

É o chamado Pacote de Abril, uma emenda constitucional e seis decretos-leis, feito na medida para impedir o fiasco do Governo nas eleições: metade das vagas em disputa para o Senado seriam preenchidas por voto indireto do Colégio Eleitoral; também seriam mantidas as eleições indiretas para Governadores, e o mandato presidencial passava de cinco para seis anos.

Mas a pior das medidas, a mais deletéria, e de efeitos mais prolongados (estendem-se até hoje!) foi o aumento da representação dos Estados menos populosos, e mais pobres, mais atrasados, e não por acaso, mais propensos a votar nas indicações do Governo.

Foi a quebra do tradicional Princípio Democrático: “A cada homem um voto”. Naquele momento, e a partir dali, um voto das regiões mais dominadas pelo tradicional coronelismo passava a valer cerca de três votos de regiões mais desenvolvidas, com melhores indicadores sociais.

E estes ovos de serpente deixados pela Ditadura continuam a ser chocados pela nossa Democracia. A justificativa, claro, é a tradicional, do país dos coitadinhos: instituía-se a desigualdade dos votos, para equilibrar a desigualdade de renda. Uma desigualdade serve para reduzir a outra, entende? Claro, claro, sempre com as melhores das intenções...

E, como de hábito, “pelos frutos os conhecereis”. Mais de trinta anos passados, e as regiões atrasadas continuam atrasadas. Mas os políticos destas regiões vão muito bem, obrigado, elegendo-se com uma fração dos votos de seus colegas do Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. E com bancadas totalmente desproporcionais em relação à população que representam.

Para comparar os extremos: São Paulo, com 42 milhões de habitantes, e Roraima, com 470 mil. A Constituição diz que nenhum Estado pode ter menos de 8 deputados, nem mais de 70. Portanto, na média, um deputado de São Paulo representa 600.000 brasileiros, enquanto outro de Roraima representa 58.750. No caso, a diferença é de um para mais de 10!

Não admira que Estados produtores levem surras na guerra por royalties; e que existam distorções grotescas na distribuição de recursos entre os entes federativos.

Não admira que estes recursos acabem no bolso destes políticos cujo Poder no Congresso é muitas vezes maior do que a quantidade de votos que representa.

O Brasil continua refém dos seus coronéis. Dos seus donatários de Capitanias Hereditárias.

E agora vem o nosso Governo “popular”, Governo dos “inimigos da ditadura”, no momento em que faz água a “nova matriz macroeconômica”, e o povo insatisfeito nas ruas ameaça o projeto de perpetuação no Poder, propor um novo “Pacote de Abril” para alterar as regras eleitorais, defendendo voto em lista fechada e financiamento público de campanha, reforma na medida para o Governo e a base aliada... mas dessa vez, através de plebiscito, buscando a chancela do povo.

Dá pra acreditar?

Pobre do povo, convocado para entregar os resquícios de sua liberdade, e ainda ter de fazê-lo sorrindo...

Por isso:

Reforma política já!

Voto distrital já!

A cada brasileiro um voto!

Igualdade já!

Liberdade já!

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