"Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos.” - Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil.
Ontem mais dez pessoas assassinadas no Irã, jovens que protestam contra o regime tirânico dos aiatolás, teocracia infernal. A quantas anda a contagem dos corpos? Não vou me dar ao trabalho de pesquisar no Google para saber. Só serviria pra me deixar deprimido.
Mas agora vejo uma das vítimas de ontem, no Fantástico, uma jovem que levou um tiro, de um dos militares/paramilitares, uma dessas porcarias de cães de guarda do regime, caída no chão, na rua. Uma das raras imagens que escaparam do cerco à comunicação imposto, talvez um celular filmando o desespero dos que rodeiam a menina, 18, 19 anos? O que é que o repórter diz, ela está sendo chamada, ou seu nome significa A Voz, no idioma do Irã? Triste metáfora concreta estendida no chão, vítima do governo que se diz divino, mas que não tolera a liberdade...
Ali Khamenei, aiatolá e líder supremo, já tinha ameaçado, na sexta-feira: vai haver derramamento de sangue. Devia dizer que vai haver mais derramamento de sangue, na verdade, pois o sangue já vinha sendo derramado, àquela altura...
Alguém precisa urgentemente explicar pro presidente Lula, usando figurinhas, porque ele não gosta de ler, que democracia não tem quadros paramilitares; que em democracia, não se atira em multidões que fazem passeatas, e se justifica estes assassinatos covardes... que em democracia não se proíbem jornalistas de cobrir as manifestações, não se prendem e sequestram jornalistas, não se prendem manifestantes pacíficos...
Em democracia, exerce-se a tolerância, algo um pouquinho diferente, por exemplo, da ameaça do promotor da província de Isfahan, Mohammadreza Habibi: “Alertamos elementos controlados por estrangeiros que tentam perturbar a segurança que a pena para a guerra contra Deus é a execução.”
“Guerra contra Deus”, tão somente... mas por trás de tanta invocação do Santo Nome em vão, um governo bem e bem preocupado com o vil mundo da matéria, na descrição do correspondente do Globo José Meirelles Passos, na edição de sábado, 20.06.2009: “A elite do regime teocrático iraniano procura, sobretudo, manter as suas mordomias – num país onde 40% da população sobrevivem com o equivalente a US$ 15 por mês. O aiatolá Ali Khamenei, sob o manto de líder supremo da Revolução Islâmica, trata de preservar não apenas a aura da chamada Revolução Islâmica, mas, também, os benefícios que ela trouxe para aiatolás e clérigos em geral, além de parentes e amigos. Eles se transformaram numa casta – a dos “mulás milionários”, que circulam por Teerã em Mercedes e BMWs, jogam golfe em clubes fechados e viajam frequentemente para a Europa. Eles não querem abrir mão do que conquistaram a partir da privatização dos anos 90, quando centenas de empresas foram vendidas a quem tinha conexões com as pessoas certas do regime.” (...)
Na “democracia” (bota aspas nisso...) iraniana ocorrem, simplesmente, apedrejamento de mulheres, repressão contra minorias religiosas, execução de homossexuais, encarceramento de políticos, censura à imprensa... Ah, mas eles são contra o “Grande Satã”, os Estados Unidos, então no fundo eles devem ser bons, conforme pensam muitos da nossa esquerda chique. Me bate que eu gosto, não é, dona Intelectuália? Síndrome da mulher do malandro...
Quanto às maravilhosas “eleições” de tal regime, transcrevo a resposta da historiadora iraniana Guity Nashat, quando perguntada no Globo de 18.06.09 se acreditava que as eleições foram fraudadas: “Eu não estava lá, mas como eles podem dizer que 63% das pessoas votaram em Ahmadinejad duas horas depois das eleições? Eles contaram os votos? Quantos votos, 40 milhões de votos? Quero dizer, como fizeram isso duas horas depois de fecharem as urnas? Eles disseram “deixem pra lá, já decidimos”. Esta é a impressão que tenho, de que foi o que fizeram.” E, acrescento eu, depois de todas as pesquisas apontarem para vitória do candidato de oposição. E de terem sido impedidos de acompanhar a votação quaisquer representantes da oposição ou observadores internacionais. Na verdade, menos de vinte (!) minutos após o fechamento das urnas, 20% das cédulas já teriam sido contadas: recorde de velocidade absoluto de contagem de cédulas de papel.
Mas podemos confiar na honestidade e boas intenções do regime iraniano, que pode ser totalitário e violento, mas é de Deus. Ou de Alá. E podemos também confiar na preclara intuição de “nosso líder”, e no comando de nossa política externa. Está feio o negócio: além de abanar o rabinho para os velhos ditadores de Cuba, da China, agora agora demos de abanar também pra Hugo Chávez na Venezuela, pra Coréia do Norte, pro Irã (até para teocracias, meu Deus...), sendo ainda informados pelo Elio Gaspari no Globo deste domingo (21.06.09), que passamos a cortejar também as ditaduras assassinas do Zimbábue, do Sudão, do Cazaquistão, e do Uzbequistão. Celso Amorim, nosso ministro de relações exteriores, convidou Islam Karimov, presidente do Uzbequistão, para visitar o Brasil. Ele esteve em Brasília, em maio passado. Fala Elio Gaspari: “Em pelo menos um caso, sua polícia ferveu um opositor. Ferveu, não confundir com jogar na água fervendo. Quem diz isso é um laudo de patologistas da Universidade de Glasgow”. Coisa linda... Diga-me com quem andas...
Mas tudo está bem no melhor dos mundos (exceto pros que estão sendo fervidos): Amorim, que já nos comunicou que política externa é “jogo de gente grande”, aproveita o ensejo para nos brindar com novas pérolas de sabedoria: segundo o ministro, "tudo é uma questão de percepção”; e “tem gente que quer falar de direitos humanos para ficar em paz com a própria consciência, purgar pecados do colonialismo, e tem gente que vai para melhorar a situação dos países”. É isso aí. Aplausos pro Amorim. E não se fala mais nisso.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
E ele fez de novo
O presidente Lula mais uma vez empresta o peso de sua popularidade pra “aliviar a barra” de um companheiro, atolado em denúncias de corrupção. Na mais recente operação abafa, “nosso líder” reagiu às revelações das falcatruas de Sarney no Senado, atacando o “denuncismo”, e dizendo que Sarney tem história suficiente para não ser tratado como uma pessoa comum.
De fato, lendo a sessão de cartas do jornal, lembramos detalhes desta história de Sarney: governou, com seu clã, o Estado do Maranhão, por quarenta anos, e hoje o Maranhão possui os piores indicadores sociais do país; amealhou seu poder político amparado pela ditadura militar, e, presidente do PDS, comandou a votação contrária às “diretas já”; acabou presidente da república, e durante o seu mandato atingimos os maiores índices de inflação da nossa História; depois, usou da sua malandragem de raposa velha, arrumando um domicílio eleitoral no Amapá, para se eleger senador por este Estado; isto, para ficarmos nas “grandes linhas” da sua biografia, já dá pra fazer uma idéia do retrato.
Agora vêm à tona as novas farras da grande figura, presidente do Senado pela terceira vez: ganhava R$3.800,00 mensais, indevidamente, a título de auxílio-moradia; questionado, negou, e depois, pediu desculpas por ter “passado a informação errada”; por um “equívoco”, a administração do Senado passou a depositar na sua conta o auxílio, e Sarney “tinha a impressão de que não estava recebendo”.
Não bastasse, veio o caso dos atos secretos editados pelo Senado: mais de 650, pela última contagem; e, para variar, os familiares e agregados de Sarney estão entre os principais beneficiados:
Ivan Celso Furtado Sarney, irmão de Sarney; João Fernando Michels Gonçalves Sarney, neto de Sarney; Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de João Fernando e namorada de Fernando Sarney, irmão de Sarney; Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, sobrinha de Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, filha de Sarney; Shirley Duarte Pinto de Araújo, namorada de Ernane Sarney, irmão de Sarney; Maria do Carmo de Castro Macieira, sobrinha de Marly Sarney, mulher de Sarney; Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Marly Sarney; Virgínia Murad de Araújo, parente de Jorge Murad, genro de Sarney.
E haja Sarney! Entre as historinhas divertidas envolvendo tantos familiares, destaco só uma, a título de exemplo: Isabella Murad, 25 anos, arquiteta, continuava recebendo salário do Senado, embora esteja morando em Barcelona, na Espanha. O secretário de Comunicação do governo do Maranhão, Sérgio Macedo, afirmou que Isabella devolverá aos cofres públicos o dinheiro ganho do Senado desde que saiu do País, no início do ano. "Antes de sair ela deixou pronto o pedido de demissão, mas por alguma falha técnica isso não foi processado", afirmou Macedo. Ah, bom! Agora estamos explicados. Sempre tem uma explicação na gaveta, esperando ser sacada quando explode a merda, e aí eles se dignam (ou dizem que se dignam) a devolver o dinheiro, dividido em suaves prestações a perder de vista, e sem juros, que ninguém é de ferro...
Isabella foi nomeada em fevereiro de 2007, pelo então líder do PTB, senador pelo Maranhão e aliado de Sarney, Epitácio Cafeteira, que nunca deu pela falta de Isabella. "Não sou fiscal de funcionário." - afirmou o senador, convicto. Disse ainda que nomeou a arquiteta a pedido de um amigo, Eduardo Lago. "Ele é tio dela e me pediu que nomeasse, mas esqueceu de avisar que ela tinha conseguido uma bolsa de estudos na Espanha". Está muito certo: pra que se preocupar com o salário que é pago pro funcionário que não tem um trabalho, se a conta vai ser espetada nos trouxas? E se este cargo só é criado para isso mesmo, troca-troca de favores entre poderosos?
Não era à toa que as nomeações foram secretas.Uma rede de relações podre, um enredo que se repete: você é meu aliado? Arruma uma vaga no seu Gabinete pra esse fulaninho(a) que é meu amigo/parente/amante, e em troca eu te dou apoio naquela votação importante, e lembra que eu te salvei a pele quando teve aquela denúncia, e... etc etc etc... por aí se vê em que patamar ficam os interesses do país.
Podem nos chamar de palhaços. Podem nos dar tapas na cara. Não reagimos nunca. Vergonha, uma imensa vergonha!
V – E – R – G – O – N – H – A! Como é que se pode escrever esta palavra, para que ela recupere um pouco da sua força? De tanto que foi usada, tornou-se banal, Boris Casoy no jornal da noite, “Isto é uma vergonha”, estava certo, mas não se fez nada, nunca se faz nada, e nos acostumamos à degradação...
Quando é que se vai dar um basta? Para começar, acabar com essa infinidade de cargos em comissão. Os funcionários de Senado, Câmara, Ministérios, devem ser concursados, ter suas funções definidas em lei, para atender os representantes eleitos. É com estes funcionários que os representantes eleitos precisam trabalhar! Eles têm de ter nos seus Gabinetes funcionários de carreira, da Casa, e não do parlamentar, com atribuições definidas EM LEI, para dar o apoio administrativo. Farão pesquisas, organizarão pautas, servirão cafezinho, atenderão o público, agendarão reuniões e entrevistas. Sai parlamentar, entra parlamentar, os funcionários são os mesmos, profissionais para desempenhar um trabalho.
Deputados e senadores também precisam cumprir com suas atribuições e responsabilidades, DEFINIDAS TAMBÉM EM LEI, e TRABALHAR, de segunda a sexta, como bons mortais, um mês de férias por ano, discutirão propostas, ouvirão representantes da sociedade, votarão, E TERÃO O PATRIMÔNIO FISCALIZADO, PRESTARÃO CONTA DE DESPESAS NÃO COMPATÍVEIS COM SEUS SALÁRIOS, como qualquer mortal, e até com cuidados em dobro, em razão da grande responsabilidade dos cargos que ocupam.
Talvez daqui a mil anos. Porque AGORA, vemos nosso presidente fazer o discurso oposto: Sarney não é para ser julgado como “pessoa comum”; Sarney não tem de prestar contas. O velho discurso de sociedade escravocrata, dividida em castas. O velho discurso, que é o nosso discurso, que reflete o nosso pensamento e a nossa cultura: quatrocentos anos de escravidão, para pouco mais de cem anos livres da escravidão, ou com uma escravidão mais dissimulada... tudo isto pesa, é nossa história, nossa herança, ainda temos uma proporção desfavorável para reverter, mas os tempos estão mudando, e cada vez mais rápido... a matemática não é tão exata, quando aplicada ao inconsciente coletivo de uma sociedade. Não estamos condenados a esperar mais trezentos anos para igualar o jogo, e a partir daí adotarmos a justiça e a igualdade nas nossas relações. A mudança já é possível e presente HOJE, em muitos níveis.
Mas é preciso estar consciente e lutar por essa mudança. Lula se elegeu por muita gente que pensava que ele era o homem para “mudar tudo isso que está aí”. Ou seja: romper com nossa herança, ser o ponto de virada. Como símbolo, Lula se prestava bem para isso: era finalmente o “homem do povo” que chegava ao Poder. O PT, também, era o “partido da mudança”. O partido que não iria tolerar a corrupção, inauguraria uma nova era na política, de práticas modernas e avançadas, republicanas, impessoais... isto, deve-se dizer, para os que permitiam que a vontade de acreditar obscurecesse seu juízo crítico. Afinal, o que era a proposta socialista de Lula e do PT, quando na oposição, senão um retorno ao nosso velho patrimonialismo, com uma roupagem moderna?
Pois não se está de novo defendendo que o Estado decida pelo indivíduo, e que os homens que operam este Estado concentrem um enorme poder, poder político e econômico? E o que faz isso, se não criar um novo fosso, entre os que governam, e os que são governados? De novo, senhores e escravos, desta vez justificados pela ideologia “científica”, que desvenda o “sentido da História”. Faz-se uma revolução em Cuba para derrubar uma ditadura nojenta, e aonde se chega? Em uma nojenta ditadura... ironias do redemoinho da história, circularidade da cultura, mudam-se as formas, as palavras, as justificativas, continua-se na prisão do privilégio. Socialismo é o neo-patrimonialismo. Em oposição, ambos, à temida, mal-compreendida, idéia da liberdade, igualdade e responsabilidade, para todos os membros da sociedade.
Fazendo este reparo, é inegável que para muitas destas pessoas que viviam nas nuvens, na pureza do reino das idéias, Lula e o PT eram o símbolo desta mudança ansiada, ainda que mal definida.
Mas aparências podem ser enganadoras... os símbolos do novo tinham o mesmo pensamento antigo, as mesmas práticas... o discurso é que mudava um pouco, para capitalizar em votos o sentimento difuso pela sociedade, de revolta contra a injustiça, de luta por melhores condições de vida. Mas atingido o poder, viu-se que o objetivo era apenas o de usufruir por sua vez as benesses de não ser mais uma pessoa comum. O discurso prometia que todos seriam “comuns”, iguais. Na prática, depois que “se chegou lá”, ninguém quis abrir mão de ser um dos “incomuns”. Depois de tanto trabalho pra conquistar o poder, vamos ter de renunciar a tudo isto? Admitir que a lei nos limite, ter de prestar contas, não poder ganhar os “presentinhos”, carros esporte e mansões, ter de trabalhar, essa coisa de escravo? Ah, não, ninguém é santo, melhor é se juntar aos velhos demônios que andam por aqui, misturar-nos todos, animal farm, fazer a farra no chiqueiro... prisão da cultura, circularidade da história...
E toma lotear cargos públicos, com um furor “nunca dantes visto na história deste país”; toma beijar mão de Jader Barbalho, fazer afago em Severino Cavalcanti, rezar com o bispo Crivella, defender Renan Calheiros e José Sarney... Em troca-troca, estes aliados todos vão blindar o Governo nas CPIs, vão defender mensaleiros, assessores com dólares na cueca, aloprados, assessores filmados enquanto ganhavam propina de “empresário” do bicho... coisinhas poucas, bobagens, como se vê... um casamento perfeito, da fome com a vontade de comer: e pra que brigarmos entre nós, que somos os poderosos, e podemos nos machucar, quando muito mais fácil é nos unirmos pra esfolar os trouxas? O velho poder convive muito bem com o novo poder. As velhas táticas coronelistas são retomadas, agora com todo o peso do Governo Federal, nunca antes com tantos recursos e instrumentos (cerca de 40% do PIB do país). Nunca antes na História desse país se viu um curral eleitoral tão grande! Antes davam dentadura, pipa de água? Agora tem um cadastro, e dão bolsa-família... como dizem, socialismo é o neo-patrimonialismo.
Mas os velhos poderes não desaparecem da noite para o dia, é preciso conviver com eles. Sarney tem a experiência de anos de prática do poder, Jader Barbalho, ACM, quando vivo, Collor, e Renan Calheiros... e os evangélicos estão despontando, atenção para eles...
Mas tem espaço pra todos, na festa dos “incomuns”; na festa de Saló, os 120 dias de Sodoma; para encerrar o grande evento, será oferecido um grande banquete, regado a Romané Conti e uísque importado, e o prato principal será uma pessoa comum do povo: servida ainda viva, com horror no olho, e uma maçã na boca.
De fato, lendo a sessão de cartas do jornal, lembramos detalhes desta história de Sarney: governou, com seu clã, o Estado do Maranhão, por quarenta anos, e hoje o Maranhão possui os piores indicadores sociais do país; amealhou seu poder político amparado pela ditadura militar, e, presidente do PDS, comandou a votação contrária às “diretas já”; acabou presidente da república, e durante o seu mandato atingimos os maiores índices de inflação da nossa História; depois, usou da sua malandragem de raposa velha, arrumando um domicílio eleitoral no Amapá, para se eleger senador por este Estado; isto, para ficarmos nas “grandes linhas” da sua biografia, já dá pra fazer uma idéia do retrato.
Agora vêm à tona as novas farras da grande figura, presidente do Senado pela terceira vez: ganhava R$3.800,00 mensais, indevidamente, a título de auxílio-moradia; questionado, negou, e depois, pediu desculpas por ter “passado a informação errada”; por um “equívoco”, a administração do Senado passou a depositar na sua conta o auxílio, e Sarney “tinha a impressão de que não estava recebendo”.
Não bastasse, veio o caso dos atos secretos editados pelo Senado: mais de 650, pela última contagem; e, para variar, os familiares e agregados de Sarney estão entre os principais beneficiados:
Ivan Celso Furtado Sarney, irmão de Sarney; João Fernando Michels Gonçalves Sarney, neto de Sarney; Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de João Fernando e namorada de Fernando Sarney, irmão de Sarney; Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, sobrinha de Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, filha de Sarney; Shirley Duarte Pinto de Araújo, namorada de Ernane Sarney, irmão de Sarney; Maria do Carmo de Castro Macieira, sobrinha de Marly Sarney, mulher de Sarney; Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Marly Sarney; Virgínia Murad de Araújo, parente de Jorge Murad, genro de Sarney.
E haja Sarney! Entre as historinhas divertidas envolvendo tantos familiares, destaco só uma, a título de exemplo: Isabella Murad, 25 anos, arquiteta, continuava recebendo salário do Senado, embora esteja morando em Barcelona, na Espanha. O secretário de Comunicação do governo do Maranhão, Sérgio Macedo, afirmou que Isabella devolverá aos cofres públicos o dinheiro ganho do Senado desde que saiu do País, no início do ano. "Antes de sair ela deixou pronto o pedido de demissão, mas por alguma falha técnica isso não foi processado", afirmou Macedo. Ah, bom! Agora estamos explicados. Sempre tem uma explicação na gaveta, esperando ser sacada quando explode a merda, e aí eles se dignam (ou dizem que se dignam) a devolver o dinheiro, dividido em suaves prestações a perder de vista, e sem juros, que ninguém é de ferro...
Isabella foi nomeada em fevereiro de 2007, pelo então líder do PTB, senador pelo Maranhão e aliado de Sarney, Epitácio Cafeteira, que nunca deu pela falta de Isabella. "Não sou fiscal de funcionário." - afirmou o senador, convicto. Disse ainda que nomeou a arquiteta a pedido de um amigo, Eduardo Lago. "Ele é tio dela e me pediu que nomeasse, mas esqueceu de avisar que ela tinha conseguido uma bolsa de estudos na Espanha". Está muito certo: pra que se preocupar com o salário que é pago pro funcionário que não tem um trabalho, se a conta vai ser espetada nos trouxas? E se este cargo só é criado para isso mesmo, troca-troca de favores entre poderosos?
Não era à toa que as nomeações foram secretas.Uma rede de relações podre, um enredo que se repete: você é meu aliado? Arruma uma vaga no seu Gabinete pra esse fulaninho(a) que é meu amigo/parente/amante, e em troca eu te dou apoio naquela votação importante, e lembra que eu te salvei a pele quando teve aquela denúncia, e... etc etc etc... por aí se vê em que patamar ficam os interesses do país.
Podem nos chamar de palhaços. Podem nos dar tapas na cara. Não reagimos nunca. Vergonha, uma imensa vergonha!
V – E – R – G – O – N – H – A! Como é que se pode escrever esta palavra, para que ela recupere um pouco da sua força? De tanto que foi usada, tornou-se banal, Boris Casoy no jornal da noite, “Isto é uma vergonha”, estava certo, mas não se fez nada, nunca se faz nada, e nos acostumamos à degradação...
Quando é que se vai dar um basta? Para começar, acabar com essa infinidade de cargos em comissão. Os funcionários de Senado, Câmara, Ministérios, devem ser concursados, ter suas funções definidas em lei, para atender os representantes eleitos. É com estes funcionários que os representantes eleitos precisam trabalhar! Eles têm de ter nos seus Gabinetes funcionários de carreira, da Casa, e não do parlamentar, com atribuições definidas EM LEI, para dar o apoio administrativo. Farão pesquisas, organizarão pautas, servirão cafezinho, atenderão o público, agendarão reuniões e entrevistas. Sai parlamentar, entra parlamentar, os funcionários são os mesmos, profissionais para desempenhar um trabalho.
Deputados e senadores também precisam cumprir com suas atribuições e responsabilidades, DEFINIDAS TAMBÉM EM LEI, e TRABALHAR, de segunda a sexta, como bons mortais, um mês de férias por ano, discutirão propostas, ouvirão representantes da sociedade, votarão, E TERÃO O PATRIMÔNIO FISCALIZADO, PRESTARÃO CONTA DE DESPESAS NÃO COMPATÍVEIS COM SEUS SALÁRIOS, como qualquer mortal, e até com cuidados em dobro, em razão da grande responsabilidade dos cargos que ocupam.
Talvez daqui a mil anos. Porque AGORA, vemos nosso presidente fazer o discurso oposto: Sarney não é para ser julgado como “pessoa comum”; Sarney não tem de prestar contas. O velho discurso de sociedade escravocrata, dividida em castas. O velho discurso, que é o nosso discurso, que reflete o nosso pensamento e a nossa cultura: quatrocentos anos de escravidão, para pouco mais de cem anos livres da escravidão, ou com uma escravidão mais dissimulada... tudo isto pesa, é nossa história, nossa herança, ainda temos uma proporção desfavorável para reverter, mas os tempos estão mudando, e cada vez mais rápido... a matemática não é tão exata, quando aplicada ao inconsciente coletivo de uma sociedade. Não estamos condenados a esperar mais trezentos anos para igualar o jogo, e a partir daí adotarmos a justiça e a igualdade nas nossas relações. A mudança já é possível e presente HOJE, em muitos níveis.
Mas é preciso estar consciente e lutar por essa mudança. Lula se elegeu por muita gente que pensava que ele era o homem para “mudar tudo isso que está aí”. Ou seja: romper com nossa herança, ser o ponto de virada. Como símbolo, Lula se prestava bem para isso: era finalmente o “homem do povo” que chegava ao Poder. O PT, também, era o “partido da mudança”. O partido que não iria tolerar a corrupção, inauguraria uma nova era na política, de práticas modernas e avançadas, republicanas, impessoais... isto, deve-se dizer, para os que permitiam que a vontade de acreditar obscurecesse seu juízo crítico. Afinal, o que era a proposta socialista de Lula e do PT, quando na oposição, senão um retorno ao nosso velho patrimonialismo, com uma roupagem moderna?
Pois não se está de novo defendendo que o Estado decida pelo indivíduo, e que os homens que operam este Estado concentrem um enorme poder, poder político e econômico? E o que faz isso, se não criar um novo fosso, entre os que governam, e os que são governados? De novo, senhores e escravos, desta vez justificados pela ideologia “científica”, que desvenda o “sentido da História”. Faz-se uma revolução em Cuba para derrubar uma ditadura nojenta, e aonde se chega? Em uma nojenta ditadura... ironias do redemoinho da história, circularidade da cultura, mudam-se as formas, as palavras, as justificativas, continua-se na prisão do privilégio. Socialismo é o neo-patrimonialismo. Em oposição, ambos, à temida, mal-compreendida, idéia da liberdade, igualdade e responsabilidade, para todos os membros da sociedade.
Fazendo este reparo, é inegável que para muitas destas pessoas que viviam nas nuvens, na pureza do reino das idéias, Lula e o PT eram o símbolo desta mudança ansiada, ainda que mal definida.
Mas aparências podem ser enganadoras... os símbolos do novo tinham o mesmo pensamento antigo, as mesmas práticas... o discurso é que mudava um pouco, para capitalizar em votos o sentimento difuso pela sociedade, de revolta contra a injustiça, de luta por melhores condições de vida. Mas atingido o poder, viu-se que o objetivo era apenas o de usufruir por sua vez as benesses de não ser mais uma pessoa comum. O discurso prometia que todos seriam “comuns”, iguais. Na prática, depois que “se chegou lá”, ninguém quis abrir mão de ser um dos “incomuns”. Depois de tanto trabalho pra conquistar o poder, vamos ter de renunciar a tudo isto? Admitir que a lei nos limite, ter de prestar contas, não poder ganhar os “presentinhos”, carros esporte e mansões, ter de trabalhar, essa coisa de escravo? Ah, não, ninguém é santo, melhor é se juntar aos velhos demônios que andam por aqui, misturar-nos todos, animal farm, fazer a farra no chiqueiro... prisão da cultura, circularidade da história...
E toma lotear cargos públicos, com um furor “nunca dantes visto na história deste país”; toma beijar mão de Jader Barbalho, fazer afago em Severino Cavalcanti, rezar com o bispo Crivella, defender Renan Calheiros e José Sarney... Em troca-troca, estes aliados todos vão blindar o Governo nas CPIs, vão defender mensaleiros, assessores com dólares na cueca, aloprados, assessores filmados enquanto ganhavam propina de “empresário” do bicho... coisinhas poucas, bobagens, como se vê... um casamento perfeito, da fome com a vontade de comer: e pra que brigarmos entre nós, que somos os poderosos, e podemos nos machucar, quando muito mais fácil é nos unirmos pra esfolar os trouxas? O velho poder convive muito bem com o novo poder. As velhas táticas coronelistas são retomadas, agora com todo o peso do Governo Federal, nunca antes com tantos recursos e instrumentos (cerca de 40% do PIB do país). Nunca antes na História desse país se viu um curral eleitoral tão grande! Antes davam dentadura, pipa de água? Agora tem um cadastro, e dão bolsa-família... como dizem, socialismo é o neo-patrimonialismo.
Mas os velhos poderes não desaparecem da noite para o dia, é preciso conviver com eles. Sarney tem a experiência de anos de prática do poder, Jader Barbalho, ACM, quando vivo, Collor, e Renan Calheiros... e os evangélicos estão despontando, atenção para eles...
Mas tem espaço pra todos, na festa dos “incomuns”; na festa de Saló, os 120 dias de Sodoma; para encerrar o grande evento, será oferecido um grande banquete, regado a Romané Conti e uísque importado, e o prato principal será uma pessoa comum do povo: servida ainda viva, com horror no olho, e uma maçã na boca.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Educação II
A escola é um dos principais elos entre os indivíduos e a sociedade. Um dos primeiros, e dos mais importantes. O outro destes primeiros elos é a família. Os dois precisam trabalhar integrados para garantir a melhor formação daqueles pequenos indivíduos.
Os valores que eles vão receber, provêm dos exemplos que eles vêem ao redor. Da escola as famílias devem esperar, têm de esperar, que as crianças tenham segurança, que elas se sintam estimuladas para estudar e aprender. Na escola a criança tem de aprender que o Estado tem certas obrigações com respeito a ela; e assim, aprender que tem certos direitos e deveres com o Estado. Com a sociedade em que vive.
A criança, o cuidado que se deve ter com a educação da criança, impõe um elo ligando a família e a escola. Como é que uma criança, numa família desestruturada, atirada à miséria, a um subemprego de exploração, vai aprender respeito e responsabilidade?
Uma escola boa não se compõe apenas de bons professores. Ela precisa de bons médicos, assistentes sociais, diretores, e etc. Ela precisa de diversão, e de esporte, e de merenda. Aulas de música, de futebol, de português, de matemática, de ciências, e de história. Leitura, cinema, sala de vídeo, biblioteca, e computador.
Por que não ter um modelo, integrado, de saúde pública e escola? Por que é que tantas crianças, que estão na escola, não têm acesso a um dentista? E a um clínico geral? Por que é que não se têm psicólogos, e assistentes sociais, para conversar com aquelas crianças que têm problemas, particulares ou familiares, para se tentar alguma ação?
Este problema é incontornável: é preciso haver, no Brasil, profissionais. Pessoas que tenham a dignidade de fazer um trabalho sério. Que tenham responsabilidade, que sejam honestas. Para isso, deve-se investir na formação de profissionais, na fiscalização de irregularidades.
Cada um precisa viver daquilo que pode declarar com honestidade. E como é que no Brasil (sim, em todos os povos, mas tanto no Brasil), exista tanta gente “da grande”, que têm mansões de cinco milhões de dólares, palácios de vinte e cinco, e carros de um milhão, sem que possam dizer de onde veio o dinheiro. Livres como passarinhos, tomando banho em banheira de ouro. Como é que ninguém questiona, como é que todo mundo fica quieto... à vista de todos, e ninguém investiga.
É um país que se acostumou com o impensável, com o extra-indigno. É um país em que a corrupção já se espalhou, para tantas almas, que se procurou um meio de conviver com ela. Isto quando não se é francamente cooptado, nos tantos que fazem parte da rede do negócio sujo, tantos que carregam os dinheiros em malas, maletas e cuecas...
E que exemplo de sociedade é este que mostramos para nossos netos e filhos? Pessoas tão imediatistas não pensam nisso. Para elas o seu dever para com seu filho é enriquecer a todo preço. O dinheiro vai lhe comprar de volta a alma, é a única coisa real... mas vemos os filhos que lutam pelo que ficou de herança, os filhos que torcem pela morte dos pais, os filhos que se suicidam, os filhos que dilapidam o que lhes veio tão “fácil”... e tudo que era tão “real” se esfumaça num átimo.
O que impele esta descrença no futuro, esta desesperança imediatista, que leva estes que poderiam fazer o seu tanto, a buscarem estes ganhos rápidos, estes ganhos de corrupção? Esta é uma boa questão, mas é preciso pensar outra coisa: o que é preciso fazer para mostrar nossa indignação? O que é preciso para que os corruptos vão para a cadeia, fiquem na cadeia? Que palhaçada é esta, de sair das cadeias para as câmaras de deputados, de senadores, de ministros, governadores, prefeitos? Justiça, que fica anos e anos, pra não chegar a conclusão alguma? Processos, que não se acabam, enquanto os “companheiros” continuam rindo e gastando, à grande?
Um dia acordaremos?
Os valores que eles vão receber, provêm dos exemplos que eles vêem ao redor. Da escola as famílias devem esperar, têm de esperar, que as crianças tenham segurança, que elas se sintam estimuladas para estudar e aprender. Na escola a criança tem de aprender que o Estado tem certas obrigações com respeito a ela; e assim, aprender que tem certos direitos e deveres com o Estado. Com a sociedade em que vive.
A criança, o cuidado que se deve ter com a educação da criança, impõe um elo ligando a família e a escola. Como é que uma criança, numa família desestruturada, atirada à miséria, a um subemprego de exploração, vai aprender respeito e responsabilidade?
Uma escola boa não se compõe apenas de bons professores. Ela precisa de bons médicos, assistentes sociais, diretores, e etc. Ela precisa de diversão, e de esporte, e de merenda. Aulas de música, de futebol, de português, de matemática, de ciências, e de história. Leitura, cinema, sala de vídeo, biblioteca, e computador.
Por que não ter um modelo, integrado, de saúde pública e escola? Por que é que tantas crianças, que estão na escola, não têm acesso a um dentista? E a um clínico geral? Por que é que não se têm psicólogos, e assistentes sociais, para conversar com aquelas crianças que têm problemas, particulares ou familiares, para se tentar alguma ação?
Este problema é incontornável: é preciso haver, no Brasil, profissionais. Pessoas que tenham a dignidade de fazer um trabalho sério. Que tenham responsabilidade, que sejam honestas. Para isso, deve-se investir na formação de profissionais, na fiscalização de irregularidades.
Cada um precisa viver daquilo que pode declarar com honestidade. E como é que no Brasil (sim, em todos os povos, mas tanto no Brasil), exista tanta gente “da grande”, que têm mansões de cinco milhões de dólares, palácios de vinte e cinco, e carros de um milhão, sem que possam dizer de onde veio o dinheiro. Livres como passarinhos, tomando banho em banheira de ouro. Como é que ninguém questiona, como é que todo mundo fica quieto... à vista de todos, e ninguém investiga.
É um país que se acostumou com o impensável, com o extra-indigno. É um país em que a corrupção já se espalhou, para tantas almas, que se procurou um meio de conviver com ela. Isto quando não se é francamente cooptado, nos tantos que fazem parte da rede do negócio sujo, tantos que carregam os dinheiros em malas, maletas e cuecas...
E que exemplo de sociedade é este que mostramos para nossos netos e filhos? Pessoas tão imediatistas não pensam nisso. Para elas o seu dever para com seu filho é enriquecer a todo preço. O dinheiro vai lhe comprar de volta a alma, é a única coisa real... mas vemos os filhos que lutam pelo que ficou de herança, os filhos que torcem pela morte dos pais, os filhos que se suicidam, os filhos que dilapidam o que lhes veio tão “fácil”... e tudo que era tão “real” se esfumaça num átimo.
O que impele esta descrença no futuro, esta desesperança imediatista, que leva estes que poderiam fazer o seu tanto, a buscarem estes ganhos rápidos, estes ganhos de corrupção? Esta é uma boa questão, mas é preciso pensar outra coisa: o que é preciso fazer para mostrar nossa indignação? O que é preciso para que os corruptos vão para a cadeia, fiquem na cadeia? Que palhaçada é esta, de sair das cadeias para as câmaras de deputados, de senadores, de ministros, governadores, prefeitos? Justiça, que fica anos e anos, pra não chegar a conclusão alguma? Processos, que não se acabam, enquanto os “companheiros” continuam rindo e gastando, à grande?
Um dia acordaremos?
Democracia
Há tempos democracia vem como um valor máximo para os povos. Apesar das recaídas na tentação totalitária, ditaduras e doutrinas da imposição da força sobre o diálogo, apesar das censuras e sanções diversas, aplicadas a quem só queria exercer o direito de uma opinião diferente, de um ponto de vista, de uma contribuição com uma idéia própria, temos de reconhecer que o valor vem se impondo no pensamento de todos os povos.
O respeito à opinião diversa é a essência da democracia. O direito de cada opinião poder usar seu canal de expressão, pacífico, é a essência deste valor. Tolerância. Justiça. Este é o ideário.
A democracia não é qualquer espécie de desorganização. Ela é a organização da sociedade para conseguir estes fins, estabelecer e usufruir estes fins.
O exercício do poder, na sociedade democrática, pressupõe que ele não extravase em nenhum ponto. Deve haver transparência, deve haver fiscalização, por parte de toda a sociedade.
Democracia impõe responsabilidade. Uma sociedade consciente de seus direitos e de seus deveres. Respeito.
Democracia se complementa com solidariedade. A sociedade organizada para socorrer os que tenham necessidade. Uma sociedade organizada pelo trabalho que traz a prosperidade. Pela honestidade e pela segurança.
O trabalho é um ponto-chave da questão: ele precisa ser dividido, de um modo que não se converta em escravidão. As pessoas precisam de lazer, de diversão, de alimento, de teto, de chão. Não é possível que o trabalho honesto não traga dignidade, não traga prosperidade. A sociedade precisa educar seus filhos. Investir em boas escolas e bons professores. E esta educação tem de ser fornecida em igualdade, para o filho do empregado e para o filho do patrão. Deve-se respeitar a aptidão de cada um, e que desemboquem em trabalhos honestos, que garantam a existência.
Uma sociedade livre precisa de bons médicos, bons programas de saúde, bons policiais, bons juízes, bons engenheiros, bons bombeiros, bons construtores, políticos. Bons trabalhadores. Isto só se consegue com boa educação.
O respeito à opinião diversa é a essência da democracia. O direito de cada opinião poder usar seu canal de expressão, pacífico, é a essência deste valor. Tolerância. Justiça. Este é o ideário.
A democracia não é qualquer espécie de desorganização. Ela é a organização da sociedade para conseguir estes fins, estabelecer e usufruir estes fins.
O exercício do poder, na sociedade democrática, pressupõe que ele não extravase em nenhum ponto. Deve haver transparência, deve haver fiscalização, por parte de toda a sociedade.
Democracia impõe responsabilidade. Uma sociedade consciente de seus direitos e de seus deveres. Respeito.
Democracia se complementa com solidariedade. A sociedade organizada para socorrer os que tenham necessidade. Uma sociedade organizada pelo trabalho que traz a prosperidade. Pela honestidade e pela segurança.
O trabalho é um ponto-chave da questão: ele precisa ser dividido, de um modo que não se converta em escravidão. As pessoas precisam de lazer, de diversão, de alimento, de teto, de chão. Não é possível que o trabalho honesto não traga dignidade, não traga prosperidade. A sociedade precisa educar seus filhos. Investir em boas escolas e bons professores. E esta educação tem de ser fornecida em igualdade, para o filho do empregado e para o filho do patrão. Deve-se respeitar a aptidão de cada um, e que desemboquem em trabalhos honestos, que garantam a existência.
Uma sociedade livre precisa de bons médicos, bons programas de saúde, bons policiais, bons juízes, bons engenheiros, bons bombeiros, bons construtores, políticos. Bons trabalhadores. Isto só se consegue com boa educação.
Lay, lady, lay - Bob Dylan
Good times, Caledônia: http://www.youtube.com/watch?v=VfF0uHekcc8
Lay, Lady, Lay
Bob Dylan
Composição: Bob Dylan
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Whatever colors you have
in your mind
I'll show them to you
and you'll see them shine
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Stay, lady, stay,
stay with your man awhile
Until the break of day,
let me see you make him smile
His clothes are dirty but
his hands are clean
And you're the best thing that he's
ever seen
Stay, lady, stay,
stay with your man awhile
Why wait any longer for the world to begin
You can have your cake and eat it too
Why wait any longer for the one you love
When he's standing in front of you
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Stay, lady, stay,
stay while the night is still ahead
I long to see you in the morning light
I long to reach for you in the night
Stay, lady, stay,
stay while the night is still ahead
Deite, senhora, deite
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Quaisquer sejam as cores que estejam
Na sua cabeça
Eu vou mostrá-las pra você
E você as verá brilhar
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Fique, senhora, fique,
Fique com seu homem um tempo
Até o romper do dia
Deixe-me te ver fazê-lo sorrir
As roupas dele estão sujas mas
Suas mãos estão limpas
E você é a melhor coisa
Que ele jamais viu
Fique, senhora, fique,
Fique com seu homem um tempo
Por que esperar mais para que o mundo inicie?
Você pode ter o seu bolo e comê-lo também
Por que esperar mais por aquele que você ama?
Quando ele está parado em pé na sua frente
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Fique, senhora, fique
Fique enquanto a noite ainda está à frente
Eu anseio por te ver
Na luz da manhã
Eu anseio por te alcançar
Durante a noite
Fique, senhora, fique,
Fique enquanto a noite ainda está à frente
No clima, também, Bob Dylan, I want you http://www.youtube.com/watch?v=PhOc0V-ES40
Lay, Lady, Lay
Bob Dylan
Composição: Bob Dylan
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Whatever colors you have
in your mind
I'll show them to you
and you'll see them shine
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Stay, lady, stay,
stay with your man awhile
Until the break of day,
let me see you make him smile
His clothes are dirty but
his hands are clean
And you're the best thing that he's
ever seen
Stay, lady, stay,
stay with your man awhile
Why wait any longer for the world to begin
You can have your cake and eat it too
Why wait any longer for the one you love
When he's standing in front of you
Lay, lady, lay,
lay across my big brass bed
Stay, lady, stay,
stay while the night is still ahead
I long to see you in the morning light
I long to reach for you in the night
Stay, lady, stay,
stay while the night is still ahead
Deite, senhora, deite
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Quaisquer sejam as cores que estejam
Na sua cabeça
Eu vou mostrá-las pra você
E você as verá brilhar
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Fique, senhora, fique,
Fique com seu homem um tempo
Até o romper do dia
Deixe-me te ver fazê-lo sorrir
As roupas dele estão sujas mas
Suas mãos estão limpas
E você é a melhor coisa
Que ele jamais viu
Fique, senhora, fique,
Fique com seu homem um tempo
Por que esperar mais para que o mundo inicie?
Você pode ter o seu bolo e comê-lo também
Por que esperar mais por aquele que você ama?
Quando ele está parado em pé na sua frente
Deite, senhora, deite,
Deite na minha grande cama de bronze
Fique, senhora, fique
Fique enquanto a noite ainda está à frente
Eu anseio por te ver
Na luz da manhã
Eu anseio por te alcançar
Durante a noite
Fique, senhora, fique,
Fique enquanto a noite ainda está à frente
No clima, também, Bob Dylan, I want you http://www.youtube.com/watch?v=PhOc0V-ES40
domingo, 14 de junho de 2009
Educação
Na Veja de 10.06.2009, uma ótima entrevista com o economista James Heckman (leia na íntegra em http://arquivoetc.blogspot.com/2009/06/veja-entrevista-james-heckman.html), sobre a necessidade de se investir na educação de crianças nos primeiros anos de vida. Segundo o entrevistado “A razão é econômica. A educação é crucial para o avanço de um país – e, quanto antes chegar às pessoas, maior será o seu efeito e mais barato ela custará.”
Além da razão econômica, a ausência dos incentivos corretos na primeira infância está associada a uma série de índices ruins. “Entre eles, evasão escolar, gravidez na adolescência, criminalidade e até os índices de tabagismo (...) A criminalidade, por exemplo, pode ser reduzida, basicamente, de duas maneiras: investindo cedo em educação ou reforçando o policiamento nas ruas. Calculo que a opção pelo ensino custe algo como um décimo do gasto com segurança”. Por aí se vê como a educação afeta toda a vida de uma nação, e a importância de fazer os investimentos corretos, ou seja, aqueles que trarão o melhor retorno.
Para isso, os governantes deveriam, em primeiro lugar “tomar suas decisões com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos, como é mais comum”. A ciência, ou, o debate sobre bases objetivas, como diz Heckman, indica que se deve investir mais na pré-escola, em programas sociais que tenham foco nas famílias, “de modo que elas consigam fornecer os incentivos certos num momento-chave”. Tudo isso sem subestimar a importância das escolas propriamente ditas, que “têm um papel fundamental, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades cognitivas”, ou as universidades, indispensáveis para qualquer país “formar cérebros e se tornar produtivo”.
Estou assinando embaixo de toda a entrevista. (Talvez por isso tenha gostado tanto dela – é um prazer quando somos confirmados em nossas idéias). Inclusive quando o sr. Heckman puxa a orelha de Steven Levitt, seu colega na Universidade de Chicago, autor de Freaknomics: “Uma das maiores bobagens de Levitt é justamente partir do pressuposto de que, se uma criança nasce em desvantagem, numa família que não lhe fornece nenhuma espécie de incentivo, não há nada a ser feito em relação a isso. Eu estou convicto do contrário. Só que é preciso começar cedo.”
De fato, estas idéias de Levitt parecem servir bem a um certo tipo de ultra-liberal, tão utópico e pernicioso quanto sua cara-metade, o comunista. Este ultra-liberal de que falo não quer saber de Estado para fornecer hospital, escola, assistência, nada, para quem quer que seja. Está pobre, doente, morrendo, porque não tem um remédio? Aguenta aí, que no futuro estaremos no melhor dos mundos, com tudo de bom para todos...
Eu já prefiro reconhecer que os investimentos em educação, em saúde, em segurança, dentre outros, eficientes, bem focados, tornam uma nação mais próspera, melhor de se viver, de se criar os filhos, e são portanto indispensáveis. Havendo recursos privados bem, não havendo, que sejam públicos, bem aplicados, “em bases objetivas”, com mecanismos para os tornar transparentes, bem fiscalizados, por toda a população. Sem que para isso seja necessário, tampouco, abolir a propriedade privada, construir uma sociedade sem classes, ou outras sandices do gênero: gastar esforço tentando reinventar a roda. Gerador, não de melhorias na qualidade de vida, mas de tiranias sufocantes, corrupção, ódio e perseguição generalizados.
Bem. Definido o objetivo, como fazer para alcançá-lo? Como fazer para que a razão, a ciência, o debate em bases objetivas, sejam o critério para definir os investimentos na educação? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Resposta, ou melhor, humilde opinião, singelo parecer, tentativa de contribuição para o tema, a seguir em novos artigos.
Além da razão econômica, a ausência dos incentivos corretos na primeira infância está associada a uma série de índices ruins. “Entre eles, evasão escolar, gravidez na adolescência, criminalidade e até os índices de tabagismo (...) A criminalidade, por exemplo, pode ser reduzida, basicamente, de duas maneiras: investindo cedo em educação ou reforçando o policiamento nas ruas. Calculo que a opção pelo ensino custe algo como um décimo do gasto com segurança”. Por aí se vê como a educação afeta toda a vida de uma nação, e a importância de fazer os investimentos corretos, ou seja, aqueles que trarão o melhor retorno.
Para isso, os governantes deveriam, em primeiro lugar “tomar suas decisões com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos, como é mais comum”. A ciência, ou, o debate sobre bases objetivas, como diz Heckman, indica que se deve investir mais na pré-escola, em programas sociais que tenham foco nas famílias, “de modo que elas consigam fornecer os incentivos certos num momento-chave”. Tudo isso sem subestimar a importância das escolas propriamente ditas, que “têm um papel fundamental, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades cognitivas”, ou as universidades, indispensáveis para qualquer país “formar cérebros e se tornar produtivo”.
Estou assinando embaixo de toda a entrevista. (Talvez por isso tenha gostado tanto dela – é um prazer quando somos confirmados em nossas idéias). Inclusive quando o sr. Heckman puxa a orelha de Steven Levitt, seu colega na Universidade de Chicago, autor de Freaknomics: “Uma das maiores bobagens de Levitt é justamente partir do pressuposto de que, se uma criança nasce em desvantagem, numa família que não lhe fornece nenhuma espécie de incentivo, não há nada a ser feito em relação a isso. Eu estou convicto do contrário. Só que é preciso começar cedo.”
De fato, estas idéias de Levitt parecem servir bem a um certo tipo de ultra-liberal, tão utópico e pernicioso quanto sua cara-metade, o comunista. Este ultra-liberal de que falo não quer saber de Estado para fornecer hospital, escola, assistência, nada, para quem quer que seja. Está pobre, doente, morrendo, porque não tem um remédio? Aguenta aí, que no futuro estaremos no melhor dos mundos, com tudo de bom para todos...
Eu já prefiro reconhecer que os investimentos em educação, em saúde, em segurança, dentre outros, eficientes, bem focados, tornam uma nação mais próspera, melhor de se viver, de se criar os filhos, e são portanto indispensáveis. Havendo recursos privados bem, não havendo, que sejam públicos, bem aplicados, “em bases objetivas”, com mecanismos para os tornar transparentes, bem fiscalizados, por toda a população. Sem que para isso seja necessário, tampouco, abolir a propriedade privada, construir uma sociedade sem classes, ou outras sandices do gênero: gastar esforço tentando reinventar a roda. Gerador, não de melhorias na qualidade de vida, mas de tiranias sufocantes, corrupção, ódio e perseguição generalizados.
Bem. Definido o objetivo, como fazer para alcançá-lo? Como fazer para que a razão, a ciência, o debate em bases objetivas, sejam o critério para definir os investimentos na educação? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Resposta, ou melhor, humilde opinião, singelo parecer, tentativa de contribuição para o tema, a seguir em novos artigos.
Opinião pública e poder
Parece que foi combinado: deputado federal Sergio Moraes (PTB-RS) e presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. O primeiro disse que (SIC) os jornalistas querem é enrabar eles (os políticos), e que está se lixando pra opinião pública. “Vocês batem, batem, e a gente se reelege”. Como dizem, o estilo é o homem.
Não que ele fale sem conhecimento de causa. Ele já vai pelo seu sétimo mandato público (dois mandatos de vereador, dois de deputado estadual, dois de prefeito, e este agora de deputado federal), apesar de colecionar acusações variadas, inclusive a de manter um prostíbulo com sua esposa, que aliás é prefeita de Santa Cruz do Sul (RS). Seu filho também é vereador. Conheça mais da figura em http://veja.abril.com.br/250608/p_064.shtml
Por outro lado, Gilmar. Segundo o ilustre magistrado, o juiz não pode “ouvir o sujeito da esquina”, para decidir. Podemos, angelicais sem maldade, pensar que esta declaração quer dizer que o juiz deve se manter imparcial, julgar os fatos e as provas objetivamente, e com honestidade, decidindo de acordo com as todas as forças que sua capacidade humana de entendimento possuírem, e com a consciência limpa. E com coragem, aí sim, ainda que precise afrontar qualquer pressão, seja de poderosos, seja da opinião pública. Qualquer coisa para não cometer o que seria, a seus olhos, após uma análise isenta do processo, uma injustiça.
Só que tem uma interpretação diabólica e maldosa pras palavras do presidente do Supremo, que eu infelizmente considero mais adequada. Por causa da pessoa que falou, por causa do desprezo contido na expressão “o sujeito da esquina”, por causa da consonância com a manifestação do deputado, por causa do momento de crise que o país atravessa, em que nobres representantes do Executivo, do Legislativo, e do Judiciário, externam uma indiferença olímpica pelos súditos bocós que lhes pagam os salários.
Segundo esta interpretação maldosa, Gilmar Mendes estaria defendendo que o “juridiquês” é algo muito elevado para a compreensão dos meros mortais. Estes deveriam calar as boquinhas quando o iluminado JUIZ decidisse um caso, ainda que a injustiça lhes parecesse flagrante, mas quem são eles para opinar? Não entendem as tecnicalidades que só ao juiz se revelam. Não são uns especialistas do DIREITO.
Esta conversa serve bem para interditar o exercício do poder pelo povo, isto é, a liberdade política, a democracia. Serve bem para uma sociedade fundada sob o signo da desigualdade. Hierarquia vertical, de que fala Octavio Paz, no ótimo Tempo Nublado: vice-reinados e capitanias gerais que ordenavam a sociedade “conforme a ordem descendente das classes e grupos sociais: senhores, gente do povo, índios e escravos.”
Os senhores sentiam-se e sentem-se desobrigados de prestar contas ao “sujeito da esquina”. São eles, e somos nós. Uma regra pra cada um. Aos amigos, tudo, aos inimigos, o peso da lei. Não temos a mesma origem, não temos o mesmo destino: não somos iguais, perante a lei de nossa livre escolha. São os senhores que fazem a lei, para aplicá-la no povo. Eles próprios estão acima das normas, encastelados nos privilégios, nas amizades dos comparsas com quem dividem o poder, nas interpretações camaradas, nas brechas legais, na infinidade de recursos, nas falhas e corrupções das instituições e dos sistemas...
Polícias que não investigam os roubos dos milhões e milhões, servem pra fazer a segurança dos ilustres, e pra baixar a porrada nos miseráveis e vagabundos que sujam a paisagem. Pelo menos tirá-los da vista. Juízes, fiscais e ministérios públicos, atolados no processamento das infinidades de miudezas, leis que arrancam ou concedem direitos, aos milhares: milhões berrando pro Judiciário: “queremos o nosso!!!” Muito volume, pouco trabalho: modelos que se repetem em milhões de processos, concursos públicos para milhares de servidores, milhares de estagiários...
E, depois, tem os dois meses de férias... tem o recesso, e os feriados, e os enforcados, e tem as semanas tqq (terça, quarta e quinta), e as semanas tq, e já ouvi falar em semanas t. Os desvios dos milhões, os grandes contratos, as ONGS fraudulentas, as dispensas de licitação, tudo isso é sempre da responsabilidade de algum outro. Geralmente, um Tribunal lá pra cima, uma gaveta escondida num armário trancado, com dois milhões de processos por cima... aparecem no jornal, e depois somem. Os envolvidos são transferidos de cargo, e ganham outro posto... não diminuem o salário, mas dão menos na vista... por algum tempo, só pra esquecer...
Símbolo exato: o roceiro que foi preso porque cortou uma casca de árvore pra fazer um chá. Crime ambiental, horror dos horrores, inafiançável, e o sujeito mofou na cadeia um bom tempo... enquanto isso, madeireiras asiáticas fazem contratos maravilhosos com governantes na Amazônia, toneladas de madeira saindo ao preço de quilos de banana... sem preocupação com plantio, reflorestamento, fala sério, a conversa é para adultos... pois é... e assim segue o bonde.
P.S. Depois que comecei a escrever este artigo (meus artigos servem minhas disponibilidades de tempo e inspiração), tivemos outro exemplo da série “Cago e ando pra opinião pública”; desta vez, para fechar a trinca do Poder, fornecido pelo Executivo: nosso ilustre ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao Globo, de 31.05.2009, quando indagado sobre as críticas que o governo vem recebendo na condução da política externa, nos informa que “política internacional é jogo de gente grande”. Está certo que ele coloca as coisas em termos de um problema dos brasileiros, “em geral”, e se inclui, ao dizer, depois, que “Estamos acostumados a pensar pequeno, no interesse do fulaninho, do primo do sicrano, se ele vai ser ou não candidato.” (isto parece uma confissão enrustida das muitas embaixadas dadas de presente para políticos que perderam mandatos, prêmios de consolação para companheiros cuja qualificação para representar o Brasil no exterior é nenhuma).
Mas, cara-pálida, quem é que toma as decisões de política internacional, não é o próprio ministro das Relações Exteriores? Ah, então, ele é a “gente grande”, que pode decidir, em oposição às criancinhas, que somos nós, gu-gu-dá-dá, vamos torcer pra ganhar uma mamadeira, e que não esqueçam de trocar as nossas fraldas...
“No jogo de gente grande, temos que tomar decisões de política global (...)”, continua Amorim, com indisfarçado orgulho. “Tenho lombo grosso. Vivi isso quando era presidente da Embrafilme”. E estamos conversados. O Governo convida o presidente do Irã, que nega o holocausto, para nos visitar, apoia a candidatura de um egípcio anti-semita para a Presidência da UNESCO, quando dispunha de um bom candidato brasileiro, nomeia um embaixador para a Coreia do Norte, do louco atômico Kim-Jong il, apoia a tirania de Chavez, a tirania de Cuba, e se ouvir críticas à condução de sua política externa, responde: “a opinião pública não entende, mas política internacional é um jogo de gente grande...”. Amorim, com sua longa experiência, já foi presidente da Embrafilme, conhece o jogo de gente grande que é jogado no país: melhor puxar o saco do chefinho, do “nosso líder” (é como Amorim se refere ao presidente da república), que prestar contas à opinião pública, debater, explicar os motivos, corrigir, responder... “Povo” é abstração, que se invoca no palanque; de concreto, mesmo, é o “nosso líder”, o homem da caneta que exonera e nomeia...
Tentando não ser freudiano demais, todos estes atos falhos de nossos ilustres representantes do Poder Público traem esta cultura comum de nossa sociedade dividida em senhores e resto. Quem chega lá, porque fez uma provinha de concurso público, porque ganhou uma indicação de um parente ou de um amigo, ou porque fez um curralzinho eleitoral, vai repetir os mesmos comportamentos de todos. Chegar lá, não significa atingir um entendimento (consciência), e uma prática que provoquem uma mudança real de paradigma: da mentalidade que dispõe do recurso público como se fosse privado (patrimonialismo – mais claramente: fazer na vida pública o que se faz na privada), para o sistema de real igualdade perante a lei, livremente escolhida. Já falei sobre isso, não vou me estender de novo sobre o ponto.
Para terminar: será o fundo do poço? É certo que a situação parece bem terrível, para os que estão conscientes, mas a vida segue, nos nossos filhos e nos filhos de nossos filhos, e a vida carrega consigo a esperança. Atingir o fundo do poço é doloroso, mas a dor faz despertar o desejo de mudança. Afinal, sempre fomos uma sociedade escravocrata, não ia ser de um dia para o outro, num passe de mágica, escrevendo uma lei num papel, que iríamos nos transformar num Reino de Liberdade e Esplendor. Ia precisar tempo, ia precisar dor, consciência, trabalho... nada disso pode alquebrar o espírito humano, tudo isso é estímulo para o espírito forte. O que seria de Hércules se não fossem os doze trabalhos?
Chegamos ao fundo do poço? É porque paramos de cair. Podemos nos reerguer, dar conta da situação, planejar a escalada para o topo. Não que não haja perigos e retrocessos. Temos a imprensa livre, vamos mantê-la (embora não seja perfeitamente livre, concedo, mas vamos brigar para manter a liberdade que tem, vamos brigar para ampliá-la. Perfeição é ocioso discutir, porque é impossível de alcançar. E que bom que é assim, que monotonia seria, se não tivéssemos nada por que lutar). Vamos lutar e cobrar para que os casos de corrupção sejam punidos, para que as instituições funcionem, para que tenhamos mais educação, mais saúde, mais segurança. Vamos estar atentos e lutar para que não nos roubem de novo (mais ainda), a democracia, o estado de direito, a Justiça...
O.k., paro por aqui. E esclareço que sei que existem o policial bom e honesto, o juiz bom e honesto, e o advogado, e o jornalista, e o ministro, e o político, iguaizinhos, em todas as profissões e aglomerações humanas. Minha crítica não é para A ou para B, mas para instituições, e sistemas, e mentalidade, e cultura. Quando parece que falo de todos os policiais, ou de todos os juízes, é efeito da retórica, para dar mais força a algum ponto.
Não que ele fale sem conhecimento de causa. Ele já vai pelo seu sétimo mandato público (dois mandatos de vereador, dois de deputado estadual, dois de prefeito, e este agora de deputado federal), apesar de colecionar acusações variadas, inclusive a de manter um prostíbulo com sua esposa, que aliás é prefeita de Santa Cruz do Sul (RS). Seu filho também é vereador. Conheça mais da figura em http://veja.abril.com.br/250608/p_064.shtml
Por outro lado, Gilmar. Segundo o ilustre magistrado, o juiz não pode “ouvir o sujeito da esquina”, para decidir. Podemos, angelicais sem maldade, pensar que esta declaração quer dizer que o juiz deve se manter imparcial, julgar os fatos e as provas objetivamente, e com honestidade, decidindo de acordo com as todas as forças que sua capacidade humana de entendimento possuírem, e com a consciência limpa. E com coragem, aí sim, ainda que precise afrontar qualquer pressão, seja de poderosos, seja da opinião pública. Qualquer coisa para não cometer o que seria, a seus olhos, após uma análise isenta do processo, uma injustiça.
Só que tem uma interpretação diabólica e maldosa pras palavras do presidente do Supremo, que eu infelizmente considero mais adequada. Por causa da pessoa que falou, por causa do desprezo contido na expressão “o sujeito da esquina”, por causa da consonância com a manifestação do deputado, por causa do momento de crise que o país atravessa, em que nobres representantes do Executivo, do Legislativo, e do Judiciário, externam uma indiferença olímpica pelos súditos bocós que lhes pagam os salários.
Segundo esta interpretação maldosa, Gilmar Mendes estaria defendendo que o “juridiquês” é algo muito elevado para a compreensão dos meros mortais. Estes deveriam calar as boquinhas quando o iluminado JUIZ decidisse um caso, ainda que a injustiça lhes parecesse flagrante, mas quem são eles para opinar? Não entendem as tecnicalidades que só ao juiz se revelam. Não são uns especialistas do DIREITO.
Esta conversa serve bem para interditar o exercício do poder pelo povo, isto é, a liberdade política, a democracia. Serve bem para uma sociedade fundada sob o signo da desigualdade. Hierarquia vertical, de que fala Octavio Paz, no ótimo Tempo Nublado: vice-reinados e capitanias gerais que ordenavam a sociedade “conforme a ordem descendente das classes e grupos sociais: senhores, gente do povo, índios e escravos.”
Os senhores sentiam-se e sentem-se desobrigados de prestar contas ao “sujeito da esquina”. São eles, e somos nós. Uma regra pra cada um. Aos amigos, tudo, aos inimigos, o peso da lei. Não temos a mesma origem, não temos o mesmo destino: não somos iguais, perante a lei de nossa livre escolha. São os senhores que fazem a lei, para aplicá-la no povo. Eles próprios estão acima das normas, encastelados nos privilégios, nas amizades dos comparsas com quem dividem o poder, nas interpretações camaradas, nas brechas legais, na infinidade de recursos, nas falhas e corrupções das instituições e dos sistemas...
Polícias que não investigam os roubos dos milhões e milhões, servem pra fazer a segurança dos ilustres, e pra baixar a porrada nos miseráveis e vagabundos que sujam a paisagem. Pelo menos tirá-los da vista. Juízes, fiscais e ministérios públicos, atolados no processamento das infinidades de miudezas, leis que arrancam ou concedem direitos, aos milhares: milhões berrando pro Judiciário: “queremos o nosso!!!” Muito volume, pouco trabalho: modelos que se repetem em milhões de processos, concursos públicos para milhares de servidores, milhares de estagiários...
E, depois, tem os dois meses de férias... tem o recesso, e os feriados, e os enforcados, e tem as semanas tqq (terça, quarta e quinta), e as semanas tq, e já ouvi falar em semanas t. Os desvios dos milhões, os grandes contratos, as ONGS fraudulentas, as dispensas de licitação, tudo isso é sempre da responsabilidade de algum outro. Geralmente, um Tribunal lá pra cima, uma gaveta escondida num armário trancado, com dois milhões de processos por cima... aparecem no jornal, e depois somem. Os envolvidos são transferidos de cargo, e ganham outro posto... não diminuem o salário, mas dão menos na vista... por algum tempo, só pra esquecer...
Símbolo exato: o roceiro que foi preso porque cortou uma casca de árvore pra fazer um chá. Crime ambiental, horror dos horrores, inafiançável, e o sujeito mofou na cadeia um bom tempo... enquanto isso, madeireiras asiáticas fazem contratos maravilhosos com governantes na Amazônia, toneladas de madeira saindo ao preço de quilos de banana... sem preocupação com plantio, reflorestamento, fala sério, a conversa é para adultos... pois é... e assim segue o bonde.
P.S. Depois que comecei a escrever este artigo (meus artigos servem minhas disponibilidades de tempo e inspiração), tivemos outro exemplo da série “Cago e ando pra opinião pública”; desta vez, para fechar a trinca do Poder, fornecido pelo Executivo: nosso ilustre ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao Globo, de 31.05.2009, quando indagado sobre as críticas que o governo vem recebendo na condução da política externa, nos informa que “política internacional é jogo de gente grande”. Está certo que ele coloca as coisas em termos de um problema dos brasileiros, “em geral”, e se inclui, ao dizer, depois, que “Estamos acostumados a pensar pequeno, no interesse do fulaninho, do primo do sicrano, se ele vai ser ou não candidato.” (isto parece uma confissão enrustida das muitas embaixadas dadas de presente para políticos que perderam mandatos, prêmios de consolação para companheiros cuja qualificação para representar o Brasil no exterior é nenhuma).
Mas, cara-pálida, quem é que toma as decisões de política internacional, não é o próprio ministro das Relações Exteriores? Ah, então, ele é a “gente grande”, que pode decidir, em oposição às criancinhas, que somos nós, gu-gu-dá-dá, vamos torcer pra ganhar uma mamadeira, e que não esqueçam de trocar as nossas fraldas...
“No jogo de gente grande, temos que tomar decisões de política global (...)”, continua Amorim, com indisfarçado orgulho. “Tenho lombo grosso. Vivi isso quando era presidente da Embrafilme”. E estamos conversados. O Governo convida o presidente do Irã, que nega o holocausto, para nos visitar, apoia a candidatura de um egípcio anti-semita para a Presidência da UNESCO, quando dispunha de um bom candidato brasileiro, nomeia um embaixador para a Coreia do Norte, do louco atômico Kim-Jong il, apoia a tirania de Chavez, a tirania de Cuba, e se ouvir críticas à condução de sua política externa, responde: “a opinião pública não entende, mas política internacional é um jogo de gente grande...”. Amorim, com sua longa experiência, já foi presidente da Embrafilme, conhece o jogo de gente grande que é jogado no país: melhor puxar o saco do chefinho, do “nosso líder” (é como Amorim se refere ao presidente da república), que prestar contas à opinião pública, debater, explicar os motivos, corrigir, responder... “Povo” é abstração, que se invoca no palanque; de concreto, mesmo, é o “nosso líder”, o homem da caneta que exonera e nomeia...
Tentando não ser freudiano demais, todos estes atos falhos de nossos ilustres representantes do Poder Público traem esta cultura comum de nossa sociedade dividida em senhores e resto. Quem chega lá, porque fez uma provinha de concurso público, porque ganhou uma indicação de um parente ou de um amigo, ou porque fez um curralzinho eleitoral, vai repetir os mesmos comportamentos de todos. Chegar lá, não significa atingir um entendimento (consciência), e uma prática que provoquem uma mudança real de paradigma: da mentalidade que dispõe do recurso público como se fosse privado (patrimonialismo – mais claramente: fazer na vida pública o que se faz na privada), para o sistema de real igualdade perante a lei, livremente escolhida. Já falei sobre isso, não vou me estender de novo sobre o ponto.
Para terminar: será o fundo do poço? É certo que a situação parece bem terrível, para os que estão conscientes, mas a vida segue, nos nossos filhos e nos filhos de nossos filhos, e a vida carrega consigo a esperança. Atingir o fundo do poço é doloroso, mas a dor faz despertar o desejo de mudança. Afinal, sempre fomos uma sociedade escravocrata, não ia ser de um dia para o outro, num passe de mágica, escrevendo uma lei num papel, que iríamos nos transformar num Reino de Liberdade e Esplendor. Ia precisar tempo, ia precisar dor, consciência, trabalho... nada disso pode alquebrar o espírito humano, tudo isso é estímulo para o espírito forte. O que seria de Hércules se não fossem os doze trabalhos?
Chegamos ao fundo do poço? É porque paramos de cair. Podemos nos reerguer, dar conta da situação, planejar a escalada para o topo. Não que não haja perigos e retrocessos. Temos a imprensa livre, vamos mantê-la (embora não seja perfeitamente livre, concedo, mas vamos brigar para manter a liberdade que tem, vamos brigar para ampliá-la. Perfeição é ocioso discutir, porque é impossível de alcançar. E que bom que é assim, que monotonia seria, se não tivéssemos nada por que lutar). Vamos lutar e cobrar para que os casos de corrupção sejam punidos, para que as instituições funcionem, para que tenhamos mais educação, mais saúde, mais segurança. Vamos estar atentos e lutar para que não nos roubem de novo (mais ainda), a democracia, o estado de direito, a Justiça...
O.k., paro por aqui. E esclareço que sei que existem o policial bom e honesto, o juiz bom e honesto, e o advogado, e o jornalista, e o ministro, e o político, iguaizinhos, em todas as profissões e aglomerações humanas. Minha crítica não é para A ou para B, mas para instituições, e sistemas, e mentalidade, e cultura. Quando parece que falo de todos os policiais, ou de todos os juízes, é efeito da retórica, para dar mais força a algum ponto.
Alguma coisa de podre no reino do futebol
Tem alguma coisa de podre, no reino do futebol. O esporte, que é a alegria e a saúde de milhões e milhões de brasileiros, acha-se roído pela nossa velha praga nacional, a corrupção.
Pois o que é que justifica, neste negócio que gira milhões, que clubes vivam atolados em dívidas, e as leis permitam a tantos espertalhões, dirigentes, advogados, cartolas, que lucrem sempre milhões, construam mansões e piscinas, enquanto tanto investimento que poderia reverter em benefício direto do país, em construção de estádios, e centros de treinamento, e alojamentos, e escolinhas para crianças, e professores, e uniformes, e médicos, e massagistas, e nutricionistas, tudo isto não seja realizado, ou não seja realizado na proporção em que poderia.
No negócio dos milhões do futebol, por que é que o dinheiro tem de ficar concentrado nas mãos de uns poucos, “bem instalados” neste sistema, e não pára no clube, para pagar os tributos devidos, e ainda servir para expandir os serviços que são da natureza do clube: instalações, quadras, piscinas, serviços, pessoal, associados... uma enorme área que se abre para a economia, para o emprego, e que tem implicações culturais, educativas. Uma mina de ouro e de diamantes, gerada espontaneamente pelo interesse de, literalmente, bilhões de pessoas no mundo. À espera de que venha a ser trabalhada, particularmente no nosso país, com muito maiores honestidade, racionalidade, transparência, e que possa servir muito melhor a todo o nosso povo.
Leis irracionais, leis para beneficiar alguns poucos, que imenso custo que têm!
Pois o que é que justifica, neste negócio que gira milhões, que clubes vivam atolados em dívidas, e as leis permitam a tantos espertalhões, dirigentes, advogados, cartolas, que lucrem sempre milhões, construam mansões e piscinas, enquanto tanto investimento que poderia reverter em benefício direto do país, em construção de estádios, e centros de treinamento, e alojamentos, e escolinhas para crianças, e professores, e uniformes, e médicos, e massagistas, e nutricionistas, tudo isto não seja realizado, ou não seja realizado na proporção em que poderia.
No negócio dos milhões do futebol, por que é que o dinheiro tem de ficar concentrado nas mãos de uns poucos, “bem instalados” neste sistema, e não pára no clube, para pagar os tributos devidos, e ainda servir para expandir os serviços que são da natureza do clube: instalações, quadras, piscinas, serviços, pessoal, associados... uma enorme área que se abre para a economia, para o emprego, e que tem implicações culturais, educativas. Uma mina de ouro e de diamantes, gerada espontaneamente pelo interesse de, literalmente, bilhões de pessoas no mundo. À espera de que venha a ser trabalhada, particularmente no nosso país, com muito maiores honestidade, racionalidade, transparência, e que possa servir muito melhor a todo o nosso povo.
Leis irracionais, leis para beneficiar alguns poucos, que imenso custo que têm!
terça-feira, 2 de junho de 2009
Por pouco (por quanto tempo?)
POR POUCO (POR QUANTO TEMPO?)
Todos dizem que não querem, todos juram de pés juntos, mas nessa última quinta-feira, 28.05.2009, estivemos perto, muito perto, de ver iniciados os trâmites para votação da proposta de emenda constitucional que permite a prefeitos, governadores, e, é claro, ao nosso presidente, disputar o terceiro mandato.
Das 171 assinaturas necessárias (número cabalístico: ia ser mesmo um tremendo 171), os governistas conseguiram 170. Chegaram a ter 194 nomes, dos quais 183 foram confirmados. O prazo para retirada das assinaturas ia até meia-noite. A oposição, então, (PSDB e DEM - pobre do país que precisa de heróis. E o que dizer do país em que são heróis PSDB e DEM?) conseguiu retirar 13 assinaturas até as 23h. 44 do segundo tempo... e por uma só, umazinha assinatura, não se conseguiu publicar a proposta de emenda.
Não que esteja tudo definido. Agora, a proposta retorna ao autor, Jackson Barreto (PMDB – SE), para tentar colher novas assinaturas. Com todo o poder de sedução de que dispõe o Governo, com tantas diretorias e cargos, não vai ser difícil conquistar mais um adepto para a tese do terceiro mandato, e fazer publicar a proposta...
E aí, então, deixa o povo ir se acostumando com a idéia... continuem negando que irão brigar pela aprovação da emenda... vão trabalhando na surdina, preparando o terreno... e só como um plano B, para o caso da candidatura Dilma ir mal das pernas.
Nesse caso, entra a tropa de choque, e joga pesado para garantir o terceiro mandato.
E a democracia?
Não seja ingênuo, infeliz. Alguém pensa em democracia? O nome do jogo é permanecer no poder. Garantir cargos, garantir vantagens, foros privilegiados, passagens aéreas e rapapés... de mais a mais, pode-se empurrar pro povo que se está respeitando a democracia, no momento mesmo em que se a estupra... o “nosso líder” não tem os "tubos" de aprovação popular? 69% de avaliação boa ou ótima, segundo a última pesquisa, navegando tranquilo nas águas do assistencialismo demagógico. Melhor que isso, só Hitler, que no plebiscito de agosto de 1934, recebeu 43 milhões de votos, 88% do eleitorado. E então? É a voz do povo, a voz de Deus, como repetem os confusos, e os que querem confundir.
Democracia, porém, não é simplesmente apurar a maioria. Ela é um conjunto de normas, dentre as quais, essencial, insere-se a alternância pacífica do poder.
Também o “nosso líder” confundirá, dizendo que a primeira ministra Margaret Thatcher e o chanceler Helmut Kohl permaneceram longos períodos no poder, “esquecendo” que o chefe de governo, num regime parlamentarista, não exerce mandato determinado, podendo ser destituído pelo Parlamento a qualquer momento, dentro da normalidade do regime.
Mas governar incultos, escravos, é essa maravilha: mente-se, engana-se, debocha-se, e o povo pede por mais. E é isto que se vende como democracia, “governo do povo, pelo povo, e para o povo”, nas palavras imortais de Abraham Lincoln. Que piada! E Lincoln deve estar se revirando na tumba...
Quando Hitler, apoiado por esmagadora maioria, em setembro de 1935 fez aprovar leis anti-judaicas, que retiravam a cidadania alemã aos judeus, lhes proibia o casamento com não-judeus, dentre outros mimos, foi respeitada a democracia? Foi garantido o poder do povo?
Mas é claro que não. O povo não é a maioria dos eleitores, ou mesmo a maioria da população. O povo é toda a população, todos os que vivem num território, e trabalham, compram, vendem, e negociam, e se apaixonam, e conversam, e interagem...
Se o povo é toda a população, quando se restringe o direito de algum grupo, quando se faz leis de exceção para um grupo, está-se diminuindo o poder do povo. O povo, isto é, todo ele, cada indivíduo, tem o direito de ser tratado de maneira igual. As leis valem para todos, este é o princípio da igualdade jurídica. Este é o poder do povo. Não pode ter diminuído seu direito, ou ser discriminado, por conta de “raça”, cor da pele, credo religioso, opinião política, sexo, idade, renda, ou qualquer outro critério diferenciador.
Daí que democracia precisa garantir direitos individuais. Ou não é democracia, não importa que 99% dos entrevistados queiram colocar uma corrente no pescoço, ou queiram colocar a corrente no pescoço do próximo, alguma minoria (no fundo, é a mesma coisa, dois lados da mesma moeda).
Notem bem: não estou dizendo que não pode ocorrer de fato uma opressão, se 99% decidirem praticá-la. Não estou delirante assim. O que estou dizendo é que em tal situação nunca se poderá dizer, com propriedade, que existe uma democracia.
É como dizia algum filósofo antigo: o roubo, ainda que viesse a ser previsto na legislação de algum povo, nunca perderia seu caráter injusto. Seria, como colocam alguns, a questão da legalidade e da legitimidade. O legal seria o formal, podendo ser ou não legítimo. Mas o legítimo seria apenas aquilo que reflete o respeito àquelas liberdades humanas, os direitos fundamentais do indivíduo.
Terceiro mandato (e amanhã um quarto? E depois de amanhã um quinto?...) restringe a liberdade política, restringindo a possibilidade de alternância no poder. Abre a porta para, amanhã, deixar entrar mais fácil uma completa ditadura. Mais uma na nossa História...
Vendo o povo diminuída a sua liberdade política, o seu poder, vai poder dizer que defende e garante a sua democracia, o regime do poder para o povo? Que paradoxo, que contra-senso...
Arrancam os direitos de quem mal se dá conta disso, de quem vive anestesiado, indefeso, impotente...
Como está acontecendo com nossos vizinhos, nas nossas barbas: Hugo Chávez, o palhaço sinistro, é um buraco negro no coração da Venezuela, sugando outros povos da América Latina pra dentro do seu vácuo: Equador, Bolívia, Nicarágua, Argentina, a todos ele procura influenciar, com todos ele interfere, inaugurando mais um capítulo triste na sofrida História dos povos nossos irmãos, que tanto já penou com caudilhos, quarteladas, revoluções “populares”, perseguições, torturas, departamentos de propaganda, desaparecidos... nada muito distante de nós mesmos, por sinal...
E Lulinha elogia Chávez, sustenta que a democracia é respeitada na Venezuela...
Pois é, o perigo é grande...
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