domingo, 14 de junho de 2009

Educação

Na Veja de 10.06.2009, uma ótima entrevista com o economista James Heckman (leia na íntegra em http://arquivoetc.blogspot.com/2009/06/veja-entrevista-james-heckman.html), sobre a necessidade de se investir na educação de crianças nos primeiros anos de vida. Segundo o entrevistado “A razão é econômica. A educação é crucial para o avanço de um país – e, quanto antes chegar às pessoas, maior será o seu efeito e mais barato ela custará.”
Além da razão econômica, a ausência dos incentivos corretos na primeira infância está associada a uma série de índices ruins. “Entre eles, evasão escolar, gravidez na adolescência, criminalidade e até os índices de tabagismo (...) A criminalidade, por exemplo, pode ser reduzida, basicamente, de duas maneiras: investindo cedo em educação ou reforçando o policiamento nas ruas. Calculo que a opção pelo ensino custe algo como um décimo do gasto com segurança”. Por aí se vê como a educação afeta toda a vida de uma nação, e a importância de fazer os investimentos corretos, ou seja, aqueles que trarão o melhor retorno.
Para isso, os governantes deveriam, em primeiro lugar “tomar suas decisões com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos, como é mais comum”. A ciência, ou, o debate sobre bases objetivas, como diz Heckman, indica que se deve investir mais na pré-escola, em programas sociais que tenham foco nas famílias, “de modo que elas consigam fornecer os incentivos certos num momento-chave”. Tudo isso sem subestimar a importância das escolas propriamente ditas, que “têm um papel fundamental, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades cognitivas”, ou as universidades, indispensáveis para qualquer país “formar cérebros e se tornar produtivo”.
Estou assinando embaixo de toda a entrevista. (Talvez por isso tenha gostado tanto dela – é um prazer quando somos confirmados em nossas idéias). Inclusive quando o sr. Heckman puxa a orelha de Steven Levitt, seu colega na Universidade de Chicago, autor de Freaknomics: “Uma das maiores bobagens de Levitt é justamente partir do pressuposto de que, se uma criança nasce em desvantagem, numa família que não lhe fornece nenhuma espécie de incentivo, não há nada a ser feito em relação a isso. Eu estou convicto do contrário. Só que é preciso começar cedo.”
De fato, estas idéias de Levitt parecem servir bem a um certo tipo de ultra-liberal, tão utópico e pernicioso quanto sua cara-metade, o comunista. Este ultra-liberal de que falo não quer saber de Estado para fornecer hospital, escola, assistência, nada, para quem quer que seja. Está pobre, doente, morrendo, porque não tem um remédio? Aguenta aí, que no futuro estaremos no melhor dos mundos, com tudo de bom para todos...
Eu já prefiro reconhecer que os investimentos em educação, em saúde, em segurança, dentre outros, eficientes, bem focados, tornam uma nação mais próspera, melhor de se viver, de se criar os filhos, e são portanto indispensáveis. Havendo recursos privados bem, não havendo, que sejam públicos, bem aplicados, “em bases objetivas”, com mecanismos para os tornar transparentes, bem fiscalizados, por toda a população. Sem que para isso seja necessário, tampouco, abolir a propriedade privada, construir uma sociedade sem classes, ou outras sandices do gênero: gastar esforço tentando reinventar a roda. Gerador, não de melhorias na qualidade de vida, mas de tiranias sufocantes, corrupção, ódio e perseguição generalizados.
Bem. Definido o objetivo, como fazer para alcançá-lo? Como fazer para que a razão, a ciência, o debate em bases objetivas, sejam o critério para definir os investimentos na educação? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Resposta, ou melhor, humilde opinião, singelo parecer, tentativa de contribuição para o tema, a seguir em novos artigos.

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