sábado, 26 de novembro de 2011

Democracia

Para se ter democracia: organize-se um partido para se defender certas ideias.


Defender um sistema democrático:


1 - Os representantes serão eleitos por distrito, de igual número aproximado de eleitores, divididos em todo o país.


2 - Os representantes de cada distrito servirão especificamente, e prestarão contas especificamente, aos eleitores dos distritos que os elegeram. Os serviços públicos prestados para aquela comunidade de eleitores podem e devem ser objeto de questionamento através do representante eleito. Como é a polícia que atende aquela comunidade, e o serviço médico, e a escola, e a justiça, e a linha de crédito, etc etc? Senhor representante, eu fui mal atendido, defenda meus interesses. Meus legítimos interesses.


Senhor representante, minha escola não quer me fornecer os dados das compras de carteiras. Senhor representante, eu quero abrir um processo. Senhor representante, estão invadindo os meus direitos.


Senhor representante, a escola dos meus filhos não tem professor de História. Senhor representante, por que aquele outro distrito tem muitos mais leitos de hospital do que o meu? Senhor representante, vamos cobrar igualdade.


Senhor representante, que linha de crédito foi essa que abriram pra tal fulano que moraria no meu distrito? Se eu conheço meus amigos cidadãos, e não conheço ninguém com esse nome? Que raio é este, senhor representante?


Senhor representante, por que é que o Governo Federal liberou crédito de $ 200 milhões praquele tal distrito, e não teve crédito para o meu?


Senhor representante, que catzo é esse? Só porque elegemos um opositor, podemos ser roubados? Não devemos ter igualdade, não devemos ter transparência? Estas palavras não estão na Lei Maior, não deveriam ter alguma consequência? Ou a Lei é a do mais forte, a Lei da Selva?


3 - Os representantes só poderão pleitear cargos maiores só depois de passar pelos cargos menores. Primeiro representante distrital, depois representante estadual, depois representante federal.


4 – Os representantes não poderão ter privilégios de trabalho ou vantagens. Trabalhar cumprindo horário integral. Contas pessoais abertas. Imediata cassação para os que tiverem enriquecimento injustificado. Aposentadoria, plano de saúde, nas condições comuns a qualquer trabalhador. Etc.


5 – Os representantes não podem acumular indefinidamente os cargos públicos. É preciso haver um rodízio. Representante de um cargo maior não pode retroceder para pleitear um menor, exceto depois de um período. Em qualquer situação, períodos intercalados fora do exercício de cargo público devem ser exigidos dos representantes. Após um tempo-limite, exigir o afastamento definitivo do desempenho de funções públicas. Obrigado pelos serviços prestados. Agora vá cuidar de seus negócios, vá cuidar de sua carreira, vá cuidar de suas cerejeiras. Já deu sua contribuição, em todos os níveis possíveis. Agora, dê lugar para outras contribuições, outras ideias, outras perspectivas. Não queremos um velho dinossauro carnívoro, apinhado eternamente no poder, monstro grotescamente inchado pelo contínuo exercício de um poder irrefreado.


Este é um esquema geral, um esqueleto a ser preenchido com carne e músculos. O partido organizado deve detalhar cada ponto, calcular a funcionalidade de cada esquema. Mas esta seria a base para um sistema eleitoral democrático: ater-se ao simples. Cada voto, valer um voto. Nada de coeficientes marotos, um voto que vale dez, justificativas para representantes com poucos votos, ou até sem votos (sim, também temos isso, senadores no nosso Senado que não tiveram um único voto...)


Um voto, igual a um voto. Um distrito, igual a um distrito. Um representante, ganhou a maioria em um distrito com igual número de votantes. Mas é representante, claro, de todo o distrito.


E o distrito deve ter um número razoável de eleitores. Vale dizer: o distrito deve permitir que aqueles eleitores se conheçam, se reúnam, troquem ideias, organizem suas queixas.


E, como cada distrito deve ter os seus representantes, estes representantes devem organizar de forma igualitária a prestação de serviços públicos nestes distritos.


Por que, em alguns distritos, ter um médico público para cada mil habitantes, e em outro ter 15, ou 20, ou 50, médicos públicos por mil habitantes? Parece razoável, parece justo? É o que acontece.


Não somos divididos em distritos, está certo, mas temos estas distorções patentes entre bairros de uma mesma cidade, por exemplo. O distrito, portanto, é uma forma de organização, de racionalização, e também de transparência, e de igualdade.


Por que, para mil habitantes de um lugar x, termos 20 médicos, 20 juízes, 20 delegados, e para mil habitantes de um lugar y, termos 2, ou nenhum, de cada?


Porque o lugar x é mais aprazível? Ora, mas está se falando de serviço público, e a sua organização não pode levar em conta tornar aprazível a vida dos funcionários. Deve levar em conta o atendimento do público. Ou deveria.


Se já está preenchida a vaga de Copacabana, a outra vaga é no Méier, meu querido. Você a pega, ou não. (Nada contra o Méier). Mas não dá pra ter dois em Copacabana, e nenhum no Méier. Não dá pra ter um médico para atender mil pacientes, enquanto outro fica com 100.


Então, a base da democracia é aproximar o povo do exercício do poder.

Democracia

A questão não é saber se democracia é bom para o povo. Democracia é bom para o povo.

A questão é saber se o povo é bom para democracia.

Afinal, disse Heráclito:

- É preciso que o povo lute pela lei, tal como pelas muralhas.

Democracia

Democracia com eleições livres, periódicas, diretas, tudo isto é indispensável, e nós temos, motivo para comemorar.


Previsão de garantias individuais. Previsão de imprensa livre, e liberdade de expressão e pensamento.


Separação entre Poderes. Tudo isto é previsto na nossa Lei Maior, na nossa Carta Magna.


Porém, tudo isto pode ser ilusório, pode ser disfarce.


Quem foi que disse que uma meia verdade é mil vezes pior que uma mentira? Estava certo.


Uma meia verdade engana melhor. Dá o espaço suficiente para o auto-engano. E o ser humano deseja se enganar.


É mais fácil, é mais confortável.


É o caminho de menor resistência.


Seguir com a corrente, pertencer a um grupo. Existe uma sensação de segurança.


Nossos donos percebem isso, farejam no ar.


Apertam bem o garrote no pescoço. Depois, cada pequeno gole de ar que nos derem vai parecer enormidade de generosidade e fartura.


Eles têm as armas. Eles têm os processos. Eles podem ameaçar o seu patrimônio, a sua liberdade, o seu bem estar. A sua vida.


E eles também têm o outro gancho. As verbas. Os bons empregos. As mordomias. A admiração, a inveja, a cobiça.


Ou seja, possuem os instrumentos para fazer dos homens escravos. Os instrumentos que controlam os nossos temores e os nossos desejos.


Falar em democracia, quando eles passam a vida toda no poder?


Falar em democracia, quando sem ter os votos estão aí, votando, decidindo?


Falar em democracia, quando ascendem para um Tribunal, para um departamento de Governo, sem seguir um plano de cargos, sem possuir uma qualificação objetiva? Apenas porque foram guindados por um companheiro de ocasião?


Falar em democracia, quando promovem ações judiciais em massa para intimidar opositores? Quando pressionam economicamente, com verbas de publicidade, com oferecimento de vantagens, para ter uma imprensa cativa?


Falar em democracia, quando possuem milhares de privilégios, não extensíveis à plebe ignara, quando acham normalíssimo, e a coisa mais normal do mundo, ter aposentadorias em condições especiais, pensões para as suas famílias, e planos de saúde especialíssimos, e aumentos grotescamente benéficos, e milhares de mordomias, hospedagem de luxo, segurança 24 horas e jatinhos? E tudo isso enquanto a plebe ignara morre aos milhares, morre aos milhões, morre como moscas, apanhada num redemoinho e num furacão, morre nas estradas, morre de tiro de fuzil, morre num hospital caindo aos pedaços, ou no meio do mato, sem ter direito a um atendimento médico?


Falar em democracia, assim, é muito fácil. É tão fácil. Encher a boca pra falar, palavras tão bonitas, palavras que gostamos de ouvir...


E, se não é bem uma verdade inteira, é bem uma meia verdade...

sábado, 19 de novembro de 2011

Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway

Trilha sonora pro artigo: "Lula, vá se tratar pelo SUS!" - Engenheiros do Hawaii - Toda Forma de Poder

"Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo". - Heráclito, filósofo grego, aprox. 540 - 470 a. C.




Toda Forma De Poder

Engenheiros do Hawaii

Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada.

(Yeah, yeah)

Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada.

(Yeah, yeah)

E eu começo a achar normal que algum
boçal atire bombas na embaixada.

(Yeah yeah, Uoh, Uoh)

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada.
(Yeah, Yeah)
Toda forma de conduta se trasforma numa luta armada.
(Uoh Uoh)

A história se repete mas a força deixa a história
mal contada...

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada.
É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.
Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada.

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

(Yeah Yeah Uoh)...

Composição: Humberto Gessinger