Democracia com eleições livres, periódicas, diretas, tudo isto é indispensável, e nós temos, motivo para comemorar.
Previsão de garantias individuais. Previsão de imprensa livre, e liberdade de expressão e pensamento.
Separação entre Poderes. Tudo isto é previsto na nossa Lei Maior, na nossa Carta Magna.
Porém, tudo isto pode ser ilusório, pode ser disfarce.
Quem foi que disse que uma meia verdade é mil vezes pior que uma mentira? Estava certo.
Uma meia verdade engana melhor. Dá o espaço suficiente para o auto-engano. E o ser humano deseja se enganar.
É mais fácil, é mais confortável.
É o caminho de menor resistência.
Seguir com a corrente, pertencer a um grupo. Existe uma sensação de segurança.
Nossos donos percebem isso, farejam no ar.
Apertam bem o garrote no pescoço. Depois, cada pequeno gole de ar que nos derem vai parecer enormidade de generosidade e fartura.
Eles têm as armas. Eles têm os processos. Eles podem ameaçar o seu patrimônio, a sua liberdade, o seu bem estar. A sua vida.
E eles também têm o outro gancho. As verbas. Os bons empregos. As mordomias. A admiração, a inveja, a cobiça.
Ou seja, possuem os instrumentos para fazer dos homens escravos. Os instrumentos que controlam os nossos temores e os nossos desejos.
Falar em democracia, quando eles passam a vida toda no poder?
Falar em democracia, quando sem ter os votos estão aí, votando, decidindo?
Falar em democracia, quando ascendem para um Tribunal, para um departamento de Governo, sem seguir um plano de cargos, sem possuir uma qualificação objetiva? Apenas porque foram guindados por um companheiro de ocasião?
Falar em democracia, quando promovem ações judiciais em massa para intimidar opositores? Quando pressionam economicamente, com verbas de publicidade, com oferecimento de vantagens, para ter uma imprensa cativa?
Falar em democracia, quando possuem milhares de privilégios, não extensíveis à plebe ignara, quando acham normalíssimo, e a coisa mais normal do mundo, ter aposentadorias em condições especiais, pensões para as suas famílias, e planos de saúde especialíssimos, e aumentos grotescamente benéficos, e milhares de mordomias, hospedagem de luxo, segurança 24 horas e jatinhos? E tudo isso enquanto a plebe ignara morre aos milhares, morre aos milhões, morre como moscas, apanhada num redemoinho e num furacão, morre nas estradas, morre de tiro de fuzil, morre num hospital caindo aos pedaços, ou no meio do mato, sem ter direito a um atendimento médico?
Falar em democracia, assim, é muito fácil. É tão fácil. Encher a boca pra falar, palavras tão bonitas, palavras que gostamos de ouvir...
E, se não é bem uma verdade inteira, é bem uma meia verdade...
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