Blues do Fora-da-lei
como Bob Dylan, Outlaw Blues
Existe romantismo na vida de criminosos que não têm casa, que vivem perseguidos pelo lado da lei. Arriscam sua pele pelo seu meio de vida. Metralhadoras, e armadilhas, e cercos, fazem parte do jogo. Roubam diretamente. Não escondem o que fazem. Se a polícia os pegar, dançaram; foi roubo mesmo. Mas pra pegar, geralmente, vão ter de matar.
E, naturalmente, que não eram assassinos. Ou pelo menos não eram assassinos cruéis, sanguinários. Assassinos covardes. Que cometiam seus crimes, principalmente, contra os bancos ladrões, e o sistema financeiro corrupto, e os muito ricos...
Não digo que a irresponsabilidade do criminoso possa ser desculpada. A conduta que adotam aumenta a chance de vítimas, e vítimas, sabemos, são sempre inocentes.
Mas o romantismo de quem se arrisca, e joga com o destino, e morre destroçado por balas, e se condena a uma existência assim, é jogado numa existência assim, por injustiças e revolta, desaparece quando se trata do roubo limpo. Roubo limpo, como sabemos, é o roubo mais sujo...
O roubo da grande jogada, do “dentro da lei”, de quando se ocupam os mecanismos do poder. Os roubos que fazem faltar o dinheiro para quem mais precisas. Os roubos das “ações entre amigos”. Amigos de saque.
Estes criminosos não têm o destino trágico daqueles. Vivem, aliás, muito bem, em jatinhos e iates, bebendo uísque e comendo caviar... Em Brasília, então, a vida é mansa...
Não têm a sujeira da violência vinculando seus nomes. Mas, se for preciso, sempre se arruma um capanga. A vida é frágil, mais frágil por aqui, assassinos de freira Dorothy Stang. Assassinos de milhares. De quem ousar levantar a voz.
Tantas cabeças a prêmio neste pais... Os conflitos no campo! E a baixada fluminense! E as favelas! E os cortiços!
Este Partido no Governo, antes de ser Governo, fazia bandeira dos mártires no campo. Onde estão os assassinos de Chico Mendes? Lembro deste slogan oportuno. E se aproximava das vítimas.
Agora, como Governo, esqueceram de tudo... as mortes no campo se sucedem, o Estado continua sem fazer nada. Amarrado na sua burocracia, na sua tendência de não enfrentar nada, não resolver nada.
Mas, então, para que é que se queria o poder? Se não vai botar as coisas pra funcionar, batalhões de polícia, de promotores, de juízes, pra resolver estes conflitos infindáveis no campo, pra botar alguma ordem, neste faroeste caboclo? Era só pra curtir o poder que se queria o poder?
Mas aquele Partido, que prometia tantas mudanças, mudou ele mesmo! Uma metamorfose ambulante, no ato falho risonho de seu Líder e Chefe.
Ao chegar no poder, esqueceu-se das vítimas. Foi abraçar os agressores, “não queremos problemas pro nosso lado”... E as vítimas, estas ficaram por sua própria sorte, porque não queremos enfrentar problemas.
E a Oposição, também, desconhece estas vítimas. Contentam-se em fazer o jogo do salão, em seu cantinho, saboreando as migalhas do poder...
E é assim que se perde um país...
não com um estrondo,
mas com um gemido
(como T.S. Eliot, Os Homens Ocos)
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