quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dinheiro do BNDES


Quando leio que o BNDES distribuiu, em 5 anos, 300 bilhões de reais, concentrando grande parte de tais bilhões nas mãos de alguns poucos escolhidos, percebo o quanto estamos distantes de uma sociedade justa.

Vamos discutir sobre coisas mais importantes, futebol, carnaval, algum programa estúpido na televisão. Pode não ser mais importante, mas pelo menos não dá a frustração, o desânimo, de falar sobre a realidade injusta que parece imutável neste país.

Parece além de qualquer discurso, esperança, e, em assim sendo, de que adianta ficar falando dessas coisas? Vai dar por único resultado prático gastura, azia, má digestão, e vai conduzir a uma morte prematura.

E assim ficamos onde estamos, assistindo calados, de braços cruzados, enquanto alguns poderosos, alguns espertalhões, enfiam bilhões e bilhões nos bolsos, nas malas, nas meias, nas cuecas, e onde mais der pra entuchar tanto dinheiro... devem engolir, também, as cédulas, empurrá-las pelas gargantas com uísque 16 anos...

O próprio dinheiro que serviria para tornar este um país digno, usado para nos tornar um país de otários e de espertos, um país de vítimas e pilantras.

Dinheiro há. 300 bilhões, só pelo BNDES, e em apenas 5 anos.

E onde está este dinheiro? O gato comeu; o frigorífico levou; o Eike torrou...

 

Os nossos empresários campeões, escolhidos por nossos sábios governantes intervencionistas, sob as mais rigorosas normas técnicas, como diz o manual da conversa fiada, decorado por cada porta-voz, por cada atendente, em cada repartição pública.

É tanta sabedoria, tanto pensamento de iluminados, que não nos cabe sequer tentar compreender. O que dirá criticar!

Somos baixos demais para isso; devemos ser por demais materialistas, cartesianos, deterministas... Quem sabe até, argh!... , uns pobres de espírito neo-liberais, a quem não é dado alcançar os grandes bens que nossos governantes fazem...

Devíamos calar a boca e ser mais agradecidos, quem sabe até não ganhamos um qualquer dos nossos benfeitores?

Enquanto isso, dois sujeitos dispostos, trabalhadores, que pensarem em comprar uma caminhonete para começar um negócio de mudança não terão o capital de que precisariam para começar o negócio. Digamos: 10 mil.

Quem sabe, ao invés de trabalhar, se contentarão com uma Bolsa-Esmola?...

Iguais a estes dois sujeitos hipotéticos, quantos mais não poderiam se beneficiar dos 300 bilhões do BNDES, se estes recursos fossem divididos em cotas de 10 mil?

Nem precisa fazer a conta, eu digo pra vocês: 30 milhões de empréstimos de 10 mil, isto daria.

30 milhões de investimentos sendo feitos, de acordo com as capacidades e preferências de cada um dos tomadores do empréstimo. Ideias não faltam, disposição para o trabalho também não.

O que falta é o acesso ao dinheiro, de acordo com uma curiosa equação: uma vez que não falta para 1 bilhão, faltará para 1 mil.

Quantos pequenos negócios sendo iniciados, sendo tocados, quantos empregos gerados, quanto dinheiro circulando, se estes 30 milhões recebessem seus 10 mil para dar um rumo na vida! E quanto de esperança, quanto de sagrado suor para fazer este investimento render!

E nada de mão beijada, não senhor! Um empréstimo a ser quitado, em prazo razoável, habilitando o tomador a novos investimentos, um pouco maiores, e liberando novos recursos para novos candidatos aos empréstimos...

Novos investidores contribuindo para construir o país, através de seus esforços, através de seus talentos.

E se algum deles quebrasse, o que há de ser feito? Pelo menos, era pouco dinheiro, e estava bastante distribuído. Muito melhor do que naufragar um negócio de 10 bilhões.

E, sem que perguntas fossem feitas, sem soltar os cães, mas o tomador inadimplente ficaria impossibilitado de novos empréstimos, até que sua dívida fosse quitada. Simples e justo.

Mas claro que não pode ser nada assim, não podendo faltar o bilhão para algum gênio dos negócios, que também calha de ser, coincidentemente, um ótimo financiador de campanhas! Sabe como é, uma mão lava a outra...

E também não pode faltar o bilhãozinho para o filhinho do cara, e seus amicíssimos sócios nas empresas de fachada.

E, porque não falta o bilhão para a sacanagem, faltará o milhar para as coisas boas.

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