
Quando leio que o BNDES
distribuiu, em 5 anos, 300 bilhões de reais, concentrando grande
parte de tais bilhões nas mãos de alguns poucos escolhidos, percebo
o quanto estamos distantes de uma sociedade justa.
Vamos discutir sobre
coisas mais importantes, futebol, carnaval, algum programa estúpido
na televisão. Pode não ser mais importante, mas pelo menos não dá
a frustração, o desânimo, de falar sobre a realidade injusta que
parece imutável neste país.
Parece além de
qualquer discurso, esperança, e, em assim sendo, de que adianta
ficar falando dessas coisas? Vai dar por único resultado prático
gastura, azia, má digestão, e vai conduzir a uma morte prematura.
E assim ficamos onde
estamos, assistindo calados, de braços cruzados, enquanto alguns
poderosos, alguns espertalhões, enfiam bilhões e bilhões nos
bolsos, nas malas, nas meias, nas cuecas, e onde mais der pra
entuchar tanto dinheiro... devem engolir, também, as cédulas,
empurrá-las pelas gargantas com uísque 16 anos...
O próprio dinheiro que
serviria para tornar este um país digno, usado para nos tornar um
país de otários e de espertos, um país de vítimas e pilantras.
Dinheiro há. 300
bilhões, só pelo BNDES, e em apenas 5 anos.
E onde está este
dinheiro? O gato comeu; o frigorífico levou; o Eike torrou...

Os nossos empresários
campeões, escolhidos por nossos sábios governantes
intervencionistas, sob as mais rigorosas normas técnicas, como diz o
manual da conversa fiada, decorado por cada porta-voz, por cada
atendente, em cada repartição pública.
É tanta sabedoria,
tanto pensamento de iluminados, que não nos cabe sequer tentar
compreender. O que dirá criticar!
Somos baixos demais
para isso; devemos ser por demais materialistas, cartesianos,
deterministas... Quem sabe até, argh!... , uns pobres de espírito
neo-liberais, a quem não é dado alcançar os grandes bens que
nossos governantes fazem...
Devíamos calar a boca
e ser mais agradecidos, quem sabe até não ganhamos um qualquer dos
nossos benfeitores?
Enquanto isso, dois
sujeitos dispostos, trabalhadores, que pensarem em comprar uma
caminhonete para começar um negócio de mudança não terão o
capital de que precisariam para começar o negócio. Digamos: 10 mil.
Quem sabe, ao invés de
trabalhar, se contentarão com uma Bolsa-Esmola?...
Iguais a estes dois
sujeitos hipotéticos, quantos mais não poderiam se beneficiar dos
300 bilhões do BNDES, se estes recursos fossem divididos em cotas de
10 mil?
Nem precisa fazer a
conta, eu digo pra vocês: 30 milhões de empréstimos de 10 mil,
isto daria.
30 milhões de
investimentos sendo feitos, de acordo com as capacidades e
preferências de cada um dos tomadores do empréstimo. Ideias não
faltam, disposição para o trabalho também não.
O que falta é o acesso
ao dinheiro, de acordo com uma curiosa equação: uma vez que não
falta para 1 bilhão, faltará para 1 mil.
Quantos pequenos
negócios sendo iniciados, sendo tocados, quantos empregos gerados,
quanto dinheiro circulando, se estes 30 milhões recebessem seus 10
mil para dar um rumo na vida! E quanto de esperança, quanto de
sagrado suor para fazer este investimento render!
E nada de mão beijada,
não senhor! Um empréstimo a ser quitado, em prazo razoável,
habilitando o tomador a novos investimentos, um pouco maiores, e
liberando novos recursos para novos candidatos aos empréstimos...
Novos investidores
contribuindo para construir o país, através de seus esforços,
através de seus talentos.
E se algum deles
quebrasse, o que há de ser feito? Pelo menos, era pouco dinheiro, e
estava bastante distribuído. Muito melhor do que naufragar um
negócio de 10 bilhões.
E, sem que perguntas
fossem feitas, sem soltar os cães, mas o tomador inadimplente
ficaria impossibilitado de novos empréstimos, até que sua dívida
fosse quitada. Simples e justo.
Mas claro que não pode
ser nada assim, não podendo faltar o bilhão para algum gênio dos
negócios, que também calha de ser, coincidentemente, um ótimo
financiador de campanhas! Sabe como é, uma mão lava a outra...
E também não pode
faltar o bilhãozinho para o filhinho do cara, e seus amicíssimos
sócios nas empresas de fachada.
E, porque não falta o
bilhão para a sacanagem, faltará o milhar para as coisas boas.

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