segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Prêmio Inovare n. 2



Diante da triste constatação da realidade de nosso país, em que roubos, ou, eufemisticamente, “desvios” de milhões e bilhões de dinheiros públicos permanecem impunes, diante das notórias incapacidades da nossa Justiça para punir nossos poderosos, uma necessidade de reforma se impõe.

Ou se reforma, ou se continua a ter a corrupção institucionalizada em território nacional. Tertium non datur.

Por isso, diante desta imperiosa necessidade, faço esta modesta proposta:

Nestes casos rumorosos, neste caso de desvios milionários de verba pública, e em outros casos selecionados, casos de repercussão, assassinatos por organizações criminosas, após os julgamentos de praxe, previstos na lei processual, que depois de um tempo, digamos, um período de cinco anos, para “assentar a poeira”, que um outro Tribunal, de um outro Estado, ou de outro grau de jurisdição, possa julgar o julgado, isto é, julgar o processo, a atuação dos envolvidos, partes e Poder Público, para um veredito sobre aquela atuação.

Por quê? - me perguntam. E eu respondo: porque do jeito que está os julgadores sentem-se demasiado à vontade, demasiado sem controle, para decidirem qualquer coisa, e não haver qualquer consequência, ou mesmo possibilidade de consequência.

E isto não é uma situação republicana.

Em uma República, é preciso haver prestação de contas, por todos, e principalmente, pelas autoridades.

Não desconheço que em outras práticas políticas, em outros tempos e lugares, teorizava-se que o Rei devia ter um Direito Divino, e responder apenas ao Criador. Logo, não devia respostas aos seus súditos.

Porém, proclamamos em nossa Constituição que não somos assim. Proclamamos que somos uma República, e que o Poder emana do Povo.

Então, o servidor público, o juiz, o promotor, o delegado, deve prestar contas ao público, e isto não é subversivo. Isto é o estrito cumprimento da lei deste povo, da Lei Maior, a Constituição Federal.

Claro que eu sei que acharão horrorosa esta proposta, mas estes serão os conformistas, os defensores do status quo.

Os que desejam que acabe este roubo, esta corrupção, quem acha esta situação nojenta e insustentável, vai desejar que a República seja fortalecida, e que a confortável dispensa de assumir com suas responsabilidades, por parte de algumas das nossas elites, receba um basta.

Pensem bem: hoje, estão muito seguras de não perder nada, de manter um salário médio de cerca de 40 salários, mais assessores, motoristas, seguranças e mordomias. Nas altas Cortes, então, nem se fala.

Hoje, não existe um estrito controle para cobrar celeridade, sequer punição por deixar prescrever casos, deixando por anos processos perdidos dentro das gavetas, processos importantíssimos, crimes de desvios de medicamentos.

Nada acontece, nada de nada.

Quando existem provas contundentes, gravações da Polícia Federal sobre venda de sentenças, são premiados com uma aposentadoria compulsória.

O processo criminal vai correr em paralelo, mas este vai cair no mesmo sistema, em que decisões levam décadas, literalmente, e ainda vai caber outro recurso.

Ou seja, para esperar punição, nestas altas esferas, é uma em um milhão, uma, porque deu muita sorte, um caso excepcionalíssimo.

O resto, a grande maioria, vai para a vala comum, processos anulados por uma decisão lá de cima, anos de investigação jogados fora.

Porque faltou uma vírgula, de alguma das milhões de leis que temos. É muito fácil escolher. Advogados de defesa com honorários milionários vão lembrar muito bem de milhões destas vírgulas.

Este é o sistema judiciário que temos. Infelizmente.

Um sistema que não tem pena de manter cadeias desumanas, cadeias que são escolas de crime, cadeias dominadas por quadrilhas perigosíssimas, cadeias lotadas muito além da capacidade, em que prisioneiros recebem comida de bicho, são torturados e decapitados, e tudo isso a merecer não mais do que discursos protocolares das autoridades.

E um sistema que, ao mesmo tempo, oferece milhões de garantias e recursos para que envolvidos em crimes de altas esferas jamais precise se preocupar em ouvir bater o martelo, com uma condenação definitiva.

Gente que circula com dinheiro (milhões) na cueca, gente flagrada com pilhas de dinheiro em cima de uma mesa.

O que é que acontece?

Nada, literalmente nada. Continuarão em altos cargos públicos, continuarão empregados por nossos poderosos, até recebendo salários pagos com nossos tributos.

E continuarão comandando a liberação de verbas, os contratos públicos, os grandes negócios.

Então, quem acredita em República, quem acredita que ninguém pode estar acima das leis, quem acredita que todos devem ser iguais perante a lei, quem acredita em democracia, quem acredita que o servidor público deve prestar contas ao público, e quem acredita que um país de respeito não se faz com corrupção e impunidade, deve apoiar a reforma que faça pender uma dúvida no coração do corrupto. Que o faça pensar que o seu ato poderá ser julgado, e que poderá ser punido.

Por isso: outro grau de jurisdição. Que o julgamento daquele processo seja julgado.

E se a polícia coletou mal as provas, que seja apontado, e punido.

E se o juiz, ou o Ministério Público, deixou o processo dormir na gaveta, e ele prescreveu, que seja punido.


Para que as práticas se apurem, e não se perpetue a impunidade.

Para que um país possa viver, afastado de seus velhos vícios.

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