domingo, 29 de agosto de 2010

O monstro de olhos amarelos

No jornal O Globo de sábado, 28.08.2010, A.D.: primeira página!: “Após levar dois meses fazendo uma sindicância que só veio a público por ordem da Justiça, a Receita Federal agora admite a existência de um grande “balcão de venda de sigilos” no ABC paulista. O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, e o corregedor, Antônio Carlos D´Ávila, disseram não acreditar que haja motivação eleitoral no vazamento de dados fiscais de pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra (...)”.

Ah, bom. Quatro pessoas ligadas ao candidato José Serra tiveram seus dados fiscais violados, de um mesmo computador, no mesmo dia, num intervalo de 16 minutos. Ora, e daí? Ninguém acredita em coincidência? Gente cética...

Ninguém pode acusar Leviatã de falta de humor; lembrei daquele verso de Shakespeare: “Livrai-me, Senhor, do ciúme! É um monstro de olhos verdes, que escarnece da própria carne de que se alimenta!”. Pois então: Livrai-me, Senhor, de Leviatã! É um monstro de olhos amarelos, que escarnece da própria carne de que se alimenta!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Desolation Row - Bob Dylan










Eu não pretendia traduzir a letra de Desolation Row, de Bob Dylan. É por demais hermética, por demais surrealista. Mas aí eu encontrei este interessantíssimo clipe no You Tube, uma versão original de Bob Dylan, ao vivo, e uma colagem de desenhos do pintor Pieter Bruegel, o velho. Mais marionetes.

Quem lê este blog já deve ter notado que sou admirador do músico e poeta Bob Dylan, e do pintor Bruegel, afastados no tempo quase 500 anos. Ambos são trabalhadores intensos de suas artes, com obras vastas, sem medo ou preguiça de juntar suas cores, traços, sons e palavras. E não é que um amigo americano foi juntá-los com criatividade para fazer esse clipe? (Agora, é torcer pra não cassarem o clipe, por reivindicação de direitos autorais).

Então, pra facilitar a tarefa dos interessados em acompanhar a letra, e relacioná-la às imagens, resolvi fazer a tradução. Não me perguntem nada sobre as imagens loucas na letra, eu apenas converto as palavras de modo bem literal. Algumas partes me sugerem idéias interessantes, outras me deixam inteiramente perdido. Mas isso me acontece com muitos poetas, principalmente modernos.

E a música é um clássico de Dylan, fecha o fantástico disco Highway 61 Revisited (1965), que abre com Like a rolling stone. Desolation Row, na versão original, tem 11.21 minutos de duração, e um fantástico trabalho com dois violões, de Bob Dylan e Charlie McCoy, que são os únicos instrumentos da canção. Mais informação sobre esta música tão diferente, tão especial, neste link, em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Desolation_Row





Estão vendendo cartões postais do enforcamento
Estão pintando os passaportes de marrom
O salão de beleza está cheio de marinheiros
O circo está na cidade

Aí vem o comissário cego
Eles o apanharam num transe
Uma mão está amarrada no equilibrista andando na corda-bamba
A outra está segurando as calças

E a tropa de choque
está inquieta
Eles precisam de algum lugar pra ir
Enquanto a Dama e eu
Olhamos pra fora esta noite
Da Alameda da Desolação

Cinderela, ela parece tão fácil,
“Precisa de um do mesmo tipo pra conhecer outro”, ela diz sorrindo,
E coloca suas mãos no bolso de trás da calça
Estilo Bete Davis

E aparece Romeu, se lamentando:
“Você pertence a mim, assim creio”,
E alguém lhe diz:
“Você está no lugar errado, amigo,
é melhor cair fora”

E o único som que resta,
Depois que as ambulâncias se vão
é Cinderela, varrendo a rua,
na Alameda da Desolação

Agora, a lua,
está quase escondida,
As estrelas começam a se esconder,
A senhora que lê a sorte
Até já recolheu seus instrumentos todos pra dentro

Todos, à exceção de Caim e Abel,
E o Corcunda de Notre Dame,
todo mundo está fazendo amor,
ou então esperando pela chuva

E o Bom Samaritano está se vestindo
Está se preparando para o show
Ele está indo para o Carnaval esta noite,
Na Alameda da Desolação

Ofélia olha tudo da janela,
Por ela eu temo bastante,
No seu aniversário de 22 anos,
Ela já se tornou uma velha senhora

Para ela morte é um bocado romântica,
Ela veste um cinto de castidade,
Sua profissão é sua religião,
Seu pecado é sua falta de vida.

E embora seus olhos
Estejam fixados
No grande arco íris de Noé

Ela desperdiça seu tempo
Espionando a Alameda da Desolação

Einstein, disfarçado de Robin Hood,
Com suas memórias guardadas num baú,
Passou por aqui,
uma hora atrás,
Com seu amigo, um monge invejoso.

Ele parecia tão perfeitamente assustador,
enquanto filava um cigarrinho,
e seguiu cheirando canos de esgoto,
e recitando o alfabeto.

e você não pensaria
em olhar para ele
Mas ele foi famoso
muito tempo atrás
por tocar seu violino elétrico
na Alameda da Desolação

Doutor Imundo, mantém seu mundo,
preso num copo de couro
Mas todos os seus pacientes a quem falta sexo
estão tentando explodi-lo

E sua enfermeira,
uma perdedora local,
Está encarregada do envenenamento por cianeto
E ela ainda guarda as cartas com a frase:
“Piedade por sua alma”

Eles todos
estão tocando
seus apitos de um
centavo.

E você pode
ouvi-los soprando.

Se esticar sua cabeça
pra fora o suficiente
da Alameda da Desolação

Do outro lado da rua,
eles pregaram as cortinas,
Estão se aprontando para a festança.

O Fantasma da Ópera,
Numa perfeita imagem de um padre.

Eles estão alimentando Casanova com uma colher
Para fazê-lo se sentir mais seguro
Então o matarão com auto-confiança
Depois de tê-lo envenenado com palavras.

E o Fantasma,
gritando,
pra meninas magricelas:
“Fora daqui,
se vocês não entenderam!
Casanova só está sendo punido
Por ter ido à Alameda da Desolação!”

À meia noite,
todos os agentes,
E a tripulação de super humanos,
Vêm para fora e cercam todo mundo
que sabe mais do que eles próprios

e eles os carregam para a Fábrica
Onde as máquinas de provocar ataques cardíacos
são amarradas aos seus ombros
e então,
a querosene,

é trazida
dos Castelos
Por homens da seguradora que vão
Verificar que ninguém está fugindo
Pra Alameda da Desolação

Louvado o Netuno de Nero,
O Titanic veleja ao amanhecer.

E todo mundo está gritando:
“De que lado você está?”

E Ezra Pound e T. S. Eliot,
Lutando na torre do capitão,

Enquanto cantores de calipso riem deles,
E pescadores
seguram flores.

Entre as janelas
do mar
Onde adoráveis
sereias
flutuam.

E ninguém precisa
pensar demais
A respeito da Alameda da Desolação

Sim, eu recebi sua carta ontem,
por volta da hora em que a maçaneta da porta quebrou,

quando você perguntou como eu estava indo...

bem, isso é algum tipo de piada?

Todas essas pessoas que você menciona,
Sim, eu as conheço, são um bocado miseráveis,

Eu tive de mudar
os seus rostos,
E dar a todos
um outro nome

Bem agora, eu não quero saber de leitura,
não me mande mais cartas, não,
A não ser que você as envie
Da Alameda da Desolação


Desolation Row
Bob Dylan
Composição: Bob Dylan
They're selling postcards of the hanging
They're painting the passports brown
The beauty parlor is filled with sailors
The circus is in town
Here comes the blind commissioner
They've got him in a trance
One hand is tied to the tight-rope walker
The other is in his pants
And the riot squad they're restless
They need somewhere to go
As Lady and I look out tonight
From Desolation Row

Cinderella, she seems so easy
"It takes one to know one," she smiles
And puts her hands in her back pockets
Bette Davis style
And in comes Romeo, he's moaning
"You Belong to Me I Believe"
And someone says," You're in the wrong place, my friend
You better leave"
And the only sound that's left
After the ambulances go
Is Cinderella sweeping up
On Desolation Row

Now the moon is almost hidden
The stars are beginning to hide
The fortunetelling lady
Has even taken all her things inside
All except for Cain and Abel
And the hunchback of Notre Dame
Everybody is making love
Or else expecting rain
And the Good Samaritan, he's dressing
He's getting ready for the show
He's going to the carnival tonight
On Desolation Row

Now Ophelia, she's 'neath the window
For her I feel so afraid
On her twenty-second birthday
She already is an old maid

To her, death is quite romantic
She wears an iron vest
Her profession's her religion
Her sin is her lifelessness
And though her eyes are fixed upon
Noah's great rainbow
She spends her time peeking
Into Desolation Row

Einstein, disguised as Robin Hood
With his memories in a trunk
Passed this way an hour ago
With his friend, a jealous monk
He looked so immaculately frightful
As he bummed a cigarette
Then he went off sniffing drainpipes
And reciting the alphabet
Now you would not think to look at him
But he was famous long ago
For playing the electric violin
On Desolation Row

Dr. Filth, he keeps his world
Inside of a leather cup
But all his sexless patients
They're trying to blow it up
Now his nurse, some local loser
She's in charge of the cyanide hole
And she also keeps the cards that read
"Have Mercy on His Soul"
They all play on penny whistles
You can hear them blow
If you lean your head out far enough
From Desolation Row

Across the street they've nailed the curtains
They're getting ready for the feast
The Phantom of the Opera
A perfect image of a priest
They're spoonfeeding Casanova
To get him to feel more assured
Then they'll kill him with self-confidence
After poisoning him with words

And the Phantom's shouting to skinny girls
"Get Outa Here If You Don't Know
Casanova is just being punished for going
To Desolation Row"

Now at midnight all the agents
And the superhuman crew
Come out and round up everyone
That knows more than they do
Then they bring them to the factory
Where the heart-attack machine
Is strapped across their shoulders
And then the kerosene
Is brought down from the castles
By insurance men who go
Check to see that nobody is escaping
To Desolation Row

Praise be to Nero's Neptune
The Titanic sails at dawn
And everybody's shouting
"Which Side Are You On?"
And Ezra Pound and T. S. Eliot
Fighting in the captain's tower
While calypso singers laugh at them
And fishermen hold flowers
Between the windows of the sea
Where lovely mermaids flow
And nobody has to think too much
About Desolation Row

Yes, I received your letter yesterday
(About the time the door knob broke)
When you asked how I was doing
Was that some kind of joke?
All these people that you mention
Yes, I know them, they're quite lame
I had to rearrange their faces
And give them all another name
Right now I can't read too good
Don't send me no more letters no
Not unless you mail them
From Desolation Row

Leviatã

Jó, 40, 20 a 42, 6:



20.
Poderás tu fisgar Leviatã com um anzol, e amarrar-lhe a língua com uma corda?

21.
Serás capaz de passar um junco em suas ventas, ou de furar-lhe a mandíbula com um gancho?

22.
Ele te fará muitos rogos, e te dirigirá palavras ternas?

23.
Concluirá ele um pacto contigo, a fim de que faças dele sempre teu escravo?

24.
Brincarás com ele como com um pássaro, ou atá-lo-ás para divertir teus filhos?

25.
Será ele vendido por uma sociedade de pescadores, e dividido entre os negociantes?

26.
Crivar-lhe-ás a pele de dardos, fincar-lhe-ás um arpão na cabeça?

27.
Tenta pôr a mão nele, sempre te lembrarás disso, e não recomeçarás.

28.
Tua esperança será lograda, bastaria seu aspecto para te arrasar


Jó, 41


1.
Ninguém é bastante ousado para provocá-lo; quem lhe resistiria face a face?

2.
Quem pôde afrontá-lo e sair com vida, debaixo de toda a extensão do céu?

3.
Não quero calar (a glória) de seus membros, direi seu vigor incomparável.

4.
Quem levantou a dianteira de sua couraça? Quem penetrou na dupla linha de sua dentadura?

5.
Quem lhe abriu os dois batentes da goela, em que seus dentes fazem reinar o terror?

6.
Sua costa é um aglomerado de escudos, cujas juntas são estreitamente ligadas;

7.
uma toca a outra, o ar não passa por entre elas;

8.
uma adere tão bem à outra, que são encaixadas sem se poderem desunir.
 
9.
Seu espirro faz jorrar a luz, seus olhos são como as pálpebras da aurora.
 
10.
De sua goela saem chamas, escapam centelhas ardentes.
 
11.
De suas ventas sai uma fumaça, como de uma marmita que ferve entre chamas.
 
12.
Seu hálito queima como brasa, a chama jorra de sua goela.
 
13.
Em seu pescoço reside a força, diante dele salta o espanto.
 
14.
As barbelas de sua carne são aderentes, esticadas sobre ele, inabaláveis.
 
15.
Duro como a pedra é seu coração, sólido como a mó fixa de um moinho.
 
16.
Quando se levanta, tremem as ondas, as vagas do mar se afastam.
 
17.
Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo.
 
18.
O ferro para ele é palha; o bronze, pau podre.
 
19.
A flecha não o faz fugir, as pedras da funda são palhinhas para ele.
 
20.
O martelo lhe parece um fiapo de palha; ri-se do assobio da azagaia.
 
21.
Seu ventre é coberto de cacos de vidro pontudos, é uma grade de ferro que se estende sobre a lama.
 
22.
Faz ferver o abismo como uma panela, faz do mar um queimador de perfumes.
 
23.
Deixa atrás de si um sulco brilhante, como se o abismo tivesse cabelos brancos.
 
24.
Não há nada igual a ele na terra, pois foi feito para não ter medo de nada;

25.
afronta tudo o que é elevado, é o rei dos mais orgulhosos animais.




Jó, 42

1.
Jó respondeu ao Senhor nestes termos:

2.
Sei que podes tudo, que nada te é muito difícil.

3.
Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis? É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não conheço.

4.
Escuta-me, deixa-me falar: vou interrogar-te, tu me responderás.

5.
Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram.

6.
É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza.



Salmos, 74, 12-14

No entanto, Deus é meu rei desde sempre, o autor de vitórias na terra.
Fendeste o mar com tua força
e esmagaste as cabeças dos dragões sobre as águas,
esmigalhaste as cabeças do monstro Leviatã,
e o deste por alimento aos animais do deserto.




Ultimamente o demônio Leviatã tem andado em voga nestes Tristes Trópicos. Cada dia vemos uma notícia relacionada. Na quarta-feira, dia 25.08.2010, o jornal O Globo publicava que o juiz federal Antonio Claudio Macedo da Silva determinou que a Receita entregasse ao vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, as informações sobre a sindicância que realizava para apuração do vazamento de dados sigilosos do tucano. Em trecho de sua decisão, o Magistrado escreveu: “Não se pode admitir um Estado Leviatã, no qual tudo que é sigiloso vaza para a imprensa. (...) Penso que o Brasil convive há muito tempo com janelas quebradas na vizinhança da proteção ao sigilo, havendo uma relação promíscua entre setores da administração pública e setores da imprensa.”

Coincidentemente, eu próprio havia escrito um artigo comentando este caso, “Quebra de Sigilo”, publicado em 27.07.2010, e ilustrado com o frontispício clássico do livro Leviatã, de Thomas Hobbes: o soberano monstruoso, gigantesco, formado pela junção de seus súditos, dominando sobre o território do Estado. Eis o link do artigo: http://sinatti.blogspot.com/2010/07/quebra-de-sigilo.html

Logo na esteira da decisão judicial que mandou entregar à vítima do vazamento de informação os dados da investigação da Receita, tivemos outras notícias do uso dos recursos do Estado para perseguir adversários políticos. Na quinta-feira, O Globo estampava na primeira página a manchete: “Receita: mais três ligados a Serra tiveram sigilo violado”; “As violações aconteceram em 16 minutos, em um computador da Receita, no mesmo dia da espionagem contra o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. Os vazamentos constam da investigação da Receita – que silenciou sobre o caso.”

Hoje, sexta-feira, a manchete do Globo é: “Núcleo da Receita no ABC devassou dados de 140”. “Além das quatro pessoas ligadas ao tucano José Serra, analistas da Delegacia da Receita em Mauá (SP) devassaram os dados fiscais de 140 contribuintes, entre eles personalidades e empresários que vivem longe do ABC paulista. (...) Alegando sigilo, a Receita nada esclareceu.”

Na mesma edição do Globo, lemos que “a mulher de Serra vê perseguição à sua família e pede punição”. Mônica Serra declarou: “Você teria uma ditadura, se isso passasse em branco e não acontecesse nada. Se nada for feito, estaremos em uma ditadura”.

Parece que já estamos. Ou já se esqueceu do escândalo dos aloprados? Foi o mesmo José Serra a vítima, quando disputava o governo estadual de São Paulo, em 2006. Integrantes da campanha do candidato do PT, Aloísio Mercadante, foram flagrados pela polícia com R$ 1,7 milhão, em dinheiro vivo, para comprar uma declaração falsa com a qual montariam um dossiê contra Serra. Confira a imagem edificante:



O resultado? Não pegou nada, claro. Este ano, um dos aloprados, Valdebran Padilha, foi preso e indiciado pela Polícia Federal, nas investigações de um outro esquema, de fraude em licitações da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), e do Ministério das Cidades. Aloísio Mercadante, que se beneficiaria do dossiê contra Serra? Este alegou que não sabia de nada, e tá muito bom. Vida que segue, na Brasilônia.

Mas isto é notícia velha. Voltemos à edição de hoje, de O Globo. A candidata do PV à presidência, Marina Silva, considerou uma baixaria os vazamentos de dados fiscais. Segundo Marina, “Uma campanha já é um prenúncio daquilo que se fará quando se chegar ao poder, e quem não respeita a legislação, as instituições antes de ganhar, que garantia teremos de que respeitará depois que chegar lá?”. Boa, Marina.

E qual foi a reação do PT, a tudo isso? Também está lá no Globo de hoje: “O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, elevou o tom ontem e anunciou que o partido decidiu ingressar na Justiça com duas ações contra o candidato do PSDB à presidência, José Serra (...) Serra será processado na esfera criminal, por injúria e difamação, e na esfera cível, por danos morais.”

Serra tinha dito, sobre o caso do vazamento, que desejam prejudicá-lo eleitoralmente. “Esse é um crime contra a Constituição e com finalidade claramente eleitoral. A candidatura e a candidata se beneficiam dele. A Dilma Rousseff tem que dar explicações sobre quem são os responsáveis pelo crime, pois o país precisa se defender disso”, afirmou o candidato do PSDB.

A candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, por seu turno, seguindo a linha de seu partido, “chamou de factoide e calúnias as acusações de Serra”.

E ficamos por isso mesmo, como temos ficado. As notícias não páram de mostrar o avanço eleitoral de Dilma, e isso é que importa. Ela e seu partido é que vão “chegar lá”, montar no Poder, decidir quem é que leva os cargos em comissão, os aumentos, as verbas... e não é pouca coisa não, são quase 40% da oitava economia do mundo, só de tributos... com um poder desses nas mãos, que importa o choro de perdedores? Não péga nada, não afeta em nada a popularidade, não ameaça em nada a campanha... é pra meia dúzia ler no jornal, comentar, escrever um artigo num blog, lembrar do Leviatã de Thomas Hobbes, ter um pesadelo com o demônio marinho, ou sentir-lhe os tentáculos, os dentes, caso seja uma das vítimas de uma máquina infernal de Kafka...



Em artigo publicado no Globo de 18.08.2010 (http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/08/18/segunda-ameaca-317049.asp), a jornalista Miriam Leitão também alertou sobre este uso da máquina pública para operações ilegais. Reproduzo um trecho do artigo, que faz menção a reportagens recentes da revista Veja sobre o tema:

“Nas últimas duas semanas, a “Veja” trouxe entrevistas de pessoas diretamente ligadas ao governo e que trabalham em múltiplos porões de campanha. O que eles demonstram é que aquele grupo de aloprados do Ibis não foi um fato isolado. Virou prática, hábito, rotina no Partido dos Trabalhadores. Geraldo Xavier Santiago, ex-diretor da Previ, contou à revista que o fundo de pensão, uma instituição de poupança de direito privado cuja função é garantir a aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil, era usada para interesses partidários. Com objetivos e métodos escusos. Virou uma central de espionagem de adversários políticos. Agora, é o sindicalista Wagner Cinchetto que fala de uma central de produção de espionagem e disparos contra adversários; não apenas tucanos, mas qualquer um que subisse nas pesquisas.”

Denúncias graves, extremamente graves. Mas que caíram no vazio, como tantas outras. O governo de Lula e do PT ficará marcado pela História como aquele da nossa desmoralização, como nação. Nunca antes na História desse país, a corrupção e o descaramento ousaram tanto.

Símbolo marcante desses nossos tempos foi o caso do deputado federal Sergio Moraes, relator no Conselho de Ética da Câmara dos deputados em um processo contra o também deputado Edmar Moreira, que se notabilizou por ter um castelo avaliado em R$ 25 milhões, registrado em nome dos filhos. Deleitem-se com a bela visão:









Pois Sergio Moraes, mesmo sendo relator do processo, não se avexou de mandar às favas a imparcialidade, e fazer declarações de apoio ao deputado do castelo. Pressionado então pelos jornalistas, Moraes saiu-se com a frase imortal: “Eu estou me lixando pra opinião pública! Vocês batem, mas a gente se reelege!”

E o que é que deu, dessa história toda? Sergio Moraes foi tirado da relatoria do caso, que já foi julgado. Em 1 de julho de 2009, por nove votos a quatro, o Conselho de Ética rejeitou o pedido de cassação de Edmar Moreira. Ele e seu colega Sergio Moraes permanecem na Câmara, exercendo seus mandatos.

Vejo ainda esta referência interessante na Wikipédia, sobre Edmar Moreira:

“Depois ter sido absolvido pela Câmara dos Deputados, Edmar Moreira decidiu perseguir a imprensa que fez cobertura ao Caso do Castelo para pedir idenização para ficar mais rico. Moveu 44 ações contra 14 veículos e 38 jornalistas e apresentadores de televisão (entre eles, Jô Soares, Rede Globo; José Luiz Datena, Marcelo Tas, Danilo Gentili e Boris Casoy, Rede Bandeirantes; Joaquim Gil Castelo Branco Filho, Rede Record; Carlos Nascimento e Hebe Camargo, SBT)”

Ou seja, estamos anestesiados, hipnotizados, entregues à sanha de Leviatã. Podemos ser deglutidos a qualquer momento, como passarinho descendo pela garganta da cobra.

A República dos Sindicalistas, ou, As Novas Relações Perigosas

Engraçado como funciona nossa mente... vamos lendo uma notícia aqui, vendo uma imagem ali, ao longo de meses, mesmo de anos... de repente, no meio da noite, somos acordados por um pesadelo que associou todo aquele material latente em nosso cérebro, dando-lhe um sentido conjunto.

Felizmente, hoje, temos a internet, pra rastrear aquelas imagens perdidas, aqueles fragmentos de idéias, e dar uma forma concreta ao nosso pesadelo. É um belo ritual de exorcismo.

Começo por uma foto, que vi no jornal O Globo, e que muito me assombrou, por muito tempo:





Olhando o link da reportagem associada à foto (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/04/09/centrais_fazem_festa_para_parlamentares_que_aprovaram_repasse_de_imposto_sindical-426766230.asp), fiquei surpreso: a notícia foi publicada em 09.04.2008, há mais de dois anos! Obrigado, internet! Sem você, este registro estaria perdido!

Vou reproduzir só o primeiro parágrafo da reportagem: “As centrais sindicais promoveram mais uma festa nesta quarta-feira, desta vez no Congresso, para comemorar os R$ 100 milhões anuais que receberão a partir deste ano do imposto sindical. As primeiras festividades ocorreram na semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Regado a uísque black label Jonhie Walker, vinho tinto chileno Ventisquero; champanhe e proseco Garibaldi, coquetéis de frutas, sucos, refrigerantes, canapés e sushis preparados na hora, a festa para 1.500 pessoas custou R$ 17.500 - sendo R$ 3.500 para cada central.”

Daí então lembrei da notícia sobre o comício da Força Sindical nas comemorações de 1° de maio deste ano, com a presença do nosso presidente da República, e que se converteu em ato de apoio à candidata do Governo, Dilma Rousseff. Descobri uma reportagem da Veja que informava que a Oposição representaria junto ao Tribunal Superior Eleitoral contra a Força. Link: http://veja.abril.com.br/blog/eleicoes/veja-acompanha-dilma-rousseff/oposicao-entrara-com-representacao-contra-forca/

Neste outro link da revista Veja (http://veja.abril.com.br/blog/eleicoes/dilma-rousseff/dinheiro-publico-a-servico-de-dilma/), vemos como foi a atuação do “Paulinho da Força”, deputado federal, presidente da Força Sindical, durante o comício. Reproduzo trecho do link: “O sindicalista, acusado de desvio de verbas do Ministério do Trabalho, atacou duramente o tucano José Serra, adversário de Dilma: “Serra não veio aqui porque não gosta de trabalhador. Quem tem medo de trabalhador não pode ser presidente para depois tirar nossos direitos”.Em seguida, pediu explicitamente votos para Dilma e puxou o coro: “olê olê olá Dilma Dilma”. A Lei Eleitoral veda eventos públicos de campanha antes das convenções de junho. Ainda mais com verba federal. (Por Otávio Cabral, de São Paulo)”

Sobre a verba federal mencionada, vemos neste outro link do jornal A Tarde (http://www.atarde.com.br/politica/noticia.jsf?id=2316719) que “O evento da Força Sindical teve patrocínio de estatais como Petrobras, Banco do Brasil Eletrobras e Caixa Econômica Federal”.

Sobre Paulinho da Força, vemos no link do jornal O Globo que teve evolução patrimonial de 493% nos últimos quatro anos ( http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/mat/2010/07/31/variacao-patrimonial-de-paulinho-493-aumento-foi-registrado-nos-ultimos-quatro-anos-917291477.asp ). neste outro link (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/paulinho-da-forca/), lembramos notícias sobre investigações feitas para apurar desvio de recursos do BNDES, desvio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Paulinho sendo investigado, a mulher de Paulinho sendo investigada... uma festa...

Este jogo de associação de idéias se estende ao infinito. Uma lembrança leva a outra, uma página da internet leva a outra... lembro/vejo na internet, reportagens que davam conta da falta de fiscalização sobre o gasto do imposto sindical, 1 dia de trabalho por ano de cada trabalhador, coisa de uns R$ 2 BILHÕEZINHOS, por ano; sindicalistas comprando mansões, comprando helicópteros, comprando jatinhos... (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/11/03/327018755.asp); sindicalistas patrocinando ações políticas com o dinheiro do imposto ( http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,centrais-gastam-r-800-mil-do-imposto-sindical-para-pedir-voto-contra-serra,560547,0.htm); lembro/vejo reportagens sobre Lula vetando artigo de lei que permitia ao TCU fiscalizar as contas de sindicatos (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u388497.shtml)...

Este, como eu disse, é um jogo infinito... mas acho que já dá pra se ter uma idéia da intrincada rede das relações perigosas que se estabelecem no nosso modo atrasado de organização política. Este é o Estado patrimonialista, em que prevalecem as relações pessoais, e que se opõe ao Estado de direito, em que as relações são reguladas pela lei, de modo igualitário, impessoal. No Estado patrimonialista, confunde-se o público com o privado, os recursos públicos são utilizados para favorecer o governante e o grupo que o apóia, o Rei e sua Corte...

Este é o Estado em que um macaco coça o outro, uma mão lava a outra, uma mão suja a outra, do troca-troca de favores... é a nossa tradição, a nossa cultura, arraigada na sociedade. É o país do pistolão, do jeitinho, do Q.I. (quem indica), do presentinho, do suborninho, da cervejinha, do “sabe com quem tá falando?”, do pessoal incomum, dos diminutivos simpáticos: “você me faz um favorzinho, eu te dou um empreguinho, um carguinho comissionadinho, você me arruma uma licencinha, eu te dou meu apoiozinho, você me libera uma verbinha, eu chamo meu priminho delegado pra meter umas porradas naquele dissidente, você fala com seu sobrinho juizinho, eu peço pro meu vovô senadorzinho, a gente combina com nossos amiguinhos deputadinhos pra passar uma leizinha mais camaradinha...” um jogo infernal, infinito...

A teia de aranha, gigante, rodeando tudo, o país inteiro, e dentro das nossas almas. Está em toda parte, e é invisível. Todo mundo se enreda, e ninguém se dá conta. É a nossa tradição, é a nossa cultura, falar contra vai mexer com tantos interesses, vai atrapalhar a dieta de tantas aranhas... aranhinhas e aranhonas, as mosquinhas somos nós, “contribuintes” (outra palavrinha simpática!), sem as “boquinhas” em órgãos públicos, sem os padrinhos e os pistolões... os sujeitinhos das esquinas, a galerinha da senzala, esse povinho comum, que morre porque mete o pé em esgoto...

Falar contra é o único crime, é a lei do silêncio, é a omertá. Quem fala contra atenta contra nossas tradições, deve ser logo tachado de traidor dos interesses da nação, inimigo do povo, traidor da Pátria Amada, Mãe Gentil, entreguista, amigo de ianques, burguês, fascista, racista... qualquer um desses palavrões consagrados, ou na moda, não importa que não tenham qualquer relação com a realidade. Trata-se apenas de colar um rótulo odioso, demarcar que a figura atingida é um dos inimigos, a ser combatido.

Neste panorama, nada contribui mais para aprofundar o jogo de troca-troca que o gigantismo estatal. Não existe terreno mais fértil para os Donos do Poder operarem seus esquemas, espalharem suas teias, estabelecerem suas relações perigosas... que felicidade, ganhar um patrocínio de uma empresa estatal! E por que é que no Governo Lula cresceu exponencialmente o número de cargos de confiança? Por que se faz tanta passeata, e se puxa tantos coros, contra privatizações? Por isso que se tem tanta lei contra capital estrangeiro. O petróleo é nosso! O minério é nosso! Os meios de comunicação são nossos! Os aeroportos são nossos! Os bancos são nossos! “Nossos”, subentenda-se, de quem pode nomear as diretorias, manipular os preços, redigir os contratos, organizar as licitações, liberar as verbas de patrocínio...

No país do favorzinho, do compadrio, eis a medida do sucesso: nomear um diretor, nomear um presidente, nomear um ministro... de uma pasta bem importante, com uma verba bem polpuda, digamos, o Ministério de Minas e Energia... olha que imponente...

Alguém se lembra daquela figura pitoresca, quase uma caricatura nossa, o ex-deputado federal Severino Cavalcanti? Severino teve seu momento de glória quando se tornou presidente da Câmara dos Deputados, em 2005, durante o primeiro mandato de Lula. Foi uma cochilada do Governo, uma ironia do destino. Tendo o mal sido feito, Severino presidente da Câmara, “Lula chamou Severino e lhe ofereceu um cargo em alguma estatal para selar uma aliança política”, conforme reportagem neste link http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/16276_BATALHA+NA+PETROBRAS. Severino, do seu modo direto, despudorado, exigiu logo aquela diretoria “que fura poço e tira petróleo”.

Grande, Severino, sabe onde está a grana preta, o ouro negro... “Se não for assim, agora é pau”, ameaçava nosso Severino... lembrem da figurinha:



Mas talvez a caricatura de Severino fosse muito dolorosa para ficar exposta sob os holofotes da presidência da Câmara... talvez as ambições de Severino fossem muito ousadas, muito desmedidas... talvez se tenha concluído que negociar com Severino era muito constrangimento... o fato é que Severino logo caiu. Renunciou, depois que Sebastião Buani, o dono de um restaurante da Câmara, o acusou de cobrar-lhe a mensalidade de 10 mil reais sob a ameaça de fechar seu restaurante... ficou conhecido como escândalo do mensalinho... pobre Severino, depois de sonhar com a diretoria que fura poço e tira petróleo, enredar-se na merreca de dez pau por mês... a glória de alcançar a presidência da Câmara talvez lhe tenha cobrado o preço da queda... sic transita gloria mundi... ou, “a arrogância precede a ruína, e a soberba precede a queda” (Pv, 16, 18). Seria trágico, não fosse cômico, ou cômico, não fosse trágico?

Mas não precisamos gastar nossas lágrimas com Severino (melhor chorarmos por nós mesmos). No nosso país do “péga nada”, Severino já se elegeu de novo, agora é prefeito de João Alfredo (PE). Lulinha, claro, já fez discurso em Pernambuco pra defender Severino. Na sua versão, foram “as elite” que derrubaram Severino. Olha o link: http://www.blogdafolha.com.br/index.php/materias/10325?task=view

Talvez Lula tenha uma simpatia real por Severino, seu conterrâneo de Pernambuco. Lulinha talvez seja apenas um modelo novo, mais adaptado, mais palatável, do velho modo de fazer política que Severino representa. De qualquer modo, Severino já retribuiu a gentileza recebida: defendeu a idéia de um terceiro mandato pra Lulinha. Somos ou não somos o povo cordial descrito por Sérgio Buarque de Hollanda?

O mal de Severino foi morder mais do que podia engolir; ele era uma pessoa “incomunzinha”, que sonhou virar uma pessoa “incomunzona”. Não é de uma hora pra outra que se vai sentar em cima de um Ministério de Minas e Energia, que se vai abocanhar uma diretoria que fura poço e tira petróleo... que se vai sentar a bundinha num trono na Casa Grande, olhar a fila dos pedintes vindo se ajoelhar e beijar sua mão...





Digressiono, digressiono... falava de gigantismo estatal. Eis aí Leviatã. Vou lhe dedicar outro artigo, este já vai ficando muito longo e amorfo. É o que dá escrever a intervalos, e tentar dizer muita coisa.

Concluo este aqui, lembrando que o comecei inspirado em um pesadelo que eu tive, que concentrava um monte de idéias distantes no tempo. Concentrava numa imagem, que me ficou na cabeça, e era mais ou menos assim:

domingo, 22 de agosto de 2010

Registro




Sexta-feira passada, dia 20 de agosto de 2010, completou dez anos do assassinato de Sandra Gomide. Seu assassino confesso, ex-namorado, jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, mesmo condenado desde 2006, ainda não cumpriu um dia da pena.

Isto tudo acontece no país em que se mata uma mulher a cada duas horas. Nossos machos brasileiros, que vergonha! Não aguentam que uma mulher não os queira, acham que têm direitos sobre o coração alheio... que piada, querem apagar a dor em seus coraçõezinhos sensíveis com sangue... pois fiquem 20 anos, fiquem 30 anos, curtindo o sol nascer quadrado! Sejam machos pra se responsabilizar por seus atos! Mas aí tem nossas leis boazinhas, somos tão legais, somos tão camaradas, e os assassinos ficam, se muito, 4 ou 5 aninhos em cana, e voltam pra curtir sua vidinha de homens de honra...

Na ótima reportagem de sexta-feira do jornal O Globo, de Tatiana Farah, sabemos mais detalhes sobre o atual estágio do caso Pimenta Neves.

A advogada de Pimenta Neves, Maria José Freire, afirma que seu cliente vive recluso e está doente. Tadinho... Ela declara: “Li que ele sai com amigos para tomar cerveja. Doutor Pimenta nunca tomou cerveja. Se bebe, bebemos vinho.” Ah, bom. Gente coisa é outra fina.

Do outro lado da história, os pais da jovem assassinada, João Gomide, de 72 anos, e Leonilda. Ambos tiveram graves problemas de saúde depois da morte da filha. Ele, um câncer no intestino, problemas nos ossos, e uma cardiopatia que provocou três pontes de safena. Ela, um distúrbio bipolar grave, com períodos de depressão e internações em clínicas. Chegou a ficar dez meses em coma por causa de uma embolia pulmonar.

A reportagem segue: “Os dois usam andadores dentro de casa. Os bens e o dinheiro minguaram com os tratamentos médicos, as despesas com advogados, além de alguns golpes financeiros. Era Sandra quem zelava pelo patrimônio dos pais.”

O pai, João Gomide, declara: “Tem dia, à noite, que me dá vontade de morrer. Já até propus para a minha mulher: “vamos tomar nós dois chumbinho, dar um tiro na testa, sei lá”. Mas minha mulher não aceita isso. E eu não posso deixá-la sozinha.”

A mãe, dona Leonilda, diz que vê a filha à noite, que conversa com ela: “Ela diz que é espírito. Não acredito. Só acredito em Deus. Não acredito em nada. Muito menos na Justiça brasileira. Nessa, nunca. Acho que vou morrer sem ver Pimenta preso. Ele está condenado, mas não foi preso.”

Sandra foi assassinada porque não desejava mais manter um relacionamento amoroso com Pimenta Neves. Pimenta executou Sandra com dois tiros, um pelas costas, outro no ouvido.

Um crime premeditado, a sangue frio, confesso, por motivo torpe, sem chance de defesa para a vítima. Ah, mas existem tantos detalhes, detalhes tão pequenos de nós dois / são coisas muito grandes pra esquecer... não dá pra Justiça decidir assim, de supetão... dez anos, não é tanta coisa, se compararmos, por exemplo, com a idade do Universo, que tem alguns bilhões de anos. É tudo relativo, tudo uma questão de escala. E aliás, Pimenta Neves não é um qualquer, um sujeito da esquina, um comum, um que dá pra botar no pau de arara, ele só bebe vinho!

E desses pais da assassinada pode-se falar o mesmo que falou do caseiro Francenildo o advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, diante do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da quebra de sigilo bancário do caseiro: são “uns singelos, quase indigentes”; uns miseráveis, uns desqualificados, mal suportam umas despesas extras com advogados. O Judiciário devia até condená-los por terem tido uma filha que recusou um homem ilustre como Pimenta Neves, levou-o a assassiná-la, e se submeter ao constrangimento deste julgamento! Ah, Brasil, país de todos! Pode-se processar o Governo por propaganda enganosa?

Se vivêssemos num país sério, todos os milhõezinhos de reais de Pimenta Neves, toda sua selecionada adega de vinhos, teriam sido executados para indenizar danos morais aos pais da vítima. Sem prejuízo dos muitos e muitos anos de xilindró. E cada atropeladorzinho batendo péga, cada merdinha se achando o máximo porque tem um revólver, e tira uma vida, pagaria com o dinheiro que tivesse, e com descontos nos salários que recebesse, por toda a vida, para indenizar os tratamentos hospitalares, as despesas com advogados, os lucros cessantes, os danos morais, de suas vítimas e dos parentes de suas vítimas. Sem prejuízo de cadeia ou outras penas cabíveis.

Mas aí então perderíamos nosso título de campeões da impunidade! Atentar-se-ia contra nossas tradições arraigadas! Crime de lesa Pátria!

Este artigo está fora de tom. Eu estou fora de tom. Não importa. Está escrito.

Atualmente o caso está na mesa do ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello. Quando este ministro concedeu habeas corpus a Pimenta Neves, garantindo sua liberdade provisória, “foi um grande choque”, nas palavras de João Gomide. Ele continua:

“Eu peço a ele (ministro) para ser mais humano com as pessoas que sofrem a perda de um filho, que ele não sabe o que é a perda de um filho depois de criado. Que ele desse a pena do Pimenta. Para a gente ficar mais aliviado e não ficar com tanta raiva da Justiça como eu tenho. Eu quero passar a acreditar na Justiça brasileira, mas até agora não estou acreditando.”

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Revolução Fisiológica






Leio nos jornais que, em entrevista recente ao programa Roda Viva, Dilma Roussef revelou sua intenção de aproveitar o início do mandato, numa eventual vitória sua, para passar uma reforma política profunda, creio até que com a instauração de uma mini-constituinte.

Na pauta desta reforma, o financiamento público de campanhas, e o voto em lista fechada. Ou seja, o eleitor não vota mais no candidato, vota numa lista elaborada pelas cúpulas dos partidos. Os primeiros nomes da lista entram primeiro. Ou seja, Ilustre Grande Cacique, Filho de Ilustre Grande Cacique, Sobrinho de Ilustre Grande Cacique, Manteúda (o) de Ilustre Grande Cacique, Motorista/Mordomo, de Ilustre Grande Cacique...

Já tinha escrito um artigo no blog sobre o tema, não preciso me estender sobre isto. O título deste artigo dá uma idéia do apreço que tenho pela proposta: “Querem estuprar a democracia no Brasil!”. O link é http://sinatti.blogspot.com/2009/05/querem-estuprar-democracia-no-brasil.html

Agora, quero só registrar que as apostas parecem estar ficando bem altas, pra um possível governo Dilma. Nosso partido revolucionário e seus aliados, partidos fisiológicos, unidos pela Revolução Fisiológica! Chega desse negócio de democracia! Por mais que tenha cartas marcadas nesse jogo, ainda assim dá trabalho ficar montado no Poder, a cada eleição! Às vezes, precisa até mudar de domicílio eleitoral, digamos, pro Amapá! Às vezes precisa contar com uma força da Justiça Eleitoral! E às vezes dá muito gasto, precisa até adiar a compra do jatinho, ou a reforma do castelo!

Melhor acabar com essa farsa, nós nos lixamos mesmo pra opinião pública, por que é que vamos dar voto de verdade pra esses sujeitinhos da esquina? Vamos fechar logo a porta pra esses aventureiros, isso aqui é uma festa exclusiva! Depois a gente dá um aumentinho pro Bolsa Família, e fica todo mundo satisfeito! São miseráveis mesmo, dá mais dez real que tá muito bom! Ainda vão te agradecer, beijar sua mão com anel de diamante! Ah, você continua votando, viu, filhinho! Em quem o papai aqui indicou! RÁ RÁ RÁ RÁ RÁ! É NÓIS! TÁ DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO!

Estas ironias da História... Dilminha, ex-guerrilheira, codinomes Luíza, Patrícia, Vanda (conheça um pouco a biografia da fera: http://www.tribunatp.com.br/modules/publisher/item.php?itemid=1212), sonhava implantar no Brasil o modelo de alguma ditadura comunista. Transformar o Brasil num grande Cubão. Anos mais tarde, não é que a camarada pode realizar seus sonhos de juventude, e estrangular nossa incipiente democracia ainda no berço! Nunca teve raízes muito fundas, mesmo, por estas plagas... simplesmente não é da nossa tradição! Manda quem pode, obedece quem tem juízo, não é isso?
Igualdade? Rá! Não me venha com ingenuidade, conversinha fiada... onde tem igualdade entre casa grande e senzala?

Parece que a História se repete, mesmo... primeiro, como tragédia, depois como farsa. Aquele barbudinho, Karl Marx, de vez em quando fazia umas frases boas... mas como tragédia ou farsa, a História é um pesadelo, do qual tentamos despertar, como pensava James Joyce.

Mas como vai despertar o povo que não teve família, não teve estudo, não teve sequer proteínas pra formar o cérebro?

Quem teve algum estudo, vai acompanhando o pesadelo humorístico, um daqueles em que se tenta gritar e a voz não sai, ou ninguém ouve. Pesadelo de Cassandra...

Acompanha-se pelo noticiário, mais um capítulo da emocionante novela: “O Caminho da Servidão” (como o livro de Friedrich Hayek). Ou se adere ao cinismo, chuta-se o escrúpulo de lado, e vai-se defender alguma boquinha, em algum lugar... “No Brasil, ou se restaura a moralidade, ou locupletemo-nos todos”, já dizia o humorista Sérgio Porto, há uns tantos anos.

Mas a possível neo-ditadura não vai se apresentar como as hecatombes comunistas. Não. Nada de delírios escatológicos de sangue, radicalismos ideológicos, nada disso... os novos senhores vão apenas se unir aos velhos senhores, para dominar mais completamente a patuléia. Não precisa mais do que isso. Primeiro como tragédia, depois como farsa...

Dá mais dez real pra eles; um controlezinho mais “democrático” sobre a imprensa; uma verbinha de publicidade maior praqueles meios de comunicação “camaradas”; um processinho aqui, um processinho acolá, contra uns recalcitrantes; uma graninha pruns dirigentes sindicais, pruns líderes de movimentos sociais, pruns coleguinhas “engajados” das Universidades... e tá ótimo prum povo que nem sabe ler ou escrever, e nem sabe fazer conta... nem vai sentir nada...

Claro que os novos senhores vão dar as justificativas ideológicas de praxe: é tudo pela progressão rumo ao Paraíso Socialista. É melhor deixar tudo nas mãos dos Iluminados, os que sabem o que é melhor para o povo. Para garantir isso, justifica-se acabar com as incertezas da democracia. Os retrocessos. Sabe como é, o povo é facilmente iludido pelo poder do Capital, pelo imperialismo ianque. Me deixa aqui, aboletado no poder, que vai ser melhor pro povo (melhor ainda pra mim). Os fins justificam os meios!

Ah, mas precisamos dividir o poder com aqueles nossos antigos inimigos figadais, os velhos senhores? Bom, aí são as “condições objetivas”... temos de ser pragmáticos... o povo ainda não está preparado para um socialismo puro... neste meio tempo, aprendemos as velhas práticas fisiológicas dos antigos senhores. Como entupir a máquina pública com nossos companheiros e aparentados... mas não nos confunda, agora existe uma motivação ideológica pra eu ocupar aquele cargo de confiança com o meu primo, ou com minha amante! Alto lá! Todos eles leram o “Manifesto”, e o livrinho vermelho!

O caminho das pedras já foi percorrido. Nada mais de guerrilhas, metralhadoras, bombas caseiras, Sierras Maestras, Grandes Marchas, tomadas de sedes de governos... aqueles eram tempos românticos, de furor ideológico, paixões ardentes, idéias novas... tinha até alguns que realmente acreditavam naquela História de socialismo gerando um “novo homem”, um “super-homem”, “superação das contradições da História”... meu Deus, como tudo isso cheira a mofo! Tudo que parecia tão sólido desmanchou-se no ar, e esta frase também é de Karl Marx, acertando finalmente uma profecia, ainda que por vias tortas.

Não carece mais ser brutal... além de demodé, arrisca levar um tiro, no meio da batalha... e dá um trabalho... acampamento na selva, essas coisas... não, não, não, nada disso! Muito melhor é a nova tática, usar a democracia pra matar a democracia! E jurar de pé junto que se é democrático, enquanto se estrangula mesmo a democracia! Acima de tudo, manter as aparências, praticar a novilíngua descrita por George Orwell no livro 1984: Escravidão é Liberdade, Guerra é Paz, Ditadura é Democracia...

Basta seguir o modelo venezuelano da “revolução bolivariana”, de Hugo Chávez, esse grande líder, não é isso que as esquerdinhas pensam dele? Olha como ele exportou o modelo pelas nossas tristes Américas: Equador, Bolívia, Nicarágua, Honduras... todos esses seguiram o figurino: ganhar a eleição, garantir alta popularidade, com o discurso padrão para as massas, e a demagogia assistencialista; no Poder, utilizar propaganda maciça; alguma intimidação de críticos e opositores; eleger alguns inimigos, internos e externos, como espantalhos diante do povo; utilizar os recursos públicos para premiar os partidários, e punir os adversários; verbas públicas, cargos no Governo, e desapropriações, processos, fiscalizações da Receita, Tribunais, polícia... os recursos são imensos, basta usar a criatividade. Voilá, receita de bolo... tanto mais fácil quanto mais inculto é um povo, quanto menores são suas tradições de liberdade e igualdade de direitos e obrigações.

A Argentina dos Kirchner, e o Brasil de Lula-lá também trocou figurinhas com o sargentão venezuelano, deu e recebeu apoios e gentilezas... é o socialismo do século XXI pregado por Chávez! Vamos ouvindo com temor este canto de sereia neo-ditatorial, espalhando-se pelo nosso continente... Chávez vai pedir a bênção pro seu padrinho mumificado, Fidel Castro, e se anuncia como seu herdeiro das ditaduras “do povo”.

Por estas plagas, vemos as propostas de Leis de Mordaça, de Controles “Sociais” (Tudo pelo social!) da imprensa, de Planos de Direitos Humanos, aprofundando aos poucos esta opção pelo radicalismo autoritário. Mas a sociedade esperneou e os “cumpanhêro” fizeram um recuo estratégico. As tais “condições objetivas”, e talvez a sociedade não estivesse ainda madura para se entregar às delícias da submissão socialista. Ainda...

A “cumpanhêra” Dilma talvez tenha vindo para realizar estas últimas esperanças dos barbudinhos; outra ironia do destino: o PT a princípio era resistente à idéia de apoiar Dilminha, neófita em disputas políticas, tirada do bolso do colete de Lula. Lula teve de jogar pesado, como costuma fazer, pra empurrar Dilminha pela garganta do partido.

Mas eis que a falta de peso político próprio de Dilma começa a ser percebida como vantagem, mais que defeito. Com o apoio explícito e desavergonhado de Lula e da máquina governamental, o famoso “poste” aparece como favorita pra ser eleita; e a falta de peso político de Dilma pode ser uma mudança auspiciosa, depois do peso de hipopótamo de Lula, que o partido teve de aguentar nesses oito anos.

Talvez a “cumpanhêra” Dilminha, mesmo tão braba como dizem ser, deixe-se conduzir mais mansamente pelos sonhos de hegemonia dos mais radicais dentro do partido dos Iluminados. Pallocci e Dirceu, defenestrados por denúncias cabeludas, já assumem a campanha, com toda a desenvoltura. E Dilminha mostra-se bastante “cumpanhêra”, na redenção dos caídos em desgraça... Já declarou que o mensalão nunca existiu, e que o “cumpanhêro” José Dirceu foi um “injustiçado”... tadinho... veja o link http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4053217-EI7896,00-Dilma+nega+mensalao+e+diz+que+Dirceu+e+injusticado.html

Sobre Dirceu, Dilma disse ainda: "Ele é um dirigente do partido e como tal vai ser considerado. Todos os dirigentes, todos os militantes do PT são bem-vindos, até porque deles eu dependo para me eleger".

Deu pra sentir o drama? Dilminha está com apetite de poder, e vale tudo pra “chegar lá”, até dizer que água não molha, e que fogo não queima... Eminências pardas serão também bem vindas, e o que vai resultar disso aí? O belo legado deixado por nosso “estadista”, Lulinha da Silva...

A volta de Pallocci e José Dirceu aos meandros do poder, ainda que sem alarde, nas sombras, sinaliza talvez a morte de nossa capacidade crítica. Talvez nossa sociedade esteja chegando no ponto de admitir o sacrifício de sua liberdade e sua dignidade no altar da corrupção e do suborno. Bota mais dez real aí! Tem Copa do Mundo? Tem Olimpíada? Oba, oba! Pão e circo! Junta uma cachaça!

Alcançamos enfim os pináculos da desmoralização! Deputados com castelo, servidores do Senado com mansão... vale tudo, fica tudo por isso mesmo. A Nova Era chegou, está aqui mesmo, definida por aquele político que falou: “estou me lixando pra opinião pública”. É isso aí, não pega nada mesmo! O negócio é negar tudo, na careta, dizer que não sabe de nada. Imagino que os “cumpanhêro” estejam até arrependidos de, no calor do momento, ter dado a satisfação de afastar Pallocci e Dirceu dos holofotes. Tivessem mantido o sangue frio, talvez não rolasse sequer processo. O escândalo da semana seguinte faria esquecer o escândalo de hoje, e vida que segue na Brazilônia... mas com Dilminha agora tudo vai ficar mais a jeito...

Aquela alminha de guerrilheira, aquela disposição de vestir a camisa, tudo pelos “cumpanhêro”, e os fins justificam os meios. Acho que foi o filósofo Isaiah Berlin quem desvendou bem a questão: se o fim é o mundo perfeito, a superação das contradições da História, o “novo homem”, não existe meio excessivo. É o vale tudo. Vale metralhadora, vale bomba, vale mentira, vale corrupção, vale escravizar, vale exterminar...

Talvez o idealismo mais radical não seja aquele mar de flores que tem sido vendido pelos nossos espíritos românticos. Idealizar a sociedade perfeita neste Vale de Lágrimas equivale a viver frustrado e furioso com as imperfeições da realidade. Se tudo podia ser tão perfeito como trago na minha cabecinha, que ódio por não ser! Que ódio quando dou uma topada na pedra, enquanto sonhava com a perfeição! Não precisava ser assim, podiam ter asfaltado essa rua, e todo ódio precisa de um objeto, precisa de um bode expiatório... então vamos odiar aos negros, aos judeus, às bichas, aos burgueses... alguma bruxa da vez...

Vamos adorar algum desses demônios da ira, Moloch, ou Belial, fazer hecatombes de sacrifícios a ele, esperando aplacar nossa fúria, nossa impaciência, mas sempre por um mundo melhor! Melhor, não, perfeito! Um mundo perfeito, nada menos nos satisfará!

Não sei por que, lembrei agora de uma frase daquele “Santo Homem” das esquerdas, o “Che” Guevara: "Adoro o ódio eficaz que faz do homem uma violenta, seletiva e fria máquina de matar". Olhando na internet, deparei-me com outras frases da fera: “Enlouquecido com fúria irei manchar meu rifle de vermelho ao abater qualquer inimigo que caia em minhas mãos! Minhas narinas se dilatam ao saborear o odor acre de pólvora e sangue. Com as mortes de meus inimigos eu preparo meu ser para a luta sagrada e me junto ao proletariado triunfante com um uivo bestial.”;
"Não posso ser amigo de quem não compartilha das mesmas idéias que eu"; “para mandar alguém para o pelotão de fuzilamento, as provas judiciais são desnecessárias. Esses procedimentos legais são um arcaico detalhe burguês”; numa carta pra esposa: "Querida vieja: aqui, na selva cubana, vivo e com sede de sangue, estou escrevendo estas linhas inflamadas..."

Que inspirador, não? Mas como eu disse, este romantismo mais extremo saiu um pouco de moda, a onda agora é ser mais cínico e sutil... dizer que apóia a democracia, que defende a democracia, que ama a democracia, e logo que tiver o Poder, assassinar a democracia... em nome, é claro, da democracia, de uma “melhor” democracia, da vontade “real” do povo...

O truque é usar o líder carismático, o discurso populista e demagógico, passar uma reforma política que concentre os poderes, e se necessário, submeter o caso ao referendo popular. É o povo quem quer, está tudo justificado... é a Sagrada Democracia... é a Vontade Geral...

Este artigo ficou longo com as minhas digressões. Volto ao tema para analisar os mecanismos de implantação das neo-ditaduras. Rumo ao socialismo do século XXI!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Expresso Santiago - Sweet Home Chicago



Taí a galera de Friburgo, grande Expresso Santiago, numa versão pro blues de Robert Johnson. Friburgo também é rock! E blues!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bob Dylan & Bruce Springsteen - Forever Young.mp4



Outra boa versão, com Bruce Springsteen

BOB DYLAN Forever young 1976




Outra que apareceu de novo no You Tube. Já tinha feito uma postagem desta música em homenagem a minha filha querida, Joana. Vai o vídeo.

Amor,

papai

domingo, 8 de agosto de 2010

Angie - The Rolling Stones - legendado



é, sim, os rolling stones, esses marginais, esses alucinados. Mas sabem fazer música, fazer o quê?

Jimi Hendrix - Like a rolling stone




Sinto muito pela repetição, mas ouçam esta versão. Todo o fraseado da guitarra... é fantástico.

Prêmio Inovare da Justiça

Eu tenho uma boa sugestão para o concurso da Justiça que busca idéias INOVADORAS, pra diminuir um pouquinho, pelo amor de Deus, gente, essa lentidão absurda do Judiciário.

Que tal ter um prazo pra cada processo receber decisão de sua Excelência, o Magistrado? Chegou tal dia, tal petição? Se vai dar um despacho comum, o Juiz tenha 15 dias. Se vai dar uma decisão no curso do processo, digamos, 30 dias. E uma sentença, uma decisão final, 90 dias. Siga-se uma ordem cronológica. O mais antigo seja julgado primeiro, ao menos via de regra.

E que se comece a cobrar as conclusões de processos antigos. Às vezes muuuuito antigos...

Ah, este processo está há 15 anos, na sua comarca, Excelência?... 15 ANOS! E tem alguma previsão pra acabar, sua Excelência? Ah, este processo está há vinte anos, há trinta anos?... e qual a explicação para isto, sua Excelência?

Outra boa sugestão: quantos processos tem neste Estado? Quantos Juízes? E quantos processos são distribuídos pro juiz da comarca x, e pro juiz da comarca y? Ah, tem 1000 pra um, e 2 pra outro? Vamos mudar isso, comarca x, pega 501 processos, comarca y, pega 501 processos...

Ah, mas a comarca y é pequena, quase não acontece nada... pois então façam fusão de comarcas, ou não tenha comarca, ou faça-se um Juízo itinerante, ou pague condução para autor e réu e testemunha, ou faça-se vídeo-conferência, mas dê-se algum jeito!

O que se precisa é racionalizar o serviço, dividir o serviço, utilizar bem os recursos disponíveis. E não ficar desperdiçando grotescamente, horrendamente, dinheiros públicos, inchando o serviço, para um, “trabalho”, que não se justifica.

Brasil

Muito bom o artigo de Miriam Leitão de ontem. Comentando sobre o bolsa rico, bolsa milionário, do Governo, através do BNDES. Os beneficiados com o mimo da escolha governamental pegaram bilhões de dinheiro público, com juros subsidiados. Como o movimento provocou alguns artigos, murmurinhos, e alguma indignação da patuléia, os “sujeitinhos das esquinas”, os beneficiados com a mimosura sentiram-se no direito de esculhambar os críticos, que se atreviam a pedir pra saber os critérios, e se atreviam a pedir uma maior transparência, e os resultados concretos de tantos mimosinhos públicos.

Bilhões de reais, eu disse. Mas sempre tem uns sábios de plantão pra dizer que isto tudo é muito bom PRO PAÍS! E que O CARA é bom MESMO! QUE ELE TEM 80% DE POPULARIDADE, E VAI FAZER QUALQUER NEGÓCIO PRA ELEGER DILMINHA...

E calem-se articulistas e descontentes em geral. Esses bilhõezinhos aqui são meus, e ninguém tasca! Grrrrrr-au-au!

Bom isto. O CARA paira nas nuvens, apaixonado por sua imagem... tudo passa no Reinado de Brazilônia, tudo está normal, e ninguém sabe de nada. Esftou convencido de que nunca antes, na História desse país...

Parabéns, intelectualha a favor. Intelectuais que abrem mão do direito de criticar. Que vão tomar partido, que vão fechar os olhos e os ouvidos pro estupro dos mais desfavorecidos. Vão calar as boquinhas. Mas também, fica tão mais fácil pegar uma vaga, fazer uma palestra, ganhar uma verba, publicar um livrinho... depois eu até posso fazer de conta que tenho tanta moral, não endosso os sonhos oficialmente corretos? Eu sonho com o mundo da igualdade e da fraternidade, mas enquanto que ele não chega...

Bob Dylan - Hurricane



Outra bem-vinda de volta ao You Tube.

Este mesmo vídeo tinha uma postagem com legenda em português. Esta não encontro mais, então aproveito pra postar também a letra, com a tradução, que peguei deste site: http://letras.terra.com.br/bob-dylan/11901/traducao.html

E quem poderia cantar esta música, além do fanho Bob Dylan?

Hurricane
Pistol shots ring out in the ballroom night
Enter Patty Valentine from the upper hall.
She sees the bartender in a pool of blood,
Cries out, "My God, they’ve killed them all!"
Here comes the story of the Hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin' that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.


Three bodies lyin' there does Patty see
And another man named Bello, movin' around mysteriously.
"I didn't do it," he says, and he throws up his hands
"I was only robbin' the register, I hope you understand.
I saw them leavin'," he says, and he stops
"One of us had better call up the cops."
And so Patty calls the cops
And they arrive on the scene with their red lights flashin'
In the hot New Jersey night.


Meanwhile, far away in another part of town
Rubin Carter and a couple of friends are drivin' around.
Number one contender for the middleweight crown
Had no idea what kinda shit was about to go downWhen a cop pulled him over to the side of the road
Just like the time before and the time before that.
In Paterson that's just the way things go.
If you're black you might as well not show up on the street
'Less you wanna draw the heat.


Alfred Bello had a partner and he had a rap for the cops.
Him and Arthur Dexter Bradley were just out prowlin' around
He said, "I saw two men runnin' out, they looked likemiddleweights
They jumped into a white car with out-of-state plates."
And Miss Patty Valentine just nodded her head.Cop said, "Wait a minute, boys, this one's not dead"So they took him to the infirmary
And though this man could hardly see
They told him that he could identify the guilty men.


Four in the mornin' and they haul Rubin in,
Take him to the hospital and they bring him upstairs.
The wounded man looks up through his one dyin' eyeSays, "Wha'd you bring him in here for? He ain't the guy!"
Yes, here's the story of the Hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin' that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.


Four months later, the ghettos are in flame,
Rubin's in South America, fightin' for his name
While Arthur Dexter Bradley's still in the robbery gameAnd the cops are puttin' the screws to him, lookin' for somebody to blame.
"Remember that murder that happened in a bar?"
"Remember you said you saw the getaway car?"
"You think you'd like to play ball with the law?"
"Think it might-a been that fighter that you saw runnin' that night?"
"Don't forget that you are white."


Arthur Dexter Bradley said, "I'm really not sure."Cops said, "A poor boy like you could use a breakWe got you for the motel job and we're talkin' to your friend Bello
Now you don't wanta have to go back to jail, be a nice fellow.
You'll be doin' society a favor.
That sonofabitch is brave and gettin' braver.We want to put his ass in stir
We want to pin this triple murder on him
He ain't no Gentleman Jim."


Rubin could take a man out with just one punchBut he never did like to talk about it all that much.
It's my work, he'd say, and I do it for pay
And when it's over I'd just as soon go on my wayUp to some paradise
Where the trout streams flow and the air is nice
And ride a horse along a trail.
But then they took him to the jail house
Where they try to turn a man into a mouse.


All of Rubin's cards were marked in advance
The trial was a pig-circus, he never had a chance.The judge made Rubin's witnesses drunkards from the slums
To the white folks who watched he was a revolutionary bum
And to the black folks he was just a crazy nigger.
No one doubted that he pulled the trigger.
And though they could not produce the gun,
The D.A. said he was the one who did the deed
And the all-white jury agreed.


Rubin Carter was falsely tried.
The crime was murder "one," guess who testified?Bello and Bradley and they both baldly lied
And the newspapers, they all went along for the ride.
How can the life of such a man
Be in the palm of some fool's hand?
To see him obviously framed
Couldn't help but make me feel ashamed to live in a land
Where justice is a game.


Now all the criminals in their coats and their ties
Are free to drink martinis and watch the sun rise
While Rubin sits like Buddha in a ten-foot cellAn innocent man in a living hell.
That's the story of the Hurricane,
But it won't be over till they clear his nameAnd give him back the time he's done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.



Furacão
Tiros de revólver ressoam na noite dentro do bar
entra Patty Valentine vinda do salão superior
ela vê o garçon numa poça de sangue
solta um grito "Meu Deus, mataram todos eles!"
aí vem a história do Furacão,
o homem que as autoridades acabaram culpando
por algo que ele nunca fez.
colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo
em que podia ter sido o campeão mundial


Três corpos deitados ali é o que Patty vê
e outro homem chamado Bello rodeando misteriosamente
"Eu não fiz isso"ele diz e joga os braços pra cima
"Estava só roubando a registradora , espero que você entenda.
"Eu os vi partindo" ele diz e pára
"É melhor um de nós ligar pros tiras"
e assim Patty chama os tiras
e eles chegam na cena com suas luzes vermelhas piscando
na noite quente de New Jersey


Enquanto isso, bem longe, em outra parte da cidade
Rubin Carter e uns dois amigos estão dando algumas voltas de carro.
O pretendente número um à coroa dos pesos-médios
não tinha idéia do tipo de merda que estava para baixar
quando um tira o fez parar no acostamento
igualzinho à vez anterior e à outra vez antes dessa
em Paterson é assim mesmo que as coisas rolam
se você é negro, melhor nem aparecer na ruaa não ser que queira atrair uma batida policial.


Alfred Bello tinha um parceiro e ele soltou um papo atrás dos tiras
Ele e Arthur Dexter Bradley estavam só fazendo uma ronda
Ele disse "Vi dois homens sairem correndo, pareciam pesos-médios
Pularam dentro de um carro branco com a placa de outro estado"
E a senhorita Patty Valentine apenas assentiu com a cabeça.
Um tira disse, "Esperem um minuto, rapazaes, este aqui não está morto"
Então o levaram à enfermaria
E embora esse homem mal pudesse enxergar
Disseram a ele que podia identificar os culpados.


As 4 da manhã eles arrastam Ruby consigo,
O levam para o hospital e o trazem escada cima
O homem ferido olha pra cima através de seu único olho moribundo
Diz, " Por que vocês o trouxeram aqui dentro? Não é esse o cara!"
Sim, eis aqui a história do Furacão,
O homem que as autoridades acabaram culpando
Por algo que ele nunca fez.
Colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo
Em que podia ter sido o campeão mundial.


Quatro meses depois, os guetos estão em chamas,
Rubin está na América do Sul, lutando por seu nome
Enquanto Arthur Dexter Bradley continua no ramo do assalto
E os tiras estão apertando-o, procurando alguém pra culpar.
"Lembra daquele assassinato que aconteceu num bar?"
"Lembra que você disse ter visto o carro fugitivo?"
"Você acha que está a fim de brincar com a lei?"
"Não acha que talvez tenha sido aquele lutador que você viu correndo pela noite?"
"Não se esqueça de que você é branco"


Arthur Dexter Bradley disse "Não tenho muita certeza."
Os tiras disseram, "Um rapaz como você precisa de uma folga da polícia
Te pegamos por aquele serviço no motel e agora estamos conversando com seu amigo Bello
Agora,você não querter de voltar pra cadeia, seja um sujeito legal.
Você estará fazendo um favor a sociedade.
Aquele filho-da-puta é valente e está ficando cada vez mais.
Nós queremos botar o rabo dele pra fritar
Queremos pregar esse triplo assassinato nele
O cara não é nenhum cavalheiro"


Rubin podia apenas nocautear um cara com apenas um soco
Mas nunca gostou muito de falar sobre isso
"É meu trabalho", diria, "E eu o faço para ser pago
E quando isso termina, prefiro cair fora o mais rápido possível
Na direção de algum paraíso
Onde riachos de trutas correm e o ar é ótimo
E andar a cavalo ao longo de uma trilha."
Mas aí o levaram para a cadeia
Onde tentaram transformar um homem num rato.


Todas as cartas de Rubin já estavam marcadas
O julgamento foi um circo de porcos, ele não teve a menor chance.
O juiz fez das testemunhas de Rubin bêbados das favelas
E para os brancos que assistiam, ele era um vagabundo revolucionário
E para os negros, apenas mais um crioulo maluco.
Ninguém duvidava que ele tinha apertado o gatilho.
E embora não conseguissem produzir a arma,
O promotor público disse que era ele o responsável
E o juri, todos de brancos, concordou


Rubin Carter foi falsamente julgado
O crime foi de assassinato "em primeiro grau" adivinha quem testemunhou?
Bello e Bradley,e ambos mentiram descaradamente
E os jornais, todos pegaram uma carona nessa onda.
Como pode a vida de um homem desses
Ficar na palma da mão de algum tolo?
Vê-lo obviamente condenado numa armação
Não teve outro jeito a não ser me fazer sentir vergonha
De morar numa terra onde a justiça é um jogo.


Agora todos os criminosos em seus paletós e gravatas
Estão livres para beber martinis e assitir o sol nascer
enquanto Rubin fica sentado como Buda em uma cela de 3 metros
Um inocente num inferno vivo.
Essa é a história do Furacão,
Mas não terá terminado enquanto não limparem seu nome
E devolverem a ele o tempo que serviu.
Colocado numa cela de prisão, mas houve um tempo
Em que podia ter sido o campeão mundial.


---------------------------------////---------------------------------------


Rubin Carter, boxeador, conhecido como Hurricane ( Furacão) foi preso em 66, acusado de assassinato em primeiro grau. Foi libertado, após 19 anos de prisão, em 85.
Recentemente sua história foi contada no filme Hurricane, sendo interpretado brilhantemente por Denzel Washington


Bob Dylan foi processado pela Patty Valentine, por ter usado seu nome na música .

Like a Rolling Stone Legendado



Olha quem voltou a aparecer no You Tube... q bom ver este vídeo de novo. Bob Dylan... The Band... fantástico. E este ainda está legendado. Valeu, dilxzone!

Jimi Hendrix - Like A Rolling Stone [Winterland]




E olha só o que se encontra no You Tube: eu nunca tinha ouvido essa versão do Jimi Hendrix pra Like a rolling stone. Obrigado, You Tube!

Jimi Hendrix - Somewhere Over the Rainbow





Um dos últimos e menos conhecidos trabalhos de Jimi Hendrix. E na minha opinião, um dos melhores. Um blues carregado de eletricidade. Muito emocionante, muito intenso. E nunca se ouve alguém tocar assim a guitarra. É assombroso. Voodoo Chile. O norte-americano, filho de negro e de índia, e quem criaria canções assim? Este grande músico, este grande poeta, Jimi Hendrix.

Algum lugar além do arco-íris




Bem, eu vejo dedos,
Mãos e reflexos de faces

Se estendendo pra tocar
Mas sem exatamente alcançar
A Terra Prometida

Eu ouço súplicas
e preces
e sussurros desesperados dizendo:

“Oh, Senhor, por favor,
Envie-nos uma mão que ajude”

Bem fundo no subterrâneo eu
vejo as almas frustradas de cidades queimando

e por toda a extensão das águas, querida, eu
vejo armas latindo seu ferrão da morte

E acima do solo eu imagino extra-terrestres
dando risadinhas para si

Rindo eles dizem:
“Aquelas pessoas tão tensas!...,
com certeza sabem fazer uma bagunça”

De volta pra mesa do bar
minhas lágrimas se misturam com o mofo na minha bebida

Não posso realmente distinguir meus pés da
Poeira sobre o solo

Mas até quanto eu sei eles podem mesmo tentar me embrulhar em celofane e me vender
Irmãos, me ajudem,
e não se incomodem de olhar no estoque.






Somewhere Over the Rainbow
Jimi Hendrix

Oh uh,
I see fingers,
hands and shades of faces,
Reachin up and not quite touchin the promised land,
I hear pleas and prayers and a desperate whisper sayin,
Hold on please give us a helpin hand,
Yeah yeah
Way down in the background,
I can see frustrated souls of cities burnin,
And all across the water vapor,
I see weapons barkin out the stamp of death,
And up in the clouds I can imagine UFO's jumpin themselves,
Laughin they sayin',
Those people so uptight, they sure know how to make a mess
Back in the saloon my tears mix and mildew with my drink,
I can't really tell my feet from the stones on the floor,
But as far as I know, they may even try to wrap me up in cellophane and try and sell me
Brothers help me, and dont worry about lookin at the storm
Yeah yeah yeah yeah yeah

sábado, 7 de agosto de 2010

Just Your Fool





Fusão de blues com forró. Interessante como dialogam essas músicas de "raiz". Just your fool, de Walter Jacobs, com Jefferson Gonçalves e banda.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Robert Johnson preaching blues (up jumped the devil)




Blues do delta do Mississipi, o fantástico Robert Johnson. Raul Seixas não cantou que o diabo é o pai do rock? Eis aí o diabo. Reza a lenda que Robert Johnson foi pra encruzilhada vender sua alma pro demo, em troca de uma habilidade infernal pra cantar e tocar violão.

Mas onde está o diabo? No sul dos EUA, da escravidão, da Guerra Civil e do racismo,nos campos de algodão, na miséria e na humilhação, nas espeluncas que vendiam uísque de milho barato que fritava a mente, nas brigas de faca por ciúmes, ou no envenenamento?

(Robert Johnson teria bebido uísque envenenado por um dono de bar enciumado, morrendo em 1938, quando contava 27 anos). O nome do bar? Três forcados (aquele garfo grande, com que o diabo espeta os pecadores); O dia? O aziago 13 de agosto. Não, não era sexta-feira, era sábado. Mas estava criada a lenda.

Eu tenho pra mim que Robert Johnson cruzou sua encruzilhada quando sua esposa e seu filho morreram durante o parto, em 1930. Bob seguiu pra sua vida de andarilho sem pouso, cantando pelo Sul dos EUA o testemunho de sua vida louca, assombrado pelos diabos. Mas é Deus quem lhe fala:

Siga sua viagem, pobre Bob,
Eu simplesmente não posso mudar o seu rumo...

Blues da Pregação (pro alto saltou o demônio)

Eu acordei esta manhã
O blues caminhando como um homem

Eu acordei esta manhã
O blues caminhando como um homem

Blues da preocupação
Me estenda sua mão direita

O blues criança da mãe abortada
E me destroçou todo por dentro

Blues criança da mãe abortada
E me destroçou de cima a baixo

(Siga sua viagem, pobre Bob,
Eu simplesmente não posso mudar o seu rumo...)

O blues!
é um arrepio frio que te desce a espinha

Ah,
um arrepio frio que te desce a espinha

Você nunca sentiu eu
espero que nunca sinta

Querida, por favor!

é uma dolorosa
Velha dor no coração

(faça agora.
Você vai fazê-lo?
Conte-me tudo a respeito)

Querida, piedade!

é uma dolorosa
velha dor no coração

Como tuberculose
Me assassinando aos poucos

Eu estive estudando a chuva
Ah, mande embora meu blues...

Eu posso estudar a chuva
Eu quero mandar embora o meu blues...

Sigo pra estrada de ferro
Ficar por lá vai resolver...






Lay Lady Lay - versão do Duran Duran pra música do Bob Dylan

Show!

Sobre trens e pirâmides, ou, Decifra-me ou devoro-te





Especialistas dizem que não há demanda para o trem bala (TAV), e que o custo pode triplicar" - é a manchete do jornal O Globo, de 24.07.2010. Para o professor de Engenharia de Transporte da COPPE/UFRJ, Roberto Balassiano, um dos especialistas ouvidos na reportagem, "O trem-bala custará no mínimo o dobro (R$ 66 bilhões), e provavelmente o triplo (R$ 99 bilhões) (da previsão inicial (R$ 33 bilhões))". Vai o link pra reportagem: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/07/24/especialistas-dizem-que-nao-ha-demanda-para-tav-que-custo-pode-triplicar-917232734.asp

A reportagem da revista Veja de 04.08.2010 segue com as críticas ao projeto do trem-bala. A chamada no índice da revista dá pra dar uma idéia: "Trem-bala: desnecessário, perdulário e eleitoreiro". A Veja diz que com os R$ 33 bilhões orçados no projeto "seria possível construir os
11 000 quilômetros de ferrovias convencionais previstos no PAC 2 e ainda sobraria um troco".

Se o custo do trem-bala realmente triplicar, como dizem os especialistas, chegaríamos então a
33 000 quilômetros de ferrovias convencionais, mais um trocão. Que belo sonho! 33 000 quilômetros de ferrovias para o Brasil, país de dimensões continentais e graves deficiências de transporte! Quanto transporte de carga poderia ser feito, aliviando nossas estradas de tantos caminhões, de tantos acidentes, de tanto desgaste! Quantas pessoas seriam atendidas, com um meio de transporte mais limpo, seguro e barato!

Em comparação com os 33 000 quilômetros de sonho de trilhos convencionais, o trem-bala tem uma extensão de 511 quilômetros. 0,0154848... da extensão de trilhos possível, caso se optasse por investir nos trens convencionais. É isso aí, na casa do centésimo. Pra cada 154 quilômetros percorridos no trem convencional, percorre-se 1 quilômetro no trem bala. Enquanto você vai, digamos, do Rio a São Paulo, e volta, no trem comum, você vai pouco além da metade da ponte Rio-Niterói, no trem bala. Deu pra entender o drama? Enquanto você atenderia o Brasil todo com 33 000 quilômetros de trem convencional, você atende Rio e São Paulo com o trem bala. Cidades, aliás, que já eram atendidas pela ponte aérea...

Ah, mas o trem convencional não é Múderno... e os marqueteiros precisam de uma novidade pra fazer sua propaganda, pra criar um slogan. “Dilma, mãe do Trem-bala!”, que tal? Podem depositar uns milhõezinhos num paraíso fiscal por esta peça de marquetím político sensacional (não é, Duda Mendonça?) (Alô, Justiça do Brasil! Tem alguém aí?)

E assim caminha a brasilidade, assistindo passivamente ao Governo enfiar seus grandes elefantes brancos, seus grandes projetos controversos, pela garganta da sociedade, nos anos eleitorais... sem debate ou discussão, sem números ou argumentos, coisa chata, de elitistas críticos, cartesianos empolados, o negócio é aderir à massa, 80%, vamos berrar bem alto o nome do líder, Nosso Guia, sem medo de ser feliz! Olha o BNDES aí, gente! Chora, cavaco!

slurp... slurp... slurp... (é o ruído das grandes empreiteiras, salivando de satisfação, ante a perspectiva do banquete dos bilhões, nos financiamentos públicos do nosso capitalismo sem risco...)

Creio que devemos nos sentir felizes, porque o Cara dos 80% de aprovação não quis, ou ninguém lhe soprou no ouvido que seria uma boa peça de propaganda, construir uma pirâmide pro seu descanso eterno... claro, uma neo-pirâmide, toda em neón, maior que a de Quéops e a de Gizé, uma em cima da outra... “Brasil – zil – zil! A maior do mundo!”; “nunca antesf, na História desfe Planeta...” ; “Piramidebrás!”; “Dilma, a mãe da Pirâmide!”

Deixa quieto... melhor não dar idéia...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Espelho, espelho meu...


"Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco." - trecho final de A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell

Eis o link pro texto completo: http://www.fae.edu/pdf/biblioteca/A%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Bichos.pdf