Leio nos jornais que, em entrevista recente ao programa Roda Viva, Dilma Roussef revelou sua intenção de aproveitar o início do mandato, numa eventual vitória sua, para passar uma reforma política profunda, creio até que com a instauração de uma mini-constituinte.
Na pauta desta reforma, o financiamento público de campanhas, e o voto em lista fechada. Ou seja, o eleitor não vota mais no candidato, vota numa lista elaborada pelas cúpulas dos partidos. Os primeiros nomes da lista entram primeiro. Ou seja, Ilustre Grande Cacique, Filho de Ilustre Grande Cacique, Sobrinho de Ilustre Grande Cacique, Manteúda (o) de Ilustre Grande Cacique, Motorista/Mordomo, de Ilustre Grande Cacique...
Já tinha escrito um artigo no blog sobre o tema, não preciso me estender sobre isto. O título deste artigo dá uma idéia do apreço que tenho pela proposta: “Querem estuprar a democracia no Brasil!”. O link é http://sinatti.blogspot.com/2009/05/querem-estuprar-democracia-no-brasil.html
Agora, quero só registrar que as apostas parecem estar ficando bem altas, pra um possível governo Dilma. Nosso partido revolucionário e seus aliados, partidos fisiológicos, unidos pela Revolução Fisiológica! Chega desse negócio de democracia! Por mais que tenha cartas marcadas nesse jogo, ainda assim dá trabalho ficar montado no Poder, a cada eleição! Às vezes, precisa até mudar de domicílio eleitoral, digamos, pro Amapá! Às vezes precisa contar com uma força da Justiça Eleitoral! E às vezes dá muito gasto, precisa até adiar a compra do jatinho, ou a reforma do castelo!
Melhor acabar com essa farsa, nós nos lixamos mesmo pra opinião pública, por que é que vamos dar voto de verdade pra esses sujeitinhos da esquina? Vamos fechar logo a porta pra esses aventureiros, isso aqui é uma festa exclusiva! Depois a gente dá um aumentinho pro Bolsa Família, e fica todo mundo satisfeito! São miseráveis mesmo, dá mais dez real que tá muito bom! Ainda vão te agradecer, beijar sua mão com anel de diamante! Ah, você continua votando, viu, filhinho! Em quem o papai aqui indicou! RÁ RÁ RÁ RÁ RÁ! É NÓIS! TÁ DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO!
Estas ironias da História... Dilminha, ex-guerrilheira, codinomes Luíza, Patrícia, Vanda (conheça um pouco a biografia da fera: http://www.tribunatp.com.br/modules/publisher/item.php?itemid=1212), sonhava implantar no Brasil o modelo de alguma ditadura comunista. Transformar o Brasil num grande Cubão. Anos mais tarde, não é que a camarada pode realizar seus sonhos de juventude, e estrangular nossa incipiente democracia ainda no berço! Nunca teve raízes muito fundas, mesmo, por estas plagas... simplesmente não é da nossa tradição! Manda quem pode, obedece quem tem juízo, não é isso?
Igualdade? Rá! Não me venha com ingenuidade, conversinha fiada... onde tem igualdade entre casa grande e senzala?
Parece que a História se repete, mesmo... primeiro, como tragédia, depois como farsa. Aquele barbudinho, Karl Marx, de vez em quando fazia umas frases boas... mas como tragédia ou farsa, a História é um pesadelo, do qual tentamos despertar, como pensava James Joyce.
Mas como vai despertar o povo que não teve família, não teve estudo, não teve sequer proteínas pra formar o cérebro?
Quem teve algum estudo, vai acompanhando o pesadelo humorístico, um daqueles em que se tenta gritar e a voz não sai, ou ninguém ouve. Pesadelo de Cassandra...
Acompanha-se pelo noticiário, mais um capítulo da emocionante novela: “O Caminho da Servidão” (como o livro de Friedrich Hayek). Ou se adere ao cinismo, chuta-se o escrúpulo de lado, e vai-se defender alguma boquinha, em algum lugar... “No Brasil, ou se restaura a moralidade, ou locupletemo-nos todos”, já dizia o humorista Sérgio Porto, há uns tantos anos.
Mas a possível neo-ditadura não vai se apresentar como as hecatombes comunistas. Não. Nada de delírios escatológicos de sangue, radicalismos ideológicos, nada disso... os novos senhores vão apenas se unir aos velhos senhores, para dominar mais completamente a patuléia. Não precisa mais do que isso. Primeiro como tragédia, depois como farsa...
Dá mais dez real pra eles; um controlezinho mais “democrático” sobre a imprensa; uma verbinha de publicidade maior praqueles meios de comunicação “camaradas”; um processinho aqui, um processinho acolá, contra uns recalcitrantes; uma graninha pruns dirigentes sindicais, pruns líderes de movimentos sociais, pruns coleguinhas “engajados” das Universidades... e tá ótimo prum povo que nem sabe ler ou escrever, e nem sabe fazer conta... nem vai sentir nada...
Claro que os novos senhores vão dar as justificativas ideológicas de praxe: é tudo pela progressão rumo ao Paraíso Socialista. É melhor deixar tudo nas mãos dos Iluminados, os que sabem o que é melhor para o povo. Para garantir isso, justifica-se acabar com as incertezas da democracia. Os retrocessos. Sabe como é, o povo é facilmente iludido pelo poder do Capital, pelo imperialismo ianque. Me deixa aqui, aboletado no poder, que vai ser melhor pro povo (melhor ainda pra mim). Os fins justificam os meios!
Ah, mas precisamos dividir o poder com aqueles nossos antigos inimigos figadais, os velhos senhores? Bom, aí são as “condições objetivas”... temos de ser pragmáticos... o povo ainda não está preparado para um socialismo puro... neste meio tempo, aprendemos as velhas práticas fisiológicas dos antigos senhores. Como entupir a máquina pública com nossos companheiros e aparentados... mas não nos confunda, agora existe uma motivação ideológica pra eu ocupar aquele cargo de confiança com o meu primo, ou com minha amante! Alto lá! Todos eles leram o “Manifesto”, e o livrinho vermelho!
O caminho das pedras já foi percorrido. Nada mais de guerrilhas, metralhadoras, bombas caseiras, Sierras Maestras, Grandes Marchas, tomadas de sedes de governos... aqueles eram tempos românticos, de furor ideológico, paixões ardentes, idéias novas... tinha até alguns que realmente acreditavam naquela História de socialismo gerando um “novo homem”, um “super-homem”, “superação das contradições da História”... meu Deus, como tudo isso cheira a mofo! Tudo que parecia tão sólido desmanchou-se no ar, e esta frase também é de Karl Marx, acertando finalmente uma profecia, ainda que por vias tortas.
Não carece mais ser brutal... além de demodé, arrisca levar um tiro, no meio da batalha... e dá um trabalho... acampamento na selva, essas coisas... não, não, não, nada disso! Muito melhor é a nova tática, usar a democracia pra matar a democracia! E jurar de pé junto que se é democrático, enquanto se estrangula mesmo a democracia! Acima de tudo, manter as aparências, praticar a novilíngua descrita por George Orwell no livro 1984: Escravidão é Liberdade, Guerra é Paz, Ditadura é Democracia...
Basta seguir o modelo venezuelano da “revolução bolivariana”, de Hugo Chávez, esse grande líder, não é isso que as esquerdinhas pensam dele? Olha como ele exportou o modelo pelas nossas tristes Américas: Equador, Bolívia, Nicarágua, Honduras... todos esses seguiram o figurino: ganhar a eleição, garantir alta popularidade, com o discurso padrão para as massas, e a demagogia assistencialista; no Poder, utilizar propaganda maciça; alguma intimidação de críticos e opositores; eleger alguns inimigos, internos e externos, como espantalhos diante do povo; utilizar os recursos públicos para premiar os partidários, e punir os adversários; verbas públicas, cargos no Governo, e desapropriações, processos, fiscalizações da Receita, Tribunais, polícia... os recursos são imensos, basta usar a criatividade. Voilá, receita de bolo... tanto mais fácil quanto mais inculto é um povo, quanto menores são suas tradições de liberdade e igualdade de direitos e obrigações.
A Argentina dos Kirchner, e o Brasil de Lula-lá também trocou figurinhas com o sargentão venezuelano, deu e recebeu apoios e gentilezas... é o socialismo do século XXI pregado por Chávez! Vamos ouvindo com temor este canto de sereia neo-ditatorial, espalhando-se pelo nosso continente... Chávez vai pedir a bênção pro seu padrinho mumificado, Fidel Castro, e se anuncia como seu herdeiro das ditaduras “do povo”.
Por estas plagas, vemos as propostas de Leis de Mordaça, de Controles “Sociais” (Tudo pelo social!) da imprensa, de Planos de Direitos Humanos, aprofundando aos poucos esta opção pelo radicalismo autoritário. Mas a sociedade esperneou e os “cumpanhêro” fizeram um recuo estratégico. As tais “condições objetivas”, e talvez a sociedade não estivesse ainda madura para se entregar às delícias da submissão socialista. Ainda...
A “cumpanhêra” Dilma talvez tenha vindo para realizar estas últimas esperanças dos barbudinhos; outra ironia do destino: o PT a princípio era resistente à idéia de apoiar Dilminha, neófita em disputas políticas, tirada do bolso do colete de Lula. Lula teve de jogar pesado, como costuma fazer, pra empurrar Dilminha pela garganta do partido.
Mas eis que a falta de peso político próprio de Dilma começa a ser percebida como vantagem, mais que defeito. Com o apoio explícito e desavergonhado de Lula e da máquina governamental, o famoso “poste” aparece como favorita pra ser eleita; e a falta de peso político de Dilma pode ser uma mudança auspiciosa, depois do peso de hipopótamo de Lula, que o partido teve de aguentar nesses oito anos.
Talvez a “cumpanhêra” Dilminha, mesmo tão braba como dizem ser, deixe-se conduzir mais mansamente pelos sonhos de hegemonia dos mais radicais dentro do partido dos Iluminados. Pallocci e Dirceu, defenestrados por denúncias cabeludas, já assumem a campanha, com toda a desenvoltura. E Dilminha mostra-se bastante “cumpanhêra”, na redenção dos caídos em desgraça... Já declarou que o mensalão nunca existiu, e que o “cumpanhêro” José Dirceu foi um “injustiçado”... tadinho... veja o link http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4053217-EI7896,00-Dilma+nega+mensalao+e+diz+que+Dirceu+e+injusticado.html
Sobre Dirceu, Dilma disse ainda: "Ele é um dirigente do partido e como tal vai ser considerado. Todos os dirigentes, todos os militantes do PT são bem-vindos, até porque deles eu dependo para me eleger".
Deu pra sentir o drama? Dilminha está com apetite de poder, e vale tudo pra “chegar lá”, até dizer que água não molha, e que fogo não queima... Eminências pardas serão também bem vindas, e o que vai resultar disso aí? O belo legado deixado por nosso “estadista”, Lulinha da Silva...
A volta de Pallocci e José Dirceu aos meandros do poder, ainda que sem alarde, nas sombras, sinaliza talvez a morte de nossa capacidade crítica. Talvez nossa sociedade esteja chegando no ponto de admitir o sacrifício de sua liberdade e sua dignidade no altar da corrupção e do suborno. Bota mais dez real aí! Tem Copa do Mundo? Tem Olimpíada? Oba, oba! Pão e circo! Junta uma cachaça!
Alcançamos enfim os pináculos da desmoralização! Deputados com castelo, servidores do Senado com mansão... vale tudo, fica tudo por isso mesmo. A Nova Era chegou, está aqui mesmo, definida por aquele político que falou: “estou me lixando pra opinião pública”. É isso aí, não pega nada mesmo! O negócio é negar tudo, na careta, dizer que não sabe de nada. Imagino que os “cumpanhêro” estejam até arrependidos de, no calor do momento, ter dado a satisfação de afastar Pallocci e Dirceu dos holofotes. Tivessem mantido o sangue frio, talvez não rolasse sequer processo. O escândalo da semana seguinte faria esquecer o escândalo de hoje, e vida que segue na Brazilônia... mas com Dilminha agora tudo vai ficar mais a jeito...
Aquela alminha de guerrilheira, aquela disposição de vestir a camisa, tudo pelos “cumpanhêro”, e os fins justificam os meios. Acho que foi o filósofo Isaiah Berlin quem desvendou bem a questão: se o fim é o mundo perfeito, a superação das contradições da História, o “novo homem”, não existe meio excessivo. É o vale tudo. Vale metralhadora, vale bomba, vale mentira, vale corrupção, vale escravizar, vale exterminar...
Talvez o idealismo mais radical não seja aquele mar de flores que tem sido vendido pelos nossos espíritos românticos. Idealizar a sociedade perfeita neste Vale de Lágrimas equivale a viver frustrado e furioso com as imperfeições da realidade. Se tudo podia ser tão perfeito como trago na minha cabecinha, que ódio por não ser! Que ódio quando dou uma topada na pedra, enquanto sonhava com a perfeição! Não precisava ser assim, podiam ter asfaltado essa rua, e todo ódio precisa de um objeto, precisa de um bode expiatório... então vamos odiar aos negros, aos judeus, às bichas, aos burgueses... alguma bruxa da vez...
Vamos adorar algum desses demônios da ira, Moloch, ou Belial, fazer hecatombes de sacrifícios a ele, esperando aplacar nossa fúria, nossa impaciência, mas sempre por um mundo melhor! Melhor, não, perfeito! Um mundo perfeito, nada menos nos satisfará!
Não sei por que, lembrei agora de uma frase daquele “Santo Homem” das esquerdas, o “Che” Guevara: "Adoro o ódio eficaz que faz do homem uma violenta, seletiva e fria máquina de matar". Olhando na internet, deparei-me com outras frases da fera: “Enlouquecido com fúria irei manchar meu rifle de vermelho ao abater qualquer inimigo que caia em minhas mãos! Minhas narinas se dilatam ao saborear o odor acre de pólvora e sangue. Com as mortes de meus inimigos eu preparo meu ser para a luta sagrada e me junto ao proletariado triunfante com um uivo bestial.”;
"Não posso ser amigo de quem não compartilha das mesmas idéias que eu"; “para mandar alguém para o pelotão de fuzilamento, as provas judiciais são desnecessárias. Esses procedimentos legais são um arcaico detalhe burguês”; numa carta pra esposa: "Querida vieja: aqui, na selva cubana, vivo e com sede de sangue, estou escrevendo estas linhas inflamadas..."
Que inspirador, não? Mas como eu disse, este romantismo mais extremo saiu um pouco de moda, a onda agora é ser mais cínico e sutil... dizer que apóia a democracia, que defende a democracia, que ama a democracia, e logo que tiver o Poder, assassinar a democracia... em nome, é claro, da democracia, de uma “melhor” democracia, da vontade “real” do povo...
O truque é usar o líder carismático, o discurso populista e demagógico, passar uma reforma política que concentre os poderes, e se necessário, submeter o caso ao referendo popular. É o povo quem quer, está tudo justificado... é a Sagrada Democracia... é a Vontade Geral...
Este artigo ficou longo com as minhas digressões. Volto ao tema para analisar os mecanismos de implantação das neo-ditaduras. Rumo ao socialismo do século XXI!
Nenhum comentário:
Postar um comentário