domingo, 31 de outubro de 2010

31 de outubro de 2010










Feliz Dia das Bruxas!

Obrigado, meu povo...

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade - Eclesiastes

E o Brasil tem sua primeira presidenTA. Não é uma adolescenTA, é uma senhora de 63 anos. Ela deve saber que falar presidenta está errado, mas ela própria faz questão de falar assim. Deve dar um jeito mais povão, você me entende, olha o Mestre, ele faz isso. Siga o Mestre, o Nosso Guia efervescente. Esse negócio de elitismo tira voto, posso imaginar o marqueteiro dando conselhos.

Uma senhora de 63 anos, mas quem é esta senhora? Até ontem, ninguém sabia, ninguém viu. Hoje, é nossa presidente, como o Cara mandou. É um presente pro Cara, e ele vai deixar uma Mãe pra cuidar do seu povo. 4 anos lá, eu vou ali e já volto... são essas coisas que o Cara diz, é assim que o Cara pensa. É a esse infantilismo que somos reduzidos.

E eis que um belo dia, o Cara acordou com essa idéia na cachola: Dilma Rousseff. E tirou Dilma Rousseff do bolso, falou pra ela: olha lá: você vai ser minha presidenta. Aquela senhora falou: “Oh, mas eu... mas eu não tenho um voto.” E o Cara falou: “não interessa. Eu vou te eleger, você vai ser a minha garota... você vai ver como eu faço!” E a senhora Dilma falou: “Oh, muito obrigada...”

A senhora não tinha nem um voto. Nunca tinha sido governadora, prefeita, senadora, deputada, vereadora, síndica de prédio... Mas era o Cara quem dizia. O Cara que sabe das coisas.

A Oposição, bloqueada num canto... Tentando passar de amiguinha do Cara, levando tapa na cara. Ou foi uma bolinha?

E o Cara empolgado, movendo mundos e fundos, muitos fundos. Petrobrás na campanha! Dinheiro barato, baratinho, vamos comprar bastante! Nossas vendas tão caindo, nossos empregos vão acabando... ELE AGUENTA! O país aguenta! Tem muito dinheiro aí!

E os ministros vestiam camisa da Dilma, no Palácio do Planalto, em cerimônias oficiais, com dinheiro público, sorrindo felizes para a câmera! O clima de surrealismo. E os escândalos? Escândalos a granel, estampados na primeira página. A Justiça, nossa Justiça... dava umas multas de mentirinha, e o Presidente da República Federativa do Brasil, o que fazia? Fazia piada com a decisão da Justiça...

E depois quebrou o pau. Militantes petistas, devidamente identificados, tinha um candidato do PT, derrotado, no meio das tropas, impedindo uma comitiva eleitoral, de andar livremente pelas ruas. Só isso. Cidadãos, impedindo direitos fundamentais de cidadãos, direito de ir e vir, está lá na Constituição da República Federativa do Brasil, aquele documento.

Impedindo, ameaçando, paus, pedras, bandeiras. Jogaram coisas.

E como o amiguinho interpretou (?) todo o episódio? “Estou triste porque é o dia da mentira, NESTE PAÍS. Fazem de tudo para ganhar uma eleição”. Foi desmentido, cabalmente, pelas imagens na televisão.

E os guerrilheiros petistas, que nos trarão, quem sabe, a Revolução tão almejada na cabeça da nossa intelectualidade a favor. Do favor.

Teve um certo senhor, chamado Sergio Buarque de Hollanda, que disse que o brasileiro era “cordial”, definindo cordial como aquele a favor, o que abdicava de fazer a crítica. “não vamos magoar um companheiro...” Até o filho deste cavalheiro, senhor Chico Buarque de Hollanda, prestou um favorzão na sua adesão pública e entusiasmada à campanha...

Pergunte se os petistas identificados naquela violação de direitos fundamentais, desrespeitando a Lei do país, estarão respondendo a processo, terão policiais batendo à porta com mandados de prisão, por desrespeitarem a Lei publicamente. Imagino que não. Pergunte se os petistas aloprados, apanhados com 1,7 milhão não explicado em cima de uma mesa, foram condenados em algum processo. Não. É a famosa justiça do “DOA A QUEM DOER!”, proclamada.

Mas enfim, conseguiu-se o objetivo. Parabéns, capitão, artilharia, canhões, a batalha foi terminada. A senhora Dilma se elegeu, a situação pode ser mantida. Tudo como antes, no quartel de Abrantes. A casamata está intacta. É verdade que a oposição não foi extirpada. Aquele câncer. EU SOU PRÓ VOZ ÚNICA DO POVO, VOZ ÚNICA DE DEUS, EU SOU PRÓ VOZ ÚNICA! A MINHA VOZ ÚNICA! EU SOU CONTRA A OPOSIÇÃO, ESSES 3% AÍ, QUE NÃO ME AMAM! EU SOU O LÍDER, EU, EU, EU...” “E A OPINIÃO PÚBLICA SOMOS NÓS, SABE? O PODER... O PODER... O PODER... “

Ai, como é lindo! Eu sempre me emociono com elegias... tão angelical, nem que seja um anjo caído, ser A VOZ que tudo manda. Humano, demasiado humano...

Ser o Grande Senhor, acima de tudo, acima de todos... daí então, não é, quem sabe, o Grande Senhor vai distribuir umas migalhas pela estrada, e vai ficar tão emocionado, por ter feito tudo que ele fez... pelo seu povo...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O petróleo é nosso 2





Apanhado de surpresa com um segundo turno de eleição presidencial, vendo o candidato adversário aproximar-se nas pesquisas, o Governo partiu pro jogo pesado: veja a manchete do jornal O Globo de terça-feira passada, 19.10.2010: “PETROBRAS MUDA O PRAZO E PASSA A EXPLORAR O PRÉ-SAL NA ELEIÇÃO”. A exploração, que estava programada para acontecer no final do ano, simplesmente foi antecipada, de modo a criar um “fato político” novo, capaz de influenciar o resultado das eleições.

Com isso, o Governo consegue criar umas manchetes de jornais, umas matérias televisivas, cobrindo o início da exploração do petróleo no pré-sal. E a partir daí, estimula um sentimento ufanista, esperançoso, na população, de “Brasil-grande”, que serve para abafar as críticas, e render votos à candidata da situação. Um plano propagandístico tão perfeito, que deve ter sido bolado pelos marqueteiros oficiais, talvez o marqueteiro-mor, João Santana, que justifica assim ser pago com seu peso em ouro. E numa conta no exterior, não é, Duda Mendonça?

O petróleo mexe tanto com a imaginação... É o ouro negro, é o poder, é o dinheiro. O pré-sal é o novo Eldorado. Ao Governo interessa lançar a idéia de que o pré-sal vai resolver os problemas do Brasil. Agora se inicia a era de Ouro, a era da fartura e da abundância... ninguém precisa mais trabalhar, ninguém precisa mais se preocupar... saúde, educação, segurança, dinheiro para todos, tudo isso o pré-sal vai dar! Tudo isso se deve a Lula, o Rei Midas, o predestinado! Mas cuidado! Existe um vilão nessa História, sempre tem o traidor... aquele disposto a vender tudo pro estrangeiro, disposto a PRI-VA-TI-ZAR, esta palavra satânica!

Tudo muito esquemático, tudo muito maniqueísta, tudo muito falso. Mas o que importa? O importante é o resultado, é mexer com velhos símbolos, velhos sentimentos. É criar um clima, favorável às pretensões de vitória eleitoral da candidata do Governo.

Já se vê porque controlar a Petrobras é tão importante, para além dos, literalmente, bilhões e bilhões de bons negócios que se pode fazer envolvendo o ouro negro. Um sujeito do Governo pode ganhar de “presentinho” uma Land Rover, de um empresário com contratos com a Petrobras, como foi o caso do sr. Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT. E isto é só um exemplo prosaico, a Land Rover é avaliada em R$ 100 mil... mixaria. Para falarmos de números altos, podemos dizer que o Tesouro emitiu dívida de R$ 74,8 BILHÕES para financiar a Petrobras, ainda fazendo truques contábeis para transformar o gasto em receita, numa manobra grosseira, amplamente criticada por economistas. Está no Globo de 27.10.2010, na manchete de primeira página.

R$ 74,8 bilhõezinhos, e isso numa tacada só... a Petrobras é a gigante, que movimenta os bilhões. Definitivamente, coisa boa é ganhar uma dessas diretorias “que furam poço e tiram petróleo”, como o ex-deputado federal, Severino Cavalcanti, tão pitorescamente as qualificou...

Por falar nisso, Dilma Rousseff não respondeu a José Serra no debate da Rede Record, dia 25.10.2010, quando este acusou o Governo de angariar apoio político do ex-presidente da República deposto do cargo após processo de impeachment, atual Senador pelo Estado de Alagoas (você não leu errado não, isto é o real, no Brasil surreal...), Fernando Collor de Mello, concedendo-lhe uma dessas diretorias que furam poço e tiram petróleo. A confirmação está também na edição do jornal O Globo de 27.10.2010: “O diretor de Operações e Logística da BR Distribuidora, José Zonis, foi de fato indicado para o cargo por Fernando Collor”.

E logo o Collor, ex-inimigo figadal de Lula e do PT... mas é uma das tais pessoas incomuns, tem o seu curral eleitoral particular nas Alagoas, e o Governo está de olho nesses votos... quem foi que disse que a luta política produz estranhas alianças? E além disso, a Petrobras é um gigante, uma Grande Mãezona, com seus bilhões e bilhões jorrando, e agora tem o pré-sal, vai ter fartura pra todos! O que é que custa dar uma diretoriazinha que fura poço pro nosso aliado? Olha que boa moeda de troca-troca!

Gastar esses quase R$ 75 bilhões pra garantir que as crianças aprendam as matérias na escola, ou pra fazer com que as pessoas que precisam de um atendimento médico, ou de um exame, não tenham de ir pra uma fila às 3 horas da madrugada, ou tenham de esperar meses? Ou pra melhorar a segurança, ou pra construir moradias? Ah, não, tudo isso dá muito trabalho, é muito complicado, não dá muito retorno... qual a vantagem de se indicar um diretorzinho de escola nos cafundós, ou um diretorzinho de hospital numa região pobre? Bom mesmo é diretor que fura poço e tira petróleo! Pergunta pro Severino!

E, como dito, ainda se pode faturar muito, eleitoralmente, em cima da mística que a palavra “petróleo” evoca. E o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, não publicou, no site da empresa, críticas e acusações contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em plena época eleitoral, com o nítido objetivo de atingir o candidato do PSDB na disputa?

Pouco importa que no último ano a Petrobras tenha perdido 30% de seu valor de mercado; pouco importa que no período FHC a produção diária de barris tenha subido 109%, enquanto na era Lula o crescimento foi de 30%. Quem é que se preocupa com números, com argumentos, nesse Brasil de tanto analfabetismo? O importante é atingir as emoções, as camadas profundas, lá onde não existe senso crítico... impotante é fazer a propaganda, um bonito anúncio na TV, plataformas sobre o oceano, num lindo entardecer... ou uma foto de uma típica figura materna, brasileira, sorridente, abraçando uma plataforma de petróleo... sim, plenamente descarado, confiram a foto publicitária no acervo digital da Revista Veja, edição 2182, de 15.09.2010, página 6, no link: http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx

É usar o petróleo para atingir o emocional, através da propaganda. E isto não é novidade, tem sido usado com êxito, no Brasil, e no exterior, desde há muitos anos. Há quanto tempo persiste, por exemplo, nos corações e mentes do povo aquele slogan: “O petróleo é nosso”? O petróleo é o sonho secreto, de desenvolvimento sem dores, de subir na vida sem fazer força... gigante pela própria natureza... topar com o mapa do tesouro, ou com o bilhete premiado...

E agora, o pré-sal, é o neo-sonho secreto a ser explorado pela propaganda. O mesmo velho petróleo, mas com uma nova roupagem. Utilizado pela candidata governista para inflamar a imaginação dos eleitores com esta nova promessa de riqueza fácil para o país. No mesmo debate da Rede Record mencionado, ela foi enfática: “O pré-sal é o filé mignon... o pré-sal é o bilhete premiado... o petróleo que tinha antes era de baixa qualidade, mas com o pré-sal, AGORA, tudo vai ser diferente... AGORA SIM, a riqueza vai chegar para todos... o pré-sal vai financiar nossa educação, saúde, ciência, infra-estrutura, meio ambiente...”

Foi neste nível. O pré-sal é o ópio das massas...

E enquanto as massas sonham com a Era de Ouro, passam as noites em pé na fila, esperando o atendimento médico...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nossa Polícia 2


Há muito tempo vive-se uma guerra civil localizada dentro do Brasil. Falo das favelas dominadas por bandos de homens, bem armados, que durante muito tempo não sofreram resistência por parte dos governos que se sucediam no Rio de Janeiro, e aproveitaram esta omissão das autoridades para se imporem como tiranos nos seus feudos, com um poder de vida e de morte sobre aquelas populações à sua volta.

A vida numa favela é aprender bem cedo que a vida vale pouco, que a boca tem de ficar fechada, os olhos têm de aguentar tudo.

Experimente não servir ao traficante. Experimente ele desconfiar de você.

Temos visto crimes bárbaros, estampados nas capas dos jornais populares, comentados em conversas e leituras. Mulheres decapitadas, crianças com as mãos furadas à bala. A Lei do Terror, suportada dentro do território nacional, imposta aos cidadãos menos favorecidos.

E tanto tempo convivemos com isso, que até deixou de espantar. Lei não existe, nesses morros, só o arbítrio do traficante. Polícia, nesses morros, é pra extorquir e humilhar, cometer também suas atrocidades. Receber dinheiro de traficante, garantir os negócios. Polícia é igual a bandido, nesses morros, ou é pior, porque usa uma farda e um distintivo do Estado, é a representante do Estado.

Temos testemunhado isto, também: a bizarria de algumas manchetes sobre a nossa polícia. Os dois policiais que liberaram o carro destruído do atropelador do filho de uma atriz; o comandante, encarregado de investigar estes dois, apanhado dando cobertura pra ladrões de fios de cobre, no meio da rua; um certo capitão Bizarro (este é o nome), envolvido no trágico assassinato de uma figura conhecida, Evandro João Silva, coordenador do Afro Reggae, liberando os assassinos logo em seguida ao crime, ficando com a jaqueta e o par de tênis da vítima como pagamento... E isto foi filmado pelas câmeras na rua!

E tudo isso sem contar as seguidas execuções, torturas, espancamentos, em que a polícia se mostrou envolvida, ao longo desses anos.

Simplesmente não conseguimos montar uma polícia digna desse nome. Digo, é claro, em termos gerais, mas a recorrência dos crimes, com que convivemos, a recorrência dos crimes dentro também da própria polícia, a recorrência da impunidade em nossas Cortes de Justiça, mostra inegavelmente que não somos bem sucedidos na tarefa de nos fornecer, e de fornecermos aos nossos filhos, segurança.

Uma investigação deficiente ou nula. Na revista Veja teve uma edição de capa assombrosa (edição 1686, de 07.02.2001), dizendo que de cada cem assassinos, ladrões e estupradores, a polícia prende 24, a Justiça condena 5, e só 1 cumpre pena até o fim. Que casos serão esses, em que se cumpre pena até o fim? O sujeito bêbado no bar, à frente de todos, que discute com o outro, e tem um revólver, e faz uma besteira? Ou aqueles casos de celebridade, em que se empenham todos os recursos, para aparecer bem na mídia? Os outros 99% de homicidas, ladrões e estupradores ficam no barato, mesmo? Então, no Brasil, é preciso ser um bocado azarado mesmo, ou descuidado, pra cometer um crime e cumprir a pena, até o fim.

Falta treinamento, falta disciplina. Muitos inquéritos empacam nas tecnicalidades exploradas por advogados. Por que continuam se repetindo? Por que os Tribunais não definem as normas do inquérito, e os responsáveis pelo inquérito não são obrigados a aplicá-las, sendo punidos se não o fizerem? Chega de ver impunidade! Chega de ver o bandido rindo, aquele que todos sabem que é culpado, mas que não vai pagar por uma falha técnica de processo!

Mas aqui parece que é bom ter uma polícia tão ineficiente e corrupta, e tudo se mantém assim. Os Tribunais não vão cobrar dos investigadores as falhas por eles cometidas nos inquéritos. Fica tudo como antes, no quartel do Abrantes. É melhor pra corrupção, que não haja mesmo muita inteligência na polícia... Já pensou o quanto podia atrapalhar os bons negócios, ver um monte de investigadores inteligentes, cruzando movimentações financeiras inexplicáveis, apertando lavanderias de muito dinheiro, controlando com eficiência a passagem pela fronteira? E recebendo crédito por isso, progredindo na carreira, a cada prisão feita? Belo sonho...

Por aqui, polícia é só músculo, vistoso, pra aparecer na foto do jornal. Fardas pretas, coturnos, metralhadora em punho, caveirão... É a polícia da guerra, contradição em termos. Polícia não é pra guerrear, polícia é pra investigar e prender.

Mas ficamos mandando nossos jovens pra uma guerra, uma guerra civil, contra outros habitantes do país, e uma guerra sem fim. Mata-se um traficante, vem outro, e a fonte não seca, armas e drogas continuam chegando, continuam tendo quem as receba e faça bons negócios com elas. Durante todos estes anos tem sido assim. Enxugar gelo, ao preço de sangue. Enquanto isso, a polícia se brutaliza e se sente todo-poderosa, além das leis do seu país. E daí vem mais corrupção, e todo o círculo vicioso...

O resultado da política de guerra tem sido nulo e negativo, no conquistarmos uma situação de segurança. Mas em termos propagandísticos, tem sido um sucesso. Os jovens policiais-soldados desfilam nos carros com os fuzis apontados pra fora, aparecem em filmes de sucesso, cantados em prosa e verso, Osso duro de roer / Pega um pega geral / Também vai pegar você... e a nova onda agora, no dia das crianças, foi a miniatura do Caveirão, pra presentear os pimpolhos! E símbolos são criados para estes guerreiros, uma caveira atravessada por um punhal, motivo de deboche até, vejam só, de Silvester Stalone, o velho Rambo, quando esteve recentemente no Brasil pra fazer um filme...

Tudo para gáudio de nossa cultura comodista e fascista. O pensamento simplista: “O problema da violência, dessa corrupção generalizada desse país, é fácil de resolver: PAU NELES! Quebra esse desgraçado, esse diferente, esse favelado! Isso vai me proteger, eu vou me sentir mais seguro, mais aliviado desse medo que eu sinto, dessa minha frustração de ver os milhões e bilhões sendo desviados pelos poderosos, pessoas incomuns, e ficar nessa impunidade”.

Essa cultura acredita que vai ter um Rambo pra nos salvar. Está morrendo de medo, e morrendo de ódio, e nenhum desses sentimentos vai lhe servir para nada. Apenas um raciocínio eficiente o faria. Para pensar uma polícia que cumprisse sua missão com dignidade, e exigisse essa polícia, e não se contentasse com menos.

Que exigisse, e conquistasse para si e para seus filhos, a punição legal para os criminosos, e a segurança.

Mas vamos ter de esperar sentados, torcendo pra não tomar uma bala perdida ou encontrada na cara, até que uma mudança na Educação venha melhorar as bases do nosso país.

Caso de Polícia

“No Brasil, não importam os fatos, mas as versões sobre os fatos” - Presidente Lula, em declaração sobre a violação de sigilo fiscal de adversários políticos

E a Polícia Federal pegou o sujeito que pagou para violar os dados fiscais de Eduardo Jorge Alves Caldeira, vice-presidente executivo do PSDB, de outros políticos do PSDB, e de Veronica Serra, filha do candidato à presidência pelo PSDB, José Serra.

Foi o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que admitiu em depoimento ter contratado os serviços de um despachante para levantar os dados sigilosos.

Mas ninguém pense que o fato de terem sido violados dados de políticos e familiares ligados ao candidato do PSDB à presidência tenha alguma coisa a ver com a campanha eleitoral em curso. Pelo menos é o que nos garante o diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa:

“Os dados violados foram utilizados para a confecção de relatórios, mas não foi comprovada sua utilização em campanha política. A Polícia Federal refuta qualquer tentativa de utilização de seu trabalho para fins eleitoreiros com distorção de fatos ou atribuindo a esta instituição conclusões que não correspondam aos dados da investigação”.

O diretor da PF, ao considerar que não foi comprovada a utilização dos dados em campanha política, descartou o fato de Amaury ter se hospedado, depois de obtidos os dados, em Brasília, num flat de propriedade de pessoa ligada à pré-campanha de Dilma Rousseff. Tampouco considerou o fato de que Amaury, no início deste ano, foi chamado pelo empresário Luiz Lanzetta para montar uma equipe de inteligência da campanha de Dilma.

Mas do que adianta esta coleção de fatos? É só os envolvidos alegarem qualquer coisa, jurarem de pés juntos que nunca, jamais tiveram qualquer motivação eleitoral, e tá tudo resolvido! Ah, pegaram um monte de dados sigilosos de pessoas ligadas ao principal candidato da oposição, à presidência da República, À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NADA MENOS? VAZARAM ESSES DADOS NA INTERNET, NA IMPRENSA, ESTABELECERAM LIGAÇÕES ENTRE A PESSOA QUE VIOLOU OS DADOS E PESSOAS DA CAMPANHA DA CANDIDATA GOVERNISTA? Ah, mas nada está comprovado... basta falar isso, falou tá falado...

Ninguém vai ter de passar dez, quinze anos vendo o sol nascer quadrado numa prisão, por crime de violação de dados, por crime contra a democracia. É só ficar de biquinho fechado, não envolver nenhum figurão, que nada dá em nada. Em 2006 os aloprados do PT não foram apanhados com a boca na botija, 1,7 milhão de reais em cima de uma mesa de um hotel, para pagar um fulano pra dar declarações falsas sobre o mesmo José Serra, na ocasião candidato ao Governo de São Paulo? E no que deu? Deu em nada, os aloprados estão soltinhos por aí, e até continuaram aloprando no Governo, outro dia um foi apanhado, numa outra operação da polícia, outro escândalo, tornado tão rotineiro no Brasil atual, ninguém mais se espanta...

Tivesse vontade mesmo, botava o passarinho na gaiola. É aquela história: só canta o passarinho na gaiola. Botava na gaiola, com uma perspectiva de pegar 10 ou 15 anos, DE VERDADE, NÃO DE MENTIRINHA. 10, 15 anos, vendo o sol nascer quadrado, pelos crimes gravíssimos cometidos. A não ser que cantasse, bonitinho. Aí podia até se safar com uma liberdade provisória. A tática de usar o peixinho pra pegar o peixão...

Mas isso, é claro, numa Utopia, em que a polícia trabalharia como polícia, livre de pressões de poderosos, e a Justiça cumpriria seu papel de punir os malfeitos, e proteger a sociedade contra as violações de suas leis... uma Utopia, está visto, bem distante da realidade no Brasil...

Aqui, já se viu, é o próprio diretor da Polícia Federal, ninguém menos, que descarta rapidamente a possibilidade de terem sido utilizados os dados violados na campanha política. Deve ter sido coincidência, não mais que coincidência, o fato de os dados se referirem a pessoas ligadas ao principal adversário da candidata cuja campanha negociou os serviços da pessoa responsável pela violação. Mas, “não há provas”. Nenhuma confissão da candidata, gravada em rede pública. Ou por escrito, assinada em três vias, em cartório, com 18 testemunhas e reconhecimento de firma, isto para a Polícia simplesmente investigar a possibilidade de terem sido utilizados os dados violados na campanha política!

Parece que a Polícia chegou aonde podia chegar, em suas investigações. Além deste ponto, é proibido. Pegou os executores diretos do crime, aqueles que praticaram a quebra de sigilo, Amaury e o despachante que ele usou.

A partir daí, “não há provas”, infelizmente, respeitável público! Aliás, a polícia não precisa de provas, quem precisa de provas é a Justiça, para condenar. A polícia precisa apenas de indícios, para conduzir as investigações, e produzir as provas.

Mas o que fazer, se a polícia esqueceu de uma perguntinha básica em qualquer investigação: “a quem aproveita?” Mas já tinha tido um exemplo anterior, vindo do Judiciário, e nada menos que do Supremo Tribunal Federal, de esquecimento oportuno dessa perguntinha. Foi no caso da violação dos dados bancários do caseiro Francenildo. Decidiu-se então aceitar a denúncia contra o então presidente da Caixa Econômica Federal, mas não contra Antonio Palocci, então Ministro da Fazenda. Aquele teria violado os dados do caseiro a pedido deste, para favorecer a este. Mas aquele ia responder ao processo, e a denúncia contra este seria arquivada.

Seguindo esta lógica, deveríamos libertar os mandantes do assassinato de Chico Mendes, por exemplo. Eles se beneficiaram do crime, certo, encomendaram o crime, muito bem, mas não foram eles, diretamente, que mataram. Cadeia só pros executores do crime, os que serviram de instrumentos para realizar os desejos de quem queria Chico Mendes morto.

É aquela história da corda, que sempre arrebenta do lado mais fraco. Se continuarmos assim, nessa “interpretação jurídica” de punir os instrumentos, e aliviar pros mandantes, pros idealizadores, daqui a pouco veremos um figurão qualquer, uma dessas pessoas incomuns, que assassinará a esposa ou a namorada com um revólver, e o figurão será absolvido, e o revólver será condenado a 30 anos de reclusão, pelo crime ignóbil!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As Cariocas

Hora de aliviar o clima no blog, muito carregado de economia, política, e outros monstrengos.

E o que melhor que flores, para melhorar o ambiente:


http://gente.ig.com.br/materias/2010/10/19/as+verdadeiras+cariocas+conheca+as+musas+que+fizeram+historia+do+rio+9759124.html

FHC vs. LULA

Na edição 646 da Revista Época foi publicada uma interesssantíssima matéria comparando os governos de FHC e Lula através de 100 indicadores, na forma de gráficos, abrangendo diversas áreas da atuação governamental: educação, saúde, cultura, segurança, meio ambiente, economia são alguns dos tópicos. Eis o link da reportagem: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI176275-15223,00-ANOS+DE+EVOLUCAO.html

Com os gráficos, é possível visualizar com facilidade o desempenho dos dois governos. Em termos brutos, são parecidos. Um teve um avanço um pouco melhor numa área, outro em outra. Onde havia uma linha ascendente no primeiro, manteve a ascensão no segundo, o mesmo se dando quando a linha era descendente. Isto em regra. Em muitos casos, as taxas de evolução se assemelhavam, e algumas comparações favoráveis a um eram compensadas por comparações favoráveis ao outro. Para os exemplos, remeto os leitores ao link da reportagem.

Tudo isto significa que FHC e Lula são muito parecidos? Não. Os números são parecidos, e os números não mentem, mas é preciso contextualizar os números.

A verdade é que FH pegou o Brasil num momento difícil, com grandes desafios a serem enfrentados. Foi de FH o mérito, quando ainda era ministro da Fazenda de Itamar Franco, de reunir uma equipe para elaborar um plano de combate à hiper-inflação que o país sofria, e, depois, fazer aprovar o plano no Congresso. Foi um plano bem sucedido, que não recorreu a congelamentos de preços, confiscos de poupança, ou outra destas heterodoxias traumáticas e fracassadas, a que o país fora submetido no passado.

A população reconheceu os méritos de FH na queda da inflação, tanto que o elegeu presidente por duas vezes, no primeiro turno. Mas o governo FH foi conturbado, ainda, por diversas crises internacionais, e isto num momento em que o Brasil começava a se firmar de novo sobre as pernas, após anos de hiper-inflação e planos malogrados de combate à inflação.

Começou com a crise tequila, no México, em 1994/1995, justo nos primeiros anos do Real. Depois, teve a crise financeira dos asiáticos, em 1997/1998, a crise financeira da Rússia, em 1998/1999, a crise financeira argentina, em 2001/2002. De oito anos de governo FH, apenas em 2, 1996 e 2000, não tivemos uma crise financeira internacional. A especulação era toda contra o Brasil, recém-saído de um período de descontrole monetário intenso, economia emergente como a de vários outros países em crise...

Para piorar, em 2002 tivemos outra crise de confiabilidade na nossa economia, pela perspectiva da vitória eleitoral de Lula, e da ameaça de implantação de medidas econômicas radicais, que tinham sido a plataforma do PT desde a fundação do partido, em 1980.

Podemos lembrar ainda que a própria mudança de paradigma, de um modelo de inflação alta, para um modelo de inflação baixa, gera custos e problemas de adaptação, para os atores em jogo. FH e sua equipe tiveram de lidar com uma crise da dívida de Estados e Municípios, com uma crise bancária, com uma crise de investimentos públicos. Tiveram uma atuação razoável, recuperando certos fundamentos, inaugurando novas práticas; fizeram o PROER para os bancos, a Lei de Responsabilidade Fiscal para prevenir novas dívidas dos governantes, as privatizações para contar com recursos da iniciativa privada para financiar certas áreas, como telecomunicações, exploração de minério...

Estou passando por alto nesta análise das realizações de FH, haveria certas críticas a fazer, mas ficam para outra ocasião. O foco, agora, é uma comparação geral entre os governos de Lula e FHC.

Pois bem. Vimos que o governo FH foi um período conturbado, com grandes problemas, que o governo enfrentou satisfatoriamente. Fazendo uma comparação náutica, foi um período em que o navio Brasil atravessou mar aberto, com correntes traiçoeiras, com tempestades, furacões, tendo de fazer reparos no casco durante a tormenta.

Já o governo Lula foi um período, principalmente, de bonança internacional, tendo se beneficiado ainda de uma nave mais preparada, mais resistente, deixada por seu antecessor. Uma nave com inflação baixa, com finanças de Estados saneadas, com um sistema bancário fortalecido.

Podemos medir isso, pelos gráficos da Revista Época, olhando o indicador do Risco país: no governo FH, teve média de 955. No governo Lula, teve média de 340. (Aliás, o risco atingiu seu pico no governo FH em 2002, chegando a 1.640, ante a perspectiva da eleição de Lulinha...)

O governo Lula, de fato, não introduziu qualquer alteração significativa nos fundamentos do país. Apenas repetiu e manteve o que seus antecessores haviam feito, desde a redemocratização. Senão vejamos: em 1992 (governo Collor), o Brasil inicia sua abertura ao exterior, concorrência de importados; em 1993, governo Itamar, tem início o processo de privatizações, a renegociação da dívida externa, a autonomia, na prática, do Banco Central, e o país começa a ter um expressivo ingresso de investimento estrangeiro. Em 1994, o grande marco no combate a inflação, o Plano Real. Em 1998, governo FH, a resolução de problemas de liquidez e solvência de bancos e do setor público; a renegociação da dívida de 25 Estados e 180 municípios. Em 1999, adota-se o regime de metas de inflação, com o Banco Central utilizando a taxa de juros para frear o ímpeto inflacionário. Em 2000, a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, e o início do programa de transferência direta de renda, origem do famoso Bolsa Família do Lula.

Ou seja, todas estas realizações, todas estas conquistas, todas estas mudanças de modelo aprovadas pelas urnas, e de que resultou este novo Brasil, menos engessado, mais competitivo, mais rico, não tiveram qualquer participação de Lula ou do PT. Estes, aliás, mantiveram-se sistematicamente contra todas estas mudanças, propugnando, todos estes anos, um receituário totalmente distinto.

Caminhávamos em direção de uma maior abertura da economia, de uma maior responsabilidade fiscal, estabilidade de preços, privatizações, cumprimento de pagamentos da dívida? O PT era contra. Tudo isto é neoliberal, é entreguista, e o que o Brasil precisa é de uma economia socialista, fechada, estatizante, este era, e ainda é, em grande medida, o discurso padrão dos petistas.

O PT e Lula perderam três eleições seguidas com esse discurso. Estacionado nos 30% de votos. Então, às vésperas da eleição de 2002, passou por uma metamorfose: escolheu para vice de Lula um membro das “direitas”, olha só. Do Partido Liberal. Mandou publicar uma Carta aos brasileiros, em que fazia questão de acalmar o mercado. Tudo aquilo que ele passara 20 anos esbravejando? “Na oposição a gente faz muita bravata” - brincou Lulinha, já presidente, com um sorriso maroto... os bilhõezinhos que evaporaram do Brasil por causa daquelas bravatas? Não se fala mais nisso, olha só quem é o novo dono do Poder, agora... nisso, nós brasileiros somos mestres: em nos curvarmos diante de quem ocupa o Poder, e abanarmos a cauda.

Mas Lulinha, ao atingir a presidência, foi bafejado pela sorte. O mundo conheceu um período de prosperidade sem igual na História: simplesmente, um bilhão de chineses ingressava no Mercado, com taxas de crescimento assustadoras de uma China comunista, praticante do capitalismo mais selvagem. Um bilhão de chineses, até então excluídos, ávidos por participar do jogo do mercado. Querendo consumir carne, querendo consumir soja, consumir aço, outros minérios, consumir petróleo, consumir gás, tudo aquilo que podiam aproveitar para seus negócios, suas indústrias...

E que feliz coincidência, justamente as matérias primas que o Brasil vem desenvolvendo há anos, com muito trabalho, vencendo muitas dificuldades, e no exato momento em que o país superava um imenso desequilíbrio econômico, anos e anos de inflação extremamente alta...

E quem chegava lá, bem na hora desta colheita? O Lulinha, menino de sorte! O Governo nem precisou fazer muita coisa, na verdade... apenas por não ter mexido em quase nada do que fora deixado, em termos macro-econômicos, todo o arranjo já feito por seus antecessores, pôde surfar a onda de prosperidade.

Só que Lulinha poderia ter feito muito mais, ido muito mais longe. Basta lembrar que, esta potência toda que é o Brasil, vendendo tanto para tantos chineses, num ano de sua presidência, de imenso crescimento da riqueza mundial, conseguiu fazer o Brasil crescer mais apenas do que o Haiti, nas Américas! Uma vergonha mundial, o Brasil continuou sofrendo bastante com o peso de um Estado corrupto e ineficiente, mas a conjuntura mundial seguindo tão favorável, o Brasil acabou impondo o peso de sua economia. Afinal, o Brasil é um país-continente, quase do tamanho da Europa, de enormes potenciais físicos e humanos. O Brasil, simplesmente, é muito grande para parar, por mais que seja mal administrado, ainda mais num momento em que o comércio externo cresce tanto, e valoriza tremendamente as matérias primas que o país produz.

Na comparação entre os presidentes FHC e Lula, portanto, temos de comparar o momento da economia mundial nos períodos de um e de outro. Já vimos que o primeiro pegou época de tempestades, o outro pegou época de bonanças. FH, em oito anos de governo, pegou seis de crises internacionais. Lula, em oito anos, pegou dois, a crise americana de 2008-2009. E o Brasil já estava então fortalecido pelos ajustes feitos anteriormente, e por muitos anos de valorização de seus produtos no mercado mundial.

Uma âncora forte, e o Governo faturou crédito em cima do fato de nosso país não ter sido gravemente afetado pela crise americana. De novo, em sua própria atuação, o Governo foi mal, jogando com o temor da crise para avançar suas queridas teses de mais poder e mais intervenção do Estado. Aumentou, e seguiu aumentando gastos públicos, “para enfrentar a crise!”. Já sentimos os velhos fantasmas animados ante a perspectiva de reencarnar: descontrole das contas públicas, juros altos, inflação... mas isso não importa pro Governo, preocupado com o horizonte imediato de uma nova eleição. Azar de quem pegar o Governo, mais à frente, azar das futuras gerações...

Voltando aos gráficos da Revista Época, temos, por exemplo, que a evolução no acesso adequado a esgoto sanitário teve no Governo Lula uma taxa de 1,4% ao ano. Menor que a de FH, que já era baixa, 1,9% ao ano, e sempre lembrando que o período FH foi muito mais complicado.

Acesso a água encanada? A evolução no governo Lula foi a uma taxa de 0,8% ao ano. FH: 1,4%. Redução de analfabetismo? FH reduziu em 3,6% ao ano, Lula, 3%. E por aí vai...

O Governo Lula teve seus melhores indicadores, em comparação ao Governo FH, na área de Economia, e de Trabalho e Renda. Geração de emprego formal, média do PIB, salário médio dos ocupados...

Mas os atos do Governo, em si, não contribuíram pra isso. Foi o Governo FH que criou os projetos, as leis, os planos, que levaram à estabilidade do país, e à sua possibilidade de crescimento. Isso, com a oposição cerrada de Lula e do PT, ironicamente, os beneficiários políticos do ajuste.

O resto, foram condições externas, da economia mundial, não atribuíveis aos Governos de Lula e de FH.

Portanto, na comparação de FH e Lula, para mim é evidente que o primeiro fez muito mais, em seu Governo, mas não posso congratulá-lo, porque acho que também não conseguiu levar o país para um ponto sem volta na senda do progresso. Não conseguiu, digamos assim, fazer o foguete escapar da atmosfera terrestre. Ultrapassar o ponto sem volta.

Aliviou graves problemas, mas não conseguiu vencer o verdadeiro desafio: pelos corações e pelas mentes do povo; não conseguiu formar uma massa crítica da população, que se sentisse livre e confiante de progredir pelo seu trabalho, e resistindo, e não permitindo que ladrões e corruptos enfiem a mão no seu bolso, e no seu direito, e no direito dos mais fracos da nossa sociedade.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O petróleo é nosso





Governo Lula, tivemos de conviver com o roubo descarado nos encarando, sorridente, impune. Grandes negócios, só se pensa em grandes negócios. 100 bilhões de reais, um pequenino “aporte de capital”, para a Petrobras... ela precisava, pois fechou o ano de 2009 com, ora vejam, uma dívida de 100 bilhões de reais! 100,329 bilhões, pra ser mais exato, a maior de sua história, 55% superior à dívida de 2008... Tantos negócios bons se pode fazer com essa gigante... tantas festas que ela patrocina, festivais, comícios, eventos... milhõezinhos que podem ser sacados pra dentro de certos bolsos, pelos gigolôs dessa prostituta...

Mas vamos dar-lhe ares sagrados, vamos mexer com o imaginário popular, fazer uma bela propaganda (vai uns milhõezinhos aí pros publicitários, pros veículos de comunicação...); assim fica mais fácil enganar os trouxas. Não quero que mexa em nada nessa minha fonte de renda, tantos contratos pra assinar, tantas licitações pra fazer... e, você sabe como é, por aqui não pega nada... nada pro nosso nível de renda, nosso nível de influência, pro nosso poder. Passa nas barbas, polícia, Ministério Público, Juízes? Eu rio de tudo isso, nenhum desses me incomoda. Nenhum desses foi feito pra mim.

Vou instalar um modelo do modo que mais me beneficie. Vou aproveitar cada brecha pra extorquir mais um bilhão. São centenas de bilhões, tá me entendendo?

Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT, admitiu ter recebido de “presentinho”, uma land rover, de uns 100 mil reais, do dono de uma empresa que tinha contratos com a Petrobras. E daí? Não pegou NADA. Ele pode dizer simplesmente, literalmente:
"Nada ofereci ou me foi pedido em troca, minha consciência está tranqüila."

E pronto, tá explicado. Não pega nada. Ele não é preso por corrupção passiva, o dono da empresa não é preso por corrupção ativa. Tudo morto, parado. Vira piada de salão, como disse o outro, sr. Delubio Pereira. Pode debochar. Pode debochar de um povo que tem casa soterrada na enchente, tem casa soterrada na favela, mora em barraco de papelão, come merda, morre de bicho ou de tiro com 30 anos.

Foi um presentinho, desinteressado. Sabe como nós somos generosos uns com os outros, aqui em cima...

Eu acho que sequer deve ter afetado os negócios da empresa com a estatal. Os de Silvinho não afetou. Depois de acalmado o tsunami, que se revelou marolinha, ele tratou de abrir uma empresa de “eventos”, muito bem sucedida, fazendo bons negócios com a Petrobras. Não é uma maravilha?

Nada acontece, no país dos aloprados, todo mundo vive com o escárnio grampeado nos olhos, e ninguém enxerga nada.

Hoje o Presidente da Petrobras, indicação do amigo governante, faz propaganda contra o candidato da oposição, no site da empresa. É um atentado à eleição, é um atentado à democracia, é descarado, é um absurdo, é ridículo. Mas alguém ainda vai se preocupar com o ridículo, depois da desmoralização absoluta? Depois que foram apanhados, com a mão na botija, e ficou por isso mesmo? Qual vai ser o limite, agora?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A LEI DO MAIS FORTE




Os Estados Unidos se meteram num lodaçal no Iraque. Uma guerra suja por dinheiro. Pelas riquezas de um país rico, por petróleo.

Orgulhosos de seu poder, tiveram a arrogância de usar da manu militari para fazer negócios pelo mundo. Os que decidiram pela guerra, nos altos círculos, sacrificaram a vida de iraquianos, sacrificaram a vida de jovens americanos, principalmente pobres, para fazer negócios.

A construtora que fechou negócios de bilhões de dólares para reconstruir o Iraque, era financiadora de campanha de ilustres políticos. O filme de Michael Moore, Fahreneit 11.9 mostra bem isso. Há coisas no filme que não parecem descrever muito bem certos fatos, mas em compensação há muita coisa desencavada: recrutamentos quase forçados de jovens pobres, utilização do medo e da paranóia para conquistar o apoio das maiorias, grandes negócios fechados por gente graúda, ante a perspectiva da guerra.

Os Estados Unidos foram contra seus próprios princípios proclamados. Um mundo de liberdade, de livre comércio? Pague o preço que os iraquianos pedem pelo seu petróleo. Eles são os donos. E vocês o consumam dentro de suas possibilidades, invistam em energias alternativas.

Ao simplesmente atacar o Iraque, com falsos pretextos, a “vingança contra o Oriente, pelo 11.9”, "armas de destruição em massa, prestes a serem usadas contra os Estados Unidos por Saddam Hussein", os Estados Unidos simplesmente se assemelhavam a um ladrão, violento, que não liga para suas vítimas. Mortes de americanos, mortes de iraquianos. Civis iraquianos, meninos e meninas, mulheres, velhos, velhas, mães, avós, irmãs...

Que vergonha internacional para um país. Um país de tão belas Instituições, de tão belos Fundamentos (não confundam certas coisas com outras coisas). Mas em que a Soberba, o Poder, a Ganância, a Inescrupulosidade, obtinham uma vitória monstruosa nos corações e mentes americanos, e mostravam ao mundo uma face terrível de seu país. A face do Poder Guerreiro, Invasor, Estuprador, Assassino. A face que aposta na Guerra, como solução dos problemas. Como fonte de ganho.

Uma mancha de sangue nas mãos, difícil de lavar, como a de Lady Macbeth, para os americanos.

O Espírito da Guerra pairava de novo sobre o Mundo, depois de 1991, com o fim da Guerra Fria. E dessa vez sequer se via a ameaça dos dois blocos de poder mundial. Era simplesmente garantir os suprimentos de petróleo. Os Estados Unidos mantêm suas Marinhas, espalhadas pelo mundo, nas rotas do petróleo. Gastando quantidades absurdas de óleo. Mas ele deu um gigantesco passo além ao mostrar para o mundo sua disposição para iniciar uma guerra, invadir territórios, pelo ouro negro.

O 11.9, foi o combustível perfeito para inflamar a soberba e o medo que predispunham o país para a guerra. E Bin Laden ainda se pensa, e muitos pensam dele, que é algum protetor e guardião dos povos muçulmanos, levando essa destruição para alguns desses povos.

Os “Falcões” republicanos grasnaram felizes, adejando à volta da cabeça frouxa de Bushinho, sopravam infindavelmente sobre o Orgulho Ferido Americano, da Cruzada pela Liberdade, desses Campeões da Verdade e Justiça que são os americanos, do direito infinito que eles têm de ensinar praqueles outros povinhos do mundo a maneira certa de viverem sua vida, isto é, jamais impondo qualquer obstáculo para as boas intenções e os bons negócios americanos. Afinal, eles não eram os heróis, os super-homens, os vencedores?

Mas o que o herói e o super-homem fez quando um esfomeado louco se explodiu e carregou a cabeça do vencedor junto? Ele não tinha nenhum poder especial, afinal... ele era também só carne e sangue... e nenhum super-computador previu, nenhum super míssil evitou...

Bushinho vinha falar na segurança de um porta-aviões, com um sorrisinho de estúpido bem nutrido: “nossos garotos estão vencendo”. Não eram os garotos dele e dos políticos americanos, isto é certo. Este é o clímax do filme de Michael Moore, ele entrevistando os políticos, perseguindo-os pela rua, para ouvi-los dizer que seus filhinhos não estavam indo pra guerra. Estavam em alguma festinha boa na Faculdade, ou em Malibu, ou Ibiza...

Mas ninguém questionava nada, na América de Bushinho. Quando ele vinha falar na TV das “grandes vitórias do povo americano”, Bushinho bulshit, todos tinham de aplaudir os “garotos”, pra mostrar que tava do lado certo. Que era um bom americano (a), e um bom patriota...

Igual na Alemanha de Hitler, não podia não aplaudir. Não podia ter crítica, não podia ter oposição. Vejam o filme The mortal storm, de 1940,sobre a ascensão do nazismo, pra entender o clima do pesadelo. E isto na Grande Democracia, para que ninguém divinize e idolatre nada do homem. Mesmo num Estado de tão brilhantes tradições democráticas, vejam todos, fiquem alertas, o que pode acontecer. Não se pode baixar a guarda jamais, não se pode dormir sobre os louros da glória. Está certo dizer que o preço da liberdade é a eterna vigilância.

Nenhuma resposta pronta, nenhum sistema perfeito. Democracia? Nação? Umas tantas glórias para o homem, mas experimente abandonar-se a elas, abrir mão de questioná-las, e será logo engolido. Experimente amá-las em sua idealidade, esquecendo da concretude do ser humano neste vale de lágrimas. E se vai descobrir só, perseguindo fantasmas.

O povo do sol da liberdade, do hino da estrelinha? Canto de sereia, bem dizem que o nacionalismo é o refúgio dos canalhas. É o orgulho dos canalhas. Primeiro que tudo está o homem, qualquer que lhe seja a feição, e ainda que seja o inimigo. O que se afasta disso caminha para o diabólico.

A Dança dos Vampiros

Trilha sonora:





O figuraça Agamenon Mendes Pedreira, na edição do Globo de 13.10.2010 associou o vice da Dilma, Michel Temer, a uma fotografia do ator Christopher Lee interpretando o Conde Drácula. Infelizmente, não consigo achar um link na internet para o arquivo desta coluna do Agamenon. Mas publico uma foto do Christopher Lee e uma do Michel Temer, para vocês mesmos fazerem a comparação. Eu nem acho que se parecem tanto, isto é intriga da oposição. Ah, sim, o Michel Temer é o da foto de baixo.








Essa história do Agamenon deve ter começado quando o Antonio Carlos Magalhães, colega parlamentar de Michel Temer, hoje falecido, teve uma briga com Temer, e o chamou de “mordomo de filme de terror”. Logo o Toninho Malvadeza falar isso, devia saber bem do que tava falando.

E o mais engraçado (ou não), é que fazendo uma pesquisa no Google, com o nome de Michel Temer, logo vêm umas sugestões de associação com a palavra “satanista”: “Michel Temer satanista”; ou “Michel Temer é satanista”. Algo muito estranho.

Para vocês terem uma idéia, fazendo a pesquisa no Google, “Michel Temer satanista”, aparecem logo de cara estes links: “O guarda de Israel: Afinal, Michel Temer é mesmo satanista?”; “Michel Temer é satanista? Teólogo diz que é boato”; “Imagens de Michel Temer satanista”; “Sacerdote do satanismo”, e muitos e muitos mais, todos lidando com a questão candente: Michel Temer – satanista ou não satanista? Riam ou chorem, a escolha é de vocês.

Clicando num destes links, o que fala “Michel Temer é satanista? Teólogo diz que é boato” podemos ler uma reportagem que identifica uma suposta origem deste incômodo boato num email que circulou pela internet, afirmando que “Michel Temer juntamente com Sarney, Dantas, Dirceu e até Kassab são satanistas, sendo dito também que Michel Temer seria o pai de Daniel Mastral, o polêmico escritor de livros evangélicos e suposto ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica secreta, chamada de Irmandade."

Ah, meu Deus, estas teorias da conspiração... se bem que explicariam tantas coisas... Bem, eis aqui o link da reportagem na íntegra: http://pvpd.blogspot.com/2010/07/michel-temer-e-satanista-teologo-diz.html

Mas será que teremos Michel Temer de vice-presidente eleito do Brasil, eventualmente presidente do Brasil, na ausência de madame Dilminha Rousseff? Que tal lhes parece? Olhem bem as figurinhas:

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Led Zeppelin In My Time Of Dying

E o que acontece quando o Led Zeppelin faz um cover de Blind Willie Johnson? Isto:


domingo, 10 de outubro de 2010

Debate presidencial na Band - 2° Turno

Vocês viram? Muito bom. Finalmente, começam a cair as máscaras.

Seguem alguns links pro debate, se pesquisar no You Tube deve encontrar inteiro:





Pânico Na TV 10/10/2010 - Dilma e Serra Pedem o Apoio de Marina Silva



Sorte nossa que nossos senhores liberaram o humor na campanha eleitoral!

Bigado, viu, sinhô! que deixô eu fazê humor com as caras santa dus nossu puliticús!

Falta de respeito? Falta de respeito é roubarem 1 bilhão do nosso bolso, é gente morrendo por falta de leito em hospital!

I want you - Bob Dylan

Esta postagem é pro meu amor, Andrezza





I want you, linda canção de amor, e não se usa a palavra "amor" uma única vez. Eu adoro a trama de sons feita pelo dedilhado da guitarra. Uma música de que eu simplesmente não enjôo, já ouvi tanto e tanto... do formidável disco Blonde on Blonde (1966):

I Want You
Bob Dylan

Guilty undertaker sighs
The lonesome organ grinder cries
Silver saxophone say I
I should refuse you
Cracked bells and washed out horns
Blow into my face with scorn
It's not that way
I wasn't born to lose you

I want you
I want you
I want you
So bad
Honey, I want you

Drunken politician leaps
Under the streets where mothers weep
Saviours lying fast asleep
They wait for you
And I wait for them to interrupt me
Drinking from my broken cup
And ask for me
To open up the gate for you

I want you
I want you
I want you
So bad
Honey, I want you

All my fathers, they've gone down
True love, they live without it
And all their daughters, they still put me down
Because I don't think about it

I returned to the Queen of Spades
Talked with my chambermaid
She knows that I'm not afraid to look at her
She's good to me
There's nothing she doesn't see
She knows where I would rather be
But that doesn't matter

I want you
I want you
I want you
So bad
Honey, I want you

Dancing child with his shiny suit
He spoke to me, I took his flute
No, I wasn't that cute to him
Was I?
I did it all because
He lied
Because he took you for a ride
Because time was on his side
Because I want you
I want you
I want you
So bad
Honey, I want you

Eu quero você

O agente funerário culpado suspira,
O solitário órgão rangente chora,
Os saxofones de prata dizem que eu deveria
Rejeitar você

Sinos rachados e cornetas aguadas
Sopram na minha cara com escárnio

Mas não tem jeito
Eu não nasci pra perder você

Eu quero você
Eu quero você
Eu quero você
Tanto que dói

Querida, eu quero você

O político bêbado dá pulos
Pela rua onde mães choram
E os Salvadores, ferrados no sono,
Esperam por você

E eu espero por eles,
para que interrompam
meu beber na minha caneca quebrada

E me pedirem para abrir
O portão pra você

Eu quero você
Eu quero você
Eu quero você
Tanto que dói

Querida, eu quero você

Agora todos os meus pais, eles se afundaram,
Verdadeiro amor, eles vivem sem isso,
E todas as sua filhas,
Me colocam pra baixo,
Porque eu não penso a respeito disso

u quero você
Eu quero você
Eu quero você
Tanto que dói

Querida, eu quero você

Bem, eu voltei à Rainha de Espadas,
E conversei com minha criada de quarto,
Ela sabe, eu não tenho medo,
De olhar para ela.

Ela é boa para mim
Não tem uma coisa que ela não veja

Ela sabe onde eu preferia estar
mas isso não importa

Eu quero você
Eu quero você
Eu quero você
Tanto que dói

Querida, eu quero você

Criança dançarina, com seu terno brilhante,
falou comigo
eu tomei sua flauta

Não, eu não fui muito amável com ele,
será que fui?

Mas eu fiz isso, porque ele mentiu,
porque ele te levou pra dar uma volta,
Ah, porque o tempo estava do lado dele

Porque eu...

quero você
Eu quero você
Eu quero você
Tanto que dói

Querida, eu quero você

Na última estrofe, geralmente se identifica a "criança bailarina" com o rolling stone Brian Jones. Algumas pistas: o terno brilhante, Brian Jones tocava flauta, em algumas músicas dos Stones, o verso que fala que "o tempo estava do lado dele", o que remete para o sucesso dos Stones, a gravação da música Time is on my side, de Jerry Ragovoy.

Parece que Dylan sentiu um certo ciúme de Brian Jones.

Aqui vai um link pra escutar a música na íntegra:

http://listen.grooveshark.com/#/s/I+Want+You/30vdAv

Brasil tri contra Cuba




Parabéns, seleção brasileira de vôlei, tri-campeã mundial hoje, vencendo um jogo irrepreensível contra a difícil seleção cubana!

Parabéns, Bernardinho, há tantos anos comandando com profissionalismo e emoção esta seleção campeã!

Parabéns, jogadores, parabéns a toda a comissão técnica, que fizeram do vôlei um esporte tão bonito, tão bem jogado, no Brasil!

Parabéns!

sábado, 9 de outubro de 2010

Diretora da penitenciária de Caruaru



No Fantástico, ontem (03.01.2010), uma notícia boa para o Brasil. Uma admirável mulher, diretora de um presídio no Ceará, que desempenha com total correção seu trabalho.

Vídeo da reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=ijtf2sEy_Mw

E o triste é que um trabalho tão bem realizado não seja prontamente reconhecido, louvado, copiado. Em tantos presídios onde reina a mais absoluta bandidagem, por que não copiar a pacificação, o trabalho, a qualidade, a competência, a dignidade?

O que vemos no presídio do Ceará é que os presos têm capacidade de produzir o seu pão. Por que não replicar isso, ter muitos fornos, para homens assarem seu pão, plantarem seu trigo? A imoralidade de dinheiro que poderia produzir estes fornos, plantar este trigo, pagar os padeiros, vá servir pra construir mais uma piscina pra um bem rico, ou comprar um helicóptero, ou passear de jatinho, levando amadas para a Europa e os Estados Unidos, e ver os infelizes pensando que merecem bem isso... são tão especiais, nossas autoridades, tão garbosos em seus ternos bem cortados, pra quem a vida é uma festa... podem passear na Disney, sim, com o dinheirinho do povo. Vocês são homens incomuns, por que não? Nosso presidente diz que é hipocrisia criticar isso... e ele é a voz do povo, é a opinião pública, arrotando grandeza com 80% de aprovação... e a polícia bate em quem tem de bater, é isso também que nosso presidente nos diz. Repete a mentalidade mais baixa, e lava suas mãos, como o fez Pilatos. Esses presos só merecem isso mesmo, viver como animais, servir pra algum espertalhão vendedor de marmitas podres praticar sua corrupção e ficar rico... você, como Governo, não vai fazer nada com relação a isso. O preso que se exploda, e agora vamos fazer as malas que se precisa ir pra Disney, ou se precisa levar a comitiva pra ficar hospedada em algum castelo na Europa, ou se precisa usufruir do luxo de algum sheik árabe. Ótimos negócios, Brasil, ótimos negócios para alguém, embora tantos de seus filhos morram de raiva e de fome.

A corrupção mancha esta nação. É indizível o que o homem é, ao usar o dom da inteligência para buscar os meandros de acumular vastos milhões, à custa de tantos. Subornos, golpes, espertezas, cinismo, tudo na ordem dos bilhões. O mal do Brasil é. A impunidade é uma covardia aviltante, mostra que como nação não podemos nos considerar homens livres.

Homens livres, só aqueles que no presídio fazem o seu pão, e assumam a responsabilidade de viver do seu trabalho, e não cometer mais crimes. Homens livres, e mulheres, só aqueles que organizam este trabalho de uma forma humana, e desempenham seu trabalho com correção. Contra todas as injustiças que homens perversos cometem contra este país.

A Revolução Fisiológica - parte 3



Nos artigos anteriores desta série, eu identificava o perigo dos neo-totalitarismos surgindo em nossa região, a partir do exemplo de Hugo Chavez, na Venezuela. As mudanças constitucionais, aprovadas num clima de demagogia e ameaças aos opositores, no sentido de aumentar os poderes do governante de plantão, e afrouxar os mecanismos de controle ao exercício deste poder, foram perseguidas pelos presidentes Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, no Equador.

Também o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ex-guerrilheiro sandinista, sentiu-se confortável para tentar seu golpe. Neste caso, nem precisou invocar o tradicional plebiscito: Ortega simplesmente conseguiu que os juízes da Suprema Corte da Nicarágua suspendessem uma barreira constitucional que o impedia de concorrer à reeleição. Parece mentira, mas é verdade, olha só esse link, com uma foto de Chavez, sempre ele, com Ortega: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1347946-5602,00.html

Claro que Chavez estava envolvido nessa História, espalhando ditaduras ao seu redor, ninguém quer ser louco sozinho. Chavez deu suporte ao golpe de Ortega, assim como dá suporte aos outros governos de esquerda da região, que investem contra a liberdade em seus países: além de Correa, de Morales, de Ortega, Chavez apoiou Manuel Zelaya, de Honduras, o casal Kirchner, na Argentina, e, aqui no Brasil, ai ai ai, a dupla dinâmica Lula-Dilminha...

Com relação ao Zelaya, Chavez trouxe o Brasil para a sua pantomima de interventor em assuntos internos de outros países. Tivemos o desprazer de assistir, nas manchetes dos jornais, a foto do ex-presidente golpista de Honduras trazendo o caos pro seu país, debruçado numa varanda da embaixada brasileira, depois de ter sido deposto. Fazendo comício na nossa embaixada, incitando os hondurenhos a um conflito civil.

E aí, para defender o golpista, o Brasil arrotou grosso contra o governo hondurenho... Deixamos o golpista e seus asseclas hospedados na nossa embaixada, por semanas, arriscando um grave incidente, arriscando mortes de hondurenhos, recusando formalizar a concessão de asilo político a Zelaya, à margem de qualquer juridicidade do ponto de vista do Direito Internacional...

Teve um momento, nos discursos irados de nosso presidente Lula, em que temi que nosso bravo presidente, Nosso Guia, secundado por Celso Amorim, declarassem guerra a Honduras... estavam tão revoltadinhos com a ameaça à democracia de Honduras, decorrente da deposição de Manuel Zelaya... (a explicação oficial para a conduta do Brasil no episódio). Só não explicavam porque seus coraçõezinhos tão democráticos não se confrangiam com as ameaças à democracia feitas por Chavez, por Correa, por Morales, etc etc... Só não explicavam porque seus coraçõezinhos tão democráticos batem tão forte por Fidel, por Ahmadinejad, por Kadafi, etc etc...

Guerra com Honduras, imagina o que seria isso. Honduras, de menos de sete milhões de habitantes. Bem menor que a CIDADE de São Paulo. Acho que foi o temor ao ridículo que mais contribuiu pra nos salvar daquela situação esdrúxula...

E tinha a mãozinha de Chavez, em toda essa história rocambolesca... Apoio logístico para contrabandear Zelaya de volta pra Honduras, parece que esconderam o louco num caminhão pra cruzar a fronteira... E ficou uma discussão: será que o Brasil combinou com a Venezuela? Como é que aquele louco foi aparecer assim, na nossa embaixada? Chavez fez o Brasil de cúmplice, ou fez de palhaço?

E Chavez não se constrangeu nem um pouco... hondurenhos de fato morreram, o país perdeu dinheiro, nas convulsões que seguiram a volta de Zelaya... e Chavez pairava acima de tudo isso, e podia até dar boas risadas... tinha jogado a batata quente no colo do Brasil...

Ah, Chavez, tão risonho... mandando naqueles petrodólares todos da Venezuela, justo quando eles aumentaram exponencialmente de valor no mercado... ele se sente inatingível, inebriado, com tanto poder... ele pode mentir descaradamente, chamar o presidente dos Estados Unidos de demônio (literalmente), e continuar vendendo petróleo pros Estados Unidos, provocar conflitos, mortes, miséria, perseguir inimigos políticos, amordaçar a imprensa, tudo numa boa...

E ele também se acha no direito de se meter na política dos seus vizinhos, apoiando organizações terroristas na Colômbia, quase arrumando uma guerra com a Colômbia, apoiando, como se disse, as mudanças constitucionais golpistas em Bolívia, Equador, Nicarágua, contrabandeando dinheiro (que foi descoberto) para a eleição presidencial de Cristina Kirchner na Argentina, apoiando publicamente a candidata à presidência pelo PT, Dilma Rousseff...

Ora, não foi Chavez que convocou um plebiscito para saber se poderia continuar se reelegendo para sempre, perdeu o plebiscito, e convocou outro plebiscito, com o mesmo objeto, para ganhar tal poder? E nosso presidente, Lulinha, admirado com aquele modelo de governante que via, aquele sujeito tão descarado para não ceder nadinha daquele poder que tem, sentindo uma pontada de inveja, observou que “na Venezuela tem democracia até demais”. Quisera ele fazer com que o Brasil tivesse tanta democracia assim! Mas quem sabe não chegamos lá?

sábado, 2 de outubro de 2010

The Doors - Riders on the storm





Este grande som do The Doors. O piano de Ray Manzareck, a voz e a poesia sombria de Jim Morrison, e um grupo afinado.

Cavaleiros na Tempestade

Cavaleiros na tempestade
Cavaleiros na tempestade

Pra dentro desta casa nascemos
Pra dentro deste mundo fomos lançados

Como um cão sem nenhum osso
Como um ator sem nenhum papel

Tem um assassino na estrada
Seu cérebro se torcendo como um sapo

Tire um feriado prolongado
Deixe seus filhos brincarem

Se você der uma carona pra este homem
As doces lembranças terão ido embora

Tem um assassino na estrada

Garota, você precisa amar seu homem
Garota, você precisa amar seu homem

Pegue-o pela mão
Faça-o entender

O mundo depende de você
Nossa vida jamais terá fim

Precisa amar seu homem

Riders on the storm
Riders on the storm
Into this house were born
Into this world were thrown
Like a dog without a bone
An actor out on loan
Riders on the storm

Theres a killer on the road
His brain is squirmin like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If ya give this man a ride
Sweet family will die
Killer on the road, yeah

Girl ya gotta love your man
Girl ya gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Our life will never end
Gotta love your man, yeah

Wow!

Riders on the storm
Riders on the storm
Into this house were born
Into this world were thrown
Like a dog without a bone
An actor out alone
Riders on the storm

Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Revolução Fisiológica - parte 2





No artigo “A Revolução Fisiológica” http://sinatti.blogspot.com/2010/08/revolucao-fisiologica.html descrevi o que, para mim, representa uma ameaça concreta à nossa democracia, a partir de um eventual governo Dilma, se levado a cabo o plano de instauração de uma “mini-constituinte” para passar uma reforma política estabelecendo o voto em lista fechada.

Ao final do artigo, prometi que voltaria ao tema, “para analisar os mecanismos de implantação das neo-ditaduras”. É o que venho tentar agora.

Como disse antes, o modelo anterior de instauração de ditaduras, através de golpes armados, está em baixa. Em nossa região, a América Latina, ainda temos vivo um exemplo desses, Cuba, onde Fidel Castro liderou um grupo de guerrilheiros para derrubar Fulgêncio Batista, em 1959. O exemplo de Castro incendiou corações e mentes de jovens esquerdistas, pelo nosso continente. Os próprios cubanos trataram de exportar o know-how de sua guerrilha para muitos desses jovens. Porém, os tempos eram outros.

Pra começar, Fulgêncio Batista era outro ditador, no poder desde 1952, odiado pela maioria dos cubanos. A guerra fria corria solta, com um mundo polarizado entre americanos e soviéticos, sem meio termo. Tempos de radicalismo romântico.

Porém, como sabido, radicalização chama radicalização, o medo conduz ao ódio, e a reação conservadora multiplicou as quarteladas pelo continente. Vivemos também nossa própria ditadura militar, de 1964 a 1985, 21 longos anos sem liberdade, e com tortura, desaparecidos, exilados, assassinados... o pacote completo.

A via das armas não pareceu coisa boa, afinal. O tiro saíra pela culatra. Cuba manteve-se um caso isolado, de ditadura de esquerda que se sustentou, no continente americano. Alguém pode lembrar o caso da Nicarágua e sua Revolução Sandinista, de 1979. Mas lá foram convocadas eleições já em 1984, e nas eleições de 1990 o partido da Frente Sandinista de Libertação Nacional foi derrotado pela União Nacional de Oposição.

Agora, porém, o esquerdismo ditatorial renasce no continente, valendo-se de novos métodos de implantação. Não mais a luta armada. A via, agora, é a do voto, ganhando eleições com um discurso demagógico, mas que por estas plagas mantém intacto o seu poder de sedução. Promete-se tudo, principalmente ganhar dinheiro sem precisar trabalhar. O famoso “almoço grátis”. Só é preciso ir aumentando os poderes dos nosso abnegados salvadores, para que eles possam combater os inimigos, os traidores, que impedem o povo de atingir este Reino da Fartura: as elites, os imperialistas ianques, os críticos e opositores. Basicamente, é isto.

Este novo modelo de ditadura, em que se usa a democracia para matar a democracia, ganhou seu grande impulso no continente com a vitória eleitoral de Hugo Chavez na Venezuela, em 1999.

Coincidentemente, a experiência pessoal de Chávez refletiu esta passagem do modelo de instauração de ditaduras através da força das armas, para este novo modelo, mais subreptício e sutil, de mudar o regime por dentro, utilizando os recursos do Estado.

Em 1992, o então tenente-coronel Chávez liderou 300 homens num frustrado golpe de Estado contra o presidente eleito Carlos Andrés Péres. Chávez passou dois anos preso, sendo anistiado pelo novo presidente, Rafael Caldera Rodriguez.

Só um parêntese: existe aqui um paralelo com a trajetória política de Hitler, ninguém menos. O austríaco também tentou um golpe malogrado, o chamado Putsch da cervejaria, em novembro de 1923. Em dezembro de 1924 foi anistiado, considerado inofensivo. O resto, já se sabe...

Voltando a Chavez: com a notoriedade conquistada, o sargentão alcança a presidência da Venezuela, em 1999, com 56% dos votos. Não perde tempo. Aproveitando a força política do seu início de governo, em 2 de fevereiro de 1999 decreta a realização de um referendo para a convocação de uma Assembléia Constituinte. Em agosto de 1999, Chavez fecha o Congresso, no qual a oposição tinha uma pequena maioria, e transfere suas funções para a Constituinte, na qual seus partidários conquistaram 121 de 131 cadeiras. Em dezembro de 1999, 70% dos venezuelanos aprovam a nova Constituição, através de um plebiscito.

E o que a nova Constituição trazia? Além das tradicionais iscas populistas, aumentava os poderes do Chefe do Executivo, e o espaço de intervenção do Estado. Surpresa, surpresa... abria-se espaço para a reeleição de Chavez, agora, depois de novo plebiscito, ilimitada.

Em suma, instaurava-se um novo autoritarismo, dessa vez “sacralizado pela vontade do povo”. Muito esperto, isso. Utiliza-se um mecanismo democrático, para assassinar a democracia.

O comentarista político Merval Pereira, em artigo no jornal O Globo, “Ação Arriscada”, eis o link http://arquivoetc.blogspot.com/2009/09/merval-pereira-acao-arriscada.html, identificou na manobra de Chavez a inspiração do filósofo italiano Antonio Negri.

Reproduzo trecho do artigo, de setembro de 2009, e que trata do então recente imbróglio envolvendo a tentativa de golpe pelo presidente de Honduras, Manuel Zelaya, e sua consequente deposição. Há uma referência também à tentativa de Alvaro Uribe, então presidente da Colômbia, de fazer uma alteração constituinte para conseguir um terceiro mandato, manobra abortada pela Suprema Corte colombiana, felizmente.

Vamos ao artigo:

(...)está claro que o presidente Manuel Zelaya, a exemplo de outros governantes da região, como Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador, seguindo os passos da “revolução bolivariana” de Chávez, perseguia a mudança da Constituição de seu país em busca da possibilidade de reeleição.

A base teórica da manipulação dos referendos para mudar constituições e dar mais poderes aos presidentes da ocasião é o livro “Poder Constituinte — Ensaio sobre as alternativas da modernidade”, do cientista social e filósofo italiano Antonio (Toni) Negri.

Essa influência foi admitida pelo próprio Chávez em um de seus programas radiofônicos ainda em 2006, quando ele anunciou que estava entre eles “um filósofo, escritor e ativista italiano, Toni Negri. (…) Por aqui temos seguido suas teses, Toni Negri: O poder constituinte”.

Para Negri, “ o poder constituinte é uma potência criadora de ser (...) e apenas o processo constituinte, as dimensões determinadas pela vontade, a luta e a decisão sobre a luta definem os sentidos do ser”.

O filósofo italiano diz que “o medo despertado pela multidão” faz com que o poder constituído queira impedir sua manifestação através da constituinte: “A fera deve ser dominada, domesticada ou destruída, superada ou sublimada”.

Antonio Negri considera que o “poder constituído” procura tolher o “poder constituinte”, limitando-o no tempo e no espaço, enquanto o dilui através das “representações” dos poderes do Estado.

Em uma definição mais popular, Evo Morales diz que se trata de uma nova maneira de governar através do povo.

Defendem, na prática, a “democracia direta”, o fim das intermediações próprias dos sistemas democráticos.

A mania de personalizar o poder, transformando-se em um salvador da pátria que deve permanecer no governo quanto mais tempo possível, para o bem de seu país, não tem ideologias na região.

Também o presidente conservador da Colômbia, Álvaro Uribe, está empenhado em mudar a Constituição através de um plebiscito para poder se candidatar mais uma vez à Presidência.

No caso de Zelaya, no entanto, a gravidade da tentativa foi maior, porque a Constituição hondurenha tem como cláusula pétrea, que não pode ser modificada, a proibição da reeleição. Diz seu artigo 239 que “nenhum cidadão que já tenha ocupado o cargo de chefe do Executivo poderá ser presidente ou vicepresidente”.

O governo Zelaya anunciou que faria uma consulta popular para saber se a maioria queria que, na eleição de novembro, houvesse uma “quarta urna” para convocar uma Assembleia Constituinte.

Aparentemente, não haveria conflito de interesses, pois, se aprovada na eleição, a Constituinte seria convocada sob o comando do novo presidente eleito na mesma ocasião.

Mas, na publicação do decreto, o governo o intitulou como “Consulta de Opinião Pública Convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte”, o que poderia dar margem a que o resultado da consulta, caso favorável, fosse considerado como uma aprovação à convocação imediata da Constituinte.

O Congresso e a Corte Suprema consideraram ilegal a convocação, e Zelaya foi deposto de maneira violenta pelo Exército e enviado à força para o exterior, o que lhe dá o pretexto de se considerar vítima de um golpe de Estado.

O governo brasileiro deveria considerar as especificidades da situação e trabalhar como mediador da crise, e não alimentá-la com uma ação irresponsável, que já está provocando mortes.

No artigo acima, Merval Pereira alude aos governantes de Honduras, Bolívia, Equador, Colômbia, todos “seguindo os passos da revolução bolivariana de Chavez”, perseguindo alterações nas Constituições de seus países, para se perpetuarem no Poder.

É a forma recente, próxima, da velha e típica tentação totalitária, um homem procurando enfeixar nas mãos um Poder absoluto, incontrastável. Procurando aprofundar seu poder pessoal, em detrimento das liberdades e garantias de seus semelhantes.

“O Estado sou eu”, dizia Luís XIV. Ou Julio Cesar, que dizia: “Prefiro ser o primeiro na última aldeia romana, a ser o segundo em Roma”.

É o orgulho, a tentação de ser o maior, o melhor, o primeiro, o líder, o führer. Hitler, Stalin, Lenin, Fidel, Pinochet, Mussolini, Napoleão, Saddam Hussein... tantos países diversos, diversas circunstâncias históricas, mas a mesma loucura recorrente.

Não temos muitos Napoleões de hospício? Mas volta e meia um desses escapa, e inferniza a vida de seus povos... crêem que possuem algo de muito especial debaixo da pele, só eles é que sabem o que é bom para sua nação, ou para os mais pobres, para os explorados...

Justificam assim seu desejo de exercer um poder absoluto, e de se manterem até a morte no poder. Só que, como notado, o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.

Pobre da nação que precisa de heróis!, tem sido dito. Esses tais Salvadores da Pátria. Esses tais que se sentem, pensam que são o cara, e o cara do cara. Pensam que são providenciais, que foram imbuídos por Deus ou pela História de uma missão especial. Pensam que têm algum conhecimento esotérico, alguma chave da História, porque leram Marx, ou porque têm fé no materialismo dialético, ou porque pensam que eles e só eles desejam o bem de sua nação, ou o bem dos mais pobres, e sabem como alcançá-lo...

E com isso justificam o ódio e a perseguição aos críticos e opositores. Estar contra uma dessas figuras, um desses auto-imaginados e auto-proclamados heróis e salvadores, é estar contra o país e o povo!, é o que está subentendido no seu pensamento.

No seu delírio megalomaníaco, na sua possessão pelo demônio Leviatã, esquecem que são humanos e falíveis, esquecem até que são mortais! O que conseguem, ao enfraquecer os mecanismos de controle, as instituições democráticas, o que conseguem ao ameaçar opositores, calar a liberdade de pensamento, acostumar a nação a uma menor liberdade, a uma menor responsabilidade sobre o próprio destino, é deixar um país mais vulnerável a qualquer imbecil ou calhorda que calhe de ocupar o poder.

Dez anos, vinte anos, cinquenta anos se passam... e quem garante que o melhor entre os melhores, o príncipe filósofo, é que ocupará o poder?

Muito mais comum, nestes Estados em que tudo acontece nas sombras, em que não se tem liberdade de mostrar, e contestar, e reclamar, em que a corrupção viceja, é que os mais sem escrúpulos, os mais dispostos a se valer de quaisquer meios, se valer de subornos, ameaças, e violências, alcançam o poder. E uma vez alcançado o poder, com todos os recursos do Estado na mão, quanto mais de subornos, e ameaças, e violências, não será utilizado, por este mais sem escrúpulos, neste Estado sem instituições, leis ou cultura que limitem o exercício do poder?

Este é o círculo vicioso, infernal, dos Estados totalitários. Vejam o exemplo de Stalin. Numa Rússia já inteiramente submetida ao poder do partido bolchevique, uma Rússia sem lei, em que o governante autorizava arbitrariamente qualquer roubo, prisão, assassinato, Stalin ocupou um posto chave no partido, de secretário-geral, desde 1922. Com a morte de Lenin, em 1924, Stalin utilizou o poder acumulado no seu cargo para galgar ao poder, onde em breve faria suas “depurações” em larga escala, suas “deportações”, seus julgamentos de fachada, seus “Grandes Expurgos”, etc. etc. Chegou ao ponto de mandar um agente de sua polícia secreta ao México, em 1940, para matar com um golpe de picareta na cabeça seu adversário político, Leon Trotsky, desde 1929 exilado da União Soviética.

Quão diferente é a figura histórica de um George Washington! O primeiro presidente dos Estados Unidos, herói da Independência, cumprindo seu segundo mandato servindo à nação, recebeu o conselho de alguns tentadores, para que aplicasse um golpe contra seu país, e se convertesse num Rei, perpétuo... Numa época em que só havia Reis, por toda parte, Washington não se deixou iludir: deu adeus à vida pública e retirou-se para sua fazenda, foi cuidar de suas cerejeiras, deixando um exemplo que sempre seria respeitado por sua jovem nação, que tão rápido se desenvolveria, sob este princípio de liberdade!

Apenas Roosevelt, numa situação de crise econômica, e segunda guerra mundial, permaneceu por quatro mandatos. Mas sem impor mudanças à Constituição. Aliás, a alteração que aconteceu, após a morte de Roosevelt, durante seu quarto mandato, foi ter sido proibida, na Constituição, a reeleição presidencial após um segundo mandato. Institucionalizou-se, por fim, o exemplo de Washington.

Em comparação, o legado dos Reizinhos e Reizões, todo poderosos, tem sido bem outro. Guerras, muitas guerras, perseguição política, masmorras, torturas, fome, miséria, fanatismo, injustiça, corrupção...

E tantos parecem sempre dispostos a repetir a História! Sempre encontram motivo para sucumbir à tentação. É para conter a crise, é para nos proteger, até de nós mesmos. Pregam a infantilização de todo um povo. Não só pregam, impõem-na, quando têm o Poder. Ou quando o Poder os tem.

Continua num próximo artigo.