sábado, 9 de outubro de 2010

A Revolução Fisiológica - parte 3



Nos artigos anteriores desta série, eu identificava o perigo dos neo-totalitarismos surgindo em nossa região, a partir do exemplo de Hugo Chavez, na Venezuela. As mudanças constitucionais, aprovadas num clima de demagogia e ameaças aos opositores, no sentido de aumentar os poderes do governante de plantão, e afrouxar os mecanismos de controle ao exercício deste poder, foram perseguidas pelos presidentes Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, no Equador.

Também o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ex-guerrilheiro sandinista, sentiu-se confortável para tentar seu golpe. Neste caso, nem precisou invocar o tradicional plebiscito: Ortega simplesmente conseguiu que os juízes da Suprema Corte da Nicarágua suspendessem uma barreira constitucional que o impedia de concorrer à reeleição. Parece mentira, mas é verdade, olha só esse link, com uma foto de Chavez, sempre ele, com Ortega: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1347946-5602,00.html

Claro que Chavez estava envolvido nessa História, espalhando ditaduras ao seu redor, ninguém quer ser louco sozinho. Chavez deu suporte ao golpe de Ortega, assim como dá suporte aos outros governos de esquerda da região, que investem contra a liberdade em seus países: além de Correa, de Morales, de Ortega, Chavez apoiou Manuel Zelaya, de Honduras, o casal Kirchner, na Argentina, e, aqui no Brasil, ai ai ai, a dupla dinâmica Lula-Dilminha...

Com relação ao Zelaya, Chavez trouxe o Brasil para a sua pantomima de interventor em assuntos internos de outros países. Tivemos o desprazer de assistir, nas manchetes dos jornais, a foto do ex-presidente golpista de Honduras trazendo o caos pro seu país, debruçado numa varanda da embaixada brasileira, depois de ter sido deposto. Fazendo comício na nossa embaixada, incitando os hondurenhos a um conflito civil.

E aí, para defender o golpista, o Brasil arrotou grosso contra o governo hondurenho... Deixamos o golpista e seus asseclas hospedados na nossa embaixada, por semanas, arriscando um grave incidente, arriscando mortes de hondurenhos, recusando formalizar a concessão de asilo político a Zelaya, à margem de qualquer juridicidade do ponto de vista do Direito Internacional...

Teve um momento, nos discursos irados de nosso presidente Lula, em que temi que nosso bravo presidente, Nosso Guia, secundado por Celso Amorim, declarassem guerra a Honduras... estavam tão revoltadinhos com a ameaça à democracia de Honduras, decorrente da deposição de Manuel Zelaya... (a explicação oficial para a conduta do Brasil no episódio). Só não explicavam porque seus coraçõezinhos tão democráticos não se confrangiam com as ameaças à democracia feitas por Chavez, por Correa, por Morales, etc etc... Só não explicavam porque seus coraçõezinhos tão democráticos batem tão forte por Fidel, por Ahmadinejad, por Kadafi, etc etc...

Guerra com Honduras, imagina o que seria isso. Honduras, de menos de sete milhões de habitantes. Bem menor que a CIDADE de São Paulo. Acho que foi o temor ao ridículo que mais contribuiu pra nos salvar daquela situação esdrúxula...

E tinha a mãozinha de Chavez, em toda essa história rocambolesca... Apoio logístico para contrabandear Zelaya de volta pra Honduras, parece que esconderam o louco num caminhão pra cruzar a fronteira... E ficou uma discussão: será que o Brasil combinou com a Venezuela? Como é que aquele louco foi aparecer assim, na nossa embaixada? Chavez fez o Brasil de cúmplice, ou fez de palhaço?

E Chavez não se constrangeu nem um pouco... hondurenhos de fato morreram, o país perdeu dinheiro, nas convulsões que seguiram a volta de Zelaya... e Chavez pairava acima de tudo isso, e podia até dar boas risadas... tinha jogado a batata quente no colo do Brasil...

Ah, Chavez, tão risonho... mandando naqueles petrodólares todos da Venezuela, justo quando eles aumentaram exponencialmente de valor no mercado... ele se sente inatingível, inebriado, com tanto poder... ele pode mentir descaradamente, chamar o presidente dos Estados Unidos de demônio (literalmente), e continuar vendendo petróleo pros Estados Unidos, provocar conflitos, mortes, miséria, perseguir inimigos políticos, amordaçar a imprensa, tudo numa boa...

E ele também se acha no direito de se meter na política dos seus vizinhos, apoiando organizações terroristas na Colômbia, quase arrumando uma guerra com a Colômbia, apoiando, como se disse, as mudanças constitucionais golpistas em Bolívia, Equador, Nicarágua, contrabandeando dinheiro (que foi descoberto) para a eleição presidencial de Cristina Kirchner na Argentina, apoiando publicamente a candidata à presidência pelo PT, Dilma Rousseff...

Ora, não foi Chavez que convocou um plebiscito para saber se poderia continuar se reelegendo para sempre, perdeu o plebiscito, e convocou outro plebiscito, com o mesmo objeto, para ganhar tal poder? E nosso presidente, Lulinha, admirado com aquele modelo de governante que via, aquele sujeito tão descarado para não ceder nadinha daquele poder que tem, sentindo uma pontada de inveja, observou que “na Venezuela tem democracia até demais”. Quisera ele fazer com que o Brasil tivesse tanta democracia assim! Mas quem sabe não chegamos lá?

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