
Há tempos não lia um artigo do Caetano Veloso no jornal O Globo de domingo. Acho que li, todo, só um, o primeiro. Seu estilo pós-ultra desconstrutivista, ou não, não me apetecia. Mas este domingo Caetano escreveu um artigo para defender sua irmã Bethânia, até que bastante linear, ou não, no imbróglio dos altos salários permitidos por nossa legislação injusta.
Coisa pra uma galera se dar bem, ganhar 50 mil por mês, ou 30 mil, ou um milhão, em troca de nada. Será que essa gente não percebe que tem gente que ganha 500 reais, ou trezentos, ou duzentos, em troca de muito trabalho, de sol a sol?
Tem gente que pega o ônibus lotado às 4.30 da manhã. Tem gente que só volta de noite pra casa, pra criar os três filhos, e consegue criar. Será que essa gente não percebe que existe esta outra gente, real, existente?
Será que ela acha justo, pegar o dinheiro, que é do público, é do público sim, se era tributo que deixou de entrar nos cofres públicos, então é dinheiro público, que deveria servir ao público. Pois o público que ganha 500 reais, ou duzentos, ou cinquenta, será que estava sendo servido, quando pegaram 50 mil de seu dinheiro, para pagar alguém para... o que, mesmo? Ler uma poesia por dia, na frente de uma câmera? Este é o grande serviço para a “Cultura do nosso povo”?
Pois questionar isso pega mal, para nossa intelectualidade, que prefere o silêncio público, para não ficar mal com o amiguinho. Ou então parte em defesas, mesmo, do indefensável, mas aqui é o Brasil, onde se aceita tudo.
Realmente, não é um problema só dos artistas locupletados, inconscientes, soberbos. É um problema de todo o nosso país, que não cuida do seu dinheiro público, que o vê indo pelo ralo, e sem ter ao menos uma rede de esgoto, enquanto uns poucos vivem como reis. É um problema, de todo o país, que não valoriza e dignifica o trabalho.
Caetano pode gritar, esbravejar, sapatear, fazer um sambinha, que é uma obra-prima. Mas ele quer que eu cale minha boquinha, e não ofenda os brios da “classe artística”, ou da maninha? Ah, doutor, não pode não, porque eu tenho a minha LIBERDADE. Meu direito garantido, de pensar e falar o que penso.
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