sábado, 23 de julho de 2011

Crianças, não vereis outro país como este...



Na foto, José Antônio Dias Tóffoli, ministro do nosso Supremo Tribunal Federal, pede a bênção ao padrinho Lula, de quem recebeu a indicação para o cargo




José Antônio Dias Tóffoli, nosso ministro do Supremo Tribunal Federal. A mais alta Corte do país, com a atribuição de dar a palavra final sobre a aplicação de uma lei, analisada sob o aspecto de sua adequação com nosso sistema constitucional.


Com a atribuição de julgar as mais altas autoridades do país.


Pois José Antônio Dias Tóffoli, um jovem ainda, com seus 44 anos, um dos onze integrantes da mais alta Corte, aparece no jornal porque faltou a quatro sessões de trabalho para ir ao casamento do advogado criminalista Roberto Podval, na ilha de Capri, no sul da Itália.


Segundo o jornal, “o STF limitou-se a dizer que Tóffoli “informou ao presidente Cezar Peluso que estaria ausente das sessões na última semana antes do recesso. Com isso, teria cumprido o procedimento de praxe, em caso de ausência em período de trabalho”.


Que bom seria se o “procedimento de praxe”, para ausentar-se por quatro dias em período de trabalho, para ir a uma “festinha”, fosse apenas comunicar com antecedência, em qualquer tipo de trabalho... “alô, chefe, olha só, semana que vem eu não apareço, viu, de segunda a quinta. Vou na festa de casamento do meu amigo. Um abraço”. Que mundo feliz, não é mesmo?


Pois é pior. O ministro Tóffoli é relator de processos nos quais Podval é advogado. Por intermédio de sua assessoria, Tóffoli informa ao distinto público que não vai abrir mão de relatar esses casos. Tóffoli esclareceu ainda que pagou a passagem do próprio bolso. Mas não quis esclarecer quem custeou a hospedagem. Por nota, Tóffoli diz que “se reserva o direito de não fazer qualquer comentário sobre seus compromissos privados”. Sacou, distinto público? Vê se te manca, para de querer meter o bedelho em negócios privados...


Pois a imprensa noticia que Roberto Podval pagou dois dias de hospedagem para cerca de 200 convidados no cinco estrelas Capri Palace Hotel... gente coisa é outra fina...


Quanto a Tóffoli o caso todo deve ficar por isso. O STF ecoou o mantra de que a viagem “é assunto particular de Tóffoli”. E todos dormirão o sono dos justos no país surreal. Ninguém vê nada de anormal, nada que destoe das nossas arraigadas práticas e crenças. Um povo que confia em seus senhores. Um povo envergonhado de perguntar, envergonhado de saber, envergonhado de criticar... somos tão simpáticos, somos tão felizes, somos tão bonzinhos... ah, que imagem feliz eu vejo no espelho, sorridente, simpático, mereço ganhar um afago...


A imoralidade, o absurdo, passam por ser normais, no país surreal. Basta falar qualquer coisa, ou falar coisa nenhuma. Diz aí que é assunto particular, não se vá dar satisfação pra esses sujeitos aí da esquina... eles é que têm de se dobrar diante de nós, não somos nós que vamos nos dobrar diante deles. Nós somos as Autoridades, os Poderosos, não devemos satisfação para o público. “Poder que emana do povo”, isso é a fachada, devidamente tornada inócua pela prática, pelo regulamento. Pelo formalismo da nota da assessoria, pelo silêncio cúmplice, pela corrupção generalizada.


Mas, também, qual é a escola de Tóffoli? Tóffoli, que foi escolhido de Lula para ocupar esta vaga no Supremo. Emprego vitalício, sim, um dos onze do Supremo.


Tóffoli, que fora reprovado num concurso de juiz, o que o levou a ser escolhido ministro do Supremo? Pois era advogado do PT, já se viu.


E isto nem é o pior. O pior é que havia uns processos contra Tóffoli, ele tinha inclusive sido condenado por um juiz por uns contratos milionários assinados por prefeituras petistas com seu escritório de advocacia. Dinheiro público para pagar “consultas jurídicas”. Mas, diante daquele incômodo de se ter um indicado ao Supremo com uma condenação em cima, deu-se logo o jeito de arrumar, a toque de caixa, uma “decisão liminar”, suspendendo os efeitos daquela condenação.


Providenciada a “justificativa formal”, não foi difícil concluir os rituais de aprovação de Tóffoli pelo Legislativo. Sabatinas, questionamentos, blá-blá-blá. Mas um final já conhecido, nunca algum escolhido pelo Executivo fora barrado pelo Legislativo, é tudo de comum acordo. Tóffoli tomou posse, com um último detalhe macabro: a sua “festinha” de posse contou com um patrocínio de 40 mil pela Caixa Econômica Federal, banco com várias ações no Supremo.


Tudo normal, no país surreal.

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