quinta-feira, 28 de julho de 2011

À maioria silenciosa

Lembramos de demandar contra nosso vizinho, por uma besteira qualquer. Não conseguimos nos compor amigavelmente, partimos para o Judiciário.


Muito legítimo, é claro, não se pode é resolver o conflito pela força bruta. Uma sociedade civilizada impõe a solução civilizada, deixar para um terceiro a decisão, baseada nas leis da sociedade.


Mas o problema é que nos esquecemos de aplicar a mesma lógica no trato das demandas com o poder público.


Esquecemos que o poder público também, e até principalmente, deve seguir as leis da sociedade. E quando isto não acontece temos sérios problemas, com um Estado tirânico.


Pois bem. Nós somos uma sociedade. Eu, você, o indivíduo que mora num casebre, e aquele que mora no meio da rua. As decisões e atuações do poder público nos afetam a todos. Mas nós não exigimos NADA dele, não o confrontamos, sob a perspectiva da lei, para saber se seus atos e decisões não agridem a legalidade.


Nação de muitos analfabetos que não participam deste debate, é verdade, mas não é só isso. O mesmo descaso, incompreensão, inconsequência, afeta muitos “bem nascidos”, “bem lidos”, bem graduados.


Algo na nossa água, talvez, que nos deixa apáticos? Algo no ar que respiramos, algum veneno? Ou algo da nossa história, da nossa cultura?


O fato é que não vemos grandes manifestações consequentes, coletivas. Nossas organizações foram muito facilmente cooptadas. E a tal maioria silenciosa é isto mesmo: silenciosa. Honesta, trabalhadora, gentil, é verdade. Um dia superarão seus problemas. Mas se este dia demora, é por culpa desse silêncio.


Uma nação com tantos advogados, mas que não sabe exigir o cumprimento da lei.


Por que não assinamos, coletivamente, uma ação judicial? Uma, não, milhares, uma pra cada juiz desse Brasil, em cada cantão.


Pedindo, ao senhor juiz, uma coisa bem simples: o cumprimento da legalidade.


Por que não pedimos, por exemplo, que cada prefeito apresente suas contas, explicadinhas, detalhadas?


Ir ao juiz, claro, se depois de pedidas as contas, não recebeu, a comissão de cidadãos, as contas da prefeitura.


Não é dinheiro público? Não existe a obrigação de prestar contas?


Pois que prestem as contas, ou cometerão uma ilegalidade.


E, vejam só, a ilegalidade deve ser combatida através do juiz. Ele deve aplicar a força, cujo monopólio é do Estado, para combater a ilegalidade.


Mas, ora, vejam só, isto que deveria estar na mente, deveria estar no sangue de cada cidadão deste país, o respeito às leis, o esteio da dignidade, por aqui é um luxo ou um delírio.



Uma nação de advogados, mas muito mal e pouco conhecemos o respeito à lei.


Aqui, prevalece o “sabe com quem está falando?”, “é o seu doutor, a autoridade, quem sou eu pra pedir as contas? Temos de ser submissos, confiar cegamente, o seu doutor, autoridade, decide sobre minha morte e minha vida. Ele é o senhor, eu sou escravo.”


Bela receita para vermos essa corrupção estourando , esta hipocrisia e este caos da sociedade. Vamos, vamos odiar o vizinho, culpá-lo de todos os males, mover mundos e fundos contra ele. Temos de ser bem duros com os fracos, já que somos tão moles com os fortes.

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