sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Desolation Row - Bob Dylan
Eu não pretendia traduzir a letra de Desolation Row, de Bob Dylan. É por demais hermética, por demais surrealista. Mas aí eu encontrei este interessantíssimo clipe no You Tube, uma versão original de Bob Dylan, ao vivo, e uma colagem de desenhos do pintor Pieter Bruegel, o velho. Mais marionetes.
Quem lê este blog já deve ter notado que sou admirador do músico e poeta Bob Dylan, e do pintor Bruegel, afastados no tempo quase 500 anos. Ambos são trabalhadores intensos de suas artes, com obras vastas, sem medo ou preguiça de juntar suas cores, traços, sons e palavras. E não é que um amigo americano foi juntá-los com criatividade para fazer esse clipe? (Agora, é torcer pra não cassarem o clipe, por reivindicação de direitos autorais).
Então, pra facilitar a tarefa dos interessados em acompanhar a letra, e relacioná-la às imagens, resolvi fazer a tradução. Não me perguntem nada sobre as imagens loucas na letra, eu apenas converto as palavras de modo bem literal. Algumas partes me sugerem idéias interessantes, outras me deixam inteiramente perdido. Mas isso me acontece com muitos poetas, principalmente modernos.
E a música é um clássico de Dylan, fecha o fantástico disco Highway 61 Revisited (1965), que abre com Like a rolling stone. Desolation Row, na versão original, tem 11.21 minutos de duração, e um fantástico trabalho com dois violões, de Bob Dylan e Charlie McCoy, que são os únicos instrumentos da canção. Mais informação sobre esta música tão diferente, tão especial, neste link, em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Desolation_Row
Estão vendendo cartões postais do enforcamento
Estão pintando os passaportes de marrom
O salão de beleza está cheio de marinheiros
O circo está na cidade
Aí vem o comissário cego
Eles o apanharam num transe
Uma mão está amarrada no equilibrista andando na corda-bamba
A outra está segurando as calças
E a tropa de choque
está inquieta
Eles precisam de algum lugar pra ir
Enquanto a Dama e eu
Olhamos pra fora esta noite
Da Alameda da Desolação
Cinderela, ela parece tão fácil,
“Precisa de um do mesmo tipo pra conhecer outro”, ela diz sorrindo,
E coloca suas mãos no bolso de trás da calça
Estilo Bete Davis
E aparece Romeu, se lamentando:
“Você pertence a mim, assim creio”,
E alguém lhe diz:
“Você está no lugar errado, amigo,
é melhor cair fora”
E o único som que resta,
Depois que as ambulâncias se vão
é Cinderela, varrendo a rua,
na Alameda da Desolação
Agora, a lua,
está quase escondida,
As estrelas começam a se esconder,
A senhora que lê a sorte
Até já recolheu seus instrumentos todos pra dentro
Todos, à exceção de Caim e Abel,
E o Corcunda de Notre Dame,
todo mundo está fazendo amor,
ou então esperando pela chuva
E o Bom Samaritano está se vestindo
Está se preparando para o show
Ele está indo para o Carnaval esta noite,
Na Alameda da Desolação
Ofélia olha tudo da janela,
Por ela eu temo bastante,
No seu aniversário de 22 anos,
Ela já se tornou uma velha senhora
Para ela morte é um bocado romântica,
Ela veste um cinto de castidade,
Sua profissão é sua religião,
Seu pecado é sua falta de vida.
E embora seus olhos
Estejam fixados
No grande arco íris de Noé
Ela desperdiça seu tempo
Espionando a Alameda da Desolação
Einstein, disfarçado de Robin Hood,
Com suas memórias guardadas num baú,
Passou por aqui,
uma hora atrás,
Com seu amigo, um monge invejoso.
Ele parecia tão perfeitamente assustador,
enquanto filava um cigarrinho,
e seguiu cheirando canos de esgoto,
e recitando o alfabeto.
e você não pensaria
em olhar para ele
Mas ele foi famoso
muito tempo atrás
por tocar seu violino elétrico
na Alameda da Desolação
Doutor Imundo, mantém seu mundo,
preso num copo de couro
Mas todos os seus pacientes a quem falta sexo
estão tentando explodi-lo
E sua enfermeira,
uma perdedora local,
Está encarregada do envenenamento por cianeto
E ela ainda guarda as cartas com a frase:
“Piedade por sua alma”
Eles todos
estão tocando
seus apitos de um
centavo.
E você pode
ouvi-los soprando.
Se esticar sua cabeça
pra fora o suficiente
da Alameda da Desolação
Do outro lado da rua,
eles pregaram as cortinas,
Estão se aprontando para a festança.
O Fantasma da Ópera,
Numa perfeita imagem de um padre.
Eles estão alimentando Casanova com uma colher
Para fazê-lo se sentir mais seguro
Então o matarão com auto-confiança
Depois de tê-lo envenenado com palavras.
E o Fantasma,
gritando,
pra meninas magricelas:
“Fora daqui,
se vocês não entenderam!
Casanova só está sendo punido
Por ter ido à Alameda da Desolação!”
À meia noite,
todos os agentes,
E a tripulação de super humanos,
Vêm para fora e cercam todo mundo
que sabe mais do que eles próprios
e eles os carregam para a Fábrica
Onde as máquinas de provocar ataques cardíacos
são amarradas aos seus ombros
e então,
a querosene,
é trazida
dos Castelos
Por homens da seguradora que vão
Verificar que ninguém está fugindo
Pra Alameda da Desolação
Louvado o Netuno de Nero,
O Titanic veleja ao amanhecer.
E todo mundo está gritando:
“De que lado você está?”
E Ezra Pound e T. S. Eliot,
Lutando na torre do capitão,
Enquanto cantores de calipso riem deles,
E pescadores
seguram flores.
Entre as janelas
do mar
Onde adoráveis
sereias
flutuam.
E ninguém precisa
pensar demais
A respeito da Alameda da Desolação
Sim, eu recebi sua carta ontem,
por volta da hora em que a maçaneta da porta quebrou,
quando você perguntou como eu estava indo...
bem, isso é algum tipo de piada?
Todas essas pessoas que você menciona,
Sim, eu as conheço, são um bocado miseráveis,
Eu tive de mudar
os seus rostos,
E dar a todos
um outro nome
Bem agora, eu não quero saber de leitura,
não me mande mais cartas, não,
A não ser que você as envie
Da Alameda da Desolação
Desolation Row
Bob Dylan
Composição: Bob Dylan
They're selling postcards of the hanging
They're painting the passports brown
The beauty parlor is filled with sailors
The circus is in town
Here comes the blind commissioner
They've got him in a trance
One hand is tied to the tight-rope walker
The other is in his pants
And the riot squad they're restless
They need somewhere to go
As Lady and I look out tonight
From Desolation Row
Cinderella, she seems so easy
"It takes one to know one," she smiles
And puts her hands in her back pockets
Bette Davis style
And in comes Romeo, he's moaning
"You Belong to Me I Believe"
And someone says," You're in the wrong place, my friend
You better leave"
And the only sound that's left
After the ambulances go
Is Cinderella sweeping up
On Desolation Row
Now the moon is almost hidden
The stars are beginning to hide
The fortunetelling lady
Has even taken all her things inside
All except for Cain and Abel
And the hunchback of Notre Dame
Everybody is making love
Or else expecting rain
And the Good Samaritan, he's dressing
He's getting ready for the show
He's going to the carnival tonight
On Desolation Row
Now Ophelia, she's 'neath the window
For her I feel so afraid
On her twenty-second birthday
She already is an old maid
To her, death is quite romantic
She wears an iron vest
Her profession's her religion
Her sin is her lifelessness
And though her eyes are fixed upon
Noah's great rainbow
She spends her time peeking
Into Desolation Row
Einstein, disguised as Robin Hood
With his memories in a trunk
Passed this way an hour ago
With his friend, a jealous monk
He looked so immaculately frightful
As he bummed a cigarette
Then he went off sniffing drainpipes
And reciting the alphabet
Now you would not think to look at him
But he was famous long ago
For playing the electric violin
On Desolation Row
Dr. Filth, he keeps his world
Inside of a leather cup
But all his sexless patients
They're trying to blow it up
Now his nurse, some local loser
She's in charge of the cyanide hole
And she also keeps the cards that read
"Have Mercy on His Soul"
They all play on penny whistles
You can hear them blow
If you lean your head out far enough
From Desolation Row
Across the street they've nailed the curtains
They're getting ready for the feast
The Phantom of the Opera
A perfect image of a priest
They're spoonfeeding Casanova
To get him to feel more assured
Then they'll kill him with self-confidence
After poisoning him with words
And the Phantom's shouting to skinny girls
"Get Outa Here If You Don't Know
Casanova is just being punished for going
To Desolation Row"
Now at midnight all the agents
And the superhuman crew
Come out and round up everyone
That knows more than they do
Then they bring them to the factory
Where the heart-attack machine
Is strapped across their shoulders
And then the kerosene
Is brought down from the castles
By insurance men who go
Check to see that nobody is escaping
To Desolation Row
Praise be to Nero's Neptune
The Titanic sails at dawn
And everybody's shouting
"Which Side Are You On?"
And Ezra Pound and T. S. Eliot
Fighting in the captain's tower
While calypso singers laugh at them
And fishermen hold flowers
Between the windows of the sea
Where lovely mermaids flow
And nobody has to think too much
About Desolation Row
Yes, I received your letter yesterday
(About the time the door knob broke)
When you asked how I was doing
Was that some kind of joke?
All these people that you mention
Yes, I know them, they're quite lame
I had to rearrange their faces
And give them all another name
Right now I can't read too good
Don't send me no more letters no
Not unless you mail them
From Desolation Row
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Muito legal... :)
Sei essa letra de cabeça...
Postar um comentário