sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O petróleo é nosso 2





Apanhado de surpresa com um segundo turno de eleição presidencial, vendo o candidato adversário aproximar-se nas pesquisas, o Governo partiu pro jogo pesado: veja a manchete do jornal O Globo de terça-feira passada, 19.10.2010: “PETROBRAS MUDA O PRAZO E PASSA A EXPLORAR O PRÉ-SAL NA ELEIÇÃO”. A exploração, que estava programada para acontecer no final do ano, simplesmente foi antecipada, de modo a criar um “fato político” novo, capaz de influenciar o resultado das eleições.

Com isso, o Governo consegue criar umas manchetes de jornais, umas matérias televisivas, cobrindo o início da exploração do petróleo no pré-sal. E a partir daí, estimula um sentimento ufanista, esperançoso, na população, de “Brasil-grande”, que serve para abafar as críticas, e render votos à candidata da situação. Um plano propagandístico tão perfeito, que deve ter sido bolado pelos marqueteiros oficiais, talvez o marqueteiro-mor, João Santana, que justifica assim ser pago com seu peso em ouro. E numa conta no exterior, não é, Duda Mendonça?

O petróleo mexe tanto com a imaginação... É o ouro negro, é o poder, é o dinheiro. O pré-sal é o novo Eldorado. Ao Governo interessa lançar a idéia de que o pré-sal vai resolver os problemas do Brasil. Agora se inicia a era de Ouro, a era da fartura e da abundância... ninguém precisa mais trabalhar, ninguém precisa mais se preocupar... saúde, educação, segurança, dinheiro para todos, tudo isso o pré-sal vai dar! Tudo isso se deve a Lula, o Rei Midas, o predestinado! Mas cuidado! Existe um vilão nessa História, sempre tem o traidor... aquele disposto a vender tudo pro estrangeiro, disposto a PRI-VA-TI-ZAR, esta palavra satânica!

Tudo muito esquemático, tudo muito maniqueísta, tudo muito falso. Mas o que importa? O importante é o resultado, é mexer com velhos símbolos, velhos sentimentos. É criar um clima, favorável às pretensões de vitória eleitoral da candidata do Governo.

Já se vê porque controlar a Petrobras é tão importante, para além dos, literalmente, bilhões e bilhões de bons negócios que se pode fazer envolvendo o ouro negro. Um sujeito do Governo pode ganhar de “presentinho” uma Land Rover, de um empresário com contratos com a Petrobras, como foi o caso do sr. Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT. E isto é só um exemplo prosaico, a Land Rover é avaliada em R$ 100 mil... mixaria. Para falarmos de números altos, podemos dizer que o Tesouro emitiu dívida de R$ 74,8 BILHÕES para financiar a Petrobras, ainda fazendo truques contábeis para transformar o gasto em receita, numa manobra grosseira, amplamente criticada por economistas. Está no Globo de 27.10.2010, na manchete de primeira página.

R$ 74,8 bilhõezinhos, e isso numa tacada só... a Petrobras é a gigante, que movimenta os bilhões. Definitivamente, coisa boa é ganhar uma dessas diretorias “que furam poço e tiram petróleo”, como o ex-deputado federal, Severino Cavalcanti, tão pitorescamente as qualificou...

Por falar nisso, Dilma Rousseff não respondeu a José Serra no debate da Rede Record, dia 25.10.2010, quando este acusou o Governo de angariar apoio político do ex-presidente da República deposto do cargo após processo de impeachment, atual Senador pelo Estado de Alagoas (você não leu errado não, isto é o real, no Brasil surreal...), Fernando Collor de Mello, concedendo-lhe uma dessas diretorias que furam poço e tiram petróleo. A confirmação está também na edição do jornal O Globo de 27.10.2010: “O diretor de Operações e Logística da BR Distribuidora, José Zonis, foi de fato indicado para o cargo por Fernando Collor”.

E logo o Collor, ex-inimigo figadal de Lula e do PT... mas é uma das tais pessoas incomuns, tem o seu curral eleitoral particular nas Alagoas, e o Governo está de olho nesses votos... quem foi que disse que a luta política produz estranhas alianças? E além disso, a Petrobras é um gigante, uma Grande Mãezona, com seus bilhões e bilhões jorrando, e agora tem o pré-sal, vai ter fartura pra todos! O que é que custa dar uma diretoriazinha que fura poço pro nosso aliado? Olha que boa moeda de troca-troca!

Gastar esses quase R$ 75 bilhões pra garantir que as crianças aprendam as matérias na escola, ou pra fazer com que as pessoas que precisam de um atendimento médico, ou de um exame, não tenham de ir pra uma fila às 3 horas da madrugada, ou tenham de esperar meses? Ou pra melhorar a segurança, ou pra construir moradias? Ah, não, tudo isso dá muito trabalho, é muito complicado, não dá muito retorno... qual a vantagem de se indicar um diretorzinho de escola nos cafundós, ou um diretorzinho de hospital numa região pobre? Bom mesmo é diretor que fura poço e tira petróleo! Pergunta pro Severino!

E, como dito, ainda se pode faturar muito, eleitoralmente, em cima da mística que a palavra “petróleo” evoca. E o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, não publicou, no site da empresa, críticas e acusações contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em plena época eleitoral, com o nítido objetivo de atingir o candidato do PSDB na disputa?

Pouco importa que no último ano a Petrobras tenha perdido 30% de seu valor de mercado; pouco importa que no período FHC a produção diária de barris tenha subido 109%, enquanto na era Lula o crescimento foi de 30%. Quem é que se preocupa com números, com argumentos, nesse Brasil de tanto analfabetismo? O importante é atingir as emoções, as camadas profundas, lá onde não existe senso crítico... impotante é fazer a propaganda, um bonito anúncio na TV, plataformas sobre o oceano, num lindo entardecer... ou uma foto de uma típica figura materna, brasileira, sorridente, abraçando uma plataforma de petróleo... sim, plenamente descarado, confiram a foto publicitária no acervo digital da Revista Veja, edição 2182, de 15.09.2010, página 6, no link: http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx

É usar o petróleo para atingir o emocional, através da propaganda. E isto não é novidade, tem sido usado com êxito, no Brasil, e no exterior, desde há muitos anos. Há quanto tempo persiste, por exemplo, nos corações e mentes do povo aquele slogan: “O petróleo é nosso”? O petróleo é o sonho secreto, de desenvolvimento sem dores, de subir na vida sem fazer força... gigante pela própria natureza... topar com o mapa do tesouro, ou com o bilhete premiado...

E agora, o pré-sal, é o neo-sonho secreto a ser explorado pela propaganda. O mesmo velho petróleo, mas com uma nova roupagem. Utilizado pela candidata governista para inflamar a imaginação dos eleitores com esta nova promessa de riqueza fácil para o país. No mesmo debate da Rede Record mencionado, ela foi enfática: “O pré-sal é o filé mignon... o pré-sal é o bilhete premiado... o petróleo que tinha antes era de baixa qualidade, mas com o pré-sal, AGORA, tudo vai ser diferente... AGORA SIM, a riqueza vai chegar para todos... o pré-sal vai financiar nossa educação, saúde, ciência, infra-estrutura, meio ambiente...”

Foi neste nível. O pré-sal é o ópio das massas...

E enquanto as massas sonham com a Era de Ouro, passam as noites em pé na fila, esperando o atendimento médico...

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara, impressionante este teu artigo, Parabéns pela inteligência em suas palavras!!!

André Monteiro