
Também na manchete do Globo de hoje: “Governo não protegerá nem 30 de 165 ameaçados de morte”.
Logo após o governo trombetear que faria uma reunião multi-ministerial, com novas políticas, com nova atuação, reafirmando a firme disposição do governo de combater a violência e a impunidade, e blá-blá-blá, em resposta aos quatro assassinatos recentes de ambientalistas no país, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, vem a público para marcar o recuo do Estado, explicar que não é bem assim, vamos com calma, minha gente...
A ministra, segundo o jornal, em reunião com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), “se irritou em alguns momentos com as cobranças ao governo”, e disse que segurança para todos é uma ilusão.
Claro que nossos ilustres senadores, deputados, governadores, desembargadores, prefeitos, promotores, etc. etc. etc., têm direito a escolta 24 horas, feita por policiais selecionados, esquemas de segurança, carros blindados, etc. etc. etc., bem como seus ilustres familiares.
Já lembrei aqui, repito, o caso de dois ministros do Supremo, que passaram momentos de tensão dentro do carro, na Linha Vermelha, quando aconteceu um arrastão naquela via. E a reação do então Secretário de Segurança do Rio de Janeiro: “Mas como?! Houve uma falha da segurança! Os ministros deviam ter feito o deslocamento de helicóptero!”
Pois é. Pros ilustres, helicóptero. Pros 165 pés-rapados ameaçados de morte, “boa sorte”. Mas, claro, o Brasil é o país de todos, como nos informa a propaganda.
E Rosário ainda se irrita com as cobranças ao governo. Tá certa, ter de explicar as coisas pra patuléia... fere a dignidade de um ser ilustre. Quando um advogado da CPT falou pra Rosário que, no Pará, dos 20 defensores dos direitos humanos ameaçados, apenas 6 são protegidos, teve de ouvir da ministra:
- E o Pará é o que tem o maior número de protegidos. O Brasil é o único país do mundo com programa de proteção aos defensores dos direitos humanos.
Brazil-zil-zil... nem parece que foi no Pará que ocorreram 3 das 4 mortes recentes de ambientalistas, além das diversas outras, ao longo dos anos. Segundo dados da CPT, desde o massacre de Carajás, em 1996, até agora, foram 212 pessoas assassinadas em conflitos agrários, no Pará, somente na região de Marabá.
A ministra coroou sua fala afirmando que a proteção com escolta policial é também uma forma de violação dos direitos humanos:
- Viver sob escolta na missa, na escola, no super-mercado é também uma violação dos direitos humanos. É uma violação da privacidade.
É isso aí, morra-se com a privacidade assegurada.
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