
(...)
Com quem posso falar hoje?
Os colegas são maus;
Os amigos de hoje não amam.
Com quem posso falar hoje?
Os rostos desapareceram;
Cada homem baixa o olhar diante de seus companheiros.
Com quem posso falar hoje?
Um homem deve despertar a ira por seu caráter ímpio;
Mas ele faz todos rirem, apesar da perversidade do seu pecado.
Com quem posso falar hoje?
Não há justos;
A terra é deixada para aqueles que agem mal.
Com quem posso falar hoje?
O pecado que aflige a terra;
Ele não tem fim.
(...)
“Disputa de um homem, que contempla o suicídio, com a sua alma” – poema egípcio de autoria desconhecida, cerca de 2.000 a.C.

O Brasil segue quente, como as labaredas de Roma, como o inferno.
Greves de bombeiros, invasão de quartel, governador que chama bombeiros de “vândalos”, bombeiros presos, filhos que não entendem como o pai-herói foi preso, bombeiros que recebem R$ 950,00 de salário... e agora a greve se estende aos PMs, e o governador gosta mesmo é de viajar para Paris...
Não é só este caso escabroso. Vamos a um exemplo prático, notícias da semana: só na terça-feira, dia 07.06.2011, vejam a coletânea de notícias de primeira página do jornal O Globo:
“Procurador arquiva caso e Lula tenta manter Palocci” - “O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou o pedido de investigação contra o ministro Antonio Palocci apresentado pelos partidos de oposição. Gurgel disse que não viu indícios dos crimes de enriquecimento ilícito nem tráfico de influência.”
E mais manchetes:
“Dono de apartamento alugado a Palocci é do PT”. Trata-se de um apartamento que vale milhões, e cujo proprietário é uma empresa cujo sócio principal, com 99% das cotas, é um sujeito que ganha R$ 700,00 por mês, e trancou a faculdade por conta de uma dívida de 3 mil e poucos reais, como mostrou reportagem da revista Veja de 05.06.2011.
Tem mais:
“Em visita a Brasília, o venezuelano Hugo Chávez encontrou-se ontem com o ministro Antonio Palocci e, depois de um abraço, recomendou: “Fuerza, fuerza.”
É pouco? Mais uma do Rio de Janeiro, além do caso dos bombeiros:
“Alvo de ações de improbidade movidas pelo MP, os deputados da Alerj estão para votar proposta que retira dos promotores a prerrogativa de processar parlamentares e autoridades públicas por crimes de colarinho branco”.
Estas as notícias de uma singela terça-feira no país do Absurdo. Na quarta-feira continua o Absurdo, com os desdobramentos do caso Palocci: “Palocci cai e enfraquece Dilma com apenas 5 meses de governo”. Protegido pelo salvo-conduto proporcionado pelo procurador da República, é hora de Palocci sair dos holofotes para curtir sua vida de milionário: pode até continuar dando suas tremendamente lucrativas consultorias, a exemplo de seu amigo José Dirceu, sem que ninguém se atreva a perturbá-los, homens importantes, diferenciados que são.
Ainda temos de aguentar os teatrinhos na despedida de Palocci, sua substituta, Gleisi Hoffman, senadora do PT do Paraná, dizendo: “é uma pena perder Palocci neste governo, ele foi muito importante para a transformação do Brasil”.
Transformação do Brasil, certo... mas em quê?
Na despedida de Palocci, tem direito a discurso seu, em tom emocionado dirigindo-se à presidente Dilma Rousseff: “Seguirei sendo leal à senhora e ao meu país. Levo deste período apenas as boas lembranças. Saio com paz de espírito, de cabeça erguida, honrando o meu trabalho, a minha família e os meus companheiros”.
Grande, companheiro Palocci, siga leal aos seus companheiros, lembra que PC Farias morreu crivado de balas, mas não precisamos chegar a tanto, companheiro, ameaça você não vai sofrer nenhuma, não com essa oposição que tem, e o processo criminal já era, batata quente que ninguém põe a mão.
A vida mansa você já tem, não vai perder também, vida de homem montado nos milhões... então, companheiro, tem mais é de fechar a boca, manter-se bem leal, ficar contente de poder servir aos “companheiros”. E Palocci pode falar para os jornalistas: “Tudo o que não levo daqui é mágoa. Alegrias? Levo muitas.” É isso aí, Palocci, alegrias levas muitas, milhões delas, no bolso...

E todos aplaudem Palocci, o presidente do Senado, José Sarney, o vice-presidente da República, Michel Temer, a presidente Dilma, e toda a gente importante... Dilminha, menina emotiva, levanta a bola do garoto:
“Agradeço, do fundo do coração, ao meu amigo Antonio Palocci por tudo o que ele fez pelo governo, por mim e pelo Brasil”.

Não é de chorar? Por que ninguém teve a idéia de fazer uma estátua de Palocci, em mármore e ouro, este benfeitor do país?
País surreal, casa de loucos, o sujeito deixa o cargo que ocupa, sob gravíssimas suspeitas, e é ovacionado como um herói, pelas mais altas autoridades...
Claro que a exposição de toda esta novela absurda e ridícula causou desgaste ao Governo. Os partidos “aliados” até gostaram, aumentou o seu poder de barganha, vide Garotinho e seu diamante de R$ 20 milhões...
Mas o Governo já se mexeu para recompor a sua base de apoio: foi divulgado que o Governo estenderá o Bolsa Família para 800 mil pessoas... bem que o nosso governo socialistas tem razão de apregoar seu amor aos pobres... dá R$ 100, dá R$ 200, e eles te apóiam. Nem vão perguntar de onde saíram os R$ 20 milhões, não vão nem saber que saíram R$ 20 milhões de algum lugar...
E outras notícias, ao longo das manchetes em letras garrafais da “crise Palocci”, dão conta de que este é um país perdido, dominado: “STJ decide anular o processo contra Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity; outro assassinado no campo, o quinto de uma série recente; Supremo Tribunal Federal nega pedido de extradição da Itália, e manda soltar o assassino condenado italiano Cesare Batisti.
É isto. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. José Dirceu não saiu entre elogios e lamentos de companheiros, não seguiu fazendo suas “Consultorias” altamente remuneradas? O próprio Palocci já não havia saído, entre elogios e lamentos de companheiros, só para ganhar um “troco” de alguns milhões fazendo “Consultorias”? O próprio Palocci, caído num caso miserável de descaso por um brasileiro honesto. Um pobre caseiro, que resolveu acreditar no poder da Verdade quando vivia no Brasil corrupto. Foi inquirido como testemunha honesta, que não devia mentir. Respondeu com a verdade, e para quê?
Suas denúncias de Palocci se encontrando com grandes empresários brasileiros, para negócios e festejos na mansão de Palocci, não deram em nada. Alguém sabe o fim deste caso? Mandado arquivar pelas autoridades competentes? Perdido em alguma gaveta da nossa burocracia corrupta? Com algum pedido adicional de provas? Algum despacho que leva dois anos?
E este brasileiro humilde e honesto foi acusado justo por quem estava sendo acusado de crimes tão graves. Foi colocado sob a suspeita de estar prestando seu depoimento em troca de dinheiro, e esta acusação partia do acusado de imensa corrupção.
E este acusado apresentava suspeitas “provas” do que dizia, apresentando um extrato bancário de Francenildo, obtido pela violação estatal de direitos individuais de um brasileiro, que mostrava alguns milhares de reais que não teriam explicação naquela conta.
Pois havia explicação. Francenildo teve de expor um caso de interesse pessoal para se defender: aquele dinheiro havia sido recebido de seu pai, em processo de investigação de paternidade.
Exposta sua falta de fundamentação, a acusação feita a Francenildo passou a ser indagada.
Estúpida, na sua prepotência, acusara um crime confessando outro crime. Pois como poderia uma informação sob sigilo, pelas leis do país, pela sua Constituição, ter sido obtida e revelada daquela maneira insólita?
Pois haviam quebrado o sigilo bancário de Francenildo. O presidente da Caixa Econômica Federal, ninguém menos que o presidente deste gigante banco do Estado, foi denunciado pela quebra de sigilo do caseiro.
Mas aquele a quem o presidente da CEF beneficiara, o que foi feito dele?
Saiu do governo Lula, o ministro da Fazenda, derrubado por um banqueiro.
Uma boa lenda de Davi e Golias, mas no Brasil a história não termina por aí.
Aqui, o ministro da Fazenda, caído neste escândalo, como dito, entre gemidos e louvações de companheiros, volta a um dos cargos de ministro mais importantes, 2 anos depois do ocorrido.
Ah, sim. Neste meio tempo, o nosso Supremo Tribunal Federal havia rejeitado a denúncia do Procurador da República, com relação ao poderoso ex-ministro Palocci, na acusação de quebra de sigilo bancário.
Não deixou nem que se instaurasse o processo judicial criminal contra a figura, para que a figura se explicasse perante os juízes da nação.
Havendo razoável dúvida do cometimento de crime, recebe-se a denúncia para apurar, através de processo criminal, com amplo direito de defesa, se de fato foi cometido o crime por aquele indivíduo.
Mas no Brasil alguns indivíduos são “especiais”, são “incomuns”, ou algo parecido.
Não é um termo jurídico, por certo. Para entendê-lo tem de se conhecer o “jeitinho” que damos às coisas. Sim, sim, igualdade para todos é uma idéia bonita. Vamos mentir que a aceitamos. Mas na hora da verdade, a gente dá um jeitinho de favorecer um companheiro, de impedir que contra ele aconteça estas coisas ruins. Processo, acusação, explicação, isto é coisa pra “gentinha”, não para os “especiais” e “incomuns”.
“Para os inimigos, a letra da lei, para os amigos, tudo!”
É um nosso ditado popular, explica muito isso aqui.
Pois, dizia, o Supremo rejeitou a denúncia para que Palocci se explicasse. Ele não precisou ir explicar como aquele documento, protegido por sigilo, havia parado na sua mão, e por que ele o divulgara através da imprensa, revelando a intimidade de um brasileiro, sem que houvesse qualquer processo, qualquer legalidade, na obtenção daquela informação.
Não, não precisa do processo. Não precisa da explicação. Não houve nenhum crime cometido pelo ex-ministro. Nós, juízes do Supremo, é que dizemos isso. Do que vale que todos vocês tenham visto isso, seus sujeitinhos das esquinas? O que importa que tenha passado na televisão, nos jornais, cena por cena, este quadro horroroso? Nós lhes dizemos que nada disso ocorreu, e vocês têm de acreditar na gente. Nós lhes dizemos que o claro é escuro, e que o dia é noite. E o que vocês vão fazer a respeito? É a nossa decisão que vale.
E nada de processo para o sr. Antonio Palocci. E tudo de Consultorias, sob sigilo, lamento dizer. E, breve, Coordenador de Campanha, da sra. PresidenTA, Dilma Rousseff. E, logo, Ministro da Casa Civil, homem forte no Governo.
E logo, lamento dizer, caído sem que pudesse explicar um crescimento patrimonial sem precedentes. R$ 20 milhões, em um ano, aquele da Campanha Presidencial que coordenava. “São dados sob sigilo”, ele vem nos dizer no Jornal Nacional, entrevista exclusiva.
E, aí, nosso Procurador da República nos diz que sequer apresentará um pedido de denúncia ao Supremo. “Nada a investigar, nada, nada, nada. Enriquecer não é crime. E os tributos da empresa foram pagos em dia.”. Não importa que grandes empresas do ramo de consultoria, com muitos empregados, não façam os milhões que a empresa do “eu sozinho” de Palocci. Não importa que seja totalmente atípica a alegada “conclusão antecipada dos contratos, por conta do encerramento da empresa”, a justificar os R$ 20 milhões que pingaram no caixa, num curto espaço de tempo. Não importa que o dono da empresa seja um deputado federal, um ex-ministro da Fazenda, ministro da Casa Civil, um Coordenador da campanha da PresidenTA, arrecadador de recursos para a campanha... não, não há qualquer conflito de interesses, não há qualquer intenção escusa na contratação, pelas empresas privadas, dos “serviços” de tão influente pessoa pública... Palocci vai à televisão para pedir que os brasileiros tenham confiança na sua “boa fé”...
E o Procurador da República, Roberto Gurgel? Confiou bonitinho na boa fé de Palocci... muito bonzinho, bom garoto...

Quando o caso explodiu na imprensa, o sr. Gurgel já foi adiantando que não via nada de errado... aí, com a grita crescendo, fez um pedido de informações pro seu doutor Palocci... deixou passar o prazo para se manifestar, daí fez um pedido adicional de informações, prorrogou o prazo... e, daí, trinta dias depois, confirmou aquilo que já havia adiantado desde o início: nada de denúncia, nada de investigação, não, não, não. Não vou não /quero não /posso não / a mulher não deixa não, não, não, não, não, não, não...
No dia IMEDIATAMENTE seguinte ao seu parecer favorável, Palocci, bem protegido, foi retirado dos holofotes políticos. O que motivou uma queixa insólita do Procurador da República, na linha: “puxa vida, nem pra esperar um pouco depois que eu dei meu parecer, me deixaram na linha de tiro...” Oh, coitadinho do sr. Procurador, a vida pode ser tão dura...
Mas não fique se lamuriando pelos cantos. Assuma com galhardia seu papel nesta peça, ao lado de juízes do Supremo, deputados e senadores, governistas e de oposição, presidentes, e presidentas, e ex-presidentes, e ministros, e donos de bancos, e caseiros, e mortos nas filas de hospitais, e mortos no campo, e matadores, e crianças pisando no esgoto, e você, e eu... o nome da peça? “Brasil”.
Pois foi ensinado o caminho das pedras. Alô, alô, senhor governante, senhor político, senhor ministro! Você que não sabe como justificar os milhões com que querem te “presentear”. Você que está cansado de arrumar nota fiscal pra justificar que o seu posto de gasolina fatura mais que um poço de petróleo, ou que os dez bois da sua fazenda se transformaram em mil, da noite para o dia... Não que nunca tenha dado em nada, mas ainda assim, SEUS PROBLEMAS ACABARAM! Basta abrir uma empresa de “Consultoria”. R$ 1 milhão, R$ 10 milhões, R$ 20 milhões? Ah, sim, foi a “consulta” que eu dei... eu sozinho, ninguém me ajudou, eu sou um cara foda. Mais detalhes? Sinto muito, esta é uma informação sob sigilo... não é lindo isto, não é perfeito? Aqui no Brasil, basta o aspecto formal, basta a aparência, a máscara... sim, recolhemos todos os tributos em dia, não vamos nos deixar pegar por causa do detalhe, remember Al Capone...
Ah, pesadelo de Kafka, Gabinete do Dr. Caligari, Casa dos Loucos... Novilíngua, Ministério da Verdade, 1984 de George Orwell... “Paz é Guerra”, “Ladrão é Honesto”, “Dia é Noite”...

É o que acontece nos totalitarismos. Saudade do tempo em que tínhamos oposição. Imaginem o PT na oposição, com um caso escabroso desses nas mãos? IMPEACHMENT, CARAS PINTADAS, GREVE GERAL, “O PT NÃO ROUBA NEM DEIXA ROUBAR”, FORA NEO-LIBERALISMO ASSASSINO, MORATÓRIA DA DÍVIDA, VIVA FIDEL, VIVA LENIN, VIVA STALIN!!!!
Por tosco e, como agora se vê, falso que fosse do discurso da oposição petista, havia pelo menos uma oposição, ameaçando o poder, fazendo denúncias, e cobrando.
E o que temos agora, e o que temos há 9 anos? Sindicalistas felizes, líderes estudantis satisfeitos, governo generoso, a nova oposição sem disposição para a luta... Aécio Neves e José Serra sumidos, botando panos-quentes no Palocci... são oposição apenas na hora de pedir os votos, e manter seus lugares elevados, seus lugares com a tchurma... mesmo assim, na falta de coisa melhor, levaram 44 milhões de votos, no segundo turno da presidência. Mas eles não querem se indispor com a tchurma, nada disso, longe deles, e eles vão empurrando com a barriga, fazendo um discursinho aqui e ali, indicando pra tchurma que nada de substancialmente vai mudar, se uma hora empunharem o cetro do poder eles mesmos... apenas tocar no pasto esta grande vaca, sem afetar a grande festa de sanguessugas no couro!
Opinião pública? Estão se lixando para a opinião pública! Tá tudo dominado, os pontos-chave estão dominados. E se continuar enchendo o saco, se incomodar demais, eles botam um fim nisso. Está rolando um projeto de lei, para restringir o trabalho de imprensa... estão fechando o cerco, cada vez mais, a cada dia...
E nossa “inteligentzia” nem sente, se perdermos a liberdade, agora, é por uma boa causa, é pela ditadura do proletariado... estão prontos para entregar, aliás já entregaram, há muito tempo, sua capacidade crítica, sua independência de pensamento, sua honestidade consigo mesmos, sua liberdade, enfim, para ser sacrificada no altar da ideologia. Pedem licença pro Partido, e pros seus líderes, para saber como devem se posicionar com respeito a cada tema...
Lindo, muito lindo, tudo isso... garotos bonzinhos, bem comportados, pode deixar que merecem um prêmio... uma verba? Um carguinho? Uma bolsa de estudos lá fora? Paris, é claro... não, não precisa estudar nada, é só apresentar um monte de palavras juntas, de preferência copiando uma idéia bem manjada... é só a forma, lembra, é só a máscara... e quem terá o topete de dizer que a vida não é bela? Mas temos um questionador, um recalcitrante, fascista-direitista? Isca, isca, acabem com ele, não deixem sobrar nada!


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