quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Brazil Pictures vergonhosamente apresenta: “Pimentel, ou Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita – parte 2”


Este caso das palestras e consultorias fantasmas do ministro do Planejamento, Fernando Pimentel, deram azo a algumas das maiores enormidades recentemente proferidas por nossas autoridades.


Já disseram que os valores envolvidos, cerca de R$ 2 milhões de reais, por um ano e pouco de “consultorias”, não seria “tão astronômico assim”. É questão relativa. Pode não ser tão astronômico assim pro Bill Gates, mas vá juntar dois milhões ganhando um salário mínimo. Levaria mais de 282 anos, já incluído 13o. E isso sem gastar um centavinho sequer.


Também disseram (ninguém menos que o presidente nacional do PT, deputado estadual de São Paulo, Rui Falcão) que Pimentel é “um cidadão acima de qualquer suspeita”, evocando o formidável clássico do cinema político italiano, “Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita”, de Elio Petri, vencedor do prêmio do Grande Júri em Cannes, e do Oscar de filme estrangeiro, em 1971, e que dá o mote para este artigo.


No filme, um chefe de polícia italiano mata sua amante, deixando provas que o incriminam, mas que são sistematicamente ignoradas pelos investigadores do caso. (Que ato falho, hein, Rui Falcão...)


Uma bela alegoria sobre a corrupção do poder. Que maior poder que tirar a vida de um ser humano estando certo da impunidade? Como diz o personagem de James Stewart em outro filme, Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock: “O que vocês sentiram quando lhe tiraram a vida? Sentiram-se como deuses?”


Ou: “comam do fruto proibido, e sereis como deuses”, pela promessa da serpente.


Mas voltemos ao nosso Pimentel, e à nova edição do Febeapá (Festival de besteiras que assola o país), apud Sergio Porto, ou Stanislaw Ponte Preta, proporcionada pelas tentativas de justificar o injustificável.


Pois o que a nossa própria presidenTA, nossa faxineira ética


andou dizendo? Nada menos que isso, abre aspas: - O governo não acha nada, o governo só acha o seguinte: é estranho que o ministro preste satisfações no Congresso da vida privada, da vida pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, pode ir. Se ele achar que não deve ir, não vai. - Fecha aspas.


Com essas “costas quentes”, não admira toda a nonchalance com que Pimentel deu por encerrado o assunto. Abre aspas:


  • Eu não falo sobre isso. Tudo o que tinha para falar já falei.

  • Não fala sobre isso mais, não, ministro ? - insistiu uma repórter.

  • No more… não mais. Esse assunto já não é mais comigo. Agora estou voltando para o Brasil, tenho que trabalhar, queridos. E como dizem aqui: bonne journée (bom dia)….quero dizer, bonne soirée - disse, despedindo-se. - Fecha aspas.



Que chique, ministro poliglota... e que ideia, pensar que um ministro tem de dar satisfações sobre a maneira como ele embolsa o dinheiro da patuléia... isso aqui não é Suécia, não, aqui é Pentacampeão de futebol, ê-ô, ê-ô.



Que tal, agora, um assassinatozinho, ministro? Pela memória dos bons tempos de juventude, época de romantismo, época de guerrilha? Pela memória do Che? Tá certo que hoje já não tem ditadura de militares, hoje o barato é curtir as benesses do poder, ganhar um milhãozinho, dois, ali, de mão beijada, fazer umas viagenzinhas pela Europa, com tudo de primeira incluído, mas, é claro, “é para servir ao povo”, sempre foi...


Tá certo tudo isso, mas você já testou os limites da impunidade. Que tal testar um pouco mais? “Ser como deuses”... já não tem mais ditadura, mas os reacionários ainda estão por aí, enchendo o saco com moralismo pequeno burguês... matar um desses é fazer um favor para o mundo, fazer um favor para o próprio assassinado. É por causa desses que não se tem um mundo melhor, um mundo sem esses críticos, que fazem até azedar o gosto do caviar e do champanhe...


Pense a respeito, ministro: “Sereis como deuses...”




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